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Insistência e milhões de cartas: conheça história do pai do Zé Gotinha

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Artista plástico Darlan Rosa é o criador do símbolo da vacinação


Pub­li­ca­do em 02/09/2023 — 08:45 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Vacinação 50 anos

Com mais de 50 obras no Brasil e no exte­ri­or, Dar­lan Rosa se con­sid­era um artista plás­ti­co bem-suce­di­do, com uma car­reira que vai da escul­tura em cimen­to à arte dig­i­tal com inteligên­cia arti­fi­cial. Seu tra­bal­ho de maior suces­so e recon­hec­i­men­to, porém, tem um traço sim­ples e fácil de ser copi­a­do: o Zé Got­in­ha, ícone do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI), que com­ple­ta 50 anos no próx­i­mo dia 18 de setem­bro e será cel­e­bra­do por uma série de reporta­gens na Agên­cia Brasil ao lon­go deste mês.

Mineiro da cidade de Coro­man­del, Dar­lan, de 76 anos, con­ta que a sim­pli­ci­dade foi proposi­tal. Era impor­tante que qual­quer um pudesse desen­har o per­son­agem, em uma época em que não era tão fácil pro­duzir uma cópia de um pan­fle­to ou car­taz.

“As agên­cias de pub­li­ci­dade debochavam que era um per­son­agem que não tin­ha mãoz­in­ha, que não tin­ha pé. E, naque­la época, havia uma pre­dom­inân­cia de uma estéti­ca Dis­ney, com per­son­agens gordinhos, com a mão com luva, toda uma filosofia que, no meu enten­der, não se encaix­a­va em um per­son­agem para a saúde públi­ca”, lem­bra o desen­hista, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Dar­lan começou a desen­har na infân­cia, quan­do tam­bém prat­i­ca­va com mate­ri­ais como pig­men­to em pó e cimen­to da fábri­ca de ladrilhos de seu pai. A con­t­a­m­i­nação por ess­es pro­du­tos des­de a infân­cia fez com que, na meia-idade, uma aler­gia inten­sa causasse uma par­al­isia em um dos olhos e o obri­gasse a aban­donar as tin­tas. O artista, então, abraçou o mun­do dig­i­tal e hoje desen­volve tra­bal­hos com com­putação grá­fi­ca e inteligên­cia arti­fi­cial.

Rio de Janeiro (RJ), 23/08/2023 - O personagem Zé Gotinha participa do lançamento da campanha de multivacinação, pelo ministério da Saúde, no Palácio da Guanabara. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Per­son­agem Zé Got­in­ha é um dos pro­tag­o­nistas do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI) — Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Marcou minha vida”

A insistên­cia em con­tin­uar a pro­duzir tam­bém mar­cou os primeiros pas­sos do Zé Got­in­ha. Dar­lan Rosa con­ta que pre­cisou ser insis­tente para con­vencer o Min­istério da Saúde a ado­tar aque­le que viria a ser seu sím­bo­lo mais famoso. Havia a crença de que a vaci­nação era um assun­to sério demais para ser divul­ga­do com um per­son­agem em ani­mação, con­ta ele, que foi aju­da­do por cri­anças de todo o Brasil, que soter­raram o min­istério com mil­hões de car­tas com sug­estões de nomes para o Zé Got­in­ha.

“Demos a ideia de faz­er um con­cur­so para escol­her o nome do per­son­agem, porque aí poderíamos medir se ele tin­ha caris­ma ou não. E foi um boom. Foram mais de 11 mil­hões de car­tas, e o próprio min­istério ficou meio pas­mo“, recor­da. “Eu virei uma sar­na em cima do min­istério depois que criei o boneco. Fiquei lutan­do por aqui­lo. E, até hoje, é uma coisa que mar­cou a min­ha vida de uma maneira muito grande.”

Brasília (DF) 01/09/2023 - O artista plástico e criador do Zé Gotinha, Darlan Rosa posa para fotografia em sua residência. O programa Nacional de Vacinação completa 50 anos.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Dar­lan Rosa vai con­tar a história do Zé Got­in­ha em livro que será lança­do em setem­bro — Joéd­son Alves/Agência Brasil

O cri­ador do Zé Got­in­ha vai con­tar a história de como o per­son­agem nasceu e aju­dou o Brasil a vencer a poliomielite, que teve o últi­mo caso no país em 1989. O livro Zé Got­in­ha Herói Nacional, edi­ta­do pelo Min­istério da Saúde, será lança­do no dia 10 de setem­bro, na Bien­al do Livro do Rio de Janeiro.

