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Mãe de Marielle Franco é contrária à federalização da investigação

Repro­dução: © Anto­nio Cruz/Agência Brasil

Marinete cobra descoberta dos mandantes e motivação dos crimes


Pub­li­ca­do em 10/03/2023 — 20:34 Por Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília
Atu­al­iza­do em 10/03/2023 — 22:29

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A advo­ga­da Marinete da Sil­va, 71 anos, mãe da vereado­ra Marielle Fran­co, assas­si­na­da em março de 2018, disse nes­ta sex­ta-feira, em entre­vista à Agên­cia Brasil, ser con­trária à intenção do min­istro da Justiça e Segu­rança Públi­ca, Flávio Dino, de instau­rar um novo inquéri­to na Polí­cia Fed­er­al para colab­o­rar com as inves­ti­gações sobre o dup­lo assas­si­na­to, fed­er­al­izan­do o caso.

“Não inter­es­sa para família, para mim. O crime foi no Rio de Janeiro. Acho que a Polí­cia Fed­er­al tem que estar jun­to, como sem­pre esteve. Muito mais ago­ra com o [min­istro Flávio] Dino. Mas a solução tem que par­tir do Rio de Janeiro. Foi lá que o crime acon­te­ceu. O gov­er­no tem que dar uma respos­ta para mim, para a família, para a sociedade, para os eleitores da Marielle. Fui con­tra a fed­er­al­iza­ção e fiz a cam­pan­ha”.

A mobi­liza­ção Fed­er­al­iza­ção Não teve apoio de mais de 150 mil pes­soas e 200 orga­ni­za­ções da sociedade civ­il.

As inves­ti­gações da Polí­cia Civ­il e do Min­istério Públi­co do esta­do apon­taram o sar­gen­to refor­ma­do da Polí­cia Mil­i­tar do Rio de Janeiro Ron­nie Lessa como um dos autores dos tiros, com a colab­o­ração do ex-poli­cial mil­i­tar Élcio Queiroz.

Des­de 2019, os dois estão pre­sos pre­ven­ti­va­mente e respon­dem por dup­lo homicí­dio tripla­mente qual­i­fi­ca­do (moti­vo tor­pe, embosca­da e recur­so que difi­cul­tou a defe­sa da víti­ma) e pela ten­ta­ti­va de homicí­dio con­tra Fer­nan­da Chaves, asses­so­ra de Marielle, sobre­vivente do crime e que tam­bém esta­va no veícu­lo alve­ja­do.

A família de Marinete aguar­da o júri pop­u­lar, ain­da sem data defini­da, a que deve ser sub­meti­do Ron­nie Lessa. “Ess­es home­ns estão há quase 4 anos pre­sos. Esse júri pre­cisa ser feito. Eles pre­cisam ser con­de­na­dos. Eles não podem matar fil­ho de ninguém. Tem que haver uma punição para isso”, disse a mãe da vereado­ra.

Os crimes com­ple­tarão cin­co anos na próx­i­ma terça-feira (14) e ain­da não foram apon­ta­dos os man­dantes, nem as moti­vações das duas exe­cuções. “É um proces­so grande, que traz muitos req­ui­si­tos e pre­cisam ser revis­tos. A gente está na ter­ceira equipe den­tro do Min­istério Públi­co [do Rio de Janeiro], no quin­to del­e­ga­do da Polí­cia Civ­il [do Rio de Janeiro]. Cin­co anos é muito tem­po. Meia déca­da!”

Memória

A advo­ga­da relem­brou a tra­jetória da fil­ha, des­de a vivên­cia na Comu­nidade da Maré até o com­bate a mili­cianos. “Marielle sem­pre esteve den­tro da comu­nidade saben­do exata­mente o que se pas­sa­va ali. A milí­cia não era tão grande, como a gente vê hoje. Min­ha fil­ha era uma asses­so­ra que esta­va sem­pre com Marce­lo Freixo [ex-dep­uta­do e atu­al pres­i­dente da Embratur], que coman­da­va a CPI [das Milí­cias]. A gente tin­ha uma pre­ocu­pação por con­ta da prox­im­i­dade muito grande que ela tin­ha, den­tro dessa área de dire­itos humanos”.

Ela defende a memória da fil­ha. “Des­de a cate­quese, durante dez anos, esta­va den­tro da comu­nidade. Ela era essa mul­her que entra­va e saía da Maré, e ninguém a inco­mo­da­va. Pelo con­trário, tin­ha respeito. Essa parte social, de comu­nidade que a Marielle tin­ha, vin­ha des­de muito cedo, porque é uma mul­her per­iféri­ca. Uma mul­her que muda tudo den­tro da Maré e segue para grad­u­ação dela, volta­da para o social e para políti­cas públi­cas, levan­do mui­ta gente tam­bém. O mestra­do dela tam­bém foi em cima dis­so. A aber­tu­ra que ela teve depois de elei­ta chegou para mudar o par­la­men­to. Ela já chega como uma mul­her aguer­ri­da, com­bat­i­va”, disse Marinete.

