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Kizomba é celebrada como experiência cultural em São Paulo

Repro­dução:  © Divul­gação

Evento recria festas comuns em Angola e Cabo Verde


Pub­li­ca­do em 03/09/2023 — 08:27 Por Daniel Mel­lo — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A vivên­cia da cul­tura da kizom­ba é a pro­pos­ta do Kizom­ba Design Muse­um, entre os dias 6 e 8 de setem­bro na cap­i­tal paulista. O rit­mo, cri­a­do por imi­grantes angolanos e cabover­dianos em Por­tu­gal é a “maior expressão cul­tur­al da diás­po­ra africana que se expres­sa em por­tuguês”, nas palavras de um dos curadores do pro­je­to, o músi­co e escritor Kalaf Epalan­ga.

“Nós queríamos recri­ar, de for­ma estiliza­da, claro, o que acon­tece nas nos­sas fes­tas de quin­tal. As nos­sas fes­tas de quin­tal, — que eu acho muito pare­ci­do com o sam­ba — você tem a músi­ca, a galera que está em um can­to dis­cutin­do fute­bol, em out­ro can­to, dis­cutin­do políti­ca. Comi­da – sem­pre uma fei­joa­da. E, claro, mui­ta bebi­da tam­bém, mui­ta cerve­ja. Essa é mais ou menos uma dinâmi­ca de uma fes­ta de quin­tal, muito pare­ci­da com a cul­tura brasileira tam­bém”, expli­ca Epalan­ga sobre a ideia de reunir comi­da, músi­ca e dis­cussões sobre lin­guagem, iden­ti­dade e políti­ca.

O artista con­ta que a kizom­ba foi um rit­mo não só fun­da­men­tal para a con­strução do kuduro, movi­men­to musi­cal em que é um dos expoentes, com o Bura­ka Som Sis­tema, como tam­bém foi um refú­gio aos tra­bal­hadores africanos, que, como ele, vivem na Europa.

Refúgio

Kizomba é celebrada como experiência cultural em São Paulo. Foto: Divulgação
Repro­dução: Kizom­ba é cel­e­bra­da como exper­iên­cia cul­tur­al em São Paulo. Foto: Divul­gação

“Eu, jovem da diás­po­ra em Lis­boa, me reen­con­trei ness­es lugares. Eram pequenos san­tuários, onde a gente ia não só matar saudade, mas tam­bém, de cer­ta for­ma, gan­har de vol­ta a nos­sa dig­nidade, enquan­to seres pen­santes que ocu­pam o espaço europeu, mas que por vicis­si­tudes da vida esta­mos em um lugar da pirâmide social onde nos sen­ti­mos carne de can­hão para o sis­tema cap­i­tal­ista. Esta­mos ali como operários de fato. E, às vezes, é nega­da a nos­sa sub­je­tivi­dade. Eu sem­pre sen­ti que a kizom­ba devolvia a nos­sa sub­je­tivi­dade, o nos­so sen­ti­do de per­tenci­men­to. Era a ver­dadeira cul­tura comu­nitária”, reflete.

Como uma cul­tura diaspóri­ca, a kizom­ba tem influên­cias e semel­hanças com rit­mos de diver­sas partes do mun­do. Epalan­ga detal­ha que o rit­mo surge a par­tir do sem­ba, “que é um dos rit­mos tradi­cionais em Ango­la, muito em voga nos anos 1950 e 1960”. Além de beber de movi­men­tos musi­cais do Con­go e do Caribe, espe­cial­mente do zouk das Antil­has. Assim como no rit­mo cariben­ho, na kizom­ba os pares tam­bém dançam “agar­rad­in­hos”.

“É um lugar que você sente o calor humano da sua comu­nidade. E quan­do eu falo comu­nidade, não falo só de pes­soas negras ou racial­izadas, é o sen­ti­do mes­mo dessa mas­sa per­iféri­ca que está na cama­da mais baixa da pirâmide social que tem na kizom­ba a fonte da ale­gria extrema e abso­lu­ta”, define Epalan­ga.

Encontro de povos

Sobre o nasci­men­to dessa cul­tura, o artista apon­ta como fun­dador o encon­tro de dois povos africanos em Por­tu­gal. “Quan­do um grupo de jovens angolanos, notada­mente Eduar­do Paim e Ruca Van-Dunem, se mudam para Lis­boa, levan­do ess­es rit­mos, essas músi­cas, essa inspi­ração, quan­do chegam em Lis­boa, encon­tran­do a comu­nidade cabover­diana que esta­va muito pre­sente, aí pas­sa surg­i­men­to da kizom­ba de fato”, diz o escritor, que em seu livro, Tam­bém os Bran­cos Sabem Dançar, recon­strói as ori­gens do kuduro. Out­ro rit­mo diaspóri­co que gan­hou reper­cussão mundi­al. Como influên­cias deter­mi­nantes para esse surg­i­men­to, Epalan­ga desta­ca não só a própria kizom­ba, como rit­mos tradi­cionais por­tugue­ses e a músi­ca eletrôni­ca.

Ape­sar da importân­cia social, o artista acred­i­ta que fal­ta reflexão estru­tu­ra­da sobre a cul­tura da kizom­ba. “Quer­e­mos, aci­ma de tudo, cri­ar memória. Aí, essa pro­pos­ta de usar o ter­mo museu e não só fes­ti­val da kizom­ba. O ter­mo museu está colo­ca­do ali estrate­gi­ca­mente. Nós quer­e­mos pro­duzir pen­sa­men­to a par­tir da memória da kizom­ba”, expli­ca.

Comida, estilo e música

O Design Muse­um, que con­ta tam­bém com a curado­ria do mul­ti­artista Nás­tio Mos­qui­to, acon­tece no Copan, edifí­cio icôni­co do cen­tro paulis­tano. A pro­gra­mação pas­sa pela Gale­ria Pivô, pela Livraria Megafau­na e pelo Cuia Café.

As atrações começam com um matabi­cho – café da man­hã angolano – servi­do pela chef Bel Coel­ho. O espaço da gale­ria vai rece­ber ain­da um mer­ca­do de beleza e esti­lo. Além dos debates, acon­te­cem ofic­i­nas para quem quis­er apren­der alguns pas­sos de kizom­ba.

A pro­gra­mação com­ple­ta pode ser vista na inter­net.

Edição: Aline Leal

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