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Legado do sambista João da Baiana é celebrado 50 anos após sua morte

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Pioneiro do samba foi amigo e parceiro de Donga e Pixinguinha


Pub­li­ca­do em 12/01/2024 — 06:55 Por Alana Gan­dra – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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João Macha­do Guedes, con­heci­do como João da Baiana, foi um com­pos­i­tor pop­u­lar, can­tor, pas­sista e instru­men­tista brasileiro que nasceu no Rio de Janeiro em 1887 e é con­sid­er­a­do um dos pio­neiros do sam­ba. Nes­ta sex­ta-feira (12), são com­ple­ta­dos os 50 anos de sua morte. Fil­ho de Félix José Guedes e Per­cil­iana Maria Con­stança, João era o caçu­la e úni­co car­i­o­ca de 12 irmãos.

O nome João da Baiana veio do fato de sua mãe ser con­heci­da como Baiana. Nasci­do na zona por­tuária, ele cresceu na Rua Senador Pom­peu, no bair­ro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro, e foi ami­go de infân­cia dos com­pos­i­tores Don­ga e Heitor dos Praz­eres.

“João da Baiana foi do grupo de Pixin­guin­ha Os Oito Batu­tas. Só que ele não via­jou para a Europa [com o grupo], em 1922, porque tin­ha um emprego fixo. Era fun­cionário públi­co da Mar­in­ha e não foi para a França”, lem­brou, em entre­vista nes­sa quar­ta-feira (10) à Agên­cia Brasil o tam­bém com­pos­i­tor, radi­al­ista, apre­sen­ta­dor e estu­dioso das questões afro-brasileiras Rubem Con­fete.

Segun­do Con­fete, João da Baiana era um per­cus­sion­ista extra­ordinário. “Toca­va o pan­deiro adufe [pan­deiro quadra­do], quase um tam­borz­in­ho. E ele toca­va com uma pre­cisão incrív­el. Pare­cia que tin­ha uma bate­ria na frente dele.”

Como todo negro àquela época, João da Baiana chegou a ser persegui­do pela polí­cia por vadi­agem. Por isso, o senador Pin­heiro Macha­do auto­grafou o pan­deiro de João e lhe disse que, quan­do a polí­cia chegasse e pedisse doc­u­men­to, que ele mostrasse o autó­grafo. “Era um cara incrív­el o João. Tra­bal­hou na Rádio Nacional, onde fez muitos pro­gra­mas. Era uma pes­soa gen­til; ia para o 22º andar [do pré­dio da rádio] e dis­tribuía balas para as cri­anças; fica­va con­ver­san­do.”

Capa do LP Gente da Antiga, de 1968, com João da Baiana, Pixinguinha e Clementina de Jesus. Foto: Divulgação
Repro­dução: Capa do LP Gente da Anti­ga, de 1968, com João da Baiana, Pixin­guin­ha e Clementi­na de Jesus. Foto: Divul­gação

Percussão no choro

Rubem Con­fete desta­cou que João da Baiana teve importân­cia fun­da­men­tal para o choro porque, antes, este gênero musi­cal não tin­ha instru­men­to de per­cussão. “Era vio­lão, cavaquin­ho, flau­ta, mas per­cussão, não. Ele, se não for o primeiro, é um dos intro­du­tores da per­cussão no choro. Deu um out­ro sen­ti­do, out­ro bal­anço para o choro.”

João com­pun­ha tam­bém, trans­mitin­do a real­i­dade de seu povo àquela época. São exem­p­los as músi­cas Batuque na Coz­in­ha e Cabide de Molam­bo. “O que esta­va acon­te­cen­do com o povo pre­to daque­la época. Ele é quase da época da abolição da escra­vatu­ra. Era uma out­ra real­i­dade, com a Lei Áurea recém-assi­na­da. Uma real­i­dade bas­tante mis­eráv­el, mas com mui­ta fes­ta.” As duas músi­cas foram lançadas por João da Baiana em 1968, durante a gravação do LP Gente da Anti­ga, com Pixin­guin­ha e Clementi­na de Jesus.

As músi­cas foram regravadas pos­te­ri­or­mente por Mar­t­in­ho da Vila. “Ele {[João] foi até o final jun­to com Pixin­guin­ha e Don­ga”. No fim da vida, retirou-se para a Casa dos Artis­tas, no bair­ro de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, vin­do a fale­cer em 1974, aos 87 anos.

