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Internet foi “cupido” de casais que se formaram durante a pandemia

Dia dos namorados digital.
Repro­du­ção: © Fabio Rodri­gues Pozzebom/Agência Bra­sil

Dia dos Namorados: conheça histórias de amores surgidos no isolamento


Publi­ca­do em 12/06/2021 — 08:30 Por Lud­mil­la Sou­za — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — São Pau­lo

A super­vi­so­ra de mídia audi­o­vi­su­al Karen Sayão, 30 anos, esta­va sol­tei­ra há dois anos quan­do conhe­ceu o ana­lis­ta de sis­te­mas Lucas Alves, tam­bém de 30 anos, no apli­ca­ti­vo Tin­der.

“Não bota­va mui­ta fé em apli­ca­ti­vo, por­que nor­mal­men­te nenhum ‘mat­ch’ [quan­do se for­ma um par com outra pes­soa no apli­ca­ti­vo de rela­ci­o­na­men­to] ia pra fren­te, isso antes da pan­de­mia, e nor­mal­men­te logo can­sa­va e esque­cia do app, pre­fe­ria o ao vivo, mas esta­va a fim de con­ver­sar com pes­so­as novas e ver como anda a vida de outras pes­so­as, fora do meu cír­cu­lo de ami­gos.”

Dia dos Namorados
Repro­du­ção: Dia dos Namo­ra­dos: Karen Sayão e Lucas Alves se conhe­ce­ram duran­te a pan­de­mia por meio de um apli­ca­ti­vo — Acer­vo pes­so­al

Ape­sar do medo de conhe­cê-lo pes­so­al­men­te – em fun­ção da pan­de­mia de covid-19 que já assus­ta­va o mun­do – ela topou sair de casa para um encon­tro, em setem­bro do ano pas­sa­do, depois de três meses de con­ver­sas pelo apli­ca­ti­vo.

“Tive medo, até por­que moro com os meus pais, que são ido­sos, tinha que con­fi­ar em alguém que não conhe­cia e que fala­va que esta­va em iso­la­men­to e fazen­do home offi­ce”, expli­cou.

“Além dis­so, tinha o medo de pas­sar algo para ele, uma vez que, no meu caso, não esta­va de home offi­ce, devi­do a minha pro­fis­são, mas como moro com os meus pais esta­va toman­do todos os cui­da­dos pos­sí­veis. Foram três meses de con­ver­sa antes do pri­mei­ro encon­tro”, com­ple­tou.

A pan­de­mia mudou a for­ma de as pes­so­as se rela­ci­o­na­rem. E não foi dife­ren­te com os namo­ros. A roti­na do casal que está jun­to há nove meses ain­da não é de bala­da, e as ati­vi­da­des são casei­ras. “Como ele mora em uma casa com um casal de ami­gos, que fazem iso­la­men­to tam­bém, nor­mal­men­te a gen­te pas­sa o fim de sema­na lá, às vezes a gen­te sai para cor­rer no par­que, pedi­mos comi­da por deli­very, assis­ti­mos séri­es e é só isso”.

Cupido virtual

Já o casal José Wil­ker Oli­vei­ra, 34 anos, e Gabri­el de Matos Bar­bo­sa, 21 anos, se conhe­ce­ram no Grin­dr, um apli­ca­ti­vo de rela­ci­o­na­men­to gay, em outu­bro de 2019. Eles saí­ram uma vez, mas o rela­ci­o­na­men­to não foi para fren­te.

“Após o pri­mei­ro encon­tro, nos afas­ta­mos e só nos reen­con­tra­mos no final de janei­ro de 2020, quan­do o Gabri­el fez uma pos­ta­gem no Face­bo­ok, e eu comen­tei. Após o meu comen­tá­rio vol­ta­mos a con­ver­sar, mas nada de rela­ci­o­na­men­to.”

Dia dos Namorados
Repro­du­ção: Dia dos Namo­ra­dos: José Wil­ker e Gabri­el come­ça­ram a namo­rar e a morar jun­tos em meio ao sur­to do novo coro­na­ví­rus — Acer­vo pes­so­al

Eles vol­ta­ram a se encon­trar depois do car­na­val de 2020. “Alguns dias depois, come­ça­ram a sur­gir casos sus­pei­tos em nos­sa cida­de [Muri­aé, MG], nes­sa épo­ca, aca­bei fican­do super bito­la­do e, com isso, proi­bin­do o Gabri­el de fre­quen­tar minha casa, uma vez que ele tra­ba­lha­va em uma can­ti­na do hos­pi­tal da cida­de”, relem­brou o geren­te finan­cei­ro José Wil­ker.

O medo com rela­ção à doen­ça e as dúvi­das que ela tra­zia tomou con­ta de mui­tas pes­so­as, e não foi dife­ren­te com José Wil­ker. “Após os pri­mei­ros casos con­fir­ma­dos, a can­ti­na e vári­os outros esta­be­le­ci­men­tos foram fecha­dos no pri­mei­ro lock­down, mas, mes­mo assim, eu só reen­con­trei o Gabri­el após 15 dias de iso­la­men­to em casa, com a con­di­ção de ele estar toman­do todos os cui­da­dos. Após esse perío­do de qua­ren­te­na, vol­ta­mos a nos encon­trar. Quan­do ele che­ga­va a minha casa, a pri­mei­ra coi­sa era dei­xar o cal­ça­dos na por­ta e ir para o banho e tro­car de rou­pa, só após o banho que a gen­te namo­ra­va”, deta­lha José Wil­ker.

