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Hora do planeta: energias renováveis ganham destaque

A Barragem de Itaipu é uma enorme barragem hidroelétrica no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai. É conhecida pelos espetáculos de luzes noturnos e as vistas do miradouro central. O centro de comando do edifício de produção controla as turbinas da barragem. Nas proximidades, na parte paraguaia, o Museu da Terra Guarani exibe exposições sobre a cultura indígena. A norte, o refúgio Tatí Yupí é uma reserva de vida selvagem com trilhos e ave
© Caio Coronel/Itaipu (Repro­dução)

Com matriz predominantemente renovável, Brasil pode ser líder do setor


Pub­li­ca­do em 27/03/2021 — 07:00 Por Fabío­la Sin­im­bú — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

Em todo o mun­do, hoje, no dia 27 de março, às 20h30, no horário de Brasília, as pes­soas apa­garão suas luzes em sinal de apoio a um movi­men­to que pede uma tran­sição energéti­ca urgente. O obje­ti­vo é amenizar os efeitos cau­sa­dos pelo uso inde­v­i­do dos recur­sos do plan­e­ta na ger­ação de ener­gia.

Enquan­to a maior parte dos país­es tem como prin­ci­pal fonte energéti­ca os com­bustíveis fós­seis, no Brasil a matriz é pre­dom­i­nan­te­mente ren­ováv­el, mas para aten­der ao cresci­men­to da deman­da e garan­tir segu­rança energéti­ca, a diver­si­fi­cação das fontes tam­bém se faz urgente.

“A fonte hidrelétri­ca prati­ca­mente está esgo­ta­da, nós usamos todos os recur­sos viáveis do pon­to de vista econômi­co, social e ambi­en­tal, afir­ma Élbia Gan­noum, pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Ener­gia Eóli­ca (Abeéoli­ca).

A Barragem de Itaipu é uma enorme barragem hidroelétrica no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai. É conhecida pelos espetáculos de luzes noturnos e as vistas do miradouro central. O centro de comando do edifício de produção controla as turbinas da barragem. Nas proximidades, na parte paraguaia, o Museu da Terra Guarani exibe exposições sobre a cultura indígena. A norte, o refúgio Tatí Yupí é uma reserva de vida selvagem com trilhos e ave
Usi­na Hidrelétri­ca de Itaipu — Caio Coronel/Itaipu (Repro­dução)

Segun­do o dire­tor do Depar­ta­men­to de Desen­volvi­men­to Energéti­co do Min­istério de Minas e Ener­gias (MME), Car­los Príncipe Pires, essa trans­for­mação já vem acon­te­cen­do nos últi­mos 21 anos, perío­do em que as hidrelétri­c­as deixaram de rep­re­sen­tar 82,9% e pas­saram a 60,9% de todas as fontes de ger­ação elétri­ca, e der­am espaço à ener­gia eóli­ca com par­tic­i­pação de 9,6%, a bio­mas­sa que hoje rep­re­sen­ta 8,6% e a solar, com 4,4% da matriz elétri­ca brasileira.

Out­ras fontes não ren­ováveis tam­bém pas­saram a ter maior par­tic­i­pação na ger­ação de ener­gia no Brasil, mas, segun­do Car­los Pires, ness­es casos foram estim­u­ladas as fontes com menor emis­são, como é o caso do gás nat­ur­al que cresceu de 2,7% para 8,3%.

“Nos­sa matriz é três vezes mais ren­ováv­el que dos país­es desen­volvi­dos”, diz.

Ain­da que o poten­cial torne as fontes ren­ováveis semel­hantes em abundân­cia no Brasil, a vocação, o rit­mo do desen­volvi­men­to tec­nológi­co e o inves­ti­men­to em pesquisa e ino­vação acabam deter­mi­nan­do como cada uma dessas fontes ocu­pam o mer­ca­do brasileiro.

 “A ger­ação dis­tribuí­da é uma vocação da fonte solar e a eóli­ca tem uma vocação de grande escala, porque as turbinas são mel­hores, do pon­to de vista téc­ni­co e econômi­co, quan­do encon­tra ven­tos mel­hores e ess­es ven­tos estão local­iza­dos, ao pas­so que o sol está dis­tribuí­do”, afir­ma a pres­i­dente da Abeeóli­ca.

