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Indígenas apresentam cultura e bandeiras de luta em feira no Rio

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Pelo menos 25 etnias de várias regiões do Brasil participam de evento


Pub­li­ca­do em 12/08/2023 — 18:34 Por Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A bar­ra­ca de Tereza Ara­pi­um – artesã e mil­i­tante indí­ge­na – tem ces­tos, chapéus e uma série de itens dec­o­ra­tivos feitos a par­tir de mate­ri­ais encon­tra­dos na natureza. Mais pre­cisa­mente nos arredores da Aldeia Andirá, às mar­gens do Rio Ara­pi­uns, na Amazô­nia paraense. Fol­has do tucumã, um tipo de palmeira, viram a pal­ha que é a base do arte­sana­to. As cores e os grafis­mos são feitos com tin­tas obti­das em fru­tas como o jeni­pa­po e o uru­cum.

O arte­sana­to chama a atenção pela beleza e pela sus­tentabil­i­dade, uma vez que não tem nen­hum pro­du­to quími­co e a col­hei­ta da matéria-pri­ma respei­ta os cic­los nat­u­rais. Por trás de todo esse tra­bal­ho, tam­bém há uma sabedo­ria ances­tral, de mais de 200 anos, que aju­da a divul­gar as ban­deiras de luta do povo indí­ge­na.

“Não se tra­ta aqui só de vender o arte­sana­to do meu povo, mas de tornar mais con­heci­da a cul­tura das mul­heres indí­ge­nas da flo­res­ta que são invis­i­bi­lizadas. Que vivem em lugares onde as políti­cas públi­cas não chegam. Isso aqui é uma fonte de ren­da, que elas usam para sus­ten­tar a família. A arte é uma for­ma de falar da dev­as­tação ambi­en­tal e da Amazô­nia. Quan­do alguém des­ma­ta a flo­res­ta, destrói toda essa matéria-pri­ma. E destrói a nos­sa cul­tura. E um povo sem cul­tura, é um povo sem história”, disse Tereza Ara­pi­um.

Rio de Janeiro (RJ), 12/08/2023 - Dia Internacional dos Povos Indígenas é celebrado com feira de artesanato no Parque Lage. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 12/08/2023 — Dia Inter­na­cional dos Povos Indí­ge­nas é cel­e­bra­do com feira de arte­sana­to no Par­que Lage. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Out­ros rep­re­sen­tantes de povos indí­ge­nas tam­bém apre­sen­tam ele­men­tos da cul­tura e as prin­ci­pais ban­deiras de luta na feira que ocorre neste sába­do (12) e aman­hã (13) no Par­que Lage, no Jardim Botâni­co, bair­ro da zona sul do Rio de Janeiro. O even­to é parte das cel­e­brações pelo Dia Inter­na­cional dos Povos Indí­ge­nas, cuja data ofi­cial foi 9 de agos­to. É orga­ni­za­do pela Asso­ci­ação Indí­ge­na Aldeia Mara­canã (AIAM), com o apoio insti­tu­cional da EAV Esco­la de Artes Visuais e da Sec­re­taria Estad­ual de Cul­tura e Econo­mia Cria­ti­va do Rio de Janeiro.

A esti­ma­ti­va é que par­tic­i­pam mais de 350 indí­ge­nas de pelo menos 25 etnias de todo o Brasil. São elas: Guarani, Pataxó, Puri, Fulni‑ô, Tukano, Kain­gang, Gua­ja­jara, Ashanin­ka, Tiku­na, Tupinam­bá, Bani­wa, Wau­rá, Kamayurá, Kayapó, Mehi­nako, Pankararu, Kariri-Xocó, Kara­já, Potiguara, Sateré Mawé, Boro­ro, Kadi­wéu, Kam­be­ba, Anan­bé, Kichua e Goitacá.

Além do arte­sana­to, há espaço para cân­ti­cos e danças tradi­cionais, nar­ração de histórias, pin­tu­ra cor­po­ral do públi­co, rodas de con­ver­sa e debates. Marize Guarani, que é a coor­de­nado­ra do even­to, expli­ca que existe um propósi­to para além do comér­cio e das apre­sen­tações cul­tur­ais. A feira assume tam­bém uma função pedagóg­i­ca e aju­da a mobi­lizar pes­soas de out­ras etnias para as causas indí­ge­nas.

“Nos­so prin­ci­pal obje­ti­vo sem­pre foi descon­tru­ir os estereóti­pos. Somos pluriét­ni­cos e mul­ti­cul­tur­ais. Esta­mos aqui lutan­do para que as pes­soas enten­dam que mere­ce­mos respeito. Temos nos­sas tec­nolo­gias e nos­sos saberes como qual­quer out­ro povo. Mas con­tin­u­amos sendo vis­tos como povos que vivem iso­la­dos na aldeia. Quan­do chamamos as pes­soas nes­sas feiras, é para que este­jam conosco, val­orizem a nos­sa cul­tura e lutem jun­to conosco. Porque luta­mos pela flo­res­ta, pelos ani­mais, por tudo aqui­lo que é fun­da­men­tal para a humanidade e o plan­e­ta”, diz Marize Guarani, que tam­bém é pres­i­dente da Asso­ci­ação Indí­ge­na Aldeia Mara­canã e pro­fes­so­ra de História.

Rio de Janeiro (RJ), 12/08/2023 - Dia Internacional dos Povos Indígenas é celebrado com feira de artesanato no Parque Lage. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 12/08/2023 — Dia Inter­na­cional dos Povos Indí­ge­nas é cel­e­bra­do com feira de arte­sana­to no Par­que Lage. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

O cacique Aras­sari Pataxó, líder indí­ge­na da Aldeia Tatuí Pataxó, no sul da Bahia, reforçou a neces­si­dade de diál­o­go com a pop­u­lação dos espaços urbanos. Ele par­ticipou dos con­fli­tos na Aldeia Mara­canã em 2013, quan­do forças do esta­do fiz­er­am uma rein­te­gração de posse vio­len­ta do ter­reno con­tra ocu­pantes indí­ge­nas. Parte do grupo deixou o local e out­ra per­manece até hoje. O gov­er­no estad­ual prom­e­teu restau­rar o pré­dio e cri­ar um Cen­tro de Refer­ên­cia da Cul­tura dos Povos Indí­ge­nas, mas o pro­je­to ain­da não saiu do papel.

Segun­do Aras­sari, o enga­ja­men­to da pop­u­lação com as causas indí­ge­nas vai aumen­tar à medi­da que haja mais tro­cas de con­hec­i­men­to.

“Nos­sas prin­ci­pais riquezas são a nos­sa tradição e a nos­sa cul­tura. Se per­der­mos isso, nós não ser­e­mos ninguém. E a sociedade brasileira, espe­cial­mente a car­i­o­ca, perdeu o con­vívio com os nativos do Brasil”, disse o cacique. “Mudamos um pouco a nos­sa estraté­gia de luta. Quer­e­mos inve­stir mais em práti­cas pedagóg­i­cas. Além de traz­er vis­i­bil­i­dade para os povos orig­inários, apre­sen­tar con­hec­i­men­tos e des­col­o­nizar toda uma história mal con­ta­da e as men­ti­ras impreg­nadas na sociedade sobre os povos indí­ge­nas”.

Serviço

Even­to: Dia Inter­na­cional dos Povos Indí­ge­nas 2023

Local: Par­que Lage. Rua Jardim Botâni­co, 414. Rio de Janeiro

Data: 12 e 13 de agos­to

Horário: das 9h às 17h30

Entra­da gra­tui­ta

Edição: Aécio Ama­do

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