Agên­cia Brasil: Nestes 50 anos de PNI, o Zé Got­in­ha é um dos pro­tag­o­nistas. O que você acred­i­ta que fez ele fun­cionar tão bem?
Dar­lan Rosa: Fazen­do uma análise depois de todo esse tem­po, quan­do eu criei o per­son­agem, perce­bi que havia um enga­ja­men­to muito grande das vaci­nado­ras. A maior parte era mul­her. Eu criei um per­son­agem para elas, e fiz um per­son­agem super sim­ples, para que qual­quer pes­soa pudesse desen­har. Havia uma deman­da muito grande de car­tazes, de hoje para aman­hã, para faz­er uma vaci­nação em uma esco­la, para faz­er uma ação de blo­queio. E, naque­la época, não tin­ha xerox no serviço públi­co. Era tudo feito à mão. Então, eu fui em todos os esta­dos divul­gar o per­son­agem, e eu dizia para as vaci­nado­ras, esse é o fil­ho de vocês, que vocês têm que edu­car e trans­for­mar em um grande edu­cador, como vocês tam­bém são. E hou­ve esse enga­ja­men­to. Ness­es 37 anos do Zé Got­in­ha, muitas vezes, o min­istério não que­ria usar, mas os esta­dos e as vaci­nado­ras con­tin­uaram usan­do e pres­sio­n­an­do o min­istério para que fizesse cam­pan­has usan­do o Zé Got­in­ha. Elas têm esse grande méri­to de ter colo­ca­do o per­son­agem no imag­inário brasileiro.

Agên­cia Brasil: A ideia, então, era que ele fos­se bem sim­ples de ser desen­hado?
Dar­lan Rosa: As agên­cias de pub­li­ci­dade debochavam que era um per­son­agem que não tin­ha mãoz­in­ha, que não tin­ha pé. E, naque­la época, havia uma pre­dom­inân­cia de uma estéti­ca Dis­ney, com per­son­agens gordinhos, com a mão com luva, toda uma filosofia que, no meu enten­der, não se encaix­a­va em um per­son­agem para a saúde públi­ca. E vejo que, hoje, grande parte dos per­son­agens do mun­do dos games é como o Zé Got­in­ha, sem mãoz­in­ha, sem pé, porque facili­ta o com­puta­dor a movi­men­tá-los em cena. Coin­ci­den­te­mente, o Zé Got­in­ha hoje é total­mente con­tem­porâ­neo, mais até do que quan­do foi cri­a­do.

Agên­cia Brasil: A ideia foi mal rece­bi­da ini­cial­mente pelo min­istério. Como foi esse con­venci­men­to para que o Zé Got­in­ha pudesse ser usa­do? O que virou essa chave?
Dar­lan Rosa: O min­istério tin­ha muito receio porque uma cam­pan­ha de vaci­nação pre­cisa­va vaci­nar mil­hões de cri­anças em um úni­co dia, o que tem um cus­to muito grande. E, se você intro­duzisse um per­son­agem na cam­pan­ha e ela fra­cas­sasse, o pre­juí­zo seria muito grande. Tam­bém havia pes­soas den­tro do min­istério que achavam que não se podia tratar vaci­nas como fan­ta­sia, que era uma coisa séria demais para colo­car um per­son­agem engraçad­in­ho pulan­do. O Zé Got­in­ha foi cri­a­do den­tro da sec­re­taria em que fica­va o PNI e que tam­bém tin­ha um grupo de edu­cadores em saúde. Primeira­mente, eu os con­ven­ci de que poderíamos cri­ar um pro­je­to educa­ti­vo a lon­go pra­zo. Quan­do o Zé Got­in­ha foi cri­a­do, a encomen­da que eu rece­bi era só de cri­ar uma logo­mar­ca para mar­car o com­pro­mis­so do Brasil de erradicar a pólio. Quan­do lev­ei a ideia do per­son­agem, me dis­ser­am: “Mas nós não te encomen­damos isso. Quer­e­mos só a logo­mar­ca”. Mas meu raciocínio foi o seguinte: se o maior pre­juí­zo da cri­ança com a pólio é a mobil­i­dade, o per­son­agem pre­cisa andar, pular e ser feliz. Essa era a tôni­ca que a gente esta­va trazen­do. Então, demos a ideia de faz­er um con­cur­so para escol­her o nome do per­son­agem, porque aí poderíamos medir se ele tem caris­ma ou não. E foi um boom. Foram mais de 11 mil­hões de car­tas. O próprio min­istério ficou meio pas­mo, e começamos a perce­ber que o nome Zé Got­in­ha era recor­rente. Mas, mes­mo assim, não con­seguimos colo­car ele na cam­pan­ha, e foram feitos filmes com ele para a vaci­nação de roti­na. Só que isso teve uma reper­cussão muito grande, foi muito comen­ta­do pela mídia. E, então, em setem­bro de 1988, final­mente con­seguimos a cam­pan­ha.

