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Jornalistas negras contam como enfrentaram racismo na carreira

Repro­dução: © Val­ter Campanato/Agência Brasil

Profissionais relataram suas histórias no Festival Latinidades


Publicado em 26/07/2024 — 19:52 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Jor­nal­is­tas profis­sion­ais negras que hoje estão em posição de destaque na mídia con­taram nes­ta sex­ta-feira (26) como é enfrentar o racis­mo da sociedade para ocu­par espaços onde são minoritárias.

A apre­sen­ta­do­ra Luciana Bar­reto, que já atu­ou nos canais Futu­raGNTBand­News e na TV Ban­deirantes, e atual­mente é ânco­ra do Repórter Brasil, jor­nal da TV Brasil, con­tou como foi enfrentar a pobreza e o pre­con­ceito para se fir­mar na car­reira.

Brasília, (DF), 26.07.2024 - Entrega do Prêmio Jacira Silva, no Festival Latinidades 2024. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Repro­dução: Apre­sen­ta­do­ra da TV Brasil, Luciana Bar­reto. Foto: Val­ter Campanato/Agência Brasil

“Eu vivi várias situ­ações e várias bar­reiras para chegar até aqui. Como chegar numa maquiagem de uma emis­so­ra e não ter maquiagem para pele pre­ta. Para con­seguir vaga de apre­sen­ta­do­ra, eu ouvi de uma ami­ga min­ha, que tam­bém esta­va con­cor­ren­do comi­go, bran­ca, dizen­do quan­do eu pas­sei: ‘Nos­sa, que legal que ago­ra eles querem apre­sen­ta­do­ra negra”, rela­tou.

Luciana con­tou sua exper­iên­cia no debate “Mul­heres Negras na Mídia: Ino­vação e Impacto na Comu­ni­cação Públi­ca” no Fes­ti­val Latinidades 2024, que ocorre em Brasília. De acor­do com a jor­nal­ista, foi na tele­visão que ela enten­deu o prob­le­ma com sua autoes­ti­ma.

“Na tele­visão eu fui enten­der o quan­to nos­sos son­hos são poda­dos e vio­la­dos. O quan­to as cri­anças da déca­da de 70, 80 e 90 sofr­eram pro­fun­da­mente com a sua autoes­ti­ma, quan­to elas foram impe­di­das de son­har por con­ta da tele­visão brasileira”, com­ple­tou, lem­bran­do da fal­ta de pes­soas negras nas emis­so­ras.

Tam­bém par­ticipou do encon­tro a jor­nal­ista Joyce Ribeiro, que hoje apre­sen­ta o Jor­nal da Tarde na TV Cul­tura e já tra­bal­hou nos prin­ci­pais tele­jor­nais do SBT e da TV Record. Joyce foi ain­da a primeira mul­her negra a apre­sen­tar um debate pres­i­den­cial, em 2018.

Brasília, (DF), 26.07.2024 - Entrega do Prêmio Jacira Silva, no Festival Latinidades 2024. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Repro­dução: Jor­nal­ista Joyce Ribeiro (esquer­da). Foto: Val­ter Campanato/Agência Brasil

“Essa cam­in­ha­da não foi rec­hea­da de facil­i­dades. Muito pelo con­trário. Ouvi falas muito duras, muito difí­ceis ao lon­go da car­reira. Uma vez uma cole­ga me deu uma sug­estão, porque era muito min­ha ami­ga, dizen­do que eu pre­cisa­va pedir para sair [do tra­bal­ho] porque a gente tril­hou um cam­in­ho grande para estar aqui e, para me preser­var, eu tin­ha que pedir para sair, entre tan­tas out­ras coisas”, relem­brou.

A jor­nal­ista colom­biana Mabel Lore­na Lara tam­bém con­tou sua exper­iên­cia na tele­visão do país cariben­ho, desta­can­do que alisa­va o cabe­lo e ten­ta­va escon­der a própria per­son­al­i­dade na ten­ta­ti­va de ser acei­ta em um meio majori­tari­a­mente bran­co.

“Depois de muito tem­po e de prêmios e recon­hec­i­men­tos e de sair na tele­visão eu disse: ‘Essa mul­her que vocês estão pre­mian­do como a mel­hor nas notí­cias, além dis­so, tem cabe­lo encar­a­co­la­do’”, con­tou.

