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Maioria dos futuros professores não conclui estágio em escolas

Repro­dução: © Suma­ia Vilela / Agên­cia Brasil

Acompanhamento da rotina escolar por formandos é obrigatório


Pub­li­ca­do em 28/09/2023 — 06:25 Por Mar­i­ana Tokar­nia – Repórter da Agên­cia Brasil   — Rio de Janeiro

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A maior parte dos for­man­dos em licen­ciat­uras no Brasil não cumpre a car­ga horária mín­i­ma exigi­da no está­gio obri­gatório. Além dis­so, cer­ca de um a cada dez futur­os pro­fes­sores sequer fez o está­gio. Os dados são do últi­mo Exame Nacional de Desem­pen­ho dos Estu­dantes (Enade), de 2021, e foram com­pi­la­dos pelo Todos pela Edu­cação, com exclu­sivi­dade para a Agên­cia Brasil.  

O está­gio obri­gatório é um perío­do que os estu­dantes de licen­ciat­uras acom­pan­ham a roti­na esco­lar, sem­pre super­vi­sion­a­dos por pro­fes­sores. A intenção é que eles ten­ham con­ta­to com as esco­las e se pre­parem para o tra­bal­ho como pro­fes­sores. De acor­do com res­olução do Con­sel­ho Nacional de Edu­cação (CNE), esse está­gio deve ter a duração de pelo menos 400 horas.

Os dados do Enade, no entan­to, mostram que a regra, na práti­ca, não está sendo cumpri­da. O Enade é um exame real­iza­do por estu­dantes que estão con­cluin­do os cur­sos de grad­u­ação. A cada ano, o exame avalia um con­jun­to difer­ente de cur­sos. Em 2021, foi a vez das licen­ciat­uras. Além de realizar as provas, os alunos respon­dem a um ques­tionário sobre a for­mação.  As per­gun­tas sobre o está­gio fazem parte deste ques­tionário.

Cer­ca de 55% dos con­cluintes em licen­ciat­uras, o equiv­a­lente a cer­ca de 165 mil estu­dantes, dis­ser­am que cumpri­ram menos de 300 horas de está­gio. Out­ros 11,82%, o equiv­a­lente a 35,5 mil alunos, dis­ser­am que sequer fiz­er­am o está­gio. Os dados mostram ain­da que 19,49%, ou 58,5 mil, cumpri­ram entre 301 e 400 horas e ape­nas 13,71%, ou 41,2 mil, fiz­er­am está­gios de mais de 400 horas.

“O está­gio per­mite essa conexão da teo­ria com a práti­ca. Tudo que se aprende na teo­ria, se vê apli­cações práti­cas na esco­la”, diz o ger­ente de Políti­cas Edu­ca­cionais do Todos Pela Edu­cação, Ivan Gon­ti­jo.

“É impor­tante que os estu­dantes con­heçam a dinâmi­ca da esco­la, os papéis e as respon­s­abil­i­dades de cada um dos atores da equipe esco­lar. Nesse perío­do, vão enten­der como é a orga­ni­za­ção do espaço e como é o tra­bal­ho ali. O está­gio tem caráter de obser­vação e, pro­gres­si­va­mente vai per­mitin­do par­tic­i­par mais, acom­pan­har pro­fes­sores nas avali­ações e ativi­dades. Por isso a car­ga horária é grande.”

Gon­ti­jo ressalta que aque­les que se for­maram em 2021 foram impacta­dos pela pan­demia, que lev­ou ao fechamen­to das esco­las por pelo menos um ano. Ape­sar dis­so, os dados do Enade mostram que mes­mo antes, o está­gio não era total­mente cumpri­do. Em 2014 e em 2017, anos em que as licen­ciat­uras foram avali­adas, cer­ca de 3%, ou mais de 7 mil estu­dantes em ambos os anos, declararam que não fiz­er­am o está­gio. Tam­bém em ambos os anos, cer­ca de 60% dos estu­dantes dis­ser­am que não cumpri­ram a car­ga horária mín­i­ma, fazen­do 300 horas ou menos de está­gio obri­gatório.

