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Jovens kayapó fazem elo da ancestralidade com modernidade cultural

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Exposição fica em cartaz até 26 de novembro, em Niterói


Pub­li­ca­do em 28/10/2023 — 16:46 Por Cristi­na Índio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Além de ser respon­sáv­el pela curado­ria da exposição Mekukrad­já Obikàrà: com os pés em dois mun­dos, o cole­ti­vo Beture — movi­men­to dos Mekarõ opod­jwyj, com­pos­to por cineas­tas e comu­ni­cadores indí­ge­nas Mẽbêngôkre-Kayapó — pro­duz­iu o mate­r­i­al da mostra, que faz o elo entre a ances­tral­i­dade e indí­ge­nas mais jovens des­ta etnia. A exposição — aber­ta neste sába­do (28), no mezani­no do Museu de Arte Con­tem­porânea (MAC), em Niterói, no esta­do do Rio — segue até o dia 26 de novem­bro.

Beture é o nome de uma formi­ga de cabeça ver­mel­ha e a tra­seira pre­ta, encon­tra­da no ter­ritório Kayapó, cuja car­ac­terís­ti­ca é uma mor­di­da bas­tante potente. Ela tem as mes­mas cores usadas pelos indí­ge­nas da etnia quan­do se pin­tam para a guer­ra.

“A juven­tude Mẽbêngôkre-Kayapó dese­ja reg­is­trar a vida e a cul­tura de seu povo por meio de tec­nolo­gias audio­vi­suais e diver­sas mídias. Hoje, o cole­ti­vo desem­pen­ha um papel fun­da­men­tal na con­quista de recon­hec­i­men­to cul­tur­al, assim como na vis­i­bil­i­dade das estru­turas políti­cas”, infor­maram os orga­ni­zadores da mostra.

Audiovisuais

Des­de 2015, quan­do surgiu, o Beture con­tribui para orga­ni­zar e estru­tu­rar um movi­men­to da juven­tude que vem se espal­han­do por muitas comu­nidades indí­ge­nas. Des­de então, for­mações audio­vi­suais têm sido real­izadas para poten­cializar as pro­duções do cole­ti­vo e ofer­tar aos cineas­tas mais con­hec­i­men­to sobre as téc­ni­cas de cap­tação de ima­gens, de rote­i­riza­ção e edição.

O mate­r­i­al da exposição com fotos e vídeos do acer­vo do cole­ti­vo foi obti­do pelos cineas­tas kayapó em via­gens por algu­mas aldeias e retra­ta a trans­for­mação da cul­tura do povo Mebêngôkre-Kayapó, que habi­ta seis ter­ras indí­ge­nas no sul do Pará e no norte de Mato Grosso. A mostra tem ain­da três telas pin­tadas por 15 mul­heres Kayapó durante o Acam­pa­men­to Ter­ra Livre (ATL) de 2023, que ocor­reu entre 24 e 28 de abril, em Brasília.

“As histórias a gente jun­tou na parte de vídeos como os nos­sos avós foram antiga­mente e não estão mais pre­sentes e, com isso, nós jovens esta­mos com o obje­ti­vo de traz­er isso, reviv­er [a cul­tura] e for­t­ale­cer mais ain­da”, con­tou a kayapó Kokokaroti Txuka­hamãe Metuk­tere, em entre­vista à Agên­cia Brasil e à TV Brasil.

Niterói (RJ), 27/10/2023 – A comunicadora e integrante do Coletivo Beture, Kokokaroti Txucahamãe Metuktire durante visita à exposição Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Niterói (RJ), 27/10/2023 – A comu­ni­cado­ra e inte­grante do Cole­ti­vo Beture, Kokokaroti Txu­c­a­hamãe Metuk­tire durante visi­ta à exposição Mekukrad­já Obikàrà: com os pés em dois mun­dos, no Museu de Arte Con­tem­porânea (MAC), em Niterói. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Por causa dos estu­dos, a jovem kayapó, de 22 anos, que inte­gra o cole­ti­vo, pas­sou a viv­er fora da Aldeia Capo­to na Reser­va Capo­to-jari­na e foi morar em Col­niza, uma cidade próx­i­ma em Mato Grosso. Ela disse que, mes­mo fora do local de origem, é pos­sív­el man­ter as tradições cul­tur­ais.