Brasília, (DF), 26.07.2024 - Entrega do Prêmio Jacira Silva, no Festival Latinidades 2024. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Repro­dução: Jor­nal­ista colom­biana Mabel Lore­na Lara. Foto: Val­ter Campanato/Agência Brasil

Lana acres­cen­tou que decid­iu soltar o cabe­lo depois que uma garo­ta a ques­tio­nou em Carta­ge­na, na Colôm­bia. “Uma garo­ta com seu cabe­lo nat­ur­al per­gun­tou: ‘Se você é a negra das notí­cias por que não se parece conosco?’”, com­ple­tou.

Mabel Lore­na Lara foi pre­mi­a­da, em 2016, como líder inspi­rado­ra pelas Nações Unidas e pelo gov­er­no da Sué­cia. Ela foi ain­da nego­ci­ado­ra no proces­so de paz com guer­ril­has colom­bianas.

“Essas exper­iên­cias de racis­mo e machis­mo são ampli­fi­cadas quan­do esta­mos na tele­visão. As pes­soas têm um olhar muito especí­fi­co em relação a gente, ao nos­so cor­po, ao nos­so cabe­lo e a nos­sa bun­da”, acres­cen­tou.

O início

As três profis­sion­ais tiver­am em comum a inse­gu­rança no começo da car­reira. As três imag­i­navam que a mídia não era um espaço para elas. Segun­do Luciana Bar­reto, a comu­ni­cação entrou em sua vida porque ela perce­beu que o meio era uma fer­ra­men­ta poderosa de trans­for­mação.

“Nós éramos muito per­iféri­cos e era um bair­ro até sem asfal­to, sem sanea­men­to bási­co nes­sa época, quan­do eu deci­di faz­er comu­ni­cação. Eu via que o jor­nal­is­mo era uma fer­ra­men­ta poderosa, mas era uma fer­ra­men­ta uti­liza­da para poucos”, expli­cou.

Segun­do a apre­sen­ta­do­ra da TV Cul­tura, Joyce Ribeiro, o uni­ver­so da comu­ni­cação lhe atra­ia muito, mas pen­sa­va que era algo dis­tante de sua real­i­dade.

“Não fazia parte do que eu acha­va que pode­ria son­har. Isso já me colo­ca­va um cer­to receio em seguir essa car­reira. A gente se arrisca em todas as profis­sões, mas no uni­ver­so da comu­ni­cação, que sem­pre teve tão fecha­da à nos­sa pre­sença, não me via”, con­tou.

Para a colom­biana Mabel Lore­na Lara, foi pre­ciso con­stru­ir uma autoes­ti­ma e enten­der que a mídia é um local onde as mul­heres negras tam­bém mere­cem estar.

“Em vários momen­tos eu pen­sei que não era um lugar para mim. No meu país, por décadas, as mul­heres afros rep­re­sen­tam a servidão, um pouco de exo­tismo, a uti­liza­ção dos cor­pos das mul­heres como atraentes e pouco se fala­va nos meios de comu­ni­cação”, desta­cou.

Negras na mídia

Além do debate sobre a par­tic­i­pação de mul­heres negras na mídia, o Fes­ti­val Latinidades 2024 e o Insti­tu­to Commb­ne cri­aram o Prêmio Jaci­ra da Sil­va, em hom­e­nagem à jor­nal­ista que foi a primeira negra a assumir a presidên­cia do Sindi­ca­to dos Jor­nal­is­tas do Dis­tri­to Fed­er­al, entre 1995 e 1998, e fun­dou a Comis­são de Jor­nal­is­tas pela Igual­dade Racial (Cojira/DF).

Na cat­e­go­ria Jor­nal­is­tas Negras, a ger­ente da Agên­cia Brasil, Juliana Cézar Nunes, rece­beu o prêmio ao lado de nomes como Maju Coutin­ho, da Rede Globo, e Basília Rodrigues, da CNN.

Na cat­e­go­ria Mídias Negras, foram pre­mi­adas a Revista Afir­ma­ti­va, a agên­cia de notí­cias Alma Pre­ta, o Insti­tu­to Cultne, o Mun­do Negro e o African­ize, veícu­los de comu­ni­cação que pri­or­izam e dão vis­i­bil­i­dade às pau­tas lig­adas à pop­u­lação negra brasileira.

O debate e a pre­mi­ação foram real­iza­dos pelo Insti­tu­to Afro­l­ati­nas em parce­ria com o Insti­tu­to Commb­ne (Comu­ni­cação basea­da em ino­vação, raça e etnia) e com apoio da Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação.

» Assista na TV Brasil

Edição: Car­oli­na Pimentel

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