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Inundação em Porto Alegre foi falta de manutenção, dizem especialistas

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Água do Guaíba invadiu comportas com falhas e inundou casas de bomba


Publicado em 24/05/2024 — 21:54 Por Pedro Rafael Vilela — Enviado especial — Porto Alegre

O sis­tema de pro­teção con­tra inun­dações de Por­to Ale­gre é con­sid­er­a­do “robus­to, efi­ciente e fácil de oper­ar e man­ter”, mas fal­hou porque não rece­beu as manutenções per­ma­nentes necessárias por parte da prefeitu­ra, por meio do Depar­ta­men­to Munic­i­pal de Água e Esgo­to (DMAE). Essa é a avali­ação de um grupo de 42 engen­heiros, arquite­tos e geól­o­gos, que divul­gou um man­i­festo, na últi­ma quin­ta-feira (23), em que expli­cam o que ocor­reu para a cidade ser toma­da pela água do Guaí­ba, na maior enchente da história da cap­i­tal gaúcha.

Con­ce­bido na déca­da de 1970 por engen­heiros da Ale­man­ha, com inspi­ração em mod­e­los holan­deses, o sis­tema por­to-ale­grense é com­pos­to por cer­ca de 60 quilômet­ros (km) de diques e bar­ra­gens, de norte a sul da cap­i­tal gaúcha. Avenidas impor­tantes, como Caste­lo Bran­co, Beira-Rio e Diário de Notí­cias, além da rodovia Free­way, são bar­ra­gens con­struí­das para evi­tar o extravasa­men­to da água do Guaí­ba para áreas urbanas.

Há tam­bém um muro de pro­teção, o Muro da Mauá, que fun­ciona como dique para área cen­tral da cidade, des­de a altura da rodoviária até a usi­na do Gasômetro. Por toda essa exten­são, há 14 com­por­tas, que per­mitem a entra­da e saí­da da água, e 23 casas de bom­bas hidráuli­cas, que tam­bém tem as próprias com­por­tas, e fun­cionam como pon­tos de drenagem da água, para devolver , em uma even­tu­al inun­dação, ao lago.

Já os cór­re­gos (arroios) que cor­tam a cidade, como o Arroio Dilúvio, na Aveni­da Ipi­ran­ga, com­ple­men­tam o sis­tema de diques inter­nos. A cota de inun­dação do sis­tema é de 6 met­ros de cheia, cuja altura na enchente do iní­cio do mês não pas­sou de 5,30 met­ros.

“Os diques e os muros não vazam. Os vaza­men­tos estão em boa parte das com­por­tas sem manutenção. No ano pas­sa­do, quan­do o sis­tema foi aciona­do, durante as inun­dações com iní­cio no Vale do Taquari e que tam­bém inun­daram a região met­ro­pol­i­tana, as defi­ciên­cias nas com­por­tas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias casas de bom­bas, bem como as Estações de Bombea­men­to de Água Bru­ta (EBABs) estão inun­dadas”, diz o man­i­festo.

O que dizem os engenheiros

“O mais urgente que tin­ha que ser feito, desen­ver­gar [com­por­tas], tro­car as bor­rachas, não foi feito. Não pre­cis­aríamos ter sequer 10% da inun­dação que nós tive­mos”, argu­men­tou o engen­heiro Vicente Rauber, ex-dire­tor do anti­go Depar­ta­men­to de Esgo­tos Plu­vi­ais (DEP), que nos anos 1990 já tin­ha lança­do uma pub­li­cação sobre como pre­venir enchentes na cidade, que havia pas­sa­do um trági­co inci­dente em 1941.

“Como medi­das emer­gen­ci­ais, [o DMAE] dev­e­ria ir lá e fechar os furos, os vaza­men­tos [das com­por­tas]. Uma empre­sa de sanea­men­to tra­bal­ha per­ma­nen­te­mente com mer­gul­hadores, eles são necessários para faz­er qual­quer ativi­dade, qual­quer con­ser­to embaixo d’água. Con­ser­ta os furos e ten­ta reli­gar as casas de bom­ba, fazen­do ensecadeiras, tiran­do a água den­tro dela. Esta­mos num cír­cu­lo vicioso, as casas de bom­ba não fun­cionam porque foram inun­dadas, e a água não sai porque não tem bom­ba [fun­cio­nan­do]”, acres­cen­tou durante uma entre­vista cole­ti­va para lançar a car­ta.

