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Livro homenageia adolescentes mortos em incêndio no CT do Flamengo

Repro­dução: © Divulgação/Editora Intrínse­ca

De Volta ao Ninho traz revelações impactantes sobre trágédia há 5 anos


Pub­li­ca­do em 08/02/2024 — 05:17 Por Agên­cia Brasil* — Rio de Janeiro

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Há cin­co anos, às 5h17 do dia 8 de fevereiro, tin­ha iní­cio o incên­dio que viti­mou 10 atle­tas ado­les­centes alo­ja­dos em con­têineres, no Cen­tro de Treina­men­to (CT) do Fla­men­go, mais con­heci­do como o Nin­ho do Urubu, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. O proces­so crim­i­nal sobre a tragé­dia segue na Justiça — a primeira audiên­cia ocor­reu em agos­to do ano pas­sa­do -, mas o recém-lança­do livro “Longe do Nin­ho”, da jor­nal­ista e escrito­ra Daniela Arbex, traz rev­e­lações inédi­tas daque­la madru­ga­da fatídi­ca. Com idades entre 14 e 16 anos, mor­reram no incên­dio Arthur Vini­cius, Athi­la Paixão, Bernar­do Piset­ta, Chris­t­ian Esmério, Ged­son San­tos, Jorge Eduar­do, Pablo Hen­rique, Rykel­mo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías. 

“Eu não escre­vo sobre tragé­dias, mas sim sobre omis­sões que causam tragé­dias”, disse Arbex„ no iní­cio da entre­vista que con­cedeu na últi­ma terça-feira (6), ao pro­gra­ma Sta­di­um, da TV Brasil, um dia após o lança­men­to do livro no Rio de Janeiro.

homenagem aos meninos do ninho em muro em frente ao estádio do Maracanã - 10 adolescentes morreram em incêndio no CT do Flamengo, em 08/02/2019
Repro­dução: Capa do livro  é obra do artista plás­ti­co  Airá O Cre­spo, que tam­bém hom­e­na­geou os aos Garo­tos do Nin­ho m painel grafi­ta­do no muro em frente ao está­dio do Mara­canã  — airaocrespo/Instagram

A ideia do livro surgiu após a escrito­ra ser procu­ra­da por uma mãe que perdera o fil­ho no incên­dio. Após dois anos reunin­do depoi­men­tos e inves­ti­gan­do o caso, a escrito­ra nar­ra de for­ma comovente o dia a dia dos meni­nos, a amizade entre eles, o luto infini­to dos pais e, sobre­tu­do, o rol de neg­ligên­cias que cul­mi­naram na morte de 10 inocentes.

Entre as rev­e­lações inédi­tas no livro está o fato de os meni­nos do nin­ho não terem mor­ri­do dor­min­do, como pen­sa­va a maio­r­ia dos pais.

“A gente con­segue recon­stru­ir aque­la madru­ga­da trág­i­ca, o que acon­te­ceu em cada quar­to. Uma das por­tas dos con­têineres onde os meni­nos dormi­am esta­va com defeito. Quan­do ela batia com força ela trava­va por den­tro e só podia ser aber­ta por fora. Então, em um deter­mi­na­do quar­to, os meni­nos não tiver­am a chance de fugir”.

Daniela Arbex traçou uma lin­ha do tem­po “assus­ta­do­ra” em que enfileira várias fis­cal­iza­ções do Min­istério Públi­co no CT do Nin­ho do Urubu a par­tir de 2012, nas quais são apon­tadas diver­sas neces­si­dades de mel­ho­ria em relação ao atendi­men­to ofer­e­ci­do aos atle­tas da base.

“Em 2014 foi fei­ta uma ten­ta­ti­va de um Ter­mo de Ajus­ta­men­to de Con­du­ta (TAC) que não se real­i­zou. O Fla­men­go se recu­sou a faz­er o TAC. Isso foi judi­cial­iza­do e em 2015:foi instau­ra­da uma ação civ­il públi­ca. Em 2019, quan­do o incên­dio acon­te­ceu, esta ação ain­da esta­va em anda­men­to. Então eu falo: o tem­po da justiça nem sem­pre é o tem­po de quem pre­cisa dela. De 2012 a 2019 o Fla­men­go teve inúmeras opor­tu­nidades de se ade­quar, já os meni­nos do nin­ho não tiver­am nen­hu­ma chance”.

Não foram pou­cas as vezes que a escrito­ra, mãe de um meni­no de 12 anos, se emo­cio­nou durante o tra­bal­ho de inves­ti­gação.

“Quan­do as víti­mas chegaram ao Insti­tu­to Médi­co Legal (IML), a legista perce­beu que todas as pla­cas de cresci­men­to [áreas de car­ti­lagem nos ossos lon­gos] estavam aber­tas, o que mostra que eles [os garo­tos do nin­ho] teri­am muito tem­po para se tornar as estre­las que eles podi­am ser”.

Para Daniela Arbex, o juiz Marce­lo Lagu­na Duque Estra­da (tit­u­lar da 36ª Vara Crim­i­nal do Tri­bunal de Justiça do Rio), disse tudo que pre­cisa­va ser dito sobre o incên­dio no CT do Fla­men­go ao acol­her a denún­cia do MP-RJ.

“Ele fala em auto­rias colat­erais, que o incên­dio no ar condi­ciona­do foi a pon­ta do ice­berg. Hou­ve várias omis­sões ante­ri­ores que cul­mi­naram naque­la madru­ga­da trág­i­ca. Uma delas é que o Nin­ho do Urubu sequer dev­e­ria estar fun­cio­nan­do; ele fala que aque­le con­têin­er era uma ara­pu­ca mor­tal”.

Entre as reflexões sus­ci­tadas pela auto­ra está o cuida­do com a saúde men­tal de ado­les­centes que ini­ci­am muito cedo a car­reira de atle­ta.

“Acho que o livro joga luz a um tema pouco dis­cu­ti­do, que é a capaci­dade de clubes cuidarem da saúde men­tal dess­es atle­tas em for­mação, que saem de casa pre­co­ce­mente e já desen­volvem relações com­er­ci­ais, que te têm sobre­car­ga físi­ca; frag­ili­dade dos seus laços afe­tivos porque estão longe dos ver­dadeiros nin­hos, longe de casa e da pro­teção de seus pais. E qual a capaci­dade dos clubes de acol­herem ess­es meni­nos afe­ti­va­mente e ofer­e­cerem um suporte de saúde men­tal. Fiquei muito impres­sion­a­da com um dos meni­nos que sobre­viveu e que me disse que aos 20 anos se sen­tia um fra­cas­sa­do, que ele era vel­ho demais aos 20 anos”.

De acor­do com a escrito­ra, o Fla­men­go se recu­sou a dar qual­quer depoi­men­to para o livro. Daniela Arbex chegou a vis­i­tar o museu do clube da Gávea e se sur­preen­deu ao não encon­trar reg­istro algum sobre os garo­tos do nin­ho.

“Falo sem­pre que o esquec­i­men­to nega a história. Quan­do uma história não é con­ta­da é como se ela não tivesse exis­ti­do. E é por isso que esse livro existe: para a gente diz­er que essa história acon­te­ceu e para gente eternizar a história dos meni­nos”, con­cluiu.

Edição: Cláu­dia Soares Rodrigues

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