Brasília (DF), 17/08/2023, Pra marcar o lançamento da Campanha Nacional de Multivacinação do Ministério da Saúde, o Zé Gotinha foi na Rodoviária do Plano Piloto, para conscientizar a população sobre a importância da vacinação. Foto: José Cruz/Agência Brasil
Repro­dução:  Con­cur­so para escol­ha do nome do Zé Got­in­ha rece­beu mais de 11 mil­hões de car­tas — José Cruz/Agência Brasil

Agên­cia Brasil: Então, o Zé Got­in­ha foi cri­a­do em 1986 e só estrelou uma cam­pan­ha anos depois?
Dar­lan Rosa: Isso, em 1988. Nesse perío­do, fiz uma história em quadrin­ho, fiz jogu­in­hos, fiz car­tazes. Uma coisa que pou­cas pes­soas sabem e que não chegou a ser veic­u­la­do é que o primeiro nome dele era Vax, uma abre­viatu­ra de vaci­nas em inglês que era muito usa­da. Vou lançar um livro na bien­al que res­ga­ta essa história: Zé Got­in­ha Herói Nacional.

Agên­cia Brasil: O Zé Got­in­ha par­ticipou da cer­imô­nia em que o Brasil rece­beu o cer­ti­fi­ca­do de elim­i­nação da pólio. O que você sen­tiu naque­le dia?
Dar­lan Rosa: Eu esta­va nos Esta­dos Unidos naque­la época, acho que em 1995, mas ten­ho um filme dele na cer­imô­nia jun­to com o pres­i­dente Ita­mar Fran­co. O boneco foi na solenidade. Imag­ine o impacto que isso teve na min­ha vida. Anos antes de faz­er esse per­son­agem, tive um pro­gra­ma infan­til na TV, em que desen­ha­va per­son­agens para cri­anças. Eu já fiz per­son­agens para cam­pan­has para dormir, para lavar a mão, para não fumar. Quan­do veio a ideia de uma logo­mar­ca para cam­pan­ha de pólio, eu vi que era uma opor­tu­nidade de ouro. Eu virei uma sar­na em cima do min­istério depois que criei o boneco. Fiquei lutan­do por aqui­lo. E, até hoje, é uma coisa que mar­cou a min­ha vida de uma maneira muito grande.

Agên­cia Brasil: Você tra­bal­hou no Unicef depois do suces­so do Zé Got­in­ha. Essa exper­iên­cia brasileira foi expor­ta­da? O Zé Got­in­ha inspirou out­ros per­son­agens pelo mun­do?
Dar­lan Rosa: Eu fiz o Zé Got­in­ha em um con­vênio entre o Min­istério da Saúde e o Unicef, tra­bal­hei no min­istério e depois fiquei 16 anos colab­o­ran­do com o Unicef. Eu fiz a cam­pan­ha que erradi­cou a pólio em Ango­la, com um per­son­agem tam­bém, que lá era uma estrela. A exper­iên­cia em Ango­la foi o seguinte: o país esta­va em guer­ra civ­il, e o vaci­nador não podia entrar na zona rebelde para vaci­nar. Então, a ideia foi cri­ar um per­son­agem que trouxesse a cri­ança para ser vaci­na­da. Fiz tam­bém nos Esta­dos Unidos uma cam­pan­ha veic­u­la­da nos país­es do Ter­ceiro Mun­do sobre micronu­tri­entes, tam­bém com per­son­agem, e acabei fazen­do uma trilo­gia sobre iodo, vit­a­m­i­na A e fer­ro. E ess­es livros foram traduzi­dos em várias lín­guas.

