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Hospital de campanha já fez mais de 300 atendimentos aos yanomami

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Unidade em Roraima faz exames e estabilização de pacientes


Pub­li­ca­do em 01/02/2023 — 14:26 Por Pedro Rafael Vilela* — Envi­a­do Espe­cial — Boa Vista

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O hos­pi­tal de cam­pan­ha que a Força Aérea Brasileira (FAB) mon­tou em Boa Vista para acol­her os indí­ge­nas yanoma­mi já fez mais de 300 atendi­men­tos des­de a sem­ana pas­sa­da, “a maio­r­ia de cri­anças”. O bal­anço foi apre­sen­ta­do nes­ta quar­ta-feira (1º) pela major Van­desteen, coman­dante da unidade. Mon­ta­do no ter­reno da Casa de Saúde Indí­ge­na (Casai), o hos­pi­tal é equipa­do com estru­tu­ra para faz­er exam­es lab­o­ra­to­ri­ais, ultra­ssono­grafias e dis­põe de leitos de esta­bi­liza­ção para pacientes mais graves. 

“Tem muitos casos pneu­mo­nia, par­a­sitose intesti­nal, malária e muitas doenças de pele”, disse a major Van­desteen. A reportagem da Agên­cia Brasil acom­pan­hou a entre­vista na entra­da do hos­pi­tal de cam­pan­ha e reg­istrou a pre­sença de cri­anças em recu­per­ação, algu­mas com sinais de baixo peso e doença de pele. O aces­so à área inter­na é restri­to. A unidade serve como lugar de pas­sagem para os indí­ge­nas que recebem alta de um atendi­men­to mais com­plexo e pre­cisam faz­er uma tran­sição, ou nos casos menos graves.

“Não é um hos­pi­tal de lon­ga per­manên­cia, que ten­ha final­i­dade de inter­nação. A gente atende o paciente, esta­bi­liza, nos casos graves, e trans­fere. Temos leitos de repouso, temos condição de acom­pan­har ess­es pacientes para que pos­sam retornar em segu­rança para o seu lar”, expli­cou a coman­dante da unidade. As espe­cial­i­dades incluem orto­pe­dia, pedi­a­tria, neona­tolo­gia, clíni­ca ger­al, patolo­gia e gine­colo­gia. Ao todo, são 33 profis­sion­ais de saúde. Não há pra­zo para o encer­ra­men­to das ativi­dades no hos­pi­tal de cam­pan­ha.

Os casos mais graves entre cri­anças são encam­in­hados para o Hos­pi­tal da Cri­ança San­to Antônio (HCSA), em Boa Vista, man­ti­do pela prefeitu­ra da cap­i­tal de Roraima. Segun­do o bal­anço mais recente, divul­ga­do hoje (1), há 55 indí­ge­nas inter­na­dos na unidade. Dess­es, 45 são cri­anças yanoma­mi e sete estão na unidade de ter­apia inten­si­va (UTI0.

As prin­ci­pais causas das inter­nações são doença diar­réi­ca agu­da, gas­troen­te­ro­co­l­ite agu­da, desnu­trição, desnu­trição grave, pneu­mo­nia, aci­dente ofídi­co e malária. O HCSA é a úni­ca unidade de saúde em Roraima que atende cri­anças a par­tir dos 29 dias de vida até 12 anos, 11 meses e 29 dias de idade. Além de pacientes de todo o esta­do, o hos­pi­tal recebe pacientes da Guiana e da Venezuela. Em todo o ano de 2022, foram 703 inter­nações de indí­ge­nas yanoma­mi no HCSA. Dess­es, 58 foram por desnu­trição.

Os pacientes adul­tos que neces­si­tam de maior suporte de saúde são encam­in­hados ao Hos­pi­tal Ger­al de Roraima (HGR), tam­bém na cap­i­tal, que é a maior unidade hos­pi­ta­lar do esta­do. Segun­do a Sec­re­taria de Saúde de Roraima, respon­sáv­el pelo hos­pi­tal, há 25 indí­ge­nas inter­na­dos no HGR, sendo oito yanoma­mi. Ape­nas um paciente está na UTI. Os dados são do bal­anço de segun­da-feira (30). São casos de tuber­cu­lose, fratu­ra e trata­men­to de hér­nia, entre out­ros.

