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Maioria dos professores já presenciou casos de racismo entre alunos

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Índice cresce entre professores do ensino fundamental


Publicado em 18/09/2024 — 09:28 Por Elaine Patrícia Cruz — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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Mais da metade dos pro­fes­sores (54% do total) já pres­en­cia­ram casos de racis­mo envol­ven­do seus alunos em salas de aula. É o que mostra pesquisa inédi­ta do Obser­vatório Fun­dação Itaú, em parce­ria com o Equidade.Info, real­iza­da com esta­b­elec­i­men­tos de ensi­no das redes públi­ca e pri­va­da no Brasil.

De acor­do com o lev­an­ta­men­to, esse per­centu­al cresce entre pro­fes­sores do ensi­no fun­da­men­tal II (do 6º ao 9º ano), chegan­do a 67%. Entre os pro­fes­sores do fun­da­men­tal I (entre o 1º e o 5º ano) o índice é de 48%. Entre os pro­fes­sores do ensi­no médio, o per­centu­al é de 47%.

“Os pro­fes­sores percebem que exis­tem sim situ­ações de racis­mo entre os estu­dantes. Mas essa per­cepção muda entre pro­fes­sores bran­cos e negros. Entre os pro­fes­sores negros, cor­re­sponde a 56%, enquan­to entre os bran­cos é de 48%. Essa per­cepção muda tam­bém entre os estu­dantes. Nesse caso, per­gun­ta­mos se eles se sen­tem respeita­dos pelos seus cabe­los cre­s­pos, pen­tea­d­os ou cor de pele. E a gente viu que 13% dos estu­dantes negros dis­cor­dam mas, entre os bran­cos, o índice é de 8%”, disse Esmer­al­da Macana, coor­de­nado­ra do Obser­vatório Fun­dação Itaú.

A pesquisa foi fei­ta sob dois recortes. Um deles anal­isou o cli­ma esco­lar e foi real­iza­do em 144 esco­las, ouvin­do 2.706 alunos, 384 docentes e 235 gestores entre março e abril deste ano. A out­ra parte do estu­do anal­isou o enfrenta­men­to ao racis­mo, com dados col­hi­dos entre abril e maio de 2024 em 160 esco­las, 2.889 alunos, 373 docentes e 222 gestores. “Bus­camos enten­der como os estu­dantes se sen­tem no cotid­i­ano esco­lar e como isso se car­ac­ter­i­za na per­cepção deles próprios, dos pro­fes­sores e dos gestores esco­lares”, expli­cou Esmer­al­da.

Clima escolar

No lev­an­ta­men­to sobre cli­ma esco­lar, o estu­do mostrou que a sen­sação de acol­hi­men­to dos alunos nas esco­las vai dimin­uin­do con­forme avançam as eta­pas de ensi­no. Nos anos ini­ci­ais do ensi­no fun­da­men­tal (entre o 1º e o 5º anos), por exem­p­lo, o índice de acol­hi­men­to chega a 86%. Nas eta­pas finais do ensi­no fun­da­men­tal (entre o 6º e o 9º ano) essa sen­sação cai para 77%. Quan­do se anal­isam os estu­dantes do ensi­no médio, o per­centu­al pas­sa a ser de 72%.

“A sen­sação de acol­hi­men­to dos estu­dantes vai dimin­uin­do con­forme as eta­pas de ensi­no. Por exem­p­lo, no caso dos anos ini­ci­ais, essa per­cepção é de 86%”, disse Esmer­al­da, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

“Isso tem a ver com várias questões e desafios da própria edu­cação em uma eta­pa de tran­sição. São cri­anças que vão pas­sar pela eta­pa da ado­lescên­cia, em que pode haver mudança de esco­la e tam­bém mudança de como se dá o proces­so de apren­diza­gem, com a pas­sagem para múlti­p­los pro­fes­sores. Então, os estu­dantes acabam enfrentan­do mais desafios nes­sa parte de acol­hi­men­to porque são estu­dantes que poderão estar em novas esco­las, com pro­fes­sores espe­cial­is­tas, com dis­tin­tas dis­ci­plinas e mudanças de cole­gas, além de alter­ações no seu próprio desen­volvi­men­to físi­co e que são nat­u­rais da ado­lescên­cia”, com­ple­tou.

A pesquisa rev­el­ou ain­da que essa sen­sação de acol­hi­men­to é maior entre os bran­cos. Cer­ca de 84% dos alunos bran­cos dizem se sen­tir acol­hi­dos, enquan­to esse índice cai para 78% entre os negros.

Há tam­bém uma difer­ença de per­cepção sobre o acol­hi­men­to entre alunos, pro­fes­sores e gestores. Entre os pro­fes­sores, 92% dis­ser­am que os alunos se sen­tem acol­hi­dos na esco­la, uma difer­ença de 11 pon­tos em relação à mes­ma per­gun­ta fei­ta para os alunos (81%). Entre os gestores, o per­centu­al sobe para 93%.

Enfrentamento ao racismo

O segun­do recorte, sobre o enfrenta­men­to ao racis­mo, indi­cou que sete em cada dez estu­dantes (70%) con­cor­dam que os alunos negros são respeita­dos nas esco­las em relação ao seu fenótipo. Essa per­cepção, porém, é difer­ente entre alunos bran­cos e negros: entre os primeiros, 8% dis­cor­dam do anun­ci­a­do, enquan­to para os negros, o per­centu­al é de 13%.

Out­ro dado apre­sen­ta­do pelo estu­do mostra que 21% dos pro­fes­sores bran­cos dis­ser­am não saber o que faz­er para lidar com o racis­mo den­tro da esco­la. Entre os docentes negros, o índice cai para 9%.

Na média ger­al, 75% dos pro­fes­sores dis­ser­am que na sua esco­la há pro­ced­i­men­tos para lidar com casos de racis­mo. “É pre­ciso que exista a for­mação dos pro­fes­sores para iden­ti­ficar essas situ­ações [de racis­mo]”, disse a coor­de­nado­ra.

No entan­to, desta­cou Esmer­al­da, o enfrenta­men­to ao racis­mo não é tare­fa ape­nas dos pro­fes­sores. Para ela, somente ações estru­tu­rais e que envolvam toda a rede de ensi­no, jun­tan­do comu­nidade, fun­cionários e famil­iares dos alunos, podem super­ar o prob­le­ma. “Quan­do as cri­anças se sen­tem mais val­orizadas por sua iden­ti­dade, seu ter­ritório e sua cul­tura, elas vão se sen­tir mais acol­hi­das, defend­eu.

“As esco­las pre­cisam pro­mover um cli­ma esco­lar pos­i­ti­vo. E isso se dá de várias for­mas, inclu­sive a arte e a cul­tura podem aju­dar nes­sa pro­moção. Tam­bém é pre­ciso um cur­rícu­lo esco­lar mais enrique­ci­do com arte e cul­tura para o enfrenta­men­to do racis­mo. Há a lei 10.639, que existe há 20 anos, e que traz a obri­gação do ensi­no das relações étni­co-raci­ais e do ensi­no da história afro-brasileira, que pre­cisa ser imple­men­ta­da. Isso impli­ca ter mate­ri­ais pedagógi­cos ade­qua­dos e que tragam refer­ên­cias de rep­re­sen­tações negras”, com­ple­tou.

Segun­do ela, todas essas ações são impor­tantes não só para o enfrenta­men­to do racis­mo, mas tam­bém a pro­moção de um cli­ma pos­i­ti­vo, pre­venin­do vio­lên­cias e bul­ly­ings.

Edição: Graça Adju­to

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