“Muitas vezes pode ter um jovem que se per­gun­ta se vai perder a sua cul­tura, só que não. Você pode preser­var a cul­tura usan­do o con­hec­i­men­to indí­ge­na”, obser­vou, acres­cen­tan­do que já tem algu­mas for­mações, mas pre­tende faz­er uni­ver­si­dade, mais especi­fi­ca­mente, cur­so de cin­e­ma.

Por meio do tra­bal­ho de pesquisa para a exposição, Kokokaroti pôde ver pela primeira vez a imagem do avô.

“Esse momen­to que esta­mos ten­do aqui nes­sa exposição, a gente bus­cou, cor­reu atrás de cada das ima­gens e, prin­ci­pal­mente, eu vi uma foto do meu avô, que eu não tive opor­tu­nidade de con­hecer, nem a luta dele. A gente encon­trou as ima­gens de cada lid­er­ança, todas tiver­am vozes impor­tantes naque­la época. A gente con­heceu umas cul­turas, tipo danças tradi­cionais que acon­te­ci­am naque­la época e não acon­te­cem mais. Com esse obje­ti­vo, eu quero bus­car con­hec­i­men­to sobre cin­e­ma”, expli­cou.

Machismo

A jovem desta­cou ain­da a pre­sença das mul­heres entre os kayapó. Segun­do Kokokaroti, atual­mente elas têm atu­a­do de for­ma con­jun­ta e isso aju­da a com­bat­er o machis­mo nas comu­nidades.

“É uma coisa muito impor­tante ter a pre­sença da mul­her den­tro dos espaços, porque existe muito machis­mo que a gente enfrenta e ago­ra esta­mos nos jun­tan­do mais para ocu­par espaço, for­t­ale­cen­do [as mul­heres] den­tro da comu­nidade da aldeia e nos estu­dos”, obser­vou.

Para Kokokaroti Txuka­hamãe Metuk­tere, os can­tos tradi­cionais que vê dos antepas­sa­dos e os cortes de cabe­los das mul­heres e dos home­ns são as rep­re­sen­tações que mais car­ac­ter­i­zam a cul­tura kayapó. “[Isso] é ini­ci­a­do pelos nos­sos antepas­sa­dos e nos­sos avós. É um sím­bo­lo nos­so mes­mo e o corte tradi­cional da mul­her, que o homem tam­bém pode faz­er”, afir­mou.

Profissionalização

Como for­ma de garan­tir uma fonte alter­na­ti­va de ren­da para o povo Mẽbêngôkre-Kayapó, os Mekarõ opod­jwyj bus­cam um cam­in­ho profis­sion­al­izante. Na área políti­ca, atu­am para ger­ar a pos­si­bil­i­dade de jovens lid­er­anças par­tic­i­parem de mobi­liza­ções políti­cas e ain­da nas tro­cas de con­hec­i­men­to com out­ros povos.

O audio­vi­su­al se trans­for­mou em um instru­men­to potente dos Mẽbêngôkre-Kayapó para o for­t­alec­i­men­to cul­tur­al dos próprios reg­istros sobre a vida, ativi­dades cer­i­mo­ni­ais e cotid­i­anas.

A pro­dução do Beture é de cer­ca de 30 filmes por ano, que cos­tu­mam tratar do metoro, que são as fes­tas de nom­i­nação, os even­tos políti­cos e alguns filmes de ficção rep­re­sen­tan­do as nar­ra­ti­vas da origem da mitolo­gia Mẽbêngôkre-Kayapó, prin­ci­pal­mente trans­mi­ti­da pelos mais vel­hos.

Os filmes são exibidos nas comu­nidades e são muito bem rece­bidos nas aldeias Mẽbêngôkre-Kayapó, mas jun­to a out­ros públi­cos em níveis region­al, nacional e inter­na­cional tam­bém têm aces­so.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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