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Jornalismo profissional é verdadeiro antídoto contra a desinformação

Repro­dução: © Lula Marques/ Agên­cia Brasil

Avaliação é de professor da Universidade da Beira Interior


Publicado em 07/04/2024 — 10:09 Por Luiz Claudio Ferreira — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Falsea­men­to de infor­mações, de opiniões, de vozes e até de ros­tos. Men­ti­ras que chegam por telas e telin­has, que mul­ti­pli­cam-se com teo­rias con­spir­atórias, com fras­es cor­tadas e datas impre­cisas. A desin­for­mação, que se apre­sen­ta em difer­entes faces e que rep­re­sen­ta ameaça conc­re­ta às sociedades civ­i­lizadas, tornou-se desafio diário para profis­sion­ais da infor­mação, cat­e­go­ria que cel­e­bra, neste domin­go (7), o Dia do Jor­nal­ista. Para pesquisadores do tema, tra­bal­hadores dessa área têm a mis­são de atu­ar na lin­ha de frente con­tra a epi­demia desin­for­ma­ti­va, mas têm desafios com­plex­os diários nes­sa guer­ra.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, o pro­fes­sor João Canav­il­has, da Uni­ver­si­dade da Beira Inte­ri­or (Por­tu­gal) e pesquisador dos efeitos das novas tec­nolo­gias, disse que o jor­nal­is­mo tem sido o prin­ci­pal com­bat­ente con­tra a desin­for­mação e grande defen­sor da democ­ra­cia. “Não deve­mos desli­gar uma coisa da out­ra para deixar claro que a desin­for­mação não é ape­nas um fenô­meno iso­la­do: ele tem um obje­ti­vo especí­fi­co — manip­u­lar as pes­soas — e, em últi­ma instân­cia, visa destru­ir a democ­ra­cia”.

Ele expli­ca que algu­mas platafor­mas, como as redes soci­ais e as agên­cias de checa­gens tam­bém com­bat­em a desin­for­mação. “Podemos diz­er que o jor­nal­is­mo profis­sion­al é o ver­dadeiro antí­do­to con­tra a desin­for­mação”.

“Não devem atuar sozinhos”

Segun­do a  pesquisado­ra brasileira Ana Regi­na Rego, coor­de­nado­ra ger­al da Rede Nacional de Com­bate à Desin­for­mação (RNDC), os jor­nal­is­tas têm respon­s­abil­i­dade nesse com­bate, mas não sig­nifi­ca que devam atu­ar soz­in­hos. “É pre­ciso atu­ar em sin­er­gia com out­ros profis­sion­ais, como cien­tis­tas de dados, com agentes de saúde, ou mes­mo pro­fes­sores do ensi­no bási­co, por exem­p­lo. Eu acred­i­to muito no jor­nal­is­mo como insti­tu­ição no com­bate à desin­for­mação”, afir­ma.

Ana Regi­na Rego pon­dera que há, entre­tan­to, um cenário múlti­p­lo com por­tais de con­teú­dos desin­for­ma­tivos e que se uti­lizam de uma estéti­ca da infor­mação semel­hante a do cam­po do jor­nal­is­mo profis­sion­al. “Existe uma trans­for­mação em cur­so, que inclui tan­to a questão tec­nológ­i­ca das platafor­mas e práti­cas que eram exclu­si­vas do jor­nal­is­mo, mas que hoje são com­par­til­hadas em um espaço em que qual­quer pes­soa se trans­for­mou em um pro­du­tor de con­teú­dos”.

De acor­do com o pro­fes­sor por­tuguês João Canav­il­has, a classe profis­sion­al está hoje mais ciente do seu papel na sociedade. “Antes de ter­mos evidên­cias sobre o poder da desin­for­mação — tal como acon­te­ceu nas eleições amer­i­canas ou nas brasileiras — os jor­nal­is­tas viam-se como um quar­to poder”. Mas isso se alter­ou. porque a desin­for­mação cir­cu­la por vários canais e os jor­nal­is­tas perce­ber­am que já não bas­ta dom­i­nar o seu canal para com­bat­er a desin­for­mação. “Isso obrigou-os a repen­sar o seu papel e a encon­trar for­mas de procu­rar os espaços onde cir­cu­la a infor­mação fal­sa para poderem com­bat­er”.

De acor­do com o que avalia a pres­i­dente da Fed­er­ação Nacional dos Jor­nal­is­tas (Fenaj), Sami­ra de Cas­tro, a desin­for­mação se tornou parte desse ecos­sis­tema. “O jor­nal­ista, por ter o seu com­pro­mis­so com a função social da ativi­dade e, por ter con­hec­i­men­to não somente teóri­co, mas tam­bém éti­co sobre a profis­são, deve ser vis­to como um com­bat­ente nat­ur­al con­tra a desin­for­mação”

Sob suspeição

Mas, para João Canav­il­has, a imagem do jor­nal­ista não é a mes­ma para o públi­co, o que seria fru­to tam­bém de maus exem­p­los resul­tantes da pres­sa de ser o primeiro a pub­licar. “Alguns profis­sion­ais deixaram de cumprir os princí­pios éti­cos e deon­tológi­cos asso­ci­a­dos à profis­são e, por isso as pes­soas, dizem que ‘os jor­nal­is­tas são todos iguais’. É pre­ciso mostrar que, tal como em todas as profis­sões, há bons e maus profis­sion­ais”.

