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Mães de vítimas da violência estatal puxam Grito dos Excluídos no Rio

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Todas as formas de vida importam” foi o slogan da manifestação


Publicado em 07/09/2024 — 15:10 Por Léo Rodrigues ‑Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

Mães que perder­am seus fil­hos em oper­ações poli­ci­ais for­maram o pelotão de frente do Gri­to dos Excluí­dos, que per­cor­reu ruas do cen­tro no Rio de Janeiro neste sába­do (7). O ato, que é tradi­cional­mente real­iza­do no dia 7 de setem­bro, chegou à sua 30ª edição. Des­de a con­cen­tração às 10h, na esquina da Rua Urugua­iana com Aveni­da Pres­i­dente Var­gas, elas car­regaram car­tazes com os ros­tos das víti­mas e cobraram justiça.

Uma das reivin­di­cações envolve a fed­er­al­iza­ção dos proces­sos envol­ven­do letal­i­dade poli­cial no Rio de Janeiro. A Procu­rado­ria-Ger­al da Repúbli­ca (PGR) rece­beu, em jul­ho deste ano, rep­re­sen­tação favoráv­el à medi­da envol­ven­do qua­tro casos, entre eles a chama­da Chaci­na do Jacarez­in­ho, ocor­ri­da em 2021 durante oper­ação poli­cial que deixou 28 mor­tos e é con­sid­er­a­da a mais letal da históri­ca da cap­i­tal flu­mi­nense. A dis­cussão ocorre ten­do em vista indí­cios de vio­lações de dire­itos humanos em proces­sos que trami­tam na esfera estad­ual. A PGR, no entan­to, ain­da não decid­iu se apre­sen­tará à Justiça pedi­do de fed­er­al­iza­ção.

“Ninguém sofre mais com a vio­lên­cia do esta­do do que essas mães. E o pior: com a impunidade imperan­do. Os assas­si­nos de muitos e muitas nun­ca foram punidos ou nem respon­dem proces­so. São vidas per­di­das de jovens e cri­anças negras, per­iféri­c­as. Quan­do damos o pro­tag­o­nis­mo a essas mães, dize­mos: nós nos impor­ta­mos com essas vidas”, diz San­dra Quin­tela, que inte­gra a Rede Jubileu Sul Brasil e a coor­de­nação nacional do Gri­to dos Excluí­dos.

Rio de Janeiro (RJ), 07/09/2024 - Grito dos Excluídos e Excluídas 2024, atravessa ruas do centro da cidade, com o tema
Repro­dução: Rio de Janeiro — Gri­to dos Excluí­dos e Excluí­das 2024 atrav­es­sa ruas do cen­tro da cidade — Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

Des­de 1995, o Gri­to dos Excluí­dos envolve atos orga­ni­za­dos em diver­sas cidades do país. Eles reúnem uma var­iedade de gru­pos, enti­dades, cen­trais sindi­cais, igre­jas e movi­men­tos soci­ais com­pro­meti­dos com as causas pop­u­lares. San­dra desta­ca que, em cada lugar do Brasil, a man­i­fes­tação tem uma car­ac­terís­ti­ca. Ela cita, por exem­p­lo, que, em For­t­aleza, há forte lid­er­ança da Igre­ja Católi­ca e que, em Man­aus, o ato ocorre no dia 5 de setem­bro, quan­do se cel­e­bra o Dia da Amazô­nia. “Aqui no Rio, começamos no ano pas­sa­do, com essa tradição de as mães puxarem o Gri­to dos Excluí­dos. E pre­tendemos que assim seja de ago­ra em diante”, afir­mou.

O lema “Todas as for­mas de vida impor­tam” deu o tom da 30ª edição. “Chegar a esse mar­co mostra a força da orga­ni­za­ção pop­u­lar, da orga­ni­za­ção que é fei­ta de baixo para cima. O Gri­to dos Excluí­dos é um proces­so. Tudo é deci­di­do e con­struí­do cole­ti­va­mente. E ele nasce tam­bém com a pro­pos­ta de desmil­i­ta­rizar o 7 de setem­bro. Essa é uma data do col­o­nizador. Foi o príncipe regente que proclam­ou nos­sa inde­pendên­cia. Então, a gente vai à rua para diz­er que essa é uma inde­pendên­cia incom­ple­ta. Enquan­to hou­ver desigual­dade, injustiça e vio­lên­cia na cidade e no cam­po, não ser­e­mos uma país inde­pen­dente”, acres­cen­ta San­dra.