Agên­cia Brasil: Você defende que é pre­ciso falar de vaci­nas sem assus­tar, mas existe uma avali­ação hoje de que fal­ta per­cepção de risco sobre as doenças que as vaci­nas con­tro­laram. Como vê esse equi­líbrio entre con­sci­en­ti­zar do risco e assus­tar?
Dar­lan Rosa: Se você tem um per­son­agem que sig­nifi­ca pro­teção e você vai rece­ber ele den­tro do seu cor­po, você vai rece­ber uma coisa boa. Não tem que ter medo. Eu sou com­ple­ta­mente con­tra o ter­ror­is­mo nas cam­pan­has. Quan­do fiz a cam­pan­ha em Ango­la, em 1999, Luan­da tin­ha 3 mil­hões de habi­tantes e dez vezes mais moran­do na rua, porque o país esta­va todo mina­do. Em um país em que a sub­nu­trição era tal que as pes­soas comi­am dia sim, dia não, tin­ha que falar para as pes­soas que elas tin­ham que se vaci­nar porque tem uma doença chama­da pólio, quan­do elas estavam pre­ocu­padas com ataque, com bom­ba, com sub­nu­trição. Isso nem entra­va na cabeça deles. E não tin­ha TV, rádio e jor­nal para sus­ten­tar essa cam­pan­ha. Mas, quan­do cheguei lá, perce­bi que as pes­soas tin­ham algo como o nos­so cordel, uma comu­ni­cação em quadros que era poéti­ca, e eu sur­fei nes­sa onda. O per­son­agem lá, que se chama­va Cuia, que era uma estrela de cin­co pon­tas, toda em for­ma de poe­sia. Reuni­mos escoteiros, asso­ci­ações, igre­jas e cri­amos um time de 1 mil­hão de entre­gadores de men­sagens, porque era oral a comu­ni­cação, no meio de uma guer­ra. E a estre­lin­ha se chama­va Cuia porque era uma palavra com entendi­men­to em todos os diale­tos, era algo bom, algo doce. Isso tudo é para diz­er que não creio no ter­ror­is­mo. inclu­sive no ano pas­sa­do, quan­do o fil­ho do Bol­sonaro colo­cou uma arma na mão do Zé Got­in­ha, fiquei pos­ses­so, porque era o tra­bal­ho de uma vida sendo estra­ga­do. Eu acred­i­to na edu­cação e no con­hec­i­men­to.

Dia D de mobilização da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo.
Repro­dução:  Per­son­agem Zé Got­in­ha é sím­bo­lo da cam­pan­ha de vaci­nação que aju­dou a erradicar a pólio no país — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Agên­cia Brasil: Você chegou a se man­i­fes­tar pub­li­ca­mente quan­do o Eduar­do Bol­sonaro pos­tou o desen­ho do Zé Got­in­ha empun­han­do uma seringa como uma metral­hado­ra. Já hou­ve out­ros episó­dios em que rep­re­sen­tações do per­son­agem te inco­modaram?
Dar­lan Rosa: Essa foi a primeira vez. Às vezes, você vê um grupo de vaci­nadores que ten­ta faz­er o per­son­agem e ele aca­ba viran­do uma espé­cie de fan­tas­ma. Mas eu sem­pre con­vivi com isso achan­do que era muito mais von­tade de acer­tar e não ter recur­sos do que algo de propósi­to. Uma vez, alguém pos­tou no Twit­ter, nos Esta­dos Unidos, e come­cei a rece­ber men­sagens de que o sím­bo­lo da vaci­nação no Brasil era um boneco da Ku Klux Klan. Eu fiquei muito indig­na­do. Eu não gos­to de rede social, mas entrei para faz­er um con­venci­men­to. Isso tin­ha viral­iza­do no mun­do em ple­na pan­demia. Ten­tei inter­cep­tar todos os posts que eu pude para explicar que não tem essa história de Ku Klux Klan. E essa amer­i­cana depois pos­tou dizen­do que enten­deu a situ­ação, e uma rádio amer­i­cana fez uma matéria dizen­do que o Zé Got­in­ha era o maior pro­gra­ma educa­ti­vo pró-vaci­na do mun­do.

