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Iluminação cênica deu show nos desfiles do Grupo Especial do Rio

Repro­dução: © Tânia Rêgo/ Agên­cia Brasil

Tecnologia foi bem aceita, mas carnavalescos defendem uso com critério


Pub­li­ca­do em 17/02/2024 — 11:48 Por Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A evolução dos des­files das esco­las de sam­ba do Rio de Janeiro avançou em várias frentes ao lon­go das últi­mas décadas, des­de a con­strução do Sam­bó­dro­mo, há 40 anos, até novi­dades mais recentes como a reci­clagem do lixo pro­duzi­do na Mar­quês de Sapu­caí. Em 2024, um novo foco de ino­vação ficou evi­dente com a apos­ta na ilu­mi­nação cêni­ca. Des­de 2023, ela já esta­va no cardá­pio dos car­navale­scos, mas  era vista com cer­ta resistên­cia. No car­naval deste ano, com a adesão de mais esco­las, esse recur­so deu show na aveni­da.

O uso da tec­nolo­gia ain­da divide opiniões. O car­navale­sco campeão deste ano,  com a Viradouro, Tar­cí­sio Zanon, acred­i­ta que a ilu­mi­nação é mais uma fer­ra­men­ta que a esco­la tem para a con­strução da magia do espetácu­lo.

“Hoje, com essa nova implan­tação, a gente con­segue traz­er uma alma para o momen­to que a gente quer con­tar. Eu sou da opinião de que a luz pode agre­gar à arte do faz­er car­naval na esco­la de sam­ba. Ela não pode descar­ac­teri­zar o que já é con­struí­do há muito tem­po. O car­naval não é uma para­da ilu­mi­na­da. O car­naval é uma arte pop­u­lar que pre­vê o bril­ho, o vol­ume, o exagero, o glam­our, a beleza. É a fan­ta­sia. Então, o detal­his­mo que existe no car­naval pre­cisa ser vis­to. Ele não pode acon­te­cer, por exem­p­lo, em um momen­to de tudo se apa­gar ou apa­gar aleato­ri­a­mente e ficar por muito tem­po”, expli­ca à Agên­cia Brasil.

Iluminação cênica nos desfiles do Grupo Especial. Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Repro­dução: Ilu­mi­nação cêni­ca nos des­files do Grupo Espe­cial — Foto: Tânia Rêgo/ Agên­cia Brasil

Para o his­to­ri­ador e escritor Luiz Antônio Simas, espe­cial­ista em car­naval car­i­o­ca, o recur­so é bom, mas pre­cisa ser usa­do com cuida­do. “O uso da ilu­mi­nação cêni­ca pode ser definido na base da frase famosa ‘o remé­dio e o veneno moram na mes­ma fol­ha’, que aliás é da tradição da cul­tura dos orixás, é um ori­ki, uma sen­tença poéti­ca de Ossain [orixá sac­er­dote das fol­has e flo­restas]. O prob­le­ma não é a ilu­mi­nação cêni­ca e a sal­vação não é a ilu­mi­nação cêni­ca. É a maneira como uti­lizar”, apon­tou.

“Por princí­pio, sou críti­co des­ta ilu­mi­nação quan­do ela é gra­tui­ta, e vi essa ilu­mi­nação cêni­ca dar erra­do e dar cer­to. Achei por exem­p­lo que no aces­so algu­mas esco­las usaram a ilu­mi­nação cêni­ca sem muito sen­ti­do. Eu não gostei. No espe­cial eu tam­bém vi o uso da ilu­mi­nação sem sen­ti­do algu­mas vezes”, com­ple­tou.

Como exem­p­lo de uso ade­qua­do desse recur­so, Simas citou a esco­la de sam­ba Acadêmi­cos do Grande Rio que, para ele, usou muito bem a ilu­mi­nação cêni­ca.

“Fez um des­file exu­ber­ante, e a ilu­mi­nação foi cru­cial para aque­le des­file, e ela se conec­ta­va com o sam­ba quan­do dizia ‘Tro­ve­jou, escure­ceu’. Ali tive­mos um uso de excelên­cia da ilu­mi­nação como ele­men­to do con­jun­to cêni­co da esco­la de sam­ba. O Gabriel Had­dad e o Leonar­do Bora [car­navale­scos da Grande Rio] usaram mag­nifi­ca­mente a ilu­mi­nação cêni­ca. É um exem­p­lo de como ela pode ser uma ali­a­da e não uma inimi­ga do des­file car­navale­sco”, obser­vou.

Fábio Faba­to, jor­nal­ista, his­to­ri­ador e autor da sinopse do enre­do Pede caju que dou, pede caju que dá, que a Moci­dade Inde­pen­dente de Padre Miguel apre­sen­tou na aveni­da, tam­bém é favoráv­el à ilu­mi­nação cêni­ca, mas ressalta que não pode ser usa­da aleato­ri­a­mente.

“O recur­so da luz é impor­tante, ele agre­ga val­or ao espetácu­lo, mas não pode com­pro­m­e­ter que­si­tos. A meu ver, a luz pre­cisa ser muito pen­sa­da, de modo que aja ao agre­gar ao espetácu­lo, sem que fira a for­ma de olhar fan­tasias, ale­go­rias, sem que manche os que­si­tos em jul­ga­men­to, mas, sem dúvi­da, é um ele­men­to a mais cêni­co que entre­ga val­or ao pro­du­to e pode ser sem­pre muito bem uti­liza­do daqui para frente”, defende.