Nos últi­mos 10 anos, a ger­ação de ener­gia eóli­ca não ape­nas ocupou a maior fatia da matriz elétri­ca depois da hidráuli­ca, como tam­bém é respon­sáv­el pela façan­ha de desen­volver um mer­ca­do com 80% de con­teú­do nacional. “Dessa for­ma, nós não esta­mos sujeitos às vari­ações cam­bi­ais e isso talvez seja um dos fatores que explique o cresci­men­to forte e estáv­el da eóli­ca, mes­mo em perío­dos de crise”, afir­ma Élbia.

Para o coor­de­nador do Núcleo Inter­dis­ci­pli­nar de Plane­ja­men­to Energéti­co da Uni­camp, Gilber­to Januzzi, a natureza difer­en­ci­a­da dos ven­tos brasileiros levaram a uma neces­si­dade de incre­men­to na ino­vação do que veio de fora e a indús­tria se adap­tou.

No entan­to, essas adap­tações não sig­nifi­cam um proces­so pro­du­ti­vo que garan­ta uma ener­gia mais bara­ta para quem está na pon­ta.

 “Tem que haver soluções baratas para um mer­ca­do que é muito desigual. A gente não pode esque­cer que nem todos brasileiros con­seguem pagar pelos serviços de ener­gia”, afir­ma Gilber­to.

Com uma vocação mais volta­da para aten­der ao con­sumo domés­ti­co na modal­i­dade de ger­ação dis­tribuí­da, que é quan­do o pequeno con­sum­i­dor gera a própria ener­gia, a fonte solar, con­heci­da como foto­voltaica, é um exem­p­lo claro em que a fal­ta de ino­vação nacional tornou o cus­to para o cresci­men­to desse mer­ca­do muito alto.

Segun­do o pro­fes­sor Felipe Almei­da, do cam­pus de Boitu­va do Insti­tu­to Fed­er­al de São Paulo, atual­mente o que há de mais mod­er­no no mer­ca­do de foto­voltaica são tec­nolo­gias como as célu­las tipo PERC, desen­volvi­das na Aus­trália, os módu­los half cell e bifa­ci­ais, desen­volvi­dos na Chi­na e Esta­dos Unidos.

“Um estu­do da Abeso­lar desse ano mostra que em 2021 ter­e­mos cer­ca de 147 mil empre­gos a mais no Brasil, então, isso pede mão de obra qual­i­fi­ca­da, cada vez mais”, expli­ca.

Para Gilber­to Januzzi, emb­o­ra o Brasil seja rico em recur­sos energéti­cos, ten­ha um mer­ca­do cres­cente e seja o país em desen­volvi­men­to com maior recur­so des­ti­na­do por lei para fomen­to de pesquisa e desen­volvi­men­to na área de ener­gias ren­ováveis, ain­da é muito depen­dente da ino­vação de out­ros país­es.

“O nos­so está­gio, em ter­mos de pesquisa e desen­volvi­men­to não é bom. A gente está com­er­cial­izan­do, é um mer­ca­do cres­cente, há um mer­ca­do bom para essas tec­nolo­gias, mas em ter­mos de con­teú­do ino­vador brasileiro é ain­da pequeno”, diz

parque eólico
Par­que eóli­co — Fabi­o­la Sinimbu/Agência Brasil (Repro­dução)

Hidrogênio verde

No dia 9 de março, o Con­sel­ho Nacional de Políti­cas Energéti­cas (CNPE) pub­li­cou no Diário Ofi­cial da União a Res­olução nº 2, de 10 de fevereiro de 2021, que deter­mi­na um dire­ciona­men­to dos recur­sos des­ti­na­dos à pesquisa e ao desen­volvi­men­to e pri­or­iza estu­dos de fontes como hidrogênio, ener­gia nuclear, bio­com­bustíveis e tec­nolo­gias de armazena­men­to.

 “Todas essas são temáti­cas que desem­pen­harão um papel de suma importân­cia para tran­sição energéti­ca para econo­mia de baixo car­bono”, afir­ma Agnes da Cos­ta, chefe da Asses­so­ria Espe­cial em Assun­tos Reg­u­latórios do MME.