Agên­cia Brasil: O gov­er­no ante­ri­or deu espaço a mil­i­tantes anti­vaci­na em uma audiên­cia públi­ca no momen­to em que era necessário apres­sar a vaci­nação infan­til con­tra a covid, e o próprio pres­i­dente disse que não vaci­nar­ia sua fil­ha. Como foi teste­munhar aque­le momen­to, para alguém que tra­bal­hou pela adesão à vaci­nação?
Dar­lan Rosa: Eu, por natureza, procuro não me envolver em políti­ca. Mas, desse gov­er­no pas­sa­do, o que eu não per­doei e fiquei pos­ses­so foi a ati­tude do pres­i­dente em relação à vaci­na. Em 2020, nós não tín­hamos vaci­na, mas tín­hamos um ati­vo de comu­ni­cação que era o Zé Got­in­ha, que podia ter sido usa­do para divul­gar as noções bási­cas de pro­teção con­tra a covid. Fiquei irri­tadís­si­mo com isso e man­dei várias men­sagens para o min­istério, falei com várias pes­soas. Cheguei a pub­licar nas min­has redes e paguei do meu bol­so para impul­sion­ar uma pub­li­cação, em que o Zé Got­in­ha dizia assim: “Fique vivo enquan­to você me espera”. Mas uma cam­pan­ha dessa foi um pin­go d’água num oceano. Eu não per­doo que o gov­er­no pas­sa­do destru­iu um tra­bal­ho de 30 anos. Esse con­venci­men­to da neces­si­dade da vaci­na tem que ser recon­struí­do prati­ca­mente, porque foi destruí­do. A grande sorte do pro­gra­ma de vaci­nação foi que a mídia nun­ca aban­do­nou essa ideia, ela sem­pre esteve jun­to, divul­gan­do.

Agên­cia Brasil: O Zé Got­in­ha tam­bém pode ser um instru­men­to de com­bate às fake news?
Dar­lan Rosa: Com certeza. Ele tem que estar nas redes soci­ais. Se pode pub­licar cam­pan­has, ani­mações de 15 segun­dos que tratam de assun­tos vari­a­dos, e, inclu­sive como se dá a vaci­nação, a cri­ação da vaci­na, a pro­teção. Existe um descon­hec­i­men­to ger­al da pop­u­lação sobre o que é a vaci­na. Out­ro dia, vi alguém falan­do que estavam desen­vol­ven­do uma vaci­na covid via oral, e a pes­soa argu­men­ta­va que ela era o ide­al porque quan­do a pes­soa toma­va, os resí­du­os da vaci­na na boca já com­ba­t­i­am o vírus assim que ele chega­va. Na real­i­dade, a vaci­na não enfrenta o micróbio, ela ensi­na o sis­tema imunológi­co a se defend­er. Eu tin­ha von­tade de que as cri­anças soubessem dis­so. Inclu­sive, no meu livro, abor­do isso. É bom bater nes­sa tecla porque existe um espaço para fake news. É pre­ciso bater firme nes­sa parte educa­ti­va.

Brasília (DF), 26.08.2023 - Ministério da Saúde lançou, no Zoológico de Brasília, a campanha de multivacinação no Distrito Federal. Foto: José Cruz/Agência Brasil
Repro­dução: Para Dar­lan Rosa, Zé Got­in­ha tam­bém aju­da no com­bate às fake news con­tra vaci­nas — José Cruz/Agência Brasil

Agên­cia Brasil: A “vol­ta Zé Got­in­ha” foi muito acla­ma­da com o Movi­men­to Nacional pela Vaci­nação ini­ci­a­do neste ano. Ele tam­bém está sendo cel­e­bra­do em uma cam­pan­ha com a Xuxa. O que ele rep­re­sen­ta hoje?
Dar­lan Rosa: Essa asso­ci­ação do Zé Got­in­ha com a Xuxa foi genial, porque as cri­anças da época da Xuxa são os pais de hoje, que têm a respon­s­abil­i­dade de vaci­nar seus fil­hos. Essa asso­ci­ação nesse momen­to foi muito opor­tu­na e uma bela saca­da. Hoje, eu sou um artista plás­ti­co rel­a­ti­va­mente bem-suce­di­do. Ten­ho 58 obras públi­cas em Brasília, ten­ho obras em vários país­es, mas as pes­soas sem­pre dão importân­cia quan­do ficam saben­do que eu criei o Zé Got­in­ha. Perce­bo que há uma una­n­im­i­dade nesse país sobre a importân­cia e o caris­ma desse per­son­agem. E ele esta­va sendo mar­gin­al­iza­do e enter­ra­do. E, quan­do vem um gov­er­no que fala “cadê o Zé Got­in­ha?”, e esse gov­er­no dá a ele uma importân­cia de sím­bo­lo nacional, não só de vaci­nação, porque acho que ele já ultra­pas­sou isso, dá importân­cia de um sím­bo­lo nacional de saúde, isso encon­tra no imag­inário pop­u­lar essa admi­ração pelo per­son­agem, esse car­in­ho. Fal­ta­va que se desse importân­cia a ele. Não vou diz­er que o Zé Got­in­ha é fenom­e­nal, estu­pen­do. É um per­son­agem sim­ples que, ao lon­go dos anos, con­quis­tou o imag­inário pop­u­lar.

Edição: Juliana Andrade

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