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Jovens ribeirinhos no Amazonas viram “repórteres da floresta”

Repro­dução: © Julia de Fre­itas

Iniciativa visa empoderar moradores de comunidades tradicionais


Pub­li­ca­do em 08/10/2023 — 17:06 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Da comu­nidade de Três Unidos, a cin­co horas de bar­co de Man­aus, a estu­dante Tainara Cruz, de 19 anos, do povo kam­be­ba, se apre­sen­ta como comu­ni­cado­ra e ativista ambi­en­tal. As posta­gens dela são acom­pan­hadas por mais de 20 mil seguidores no Insta­gram. Antes, as pes­soas a viam como tími­da e reser­va­da. Gravar sobre o que dói ou a ale­gra ger­ou uma vocação.

“Ouvi­mos falar bas­tante na mídia sobre a questão das mudanças climáti­cas. Mas o que pouco se fala é que elas tam­bém provo­cam con­se­quên­cias para a gente, povos indí­ge­nas que sofre­mos com a ele­vação das tem­per­at­uras médias”, diz em uma das posta­gens.

Jovens ribeirinhos viram “repórteres” e alertam para mudanças do clima - Tainara Cruz. Foto: Divulgação
Repro­dução: Tainara Cruz, do povo kam­be­ba, tem mais de 20 mil seguidores no Insta­gram. Foto: Divul­gação — Divul­gação

Des­de 2021, a estu­dante pas­sou a falar de tudo: mudanças climáti­cas, mar­co tem­po­ral, histórias dos povoa­d­os, a plan­tação e a seca que mudou o cenário na Amazô­nia. Ela desco­briu a von­tade de se expres­sar depois que par­ticipou de uma ofic­i­na de um pro­je­to chama­do “Repórteres da Flo­res­ta”, uma ini­cia­ti­va da Fun­dação Amazô­nia Sus­ten­táv­el (FAS), orga­ni­za­ção da sociedade civ­il sem fins lucra­tivos. Gos­tou tan­to de se expres­sar que já sabe o que dese­ja cur­sar no ensi­no supe­ri­or: quer ser jor­nal­ista.

“Come­cei a ver o mun­do de for­ma muito difer­ente. Sen­ti uma paixão por isso. Como é lin­do saber sobre escri­ta e leitu­ra”, diz a estu­dante. Atual­mente, ela divide o tem­po de estu­dos com um tra­bal­ho como secretária em Man­aus.

Mas desco­briu a mis­são de vida. “Quero mobi­lizar os povos indí­ge­nas para resolver os prob­le­mas que nos afe­tam”. Entre eles, atual­mente, a seca na Amazô­nia a pre­ocu­pa. Com a esti­agem, vê queimadas, o Rio Cuieiras secar e, com isso, macax­eira e aba­caxi, que sem­pre foram pródi­gos na ter­ra do seu povoa­do, demor­arem a bro­tar.

Até o pra­to que todos mais admi­ram no lugare­jo, o fani, está difí­cil de faz­er, já que a recei­ta é com macax­eira e piraru­cu, o peixe que está cada vez mais raro. Com a escassez, teve que ir para Man­aus para tra­bal­har, o que diminuiu a fre­quên­cia das posta­gens, mas não a von­tade de ser como uma por­ta-voz.

Amazonas - Oficina Repórteres da Floresta 2022. Foto: Julia de Freitas
Repro­dução: Ama­zonas — Ofic­i­na Repórteres da Flo­res­ta 2022. Foto: Julia de Fre­itas

Engajamento

Empoder­ar pes­soas de comu­nidades tradi­cionais é a intenção dos ide­al­izadores do pro­je­to, con­forme expli­ca Val­cleia Sol­i­dade, de 54 anos, super­in­ten­dente do desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el da FAS. “A ideia foi traz­er algo difer­ente para enga­jar mais os jovens das comu­nidades a par­tic­i­par das ativi­dades e que retratasse a real­i­dade da comu­nidade em seu dia a dia”. Des­de 2014, a ini­cia­ti­va já for­mou mais de 300 par­tic­i­pantes.

A atu­al edição do pro­je­to deve con­tem­plar, até o final de 2023, ao menos 120 alunos de mais de 20 comu­nidades situ­adas nas Reser­vas de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (RDS) do Rio Negro, Uatumã, Uacari, Juma e Mami­rauá.

O Repórteres da Flo­res­ta tem módu­los teóri­cos, em que os jovens apren­dem téc­ni­cas de fotografia, vídeo, áudio, ilu­mi­nação e edição; e a práti­ca, em que os alunos vão a cam­po. Os jovens pro­duzem pod­casts e entre­vis­tas com pes­soas de suas comu­nidades.

O tra­bal­ho desen­volvi­do com os jovens toca fun­do em Val­cleia Sol­i­dade, que nasceu comu­nidade quilom­bo­la Muru­ru, em San­tarém. “Tive que sair da min­ha comu­nidade com 12 anos de idade porque não tin­ha esco­la. Aí fui tra­bal­har como babá na cidade”.

Ela con­seguiu estu­dar e mudar o rumo da vida, e poder atu­ar pelas comu­nidades ribeir­in­has. Para ela, os prin­ci­pais prob­le­mas que atrav­es­sam são a logís­ti­ca (porque depen­dem exclu­si­va­mente de rios), a ener­gia, e a comu­ni­cação. “Há ain­da hoje uma difi­cul­dade em rece­ber e trans­mi­tir infor­mações”. Há nove núcleos no Ama­zonas (com inter­net) onde o pro­je­to está em fun­ciona­men­to”

Por trás das câmeras

Out­ro repórter da flo­res­ta é Jefer­son Rodrigues, de 23 anos, morador da comu­nidade ribeir­in­ha Tumbi­ra, em Iran­du­ba (AM), tam­bém às mar­gens do Rio Negro, e a mais de uma hora de lan­cha de Man­aus.  Ele gos­ta mes­mo de pro­duzir e ficar por trás das câmeras porque ain­da se jul­ga tími­do.

O jovem tra­bal­ha como pin­tor (de casas a arte­sana­to) e desco­briu nas câmeras um son­ho de vida. “Quero me profis­sion­alizar nes­sa área”. Ele gos­ta de olhar e faz­er ima­gens da natureza. “A comu­ni­cação nos dá voz, para diz­er onde dói, onde tem de mel­ho­rar, o que está cer­to e o que está erra­do”.

Edição: Sab­ri­na Craide

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