Gilber­to Januzzi con­sid­era um acer­to focar os recur­sos em tec­nolo­gias que são promis­so­ras para o país, como é o caso do hidrogênio, que tem se mostra­do promis­sor quan­do o assun­to é ger­ação de ener­gia e redução de emis­são de gas­es do efeito est­u­fa. “É um tipo de um energéti­co que pode nos aju­dar muito, porque temos várias maneiras de pro­duzir hidrogênio, ou célu­las à com­bustív­el e tam­bém podemos armazenar essa ener­gia”.

O pesquisador expli­ca que emb­o­ra o uso do hidrogênio como fonte energéti­ca seja anti­go, novas for­mas de pro­duzir uti­lizan­do as fontes ren­ováveis no proces­so rev­e­lam um enorme poten­cial brasileiro. O que colo­caria o país em uma posição priv­i­le­gia­da na cor­ri­da glob­al pela descar­boniza­ção, tan­to no proces­so de pro­dução, como na solução de armazena­men­to e expor­tação de ener­gia. “É uma opor­tu­nidade muito grande que a gente não pode­ria perder”, diz Gilber­to.

Energia Nuclear

Essa opor­tu­nidade faz com que o mer­ca­do da ener­gia eóli­ca tam­bém este­ja aten­to a tec­nolo­gia de pro­dução do hidrogênio verde e do uso dos ven­tos como fonte para ger­ar out­ras ener­gias exportáveis.

“Nós temos out­ra for­ma da expor­tação da ener­gia quan­do nós pen­samos na pro­dução dos nos­sos pro­du­tos exportáveis, como são a indús­tria de min­er­ação de for­ma ger­al”, afir­ma Élbia Gan­noum.

Emb­o­ra sejam fontes não ren­ováveis, os min­erais são a prin­ci­pal for­ma de obter a ener­gia nuclear, hoje ger­a­da prin­ci­pal­mente a par­tir da fis­são nuclear do urânio. Esse proces­so não tem emis­são de gas­es do efeito est­u­fa e tam­bém pode ter sua pro­dução asso­ci­a­da a out­ras fontes ren­ováveis.

“Em ter­mos de pesquisa tem coisas fasci­nantes a serem pesquisadas, mas em ter­mos de ampli­ar isso no mer­ca­do brasileiro eu não con­si­go ver via­bil­i­dade, no pon­to de vista até econômi­co, no médio pra­zo”, diz.

Bons ventos

Para fins energéti­cos, Gilber­to acred­i­ta que o inter­esse inter­na­cional no Brasil está mais lig­a­do às fontes ren­ováveis. Ele aler­ta para o grande poten­cial das eóli­cas off­shore, que ficam em regiões extrater­ri­to­ri­ais, como é o caso de regiões em alto-mar, por exem­p­lo. “A esti­ma­ti­va que a própria Empre­sa de Plane­ja­men­to Energéti­co faz é de cer­ca de 900 gigawatts de poten­cial”, afir­ma.

Na visão da pres­i­dente da Abeéoli­ca, o iní­cio dos inves­ti­men­tos na tec­nolo­gia off­shore podem aju­dar o Brasil a avançar na tec­nolo­gia apli­ca­da à ger­ação de ener­gia por meio de ven­tos no ter­ritório nacional, as chamadas onshore, servin­do como mod­e­lo.

Ela expli­ca que isso já ocor­reu em país­es europeus, onde a fal­ta de ter­ritório para ger­ação de ener­gia onshore ger­ou uma tec­nolo­gia mais robus­ta.

“Nós esta­mos ven­do máquinas off­shore já com capaci­dade de 15 megawatts e já ouvi falar de uma máquina com 18 megawatts, para off­shore. Quan­do a tra­jetória tec­nológ­i­ca vai para esse cam­in­ho dessas máquinas com potên­cia maior, com torre maior, a tra­jetória da onshore tam­bém vai seguin­do esse cam­in­ho” afir­ma.

parque eólico
Par­que eóli­co — Fabi­o­la Sinimbu/Agência Brasil (Repro­dução)

Em difer­entes regiões brasileiras, gru­pos de pesquisa já tra­bal­ham em bus­ca de ino­vações para ger­ação de ener­gia eóli­ca off­shore. Para Gilber­to Januzzi, ess­es gru­pos podem ser ala­van­ca­dos ain­da pela van­tagem do país já pos­suir o knowhow para atu­ação em platafor­mas de explo­ração de petróleo e gás, como no caso do Pré-Sal.