Rubem Con­fete recor­dou a elegân­cia de João da Baiana. Usa­va um chapéu gelot, de esti­lo europeu, paletó do tipo jaque­tão, gra­va­ta bor­dô com laço, calça risca de giz pre­to e bran­co e sap­a­to de duas cores. “Ele se ves­tia de maneira ele­gante. Fica­va ali no Largo de São Fran­cis­co da Prain­ha e cumpri­men­ta­va a todos”. Rubem Con­fete con­heceu João da Baiana entre 1952 e 1953. “Ele esta­va lá. Foi a primeira grande figu­ra que eu con­heci da Pedra do Sal; já era fun­cionário da Mar­in­ha e fazia tra­bal­hos na Rádio Nacional.” Mar­t­in­ho da Vila deu uma recu­per­a­da nas músi­cas de João. “Para a tur­ma nova, a com­posição era do Mar­t­in­ho, mas ele disse logo: ‘não é min­ha. É do João da Baiana’.”

Ranchos

Quan­do cri­ança, João fre­quen­tou rodas de sam­ba e macum­ba que eram real­izadas clan­des­ti­na­mente nos ter­reiros car­i­o­cas. Entre os 8 e os 10 anos de idade, par­ticipou de algu­mas das primeiras agremi­ações car­navalescas, chamadas ran­chos, como por­ta-macha­do (fig­u­rante que abria os des­files), no Ran­cho Dois de Ouro e no Ran­cho da Pedra do Sal. Nes­sa função, já empun­ha­va o pan­deiro, que apren­deu a tocar com sua mãe. A par­tir de 1923, pas­sou a com­por músi­cas e a gravar em pro­gra­mas de rádio. Sua primeira com­posição foi Pelo Amor da Mula­ta, seguin­do-se Mul­her Cru­el, em parce­ria com Don­ga e Pixin­guin­ha, e ain­da Pedin­do Vin­gança e O Futuro é uma Caveira. Em 1928, foi con­trata­do como rit­mista.

Além dos pan­deiros, sua espe­cial­i­dade eram o pra­to e a faca, como instru­men­tos da tradição do sam­ba, pop­u­lares nas gravações da época. Inte­grou alguns dos pio­neiros gru­pos profis­sion­ais de sam­ba, como o Con­jun­to dos Moles, os gru­pos do Louro, da Guar­da Vel­ha e Dia­bos do Céu. Em 1940, par­ticipou da gravação orga­ni­za­da por Heitor Vil­la-Lobos a bor­do do navio Uruguai, para o dis­co Native Brazil­ian Music, do mae­stro Leopold Stokows­ki, com sua músi­ca Ke-ke-re-ké. Na déca­da de 1950, voltou a se apre­sen­tar nos shows do Grupo da Vel­ha Guar­da, orga­ni­za­dos por Almi­rante, e con­tin­u­ou com­pon­do até a déca­da de 1970.

Atual­mente, alguns per­tences do músi­co inte­gram o acer­vo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, entre os quais estão o pra­to e a faca, instru­men­tos que o con­sagraram.

Depoimento

De acor­do com o Dicionário Cra­vo Albin de Músi­ca Pop­u­lar Brasileira, em depoi­men­to presta­do ao Museu de Imagem e de Som (MIS), João recor­dou que na época, o pan­deiro era só usa­do em orques­tras. “No sam­ba, quem intro­duz­iu fui eu mes­mo. Isto mais ou menos quan­do eu tin­ha 8 anos de idade e era por­ta-macha­do no Dois de Ouro e no Pedra do Sal. Até então, nas agremi­ações só tin­ha tam­borim e assim mes­mo era tam­borim grande e de cabo. O pan­deiro não era igual ao atu­al. O dessa época era bem maior.”

Em 1966, após seu nome ter sido escol­hi­do por una­n­im­i­dade pelo Con­sel­ho Supe­ri­or de Músi­ca Pop­u­lar Brasileira do MIS, foi con­vi­da­do por Ricar­do Cra­vo Albin para dar o primeiro depoi­men­to sobre o equipa­men­to. Seu históri­co depoi­men­to teve grande reper­cussão na impren­sa e inau­gurou, jun­to à mídia, o próprio museu, até então descon­heci­do.

Em 2011, em con­vênio com o Insti­tu­to Cul­tur­al Cra­vo Albin, foi lança­da pelo selo Dis­cober­tas a caixa 100 anos de músi­ca pop­u­lar brasileira. No vol­ume 1 está incluí­da a gravação do sam­ba Cabide de Molam­bo, de João da Baiana, na voz de Paulo Tapa­jós.

Edição: Nádia Fran­co

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