A pro­fes­so­ra brasileira Ana Regi­na Rego, que atua na Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Piauí, apon­ta que existe uma ação de jog­ar o jor­nal­is­mo em uma posição de sus­peição. Para con­ter essa situ­ação, no enten­der dela,  o cam­po jor­nalís­ti­co tem que ser proa­t­i­vo e revis­i­tar os pilares de con­strução da sua con­fi­a­bil­i­dade. “É necessário tra­bal­har de for­ma éti­ca e com con­hec­i­men­to mais apro­fun­da­do”.

Verificação

Pesquisado­ra do tema, a pro­fes­so­ra Taís Seibt, da Uni­ver­si­dade do Vale do Rio dos Sinos (Unisi­nos), expli­ca que a ação de ver­i­fi­cação das infor­mações é algo imutáv­el e difer­en­cial para o jor­nal­is­mo. “O papel de ver­i­fi­cação das infor­mações seria poten­cial­iza­do para o jor­nal­is­mo se difer­en­ciar dos out­ros dis­cur­sos, das out­ras práti­cas de comu­ni­cação no con­tex­to que a gente vive”.

De acor­do com a pro­fes­so­ra, o jor­nal­is­mo de ver­i­fi­cação não é só o de veícu­los que fazem o fact-check­ing (checagem de fatos). “Tra­ta-se de uma ação para reforçar esse princí­pio como um ele­men­to do jor­nal­is­mo em um ecos­sis­tema de comu­ni­cação saudáv­el diante das mudanças que a gente está acom­pan­han­do”.

A pro­fes­so­ra Taís Seibt avalia que as ondas de desin­for­mação na inter­net mudaram, de algu­ma for­ma, o per­fil dos jor­nal­is­tas. Inclu­sive„ pelas condições de pre­cariza­ção da ativi­dade e exigên­cias cada vez maiores com relação a quan­ti­dade e qual­i­dade de pub­li­cações. “Isso impõe aos jor­nal­is­tas vários desafios, inclu­sive de se adap­tar a novos for­matos. Por isso, é necessário tra­bal­har a ver­i­fi­cação como um ele­men­to-chave”, afir­ma.

A pres­i­dente da Fenaj, Sami­ra de Cas­tro, entende que os jor­nal­is­tas pas­saram a incor­po­rar a checagem como parte do tra­bal­ho diário. “Exis­tem áreas sen­síveis à desin­for­mação, como a cober­tu­ra de políti­ca, onde há uma desin­for­mação proposi­ta­da para faz­er sobres­sair nar­ra­ti­vas de inter­ess­es de políti­cos”.

Out­ro cam­po que ela cita é a área da saúde, que se mostrou muito sen­sív­el à desin­for­mação por con­ta dos movi­men­tos anti­vaci­na e anti­ciên­cia. “Por incrív­el que pareça, nós esta­mos numa era em que a infor­mação é um val­or inalienáv­el, mas o exces­so de infor­mação não ilu­mi­na o cidadão”, avalia. Em con­tra­posição, a infor­mação apro­fun­da­da é o que faria a difer­ença e que dev­e­ria ser obje­ti­vo dos profis­sion­ais.

Dificuldades

Taís Seibt  indi­ca que o desafio foi poten­cial­iza­do, por exem­p­lo, pelo avanço das tec­nolo­gias de inteligên­cia arti­fi­cial com uma capaci­dade cada vez maior de sim­u­lar real­i­dades que não exis­tem. “E com mui­ta téc­ni­ca e refi­no. Então é difí­cil para o jor­nal­ista, se posi­cionar como esse medi­ador qual­i­fi­ca­do para ver­i­ficar”. As difi­cul­dades ficaram evi­dentes durante a pan­demia de covid-19, quan­do a desin­for­mação foi rotineira e era pre­ciso indicar as instruções cor­re­tas para pro­por­cionar segu­rança aos cidadãos.

“A gente pre­cisa, como cidadão, ter em quem se apoiar. O jor­nal­is­mo his­tori­ca­mente exerceu esse papel em difer­entes con­tex­tos, mudanças e crises. Esta­mos em um perío­do em que esse debate está muito forte, mas o jor­nal­is­mo con­tin­ua fun­da­men­tal e vai con­tin­uar sendo necessário”.

Formação de cidadãos

Segun­do o pro­fes­sor João Canav­il­has, para con­tro­lar essas situ­ações de desin­for­mação, é necessário que exis­tam leis e enti­dades reg­u­lado­ras para con­ter as men­ti­ras. “Em Por­tu­gal chama-se ERC. Mas é nas platafor­mas que está o grande prob­le­ma. Algu­mas são fechadas e, mes­mo nas aber­tas, tor­na-se cada vez mais difí­cil con­tro­lar a desin­for­mação. Claro que as redes soci­ais ten­tam faz­er o seu tra­bal­ho, mas os algo­rit­mos ain­da são muito lim­i­ta­dos a iden­ti­ficar infor­mação fal­sa”.

Para Canav­il­has, só um con­t­role humano con­segue bons índices de eficá­cia, mas seria impos­sív­el fazê-lo per­ma­nen­te­mente dado o fluxo infor­ma­ti­vo. É por isso que se tor­na tão difí­cil con­seguir con­tro­lar a desin­for­mação nas redes soci­ais. “A alter­na­ti­va é a lit­era­cia midiáti­ca, ou seja, intro­duzir estas matérias nas esco­las e dar cur­sos livres para que todos os cidadãos perce­bam a difer­ença entre a infor­mação jor­nalís­ti­ca e o ‘papo fura­do’ das redes”

Edição: Aline Leal

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