Porto Alegre (RS), 24/05/2024 – CHUVAS RS- CASA DE BOMBAS - Casa de Bombas para retiradas de água em enchentes em Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Casa de bom­ba, usa­da para reti­ra­da de água de enchentes em Por­to Ale­gre, fica ala­ga­da no dia 24/05/2024. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“Nós temos uma bar­ragem, que impede a água de entrar. O muro e os diques são bar­ra­gens. E, quan­do a bar­ragem não impede a água de entrar, tem um sis­tema que pega e joga água para o out­ro lado da bar­ragem. Muito sim­ples, tradi­cional, clás­si­co e efi­ciente, é fácil de faz­er. É só man­ter as casas de bom­ba fun­cio­nan­do, que ela vai pegar a água de den­tro da cidade e vai jog­ar fora”, apon­tou Augus­to Dami­ani, engen­heiro civ­il, ex-dire­tor-ger­al do DEP e do DMAE, hidról­o­go e mestre em Recur­sos Hídri­cos e Sanea­men­to Ambi­en­tal pelo Insti­tu­to de Pesquisas Hidráuli­cas da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Prefeitura nega falta de manutenção

Procu­ra­do, o DMAE infor­mou que, atual­mente, 11 das 23 bom­bas estão em fun­ciona­men­to. No auge da inun­dação, 19 pararam por inun­dação ou por prob­le­mas elétri­cos. Elas estão sendo con­ser­tadas, asse­gurou o órgão.

Enquan­to isso, moradores da região cen­tral e do norte da cidade, onde estão as bom­bas sem fun­ciona­men­to ou com oper­ação par­cial, sofrem com o repique das enchentes, que quase colap­saram a cidade há 20 dias.

“Esta­mos tra­bal­han­do para reli­gar as demais casas de bom­bas. Ontem [23], durante o tem­po­ral, nen­hu­ma saiu fora de oper­ação. Esta­mos tra­bal­han­do nas EBAPS [Estações de Bombea­men­to de Água Plu­vial] que fal­tam. Algu­mas tiramos os motores para secar, out­ras ain­da não con­seguimos entrar em razão da inun­dação. Nos­sas equipes estão tra­bal­han­do incansavel­mente para colo­car todo o sis­tema em oper­ação o mais breve pos­sív­el”, disse o DMAE.

Em entre­vista à Rádio Nacional, últi­ma quar­ta-feira (22), o prefeito de Por­to Ale­gre, Sebastião Melo, negou fal­ta de manutenção no sis­tema e atribuiu a fal­ha à con­cepção do sis­tema.

“Em 1968, 1969, eu sou o déci­mo ter­ceiro prefeito dessa leva [da déca­da] de 1970 para cá. Esse sis­tema foi con­ce­bido de um jeito e ele nun­ca foi mod­i­fi­ca­do. E ele tin­ha tes­ta­do algu­mas vezes em cen­tros menores e tin­ha respon­di­do bem. Bom, mas ele nun­ca tin­ha sido tes­ta­do com o fenô­meno do taman­ho que acon­te­ceu”, afir­mou.

“Esse fenô­meno que acon­te­ceu, o climáti­co, ele pode­ria ter acon­te­ci­do em qual­quer cidade brasileira e talvez não fos­se difer­ente, porque nós não temos cidades adap­tadas para esse novo nor­mal, nen­hu­ma. Nen­hu­ma, espe­cial­mente grandes cidades. Então, essa tragé­dia que acon­te­ceu aqui, ela pode­ria acon­te­cer em São Paulo, Rio de Janeiro, em qual­quer out­ro lugar. Acho que o Brasil tem que pen­sar no novo nor­mal”, insis­tiu Melo.

Edição: Car­oli­na Pimentel

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