Segun­do Faba­to, o recur­so da ilu­mi­nação cêni­ca foi bem uti­liza­do na Comis­são de Frente da Moci­dade Inde­pen­dente. Pela primeira vez em um des­file hou­ve uma inter­ação de um com­po­nente com a plateia. Durante a apre­sen­tação para os jul­gadores do que­si­to, um foco de luz apon­ta­va para a arquiban­ca­da onde esta­va a figu­ra de uma Carmem Miran­da, que com­pun­ha a comis­são de frente. O efeito agradou o públi­co e sur­preen­deu pelo inusi­ta­do.

Iluminação cênica nos desfiles do Grupo Especial. Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Repro­dução: Ilu­mi­nação cêni­ca nos des­files do Grupo Espe­cial — Foto: Tânia Rêgo/ Agên­cia Brasil

“A comis­são da Moci­dade usou isso muito bem, já que pro­moveu o dialog­ar do gru­pa­men­to da esco­la com a plateia sem atra­pal­har a visão do públi­co. Quer diz­er, foi uti­liza­da de modo cor­re­to, de modo a entre­gar val­ores ao des­file. Acho que isso é o fun­da­men­tal para a questão da luz, que não pode atra­pal­har a visão. Tem que ser um recur­so a mais para con­tar a história”, disse.

Planejamento

A ilu­mi­nação cêni­ca, que neste ano chamou tan­ta atenção nos des­files do Grupo Espe­cial, tem por trás um sis­tema com 570 refle­tores, sendo 510 dire­ta­mente volta­dos para a pista de des­files; três mov­ings light, que pro­je­tam luzes col­ori­das sobre qual­quer ele­men­to na aveni­da e mais três refle­tores de led do tipo RGBW. Con­ta ain­da com uma infraestru­tu­ra de 24 quilômet­ros de fibra ópti­ca e 14 câmeras de visu­al­iza­ção na sala de con­t­role insta­l­a­da no setor 10 do Sam­bó­dro­mo.

Con­forme a Rioluz, o local tem duas mesas de con­t­role oper­adas por téc­ni­cos que têm no cur­rícu­lo oper­ações de grandes shows como o do can­tor Paul McCart­ney e do grupo Cold­play.

A sala foi pro­je­ta­da pela Parce­ria Públi­co-Pri­va­da (PPP) de ilu­mi­nação públi­ca da Prefeitu­ra do Rio de Janeiro, entre a Rioluz e a sub­con­ces­sionária Smart Luz. Por meio de qua­tro TVs que exibem ima­gens em tem­po real dos setores da aveni­da e de uma pro­jeção 3D é pos­sív­el ver­i­ficar como as luzes estão sendo vis­tas pelo públi­co. A Rioluz infor­mou que o inves­ti­men­to na tec­nolo­gia, que inte­gra os pro­je­tos espe­ci­ais do con­tra­to da PPP, ficou em R$ 18 mil­hões.

“Real­mente neste car­naval vimos que a ilu­mi­nação cêni­ca foi um show à parte na Sapu­caí, ele­van­do para out­ro pata­mar os des­files das esco­las de sam­ba. Foi muito bacana ver as luzes e o públi­co aplaudin­do. No ano pas­sa­do os car­navale­scos ain­da tin­ham um pouco de receio de usar essa tec­nolo­gia, mas as esco­las que ousaram em uti­lizar este recur­so tiraram 10 no que­si­to Comis­são de Frente”, disse à Agên­cia Brasil o pres­i­dente da Rioluz, Eduar­do Feital.

Testes

Feital rev­el­ou que nos últi­mos 40 dias a empre­sa que oper­ou o sis­tema pôde tra­bal­har jun­to às agremi­ações para a real­iza­ção de testes. “Entreg­amos toda a ilu­mi­nação para a empre­sa que oper­ou e chamamos todas as agremi­ações para faz­erem testes. Cada dia uma esco­la de sam­ba teve opor­tu­nidade de estu­dar e ver através de apar­el­ho de 3D como ficaria o des­file e usar essa tec­nolo­gia”, desta­cou.

Para o car­navale­sco Tar­cí­sio Zanon, esse con­ta­to entre os téc­ni­cos da Rioluz e os inte­grantes das esco­las foi favoráv­el ao uso da ilu­mi­nação cêni­ca, porque tiver­am mais tem­po para con­hecer a tec­nolo­gia. “Este ano a gente con­seguiu ter mais tem­po para poder estu­dar isso. Acho que isso tem que ser trata­do e cuida­do com os profis­sion­ais e com muito estu­do para que pos­sa haver um equi­líbrio nes­sa uti­liza­ção”, defende.

Iluminação cênica nos desfiles do Grupo Especial. Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Repro­dução: Ilu­mi­nação cêni­ca nos des­files do Grupo Espe­cial — Foto: Tânia Rêgo/ Agên­cia Brasil

“Com esse sis­tema ficou ain­da mais lin­do o des­file. É uma tec­nolo­gia, um lega­do que vai ficar para as esco­las de sam­ba e para o car­naval do Rio de Janeiro. Quem gan­ha com isso é o públi­co e todas as pes­soas que fre­quen­tam o car­naval na cidade do Rio de Janeiro”, disse o pres­i­dente da Rioluz, ao parab­enizar as esco­las e os car­navale­scos que usaram a tec­nolo­gia no car­naval.

“Que ven­ha o próx­i­mo ano. Temos ago­ra no sába­do [17] o des­file das campeãs e só tem coisas bacanas para mostrar para o públi­co”, disse ao ressaltar a apre­sen­tação das seis primeiras clas­si­fi­cadas que voltam à Pas­sarela do Sam­ba, na região cen­tral da cidade.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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