No Hos­pi­tal Mater­no-Infan­til Nos­sa Sen­ho­ra de Nazareth, há 15 yanoma­mi em trata­men­to médi­co, dos quais sete são bebês recém-nasci­dos, cin­co mães adul­tas e uma ado­les­cente.  As enfer­mi­dades incluem pneu­mo­nia grave, covid-19, desnu­trição e nasci­men­to pre­maturo.

Crise humanitária

Emb­o­ra enti­dades indí­ge­nas e órgãos como o Min­istério Públi­co Fed­er­al (MPF) já denun­ciem a fal­ta de assistên­cia às comu­nidades da Ter­ra Indí­ge­na Yanoma­mi há muito tem­po, novas ima­gens de cri­anças e adul­tos sub­nu­tri­dos, bem como de unidades de saúde lotadas de pes­soas com malária e out­ras doenças, chama­ram a atenção da opinião públi­ca nas últi­mas sem­anas e moti­varam o gov­er­no fed­er­al a imple­men­tar medi­das emer­gen­ci­ais para socor­rer os yanoma­mi.

Há duas sem­anas, o Min­istério da Saúde envi­ou para Roraima equipes téc­ni­cas encar­regadas de elab­o­rar um diag­nós­ti­co sobre a situ­ação de saúde dos cer­ca de 30,4 mil habi­tantes indí­ge­nas da TI Yanoma­mi. Na ocasião, a ini­cia­ti­va foi anun­ci­a­da como o primeiro pas­so do gov­er­no fed­er­al para traçar, em parce­ria com insti­tu­ições da sociedade civ­il, uma “estraté­gia inédi­ta do gov­er­no fed­er­al para resta­b­ele­cer o aces­so” dos yanoma­mi à “saúde de qual­i­dade”.

Ao vis­itarem a Casa de Saúde Indí­ge­na (Casai) de Boa Vista, para onde são lev­a­dos os yanoma­mi que pre­cisam de atendi­men­to hos­pi­ta­lar, e os polos-base de Suru­cu­cu e Xitei, no inte­ri­or da reser­va indí­ge­na, os téc­ni­cos se depararam com cri­anças e idosos com sérios prob­le­mas de saúde, como desnu­trição grave, casos de malária, infecção res­pi­ratória agu­da e out­ros agravos.

Medidas emergenciais

Cin­co dias após as equipes começarem o tra­bal­ho in loco, o min­istério declar­ou Emergên­cia em Saúde Públi­ca de Importân­cia Nacional e criou o Cen­tro de Oper­ações de Emergên­cias em Saúde Públi­ca (COE‑Y), respon­sáv­el por coor­denar as medi­das a serem imple­men­tadas, incluin­do a dis­tribuição de recur­sos para o resta­b­elec­i­men­to dos serviços e a artic­u­lação com os gestores estad­u­ais e munic­i­pais do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS).

No últi­mo dia 21, o pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va e vários inte­grantes do gov­er­no fed­er­al, como as min­is­tras da Saúde, Nísia Trindade, e dos Povos Indí­ge­nas, Sônia Gua­ja­jara, foram a Boa Vista, onde vis­i­taram a Casai. O pres­i­dente prom­e­teu envolver vários min­istérios para super­ar a grave crise san­itária e, já no mes­mo dia, aviões da FAB trans­portaram cer­ca de 1,26 toneladas de ali­men­tos para serem dis­tribuí­dos às comu­nidades yanoma­mi. Nos últi­mos qua­tro anos, ao menos 570 cri­anças mor­reram de desnu­trição e doenças tratáveis, como malária.

No últi­mo dia 24, os profis­sion­ais da Força Nacional do SUS começaram a reforçar o atendi­men­to na Casai de Boa Vista. A pedi­do do Min­istério da Justiça e Segu­rança Públi­ca, a Polí­cia Fed­er­al instau­rou, no dia 25, inquéri­to para apu­rar a pos­sív­el práti­ca de genocí­dio, omis­são de socor­ro e crimes ambi­en­tais, além de out­ros atos ilíc­i­tos con­tra os yanoma­mi.

 

*Matéria foi mod­i­fi­ca­da às 16h15 para atu­al­iza­ção dos números do Hos­pi­tal da Cri­ança San­to Antônio (HCSA)

Edição: Nádia Fran­co

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