Man­i­fes­tantes que se revezaram no micro­fone defend­er­am uma var­iedade de pau­tas como a defe­sa do meio ambi­ente, a garan­ti­da do aces­so à mora­dia, o com­bate ao racis­mo reli­gioso, o fim da políti­ca repres­si­va de guer­ra às dro­gas e a mudança nas escalas de tra­bal­ho, entre out­ras. Rober­to Oliveira, inte­grante da coor­de­nação do Movi­men­to dos Atingi­dos por Bar­ragem (MAB), desta­cou a jor­na­da de lutas que a enti­dade lançou na quin­ta-feira (5) em difer­entes cidades da Região Norte, para mar­car o Dia da Amazô­nia.

Rio de Janeiro (RJ), 07/09/2024 - Grito dos Excluídos e Excluídas 2024, atravessa ruas do centro da cidade, com o tema
Repro­dução: Rio de Janeiro — Gri­to dos Excluí­dos e Excluí­das 2024 atrav­es­sa ruas do cen­tro da cidade — Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

Ele con­sider­ou que o mod­e­lo econômi­co em cur­so pro­move a destru­ição da bio­di­ver­si­dade amazôni­ca e prej­u­di­ca as pop­u­lações locais. “Pre­cisamos olhar para as famílias mais empo­bre­ci­das, atingi­das pela crise climáti­ca, pelos desliza­men­tos e pelas inun­dações, pelas fortes chu­vas que vão cair, prin­ci­pal­mente, nas casas dos mais vul­neráveis”, aler­tou.

A pesquisado­ra em saúde cole­ti­va e mil­i­tante do Par­tido Comu­nista Brasileiro Rev­olu­cionário (PCBR), Mar­i­ana Nogueira, disse que não há democ­ra­cia se o povo pobre, pre­to e fave­la­do não tem aces­so à saúde e edu­cação. “Esta­mos há sem­anas com as esco­las fechadas no Com­plexo da Maré”, criti­cou, fazen­do menção às con­se­quên­cias das oper­ações envol­ven­do a demolição de imóveis con­sid­er­a­dos irreg­u­lares pela prefeitu­ra.

Alguns can­didatos nas eleições munic­i­pais tam­bém fiz­er­am uso da palavra. Ao lon­go do tra­je­to com des­ti­no à Praça Mauá, os man­i­fes­tantes entoaram palavras de ordem envol­ven­do assun­tos vari­a­dos. “A gente sem­pre tra­bal­ha o tema da edu­cação, da saúde, do trans­porte, da qual­i­dade de vida. É uma pul­ver­iza­ção mes­mo de pau­tas. São as deman­das dos excluí­dos e das excluí­das. Então, como é um proces­so dinâmi­co e democráti­co de con­strução, diver­sas pau­tas vão entran­do e sendo incor­po­radas”, expli­ca San­dra.

Outras manifestações

O 7 de setem­bro tam­bém foi mar­co de out­ras man­i­fes­tações na cap­i­tal flu­mi­nense. O Coman­do Mil­i­tar do Leste real­i­zou o tradi­cional des­file cívi­co-mil­i­tar na Aveni­da Pres­i­dente Var­gas a par­tir das 8h30. Na aber­tu­ra das ativi­dades, foi ace­sa a pira com o fogo sim­bóli­co da pátria. Em segui­da, o Hino da Inde­pendên­cia foi entoa­do, acom­pan­hado por uma sal­va de 21 tiros. O des­file lem­brou os 80 anos da Força Expe­di­cionária Brasileira (FEB) e hom­e­na­geou os 25 mil mil­itares brasileiros que lutaram na Segun­da Guer­ra Mundi­al em 1944.

Rio de Janeiro (RJ), 07/09/2024 - Grito dos Excluídos e Excluídas 2024, atravessa ruas do centro da cidade, com o tema
Repro­dução: Rio de Janeiro — Gri­to dos Excluí­dos e Excluí­das 2024 per­corre ruas do cen­tro da cidade — Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

Na orla de Copaca­bana, na zona sul da cidade, um grupo de man­i­fes­tantes se reuniu em ato a favor do impeach­ment do min­istro do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF) Alexan­dre de Moraes. Um car­ro de som foi esta­ciona­do na Aveni­da Atlân­ti­ca, servin­do de palanque para dis­cur­sos.

Os man­i­fes­tantes criticaram a decisão de Moraes de sus­pender as ativi­dades da rede social X, após a empre­sa se recusar a cumprir decisões judi­ci­ais e a indicar um rep­re­sen­tante legal no país. Os descon­tentes com a atu­ação do min­istro tam­bém con­sid­er­am que ele come­teu abu­sos con­tra a liber­dade de expressão e afir­maram que ele vio­lou a lei em jul­ga­men­tos dos par­tic­i­pantes de atos que resul­taram na depredação da Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

Edição: Graça Adju­to

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