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Ícone trans, Divina Valéria usou arte para assumir identidade feminina

Repro­dução: © Facebook/Divina Valéria

Aos 79 anos, atriz coleciona papéis no teatro, na TV e no cinema


Pub­li­ca­do em 27/01/2024 — 08:23 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Em uma época em que o Esta­do perseguia trav­es­tis ape­nas por exi­s­tirem, foi na arte que Div­ina Valéria, uma das artis­tas trav­es­tis mais con­heci­das e respeitadas no Brasil encon­trou um espaço para ser quem era. Durante a ditadu­ra mil­i­tar no Brasil, ela estre­ou como can­to­ra na noite car­i­o­ca e inte­grou o espetácu­lo Les Girls, um mar­co para a cena trans e que gan­hou vis­i­bil­i­dade no Brasil e fora.

“Eu já tin­ha me trav­es­ti­do em bailes de car­naval, né? Todo ano me trav­es­tia para o baile de car­naval, mas não diari­a­mente. Quan­do eu fui con­vi­da­da para esse espetácu­lo, eu con­tin­u­a­va a me trav­e­s­tir ape­nas no pal­co. Fora do pal­co, eu anda­va de menin­in­ho, entende? Porque era a época de ditadu­ra, 1964, e não era per­mi­ti­do estar­mos vesti­das de mul­her no meio da rua, era só no pal­co”, con­ta Div­ina à Agên­cia Brasil.

E ess­es momen­tos no pal­co foram, para ela, muito nat­u­rais. “Meu amor, olha, naque­la época tudo foi muito nat­ur­al. Eu nun­ca tin­ha pen­sa­do em faz­er trav­es­ti nem nada, quan­do, de repente, eu fui con­vi­da­da para um espetácu­lo que era somente de trav­es­ti, que era uma grande pro­dução.”

Divina Valéria, atriz transexual. Foto: Facebook/Divina Valéria
Repro­dução: Com 60 anos de car­reira, Div­ina Valéria cole­ciona papéis no teatro, na TV e no cin­e­ma  — Facebook/Divina Valéria

O espetácu­lo con­tou com o roteiro de Mario Meira Guimarães, com a cri­ação musi­cal de João Rober­to Kel­ly e direção de Luís Harol­do, e viria a con­sol­i­dar um for­ma­to de apre­sen­tação que seguiria pelas décadas seguintes. Na época, o espetácu­lo chegou até a revert­er a ren­da para as ações das Irmãs Vicenti­nas, con­gre­gação reli­giosa fem­i­ni­na católi­ca.

Foi a par­tir da déca­da de 1970, quan­do se mudou para Paris, que Div­ina Valéria deixou de ser trav­es­ti ape­nas no pal­co e assum­iu para o mun­do quem ela era real­mente.

“Eu assu­mi viv­er total­mente de mul­her, total­mente min­ha per­son­al­i­dade fem­i­ni­na, que afluía muito mais em mim. E foi em Paris que tudo isso começou porque, chegan­do lá, eu fui tra­bal­har [na casa notur­na] Car­rousel de Paris, onde tin­ha as trav­es­tis mais famosas e mais boni­tas do mun­do. Eu fui tra­bal­har nes­sa casa e, logi­ca­mente, ali com elas, eu peguei todo o know-how e tam­bém me trans­formei em uma mais”, diz.

Aos 79 anos e 60 anos de car­reira, Div­ina Valéria pas­sou por teatros, pela tele­visão e pelo cin­e­ma. “A arte pra mim é tudo. Eu vivo da arte a min­ha vida inteira, eu sem­pre vivi da arte”, sin­te­ti­za.

As prin­ci­pais refer­ên­cias da artista são as estre­las de Hol­ly­wood, como Gre­ta Gar­bo e Ava Gard­ner. Os papéis preferi­dos de sua car­reira são aque­les total­mente difer­entes de quem ela é no dia a dia. “É bom ver per­son­agens difer­entes, né? Faz­er a Div­ina Valéria eu já faço nas 24 horas do dia”, diz.

Divina Valéria, atriz transexual. Foto: Facebook/Divina Valéria
Repro­dução: Div­ina Valéria é uma das artis­tas trav­es­tis mais con­heci­das e respeitadas no Brasil —  Facebook/Divina Valéria

Ela desta­ca três tra­bal­hos como os mais recentes preferi­dos: Ema Toma Blues, com tex­to de auto­ria de Anin­ha Fran­co, espetácu­lo que ela estrelou em 2005; o filme Nada Somos, ain­da em pro­dução, que con­ta qua­tro histórias, sendo Div­ina Valéria a pro­tag­o­nista de uma delas; e Alice Júnior 2 — Férias de Verão, com estreia pre­vista para 2024. “Nele, eu vivo uma mul­her de quase 100 anos, matri­ar­ca de uma ilha, não tem nada a ver com a Div­ina Valéria”, ante­ci­pa.

Um papel que ela ain­da quer faz­er é algo na “lin­ha dramáti­ca”, como o de Glo­ria Swan­son em Crepús­cu­lo dos Deuses. “Um per­son­agem talvez mais forte, né? Sem­pre um per­son­agem que não seja a Div­ina Valéria”, enfa­ti­za.

No dia a dia, ela é Div­ina Valéria, que define da seguinte maneira: “Uma pes­soa como todo mun­do, com momen­tos felizes, momen­tos menos felizes, com uma vida um pouco atribu­la­da, porque a vida artís­ti­ca é um pouco assim, seja por mui­ta viagem, seja, às vezes, finan­ceira­mente, às vezes está com muito din­heiro, às vezes não está com nada. É vida de artista, é uma cor­da bam­ba, mas é a vida que eu gos­to de viv­er e que eu já vivo vai faz­er 60 anos ago­ra, em 2024”.

Para mar­car a vis­i­bil­i­dade trans, cuja data é 29 de janeiro, a Agên­cia Brasil pub­li­ca histórias de cin­co artis­tas trans na série Trans­for­man­do a Arte, que segue até o dia 31 de janeiro.

Edição: Juliana Andrade

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