...
sexta-feira ,21 março 2025
Home / Esportes / Imparável do rugby brasileiro ganha nova chance olímpica em Tóquio

Imparável do rugby brasileiro ganha nova chance olímpica em Tóquio

rugby_yaras_selecao

Repro­dução: © Repro­dução Twitter/Dubai Rug­by Sev­ens

Cria de Paraisópolis, Bianca inspira jovens como esperança das Yaras


Pub­li­ca­do em 29/06/2021 — 07:00 Por Lin­coln Chaves — Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional — São Paulo

Há cin­co anos, uma canelite tib­ial adiou a estreia olímpi­ca de Bian­ca Sil­va às vésperas dos Jogos do Rio de Janeiro. Rea­gir àquele baque não foi fácil para a jovem de então 18 anos, já uma promes­sa da seleção brasileira fem­i­ni­na de rug­by.

“Foi uma questão de pressão, psi­cológ­i­ca mes­mo. Ter pou­ca idade, enfrentar coisas para as quais não esta­va prepara­da, ter uma vida profis­sion­al [no esporte] e ver isso como algo real. Impactou forte, não aguentei, desisti, parei de jog­ar depois da Olimpía­da. Fui cor­rer atrás de emprego. Min­ha irmã tra­bal­ha­va em um restau­rante de shop­ping, fiz um cur­rícu­lo e enviei”, recor­da Bian­ca à Agên­cia Brasil.

O emprego no restau­rante esta­va encam­in­hado, mas ela sequer chegou a ini­ciá-lo. Bian­ca resolveu dar nova chance à modal­i­dade pela qual se apaixo­nou em 2011, no pro­je­to Rug­by Para Todos, na comu­nidade de Paraisópo­lis, zona sul da cap­i­tal paulista. Após a frus­tração antes da Rio 2016, a jovem é uma das Yaras (como são con­heci­das as jogado­ras da seleção fem­i­ni­na) chamadas para a Olimpía­da de Tóquio (Japão), na últi­ma segun­da-feira (28).

“Esta­va deci­di­da que não voltaria, de tão chatea­da que fiquei [pela ausên­cia em 2016]. Aí, rece­bi o con­vite para voltar. Primeiro, disse não. Depois, sen­tei e pen­sei: o que quero real­mente? Meu coração ain­da arde para jog­ar. Perce­bi que mere­cia viv­er aqui­lo. E voltei. Foi uma injeção de força. Daqui, não saio mais”, diz a paulista de 23 anos.

Não demor­ou para Bian­ca se fir­mar nova­mente na seleção. Em 2018, tornou-se a brasileira com mais tries (quan­do o atle­ta cruza a lin­ha final do cam­po com a bola e a colo­ca no chão, vale cin­co pon­tos) em uma Copa do Mun­do de rug­by: foram cin­co logo na sua estreia na com­petição. No mes­mo ano, foi elei­ta a mel­hor atle­ta da modal­i­dade no país no Prêmio Brasil Olímpi­co.

Em 2019, a paulista lid­er­ou a estatís­ti­ca de tries das Yaras (cin­co) na con­quista do Hong Kong Sev­ens, feito que recolo­cou a seleção na elite do cir­cuito mundi­al fem­i­ni­no. Fez parte, tam­bém, do escrete campeão sul-amer­i­cano, que garan­tiu a vaga brasileira em Tóquio.

“Foram dois anos muito espe­ci­ais, com mui­ta coisa extra­cam­po que agre­gou exper­iên­cia para con­seguir traz­er inspi­ração, de sair de algo ruim, ir para cima e ser destaque”, con­ta a jovem.

Inspi­ração que ela própria se tornou em Paraisópo­lis e no pro­je­to onde foi rev­e­la­da, que atende cer­ca de 200 jovens car­entes de 6 a 18 anos. A segun­da maior favela da cap­i­tal, onde vivem mais de cem mil pes­soas, fica na Vila Andrade, ter­ceiro dis­tri­to paulis­tano com maior ocu­pação por fave­las (34,7%) segun­do o Mapa da Desigual­dade de 2020, da orga­ni­za­ção não-gov­er­na­men­tal (ONG) Rede Nos­sa São Paulo.