Foi nes­se perío­do de iso­la­men­to e incer­te­zas que o rela­ci­o­na­men­to dos dois engre­nou. Afas­ta­do do tra­ba­lho, Gabri­el, que é ana­lis­ta de supor­te de sis­te­mas, pas­sou por uma cri­se fami­li­ar séria por con­ta de sua ori­en­ta­ção sexu­al. Os con­fli­tos aca­ba­ram fazen­do com que ele saís­se de casa e fos­se morar sozi­nho.

“Após uns dias de sua saí­da de casa, Gabri­el foi demi­ti­do da can­ti­na. Logo em segui­da, sur­giu uma vaga na empre­sa que eu tra­ba­lho, ele foi sele­ci­o­na­do para fazer um tes­te e pas­sou. Logo, ele me pediu em namo­ro, dias depois ele se mudou de vez para minha casa e pas­sa­mos a morar jun­tos”, con­ta José Wil­ker.

“Mais de um ano se pas­sou, e ain­da esta­mos moran­do, namo­ran­do, malhan­do, nadan­do, tra­ba­lhan­do e se diver­tin­do jun­tos, lite­ral­men­te, 24 horas por dia jun­tos. Hoje esta­mos cons­truin­do nos­sa casa e pla­ne­jan­do o futu­ro para que, em bre­ve, pos­sa­mos nos casar ofi­ci­al­men­te.”

Romance ideal

Essas são ape­nas duas de mui­tas his­tó­ri­as de homens e mulhe­res que bus­cam os apli­ca­ti­vos na espe­ran­ça de encon­trar um “par per­fei­to”.

Segun­do pes­qui­sa rea­li­za­da pelo por­tal espe­ci­a­li­za­do Casamentos.com.br, qua­se 20% dos casais bra­si­lei­ros com pla­nos de casa­men­to se conhe­ce­ram pela inter­net e redes soci­ais. O levan­ta­men­to foi fei­to com mais de 3,4 mil casais, entre 26 e 40 anos.

De acor­do com a pes­qui­sa, os apps de rela­ci­o­na­men­to são os cupi­dos digi­tais com mais pon­ta­ria, com des­ta­que espe­ci­al para o Tin­der, Happn e Badoo: 36% das his­tó­ri­as de amor que come­çam onli­ne e ter­mi­nam em casa­men­to nas­cem de um swi­pe [esco­lher alguém para con­ver­sar].

Mas outras tec­no­lo­gi­as ain­da têm mui­to espa­ço entre todas as fai­xas etá­ri­as: logo atrás está o Face­bo­ok, que conec­ta qua­se 33% dos usuá­ri­os da inter­net. Além dis­so, os mat­ches de Ins­ta­gram repre­sen­tam 15%, e gru­pos de What­sApp, 7%.

Vínculos afetivos duradouros

A psi­có­lo­ga Adri­a­ne Bran­co, espe­ci­a­lis­ta em sexu­a­li­da­de huma­na pela Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo, expli­ca que o iso­la­men­to impos­to pela pan­de­mia fez mui­tas pes­so­as se sen­ti­rem sozi­nhas e que os apli­ca­ti­vos de rela­ci­o­na­men­tos pre­en­che­ram par­te des­se vazio.

“A pan­de­mia inter­rom­peu o con­ví­vio soci­al das pes­so­as e, como con­sequên­cia, mui­tos pas­sa­ram a expe­ri­men­tar a soli­dão. A pos­si­bi­li­da­de de inte­ra­gir soci­al­men­te, atra­vés de um per­fil num apli­ca­ti­vo de rela­ci­o­na­men­to, fez mui­tos uti­li­za­rem essa fer­ra­men­ta. Além de pre­en­cher o vazio, o iso­la­men­to soci­al obri­ga­tó­rio, fez as pes­so­as repen­sa­rem seu modo de viver. O que fez mui­tos bus­ca­rem nos apli­ca­ti­vos a opor­tu­ni­da­de de encon­tra­rem par­ce­ri­as para vín­cu­los afe­ti­vos mais dura­dou­ros”.

A espe­ci­a­lis­ta aler­ta, porém, para alguns pro­ble­mas de se entrar de cabe­ça num rela­ci­o­na­men­to com o intui­to de suprir a carên­cia cau­sa­da pela pan­de­mia. “O ris­co é entrar em um rela­ci­o­na­men­to ape­nas para pre­en­cher o vazio e a soli­dão sen­ti­dos em fun­ção do iso­la­men­to, o que foi mui­to comum duran­te esse perío­do, a bus­ca por com­pa­nhia”, afir­ma.

“É fazer caber em sua vida uma pes­soa que não tem nada a ver com você e, em alguns casos, assu­mir com­pro­mis­so mais sério. Ou mes­mo se rela­ci­o­nar com pes­so­as com com­por­ta­men­tos agres­si­vos ou ina­de­qua­dos”, des­ta­ca a pes­qui­sa­do­ra do Cen­tro de Estu­dos e Pes­qui­sas em Com­por­ta­men­to e Sexu­a­li­da­de.

Ela não des­car­ta, entre­tan­to, a exis­tên­cia de his­tó­ri­as de amor sur­gi­das a par­tir de um cli­que – ou um “mat­ch” – nas redes soci­ais.

“Quan­do o amor está pre­sen­te, pas­sa­mos a ver no outro as qua­li­da­des e os defei­tos, porém, em geral, as qua­li­da­des se sobre­põem aos defei­tos. Admi­ra­mos e res­pei­ta­mos. Há o dese­jo de per­ma­ne­cer jun­tos inde­pen­den­te­men­te das dife­ren­ças encon­tra­das, por­que elas exis­tem. Entre­tan­to são supe­ra­das em prol de um con­ví­vio har­mo­ni­o­so. Dian­te das difi­cul­da­des, há o inte­res­se em resol­ver as diver­gên­ci­as”, fri­sa a espe­ci­a­lis­ta.

Edi­ção: Líli­an Beral­do

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