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Iniciativas da sociedade civil ajudam a preservar Mata Atlântica

Repro­dução: © Nos­sos Biomas/TV Brasil/Divulgação

Bioma tem atualmente apenas 24% da cobertura vegetal original


Pub­li­ca­do em 27/05/2023 — 08:20 Por Cami­la Boehm – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A preser­vação da Mata Atlân­ti­ca lev­ou uma comu­nidade em Bar­ra do Tur­vo, inte­ri­or paulista, ao sanea­men­to bási­co, à autono­mia finan­ceira e ao pro­tag­o­nis­mo comu­nitário para as mul­heres. A Rede Agroecológ­i­ca de Mul­heres Agricul­toras (Rama), na região do Vale do Ribeira, é uma das ini­cia­ti­vas que con­tribuem para a defe­sa e restau­ração do bio­ma, que é o mais dev­as­ta­do do país.

A Mata Atlân­ti­ca, cujo dia é comem­o­ra­do neste sába­do, 27 de maio, tem ape­nas 24% de cober­tu­ra veg­e­tal orig­i­nal con­ser­va­da, e metade dis­so é de flo­restas maduras e bem preser­vadas. Os dados são da Fun­dação SOS Mata Atlân­ti­ca, que rev­el­ou nes­ta sem­ana o des­mata­men­to de mais de 20 mil hectares no perío­do de um ano, o que equiv­ale a 20 mil cam­pos de fute­bol.

Cer­ca de 70 mul­heres e suas famílias pro­duzem ali­men­tos no mod­e­lo de agroflo­res­ta, sem neces­si­dade de des­matar os ter­renos e sem usar agrotóx­i­cos e preser­van­do as águas do entorno. Todo esse tra­bal­ho ger­ou bene­fí­cios para a comu­nidade, para além de man­ter a flo­res­ta em pé.

“Na flo­res­ta, a gente tem o cam­bu­ci, tem a erva-mate e o pomar, que é mis­tu­ra­do com as árvores nati­vas. E lá nos quilom­bos tam­bém: eles têm agroflo­res­ta e as plan­tações deles são na flo­res­ta. Tem banana, pupun­ha, palmi­to, hor­ta, tudo rodea­do de árvores. Tudo que a gente plan­ta, nos gru­pos e no quilom­bo, é agroflo­res­ta. O que é mais aber­to é onde se plan­ta ver­du­ra, mes­mo assim é nos can­tinhos e com árvore per­to”, disse Maria Izaldite Dias, de 70 anos, inte­grante da rede des­de sua for­mação em 2015.

Izaldite lem­brou o tem­po em que os esgo­tos escor­ri­am pelos quin­tais das casas. Com a implan­tação do pro­je­to de agri­cul­tura de mul­heres da região, foi pos­sív­el insta­lar fos­sas onde antes o esgo­to escor­ria pelos ter­renos. “Eu me sin­to muito feliz de hoje, pas­san­do na casa das com­pan­heiras, ver que os esgo­tos não estão escor­ren­do no ter­reno e de saber que isso mel­horou a vida das pes­soas e que muitas delas tiver­am con­sciên­cia de não limpar mais seu quin­tal com veneno”, disse.

“As pes­soas andavam doentes, as cri­anças com diar­reia, e a gente não sabia o que era, estavam sem­pre nos pos­tos de saúde tratan­do e nada adi­anta­va. Mel­horou a saúde das cri­anças, das famílias”, disse a agricul­to­ra. As primeiras fos­sas insta­l­adas foram fru­to de inves­ti­men­to da própria comu­nidade, o que chamou a atenção para rece­ber apoio do municí­pio para as seguintes.

Segun­do Izaldite, as mul­heres tin­ham von­tade de faz­er algo por elas mes­mas, mas isso pare­cia “tão longe da real­i­dade que a gente nem ten­ta­va nada.” A orga­ni­za­ção da rede con­tou com o apoio da Sem­pre­vi­va Orga­ni­za­ção Fem­i­nista (SOF). “Muito impor­tante tam­bém foi o des­per­tar das mul­heres, que apren­der­am que tin­ha coisa que elas podi­am faz­er, que elas podi­am sair, que elas podi­am ter o din­heir­in­ho delas. Então, foi uma lib­er­tação. Muitas mul­heres saíram da depressão, porque vivi­am fechadas, sem ter o que faz­er só den­tro de casa e, às vezes, sob os olhos do mari­do. Era uma coisa muito triste”, lem­brou.

Out­ra ini­cia­ti­va é a Rede de Sementes do Vale do Ribeira, com a pro­pos­ta de restau­ração flo­re­stal des­de 2017 por meio da cole­ta de sementes pelas comu­nidades quilom­bo­las da região. Atual­mente, são aprox­i­mada­mente 60 cole­tores de cin­co dessas comu­nidades: André Lopes, Bom­bas, Maria Rosa, Nhun­guara e São Pedro.