Marinete da Sil­va respon­s­abi­liza o posi­ciona­men­to das fil­has e netas (Mariele e Anielle Fran­co, min­is­tra de Igual­dade Racial) pela cri­ação famil­iar. “É toda uma edu­cação que a gente traz. Somos de uma família muito grande de mul­heres. São sete mul­heres e qua­tro home­ns. É um matri­ar­ca­do muito pre­sente”.

Sobre o pro­je­to de lei que insti­tui 14 de março como o Dia Nacional Marielle Fran­co de Enfrenta­men­to da Vio­lên­cia Políti­ca de Gênero e Raça, Marinete con­sid­era ser um impor­tante mar­co. “Porque as mul­heres negras que chegam àquele espaço sen­tem, niti­da­mente, que não é para ela. Mas foi para Marielle e pode ser para todo mun­do. Então, ter segu­rança para essas mul­heres e faz­er políti­ca públi­ca para essas mul­heres que estão que chegan­do ao par­la­men­to é fun­da­men­tal. Muitos dizem lá ‘esse espaço não é teu e não te quero aqui’. Mas é pre­ciso ter mais mul­heres na políti­ca”.

Instituto

A família criou o Insti­tu­to Marielle Fran­co, para desen­volver ações de luta por justiça, defe­sa da memória de Marielle e pro­moção de uma sociedade mais jus­to e igual­itária. “O insti­tu­to teve várias ações, des­de a pan­demia, inter­nas, den­tro do Rio de Janeiro e fora do Rio. A Ani [Anielle] fez 70 via­gens no ano pas­sa­do, como dire­to­ra exec­u­ti­va do insti­tu­to até assumir o Min­istério [da Igual­dade Racial]. Então, home­ns e mul­heres estão se com­pro­m­e­tendo com as pau­tas que a Marielle trazia. E nos 27 esta­dos há mul­heres se iden­ti­f­i­can­do com essa agen­da”, disse Marinete.

Legado

Ape­sar da dor que diz sen­tir, a mãe da vereado­ra com­preende que Marielle Fran­co inspi­ra e poten­cial­iza out­ras mul­heres. “Marielle vai estar pre­sente sem­pre! Marielle tran­scende hoje, tan­to no Brasil como no mun­do. É uma mul­her que se tornou a refer­ên­cia, sím­bo­lo de resistên­cia. Marielle não está pre­sente fisi­ca­mente, mas ela mudou a estru­tu­ra deste país total­mente. A história da min­ha fil­ha traz um antes e um depois. Ela é um ícone. Hoje, cada vez mais, as mul­heres se sen­tem à von­tade para diz­erem o que elas querem. Elas podem estar onde quis­erem. Min­ha fil­ha trazia isso naque­le cor­po”.

Futuro

A advo­ga­da Marinete da Sil­va disse que “pre­cisa con­fi­ar em um futuro mel­hor e con­tar com a estru­tu­ra que está sendo mon­ta­da agora,[com] os con­sel­hos, a vol­ta da nor­mal­i­dade desse país”.

“Porque nada se con­strói sem a mul­her e com esse ciclo de mui­ta vio­lên­cia. Nada! Tem que mudar isso e começar lá na base, na esco­la, tan­to para home­ns e mul­heres. Quan­do a gente mudar a estru­tu­ra, vai poder viv­er bem futu­ra­mente”, afir­ma.

Direitos humanos

Marinete par­ticipou nes­ta sex­ta-feira da 67ª Reunião Ordinária do Con­sel­ho Nacional dos Dire­itos Humanos (CNDH), em Brasília, con­vi­da­da pela exec­u­ti­va do Lev­ante Fem­i­nista con­tra o Fem­i­nicí­dio, Clei­de Lemos, por enten­der que a vereado­ra foi mor­ta por vio­lên­cia de gênero na políti­ca.

“Essa fac­eta do fem­i­nicí­dio públi­co e políti­co ain­da não está na lei do fem­i­nicí­dio, mas pre­cisa entrar. A gente pre­cisa ver a vio­lên­cia políti­ca com uma for­ma de fem­i­nicí­dio. Hoje, basi­ca­mente, a lei só tra­ta das hipóte­ses de fem­i­nicí­dio lig­adas à vio­lên­cia domés­ti­ca e famil­iar ou a crimes de ódio. E não deixar a mul­her estar no espaço públi­co tam­bém é uma for­ma de ódio. Então, a gente pre­cisa avançar nesse cam­po”, defende a exec­u­ti­va.

 

Matéria atu­al­iza­da às 22h29 para cor­ri­gir a data da morte de Marielle, ocor­ri­da em 2018, e não 2019, como ante­ri­or­mente pub­li­ca­do. E, difer­ente­mente do pub­li­ca­do, o min­istro da Justiça não deter­mi­nou a fed­er­al­iza­ção do caso. Por ora, ele ape­nas se mostrou favoráv­el à medi­da.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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