Versatilidade no biogás

Além da capaci­dade de ger­ar bio­metano para sub­sti­tuir diesel, GLP (gás de coz­in­ha), ener­gia tér­mi­ca ou elétri­ca, o biogás tam­bém é armazenáv­el. Por toda essa ver­sa­til­i­dade, a indús­tria do biogás seguiu difer­entes cam­in­hos pelo mun­do.

Enquan­to na Ale­man­ha ela gera a maior parte da ener­gia elétri­ca con­sum­i­da por lá, no Brasil essa indús­tria acabou se desen­vol­ven­do mais no setor de trata­men­to ambi­en­tal de resí­du­os sóli­dos.

Para Alessan­dro Garde­mann, pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira do Biogás, o poten­cial do biogás é tão grande que solu­cionar­ia diver­sas questões pen­dentes na ger­ação das demais fontes, como é o caso do armazena­men­to.

“O biogás é a solar de bate­ria dire­to, então, é uma alter­na­ti­va às bate­rias e às tér­mi­cas a gás nat­ur­al. Com tér­mi­cas à biogás você con­segue a descar­boniza­ção, com pro­dução descen­tral­iza­da, per­to do con­sumo e tratan­do resí­du­os”, afir­ma.

Assim como na eóli­ca, o setor inovou ape­nas em adap­tações necessárias à indús­tria nacional e prati­ca­mente absorve as tec­nolo­gias cri­adas e tes­tadas em out­ros país­es. Para Alessan­dro, ain­da cabem mudanças no mar­co reg­u­latório para pesquisa e desen­volvi­men­to no setor, onde o risco seja aceito como parte do proces­so de inves­ti­gação em um proces­so. “O insuces­so faz parte de um mod­e­lo de P&D”, afir­ma.

Sistemas Digitais

Soma­dos aos desafios e poten­ci­ais tec­nológi­cos que a tran­sição energéti­ca traz em cada uma das fontes, a inte­gração delas por meio dos sis­temas inteligentes, ou smart grids, tam­bém exi­girá do país um novo olhar para ino­vação no setor de tec­nolo­gia da infor­mação. Por meio dess­es sis­temas tam­bém é pos­sív­el mais efi­ciên­cia de ger­ação e mel­ho­ria na uti­liza­ção dos recur­sos nat­u­rais de for­ma indi­vid­ual ou integra­da.

Segun­do a exec­u­ti­va de uma empre­sa brasileira de ino­vação, Gabriel­la Seil­er, o avanço dessas tec­nolo­gias pode ben­e­fi­ciar o sis­tema elétri­co como um todo, des­de os grandes ger­adores, até o con­sum­i­dor.

“A dig­i­tal­iza­ção e a Inteligên­cia Arti­fi­cial são fun­da­men­tais nes­sa trans­for­mação que depende de sis­temas e equipa­men­tos descen­tral­iza­dos, que pre­cisam se comu­nicar de for­ma inteligente e em tem­po real”, diz.

Com tan­tas pos­si­bil­i­dades e poten­cial, Gilber­to Januzzi afir­ma que o Brasil pre­cisa alin­har recur­sos finan­ceiro, estru­tu­rais e humano no setor de pesquisa e desen­volvi­men­to, que exis­tem em abundân­cia, às deman­das do setor pro­du­ti­vo, para que assas ino­vações pos­sam chegar de for­ma ráp­i­da, com cus­tos que o con­sum­i­dor pos­sa supor­tar. “A políti­ca públi­ca é muito impor­tante nesse sen­ti­do, porque grande parte do esforço em pesquisa bási­ca vem de fun­dos públi­cos, não vem do mer­ca­do soz­in­ho”, diz.

Segun­do Gabriela, esse abis­mo entre ambi­ente acadêmi­co e ino­vação apli­ca­da fica claro quan­do o Brasil aparece entre os 15 país­es que mais pub­li­cam e têm citações em arti­gos cien­tí­fi­cos, mas essa ino­vação pouco chega a ser apli­ca­da na sociedade. Para ela, na área de inteligên­cia arti­fi­cial, esse desafio soma-se a out­ros como a escassez de tal­en­tos, baixo inves­ti­men­to e ain­da um blo­queio cul­tur­al na apli­cação de tec­nolo­gias que trans­for­mam estru­turas fun­da­men­tais.

Con­fi­ra a entre­vista:

Edição: Alessan­dra Esteves

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