Profissionalização

A ven­da das espé­cies cole­tadas é fei­ta para viveiros e ini­cia­ti­vas de restau­ração que plan­tam as sementes e fazem com que mais flo­restas cresçam em áreas antes degradadas. O coor­de­nador da Rede, Juliano Codor­na, disse que, no ano pas­sa­do, foi for­mal­iza­da uma coop­er­a­ti­va dess­es cole­tores como for­ma de val­oriza­ção do con­hec­i­men­to das comu­nidades, para além da ger­ação de ren­da.

“A ideia é começar real­mente a profis­sion­alizar isso, pen­sar estru­tu­ral­mente como um negó­cio, mas tam­bém val­orizar o con­hec­i­men­to das comu­nidades, val­orizar ess­es ter­ritórios. Porque a cole­ta de sementes, a com­er­cial­iza­ção, só é pos­sív­el porque exis­tem ess­es ter­ritórios e porque as comu­nidades vivem lá há mais de 300 anos, e fazem o mane­jo da flo­res­ta”, disse.

Codoma ressaltou que a preser­vação das flo­restas den­tro dess­es ter­ritórios faz parte do mane­jo e do modo de vida das comu­nidades, ou seja, é mane­jar fazen­do roça e deixan­do reflo­resta­men­to. Out­ro resul­ta­do do pro­je­to é o des­per­tar das comu­nidades para espé­cies que pas­savam des­perce­bidas porque não são usadas no dia a dia.

“Hoje, com a cole­ta de sementes, você vê vários relatos assim ‘eu ia para faz­er roça, pega­va e bota­va a enx­a­da nas costas e ia andan­do com a cabeça lá até chegar, tra­bal­har e voltar. Hoje, eu já vou pelo cam­in­ho olhan­do a semente, olhan­do se tem uma árvore com flor, se tem uma semente, se tem algum fru­to. Esse tra­bal­ho com a semente desen­volveu tam­bém um olhar dessas comu­nidades para a veg­e­tação”, afir­mou o coor­de­nador da Rede.

Biodiversidade

Para que ini­cia­ti­vas de restau­ração ten­ham mais chance de suces­so, a platafor­ma Plangea Web, do Insti­tu­to Inter­na­cional para Sus­tentabil­i­dade (IIS), ofer­ece a visu­al­iza­ção de áreas pri­or­itárias para ações de restau­ração e con­ser­vação de ecos­sis­temas. O dire­tor exec­u­ti­vo do IIS, Rafael Loy­ola, expli­cou que a lóg­i­ca da platafor­ma se dá diante do fato de a bio­di­ver­si­dade não ser dis­tribuí­da de for­ma homogênea.

“Tem lugares com muito mais bio­di­ver­si­dade do que out­ros. Por exem­p­lo, a bio­di­ver­si­dade do sul da Bahia, na Mata Atlân­ti­ca, é muito maior tan­to de flo­ra quan­to de fau­na do que a bio­di­ver­si­dade da Mata Atlân­ti­ca do inte­ri­or de São Paulo ou do inte­ri­or de Minas. A bio­di­ver­si­dade nas áreas mon­tan­hosas, como a Ser­ra do Mar e a Ser­ra da Man­tiqueira, é muito maior do que em áreas planas, como o Vale do Paraí­ba”, exem­pli­fi­cou.

Diante dessa real­i­dade, Loy­ola acres­cen­ta que, só por isso, tem lugares que, se forem restau­ra­dos, a pos­si­bil­i­dade de voltar a ter a fau­na e a flo­ra que orig­i­nal­mente estavam ali é muito maior do que out­ros. Ele apon­ta três ele­men­tos prin­ci­pais que a platafor­ma iden­ti­fi­ca: onde a bio­di­ver­si­dade se con­cen­tra, onde o car­bono pode ser mel­hor sequestra­do, ou absorvi­do, e onde é mais bara­ta a restau­ração.

“Por isso que faz tan­ta difer­ença ter um mapa de áreas pri­or­itárias, porque, no fun­do, você quer ter o maior bene­fí­cio pos­sív­el com o menor recur­so. Se você fiz­er aleato­ri­a­mente, vai ter bene­fí­cios, óbvio. Mas não é a maneira mais inteligente de faz­er. Por isso que a gente chama essa abor­dagem de inteligên­cia espa­cial. Como é que você usa o espaço, o ter­ritório, de uma maneira mais inteligente, para ter mais bene­fí­cios com o mes­mo esforço”, expli­cou.

Edição: Nádia Fran­co

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