Para rece­ber o diplo­ma, os estu­dantes pre­cisam cumprir o está­gio. Segun­do Gon­ti­jo, as altas por­cent­a­gens de estu­dantes que declar­am que não con­cluíram os está­gios pode ocor­rer porque muitos acabam con­seguin­do doc­u­men­tos afir­man­do que fiz­er­am as práti­cas ou mes­mo realizaram o está­gio de for­ma não estru­tu­ra­da, o que dá uma sen­sação de que não o cumpri­ram.

“Isso chama atenção dess­es dados porque em tese é obri­gatório cumprir as horas de está­gio, então, para con­seguir esse diplo­ma, eles pre­cis­aram apre­sen­tar algo, mas não têm a per­cepção de que fiz­er­am o está­gio.”

Nas escolas

Gina Vieira, pro­fes­so­ra aposen­ta­da da rede públi­ca no Dis­tri­to Fed­er­al, que tra­bal­ha atual­mente como pro­fes­so­ra vol­un­tária na Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB) e atua na for­mação de pro­fes­sores da edu­cação bási­ca, reforça a importân­cia do está­gio.

“A for­mação dos pro­fes­sores tem sido cada vez mais frágil e insip­i­ente porque for­mar um bom profis­sion­al é caro. Muitas vezes, há pre­cariza­ção na for­mação ini­cial dess­es profis­sion­ais”, afir­mou. Segun­do ela, muitas vezes os alunos dess­es cur­sos pre­cisam con­cil­iar a for­mação com tra­bal­ho e out­ras deman­das, o que faz com que eles não con­sigam cumprir a car­ga horária mín­i­ma.

O ques­tionário do Enade mostra ain­da que a maior parte dos for­man­dos dese­ja atu­ar nas esco­las. A maio­r­ia( 64%) dos con­cluintes dos cur­sos de for­mação ini­cial docente quer atu­ar em esco­las públi­cas em médio pra­zo daqui a cin­co anos. Out­ros 13% pref­er­em atu­ar com gestão edu­cação no setor públi­co e 11% pre­ten­dem bus­car out­ro cam­po de atu­ação, fora da área da Edu­cação. Os dados mostram ain­da que 8% dese­jam ser pro­fes­sor na rede pri­va­da e 4% pre­ten­dem tra­bal­har na gestão edu­ca­cional de algu­ma insti­tu­ição tam­bém pri­va­da.

“É fun­da­men­tal que esse profis­sion­al, como parte da sua for­mação, ten­ha con­ta­to com a prat­i­ca pedagóg­i­ca, com a sala de aula, com o chão da esco­la, porque é isso que vai ajudá-lo a ter um pouco mais de entendi­men­to do que é ser pro­fes­sor. For­mar pro­fes­sor com a qual­i­dade que se espera pas­sa por uma artic­u­lação per­ma­nente entre teo­ria e práti­ca. Práti­ca sem teo­ria não sus­ten­ta. Mas teo­ria soz­in­ha não vai te aju­dar a ser bom profis­sion­al”, ressalta Vieira.

Vieira expli­cou que um bom está­gio per­mite que os estu­dantes ten­ham con­ta­to com as salas de aula, pos­sam dar aulas e tam­bém que rece­bam retornos dos profis­sion­ais que os super­vi­sion­am e ten­ham a opor­tu­nidade exper­i­men­tar o que ess­es retornos propõem. Para isso, a pro­fes­so­ra defende inclu­sive a ampli­ação do tem­po de está­gio. “Esse está­gio pre­cisa acon­te­cer e acho que car­ga horária pre­cisa ser ampli­a­da.”

Atual­mente, das 1.648.328 matrícu­las nos cur­sos de licen­ciatu­ra, 35,6% foram reg­istradas em insti­tu­ições públi­cas e 64,4%, em pri­vadas de ensi­no supe­ri­or, de acor­do com o últi­mo Cen­so da Edu­cação Supe­ri­or, de 2021. Dos estu­dantes matric­u­la­dos em cur­sos de licen­ciatu­ra, 61% fre­quen­tam cur­so à dis­tân­cia.

Edição: Maria Clau­dia

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