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Jeferson Tenório defende papel da literatura como direito humano

Repro­dução: © Jefer­son Tenório/ Insta­gran

Autor do premiado O Avesso da Pele participa do Fliparacatu


Pub­li­ca­do em 26/08/2023 — 08:47 Por Luiz Cláu­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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O escritor e pesquisador Jefer­son Tenório, que se con­sagrou com o pre­mi­a­do O Aves­so da Pele, obra de ficção de teor antir­racista, defende uma lit­er­atu­ra capaz de garan­tir espaço para con­tar as histórias das víti­mas. “Como a real­i­dade é muito difí­cil, a gente pre­cisa, através da ficção, inven­tar uma out­ra real­i­dade”, afir­mou o autor em entre­vista à Agên­cia Brasil

Pro­fes­sor de lit­er­atu­ra, o escritor estará no Fes­ti­val Literário de Para­catu-MG (Fli­para­catu), para uma palestra sobre lit­er­atu­ra como dire­ito humano, a par­tir das 15h30 deste sába­do (26). No even­to, estará acom­pan­hado pela escrito­ra e jurista Lívia Sant’Anna Vaz. O escritor defende que a lit­er­atu­ra é um dire­ito  humano.

“Todos nós temos o dire­ito de ter aces­so aos livros, à ficção à imag­i­nação. A maior resistên­cia que se pos­sa encon­trar na per­ife­ria seria o dire­ito à invenção, o dire­ito a ter futuro”.

Imaginação como ato de resistência

Ele argu­men­ta que a vio­lên­cia con­tra a pop­u­lação negra é recor­rente e a ideia de imag­i­nar o futuro quase não existe. “A lit­er­atu­ra traz jus­ta­mente a pos­si­bil­i­dade de con­seguir sair dessa real­i­dade tão dura e poder imag­i­nar. E, para mim, imag­i­nação é um ato de resistên­cia”.

No próprio caso do pro­fes­sor, ele entende que a lit­er­atu­ra foi “sal­vado­ra”.

“A lit­er­atu­ra me salvou jus­ta­mente por ter me dado essa pos­si­bil­i­dade de olhar para real­i­dade de out­ro jeito. Não com ape­nas um jeito de viv­er, mas para demon­strar que eu pode­ria sair da ideia de “sobre­vivên­cia” para poder exi­s­tir de fato”.

O con­ta­to com a lit­er­atu­ra o mod­i­fi­cou. “O ato mais trans­gres­sor que eu fiz na min­ha vida foi me tornar leitor”. Em bus­ca de novos leitores, ele vibra com a estreia do Fli­para­catu. “Eu vejo com mui­ta ale­gria. Acho que é um espaço para mostrar o quan­to a pop­u­lação negra e quilom­bo­la pre­cisa tam­bém dess­es espaços, que tam­bém são políti­cos”. Para ele, a lit­er­atu­ra pode con­tribuir tam­bém para dar vis­i­bil­i­dade para as causas das pop­u­lações tradi­cionais.

Jefer­son Tenório expli­ca que, nos últi­mos anos, tem lido mais autores negros e negras, como Eliane Alves Cruz, Con­ceição Evaris­to, Car­oli­na Maria de Jesus, Paulo Lins e Cid­in­ha da Sil­va. “Há tam­bém uma série de autores que estão surgin­do, como a Calila das Mer­cês. Tem mui­ta gente inter­es­sante para ler”.

 Aniquilação

Tenório cel­e­bra que as men­sagens do livro sobre as vio­lên­cias racis­tas têm encon­tra­do ecos com reflexões sobre um país que se repete em vio­lên­cias há sécu­los. “O Brasil foi fun­da­do a par­tir da vio­lên­cia e do seque­stro de cor­pos negros, da aniquilação dos povos orig­inários. Os efeitos da escravidão têm sido sen­ti­dos até hoje”. O assas­si­na­to de Bernadete Pací­fi­co de 72 anos, a Mãe Bernadete, na sem­ana pas­sa­da, em comu­nidade quilom­bo­la, na cidade de Simões Fil­ho (BA), traduz a real­i­dade dessa ten­ta­ti­va de aniquilação.

Para o autor, a recor­rên­cia da vio­lên­cia é fru­to das políti­cas do esta­do Brasileiro, com a indifer­ença em relação às desigual­dades, que ger­am vio­lên­cia.

“Essas pes­soas que acabam sofren­do com a vio­lên­cia são trazi­das para o meu tra­bal­ho. A lit­er­atu­ra não denun­cia (como o jor­nal­is­mo), mas é capaz de causar uma reflexão talvez mais pro­fun­da do que a própria notí­cia”. Isso porque o tex­to literário, no enten­der dele, traz uma pro­fun­di­dade capaz de ten­sion­ar as certezas.

São essas pes­soas mais sofridas que inspi­ram os pen­sa­men­tos e as mãos do escritor Jefer­son Tenório.  “Eu sem­pre ten­ho que prestar atenção nas coisas que têm acon­te­ci­do no Brasil de modo ger­al. Para a gente con­tar uma boa história, é pre­ciso olhar ao nos­so redor. Para ser uni­ver­sal, você tem que falar dos que estão per­to”.

Edição: Aline Leal

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