“É muito legal [o recon­hec­i­men­to], prin­ci­pal­mente dos menores, por chegar aqui inde­pen­dente da difi­cul­dade, de onde cresceu, super­ar a expec­ta­ti­va que tem, de que se você mora na comu­nidade, ficará lá para sem­pre e vira mar­gin­al. [Cria o sen­ti­men­to de] quer­er chegar na seleção ou ao máx­i­mo de qual­quer coisa que se son­he. Eu me vejo nesse papel, das pes­soas olharem para mim, diz­erem ‘olha onde ela está’, servir de inspi­ração. As pes­soas verem que é pos­sív­el, inde­pen­dente do que falam, pro­gredin­do e bus­can­do o mel­hor”, desta­ca Bian­ca, que atua pelo Leoas de Paraisópo­lis.

A brasileira tam­bém se tornou refer­ên­cia jun­to à World Rug­by, a con­fed­er­ação inter­na­cional da modal­i­dade. Em 2019, ela foi uma das escol­hi­das da enti­dade para ilus­trar a cam­pan­ha Unstop­pables (imparáveis, em inglês), para impul­sion­ar o esporte fem­i­ni­no. Nome bas­tante per­ti­nente, con­sideran­do a car­ac­terís­ti­ca mais mar­cante de Bian­ca, a veloci­dade.

A paulista con­seguiu alcançar 32 quilômet­ros por hora em uma arran­ca­da de jogo. Não é pouco. Segun­do relatório téc­ni­co da Fed­er­ação Inter­na­cional de Fute­bol (Fifa) sobre a Copa do Mun­do Fem­i­ni­na de 2015, no Canadá, a lat­er­al norte-amer­i­cana Alex Krieger, jogado­ra mais ráp­i­da daque­la com­petição, foi só pouco além, 34,7 km/h.

“Sem­pre fui muito ráp­i­da. Cor­ria muito na rua, talvez isso ten­ha me ensi­na­do muito. Só que a min­ha téc­ni­ca de cor­ri­da foi tra­bal­ha­da. Eu tin­ha uma téc­ni­ca não tão boa, cor­ria sen­tad­in­ha, abaixad­in­ha. Fiz alguns [exer­cí­cios] coor­de­na­tivos de pos­tu­ra, aju­da com braço e per­na. Se você reparar, meu joel­ho não fica mais flex­ion­a­do”, descreve Bian­ca.

“A veloci­dade do Brasil é uma for­t­aleza, então elas [adver­sárias] ten­tam nos inibir. A mar­cação fica em cima. Não só eu, mas as meni­nas da mes­ma posição dis­cu­ti­mos for­mas de elas não ficarem tão em cima. Se deixarem cor­rer, já era [risos]”, com­ple­ta.

As par­tidas do rug­by fem­i­ni­no em Tóquio serão dis­putadas entre os dias 29 e 31 de jul­ho. O Brasil está no Grupo B, ao lado de Canadá (bronze na Rio 2016), França e Fiji. Tam­bém estão clas­si­fi­ca­dos Japão (anfitrião), Nova Zelân­dia (atu­al campeã mundi­al), Aus­trália (últi­ma campeã olímpi­ca), Esta­dos Unidos, Reino Unido, Quê­nia, Chi­na e Rús­sia (que com­pe­tirá com a sigla do Comitê Olímpi­co Rus­so, dev­i­do à punição que o país europeu rece­beu por casos de dop­ing).

Em abril, as Yaras tiver­am pela frente alguns dos rivais olímpi­cos em dois torneios real­iza­dos em Dubai (Emi­ra­dos Árabes Unidos). Foram duas vitórias sobre japone­sas e que­ni­anas e uma diante do time B francês, e der­ro­tas para norte-amer­i­canas, França A e Canadá (duas para cada).

“Foram jogos diver­tidos demais. Recebe­mos men­sagens de que esta­va legal de ver nos­sas par­tidas. Nos­sa expec­ta­ti­va [para Tóquio] é levar algo difer­ente. A equipe se diver­tir em cam­po e gan­har assim. Quer­e­mos mostrar o que é ser uma Yara e o que é o rug­by brasileiro. Apre­sen­tar nos­so mel­hor lado e ver­são. Faz­er com que as pes­soas se divir­tam nos ven­do jog­ar”, con­clui Bian­ca.

Edição: Fábio Lis­boa

Você pode Gostar de:

TV Brasil estreia série sobre criadora do projeto Casa de Passagem

Espaço criado no Recife combateu violência contra mulheres de rua EBC Pub­li­ca­do em 19/03/2025 — …