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Mais de 1,7 mil jornalistas foram mortos em 20 anos em todo o mundo

Levantamento foi divulgado pela ONG Repórteres sem Fronteiras

Gilber­to Cos­ta — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 14/12/2024 — 09:01
Brasília
Membro da imprensa, Jornalista, fotógrafo, em cobertura de guerra ou conflito. Foto: hosnysalah/Pixabay
Repro­dução: © hosnysalah/Pixabay

Nos últi­mos 20 anos, mais de 1,7 mil jor­nal­is­tas foram assas­si­na­dos no plan­e­ta tra­bal­han­do ou em razão de suas funções. Em 2024, 54 jor­nal­is­tas foram mor­tos – 52 home­ns e duas mul­heres. Os dados são da orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal (ONG) Repórteres sem Fron­teiras (RSF), fun­da­da em 1985 na França, e foram divul­ga­dos nes­sa sex­ta-feira (13).

“É o ano com o maior número de casos de jor­nal­is­tas mor­tos no con­tex­to de con­fli­tos arma­dos”, infor­ma o jor­nal­ista Artur Romeu, dire­tor do escritório da RSF para a Améri­ca Lati­na, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Até 1º de dezem­bro, 31 jor­nal­is­tas foram a óbito em zonas de con­fli­to, espe­cial­mente na Palesti­na – onde mor­reram 16 profis­sion­ais que cobri­am o con­fli­to entre Israel e o Hamas. As forças armadas israe­lens­es são con­sid­er­adas pela ONG como a “prin­ci­pal agres­so­ra da liber­dade de impren­sa.”

“A gente não está falan­do de víti­mas colat­erais”, desta­ca o dire­tor. Segun­do ele, muitos profis­sion­ais da impren­sa sofr­eram ataques dire­tos, pois pas­saram a ser vis­tos como poten­ci­ais reféns para que gru­pos ou país­es em con­fli­to atin­jam obje­tivos especí­fi­cos, ou ao menos des­en­co­ra­jem a cober­tu­ra jor­nalís­ti­ca.

A RSF anotou que, além dos assas­si­natos de jor­nal­is­tas na Palesti­na, foram mor­tos profis­sion­ais da mídia em difer­entes partes do globo: Paquistão (sete), Bangladesh (cin­co), Méx­i­co (cin­co), Sudão (qua­tro), Bir­mâ­nia (três), Colôm­bia (dois), Líbano (dois), Ucrâ­nia (dois), Chade (um), Indonésia (um), Iraque (um) e Rús­sia (um).

Reféns, desaparecidos e sequestrados

O bal­anço de 2024 da Repórteres sem Fron­teiras ain­da con­tabi­liza que 550 jor­nal­is­tas estão ou estiver­am pre­sos neste ano por causa do ofí­cio – 473 home­ns e 77 mul­heres, cresci­men­to de 7,2% dos casos em relação a 2023 (513 profis­sion­ais).

O país que mais tem jor­nal­is­tas pre­sos é a Chi­na (124), segui­da da Bir­mâ­nia (61) e Israel (41). A maio­r­ia dos repórteres pre­sos (462) é do mes­mo país que estão encar­cer­a­dos. Quase 300 jor­nal­is­tas estão pre­sos sem jul­ga­men­to, de for­ma pre­ven­ti­va.

Há 55 jor­nal­is­tas feitos refém (52 home­ns e três mul­heres). Quase a total­i­dade (53) é for­ma­da por cidadãos do país onde foram sequestra­dos. Trin­ta e oito casos foram reg­istra­dos na Síria, e o prin­ci­pal agente sequestrador do mun­do é o Esta­do Islâmi­co (25).

Noven­ta e cin­co jor­nal­is­tas estavam desa­pare­ci­dos em 1º de dezem­bro – 88 home­ns e sete mul­heres. A maio­r­ia dess­es profis­sion­ais desa­pare­ceu em seu próprio país. O bal­anço do RSF mostra que 39 desa­parec­i­men­tos acon­te­ce­r­am nas Améri­c­as, espe­cial­mente no Méx­i­co (30 casos).

Regulação das redes sociais

O Brasil não é cita­do no bal­anço da RSF. “Mas isso, de maneira nen­hu­ma, nos faz con­sid­er­ar que o Brasil é um país seguro para o exer­cí­cio da impren­sa”, pon­dera Artur Romeu, que cita, por exem­p­lo, episó­dios de intim­i­dações e ameaças em ambi­ente dig­i­tal. No perío­do de cam­pan­ha eleitoral para prefeitos e vereadores, foram iden­ti­fi­cadas mais de 37 mil posta­gens ofen­si­vas con­tra jor­nal­is­tas nas redes soci­ais.

A ONG Repórteres sem Fron­teiras “se posi­ciona de maneira favoráv­el a uma reg­u­la­men­tação das platafor­mas das redes soci­ais”, pon­tua o dire­tor da ONG para a Améri­ca Lati­na. “A reg­u­la­men­tação, na práti­ca, se traduz por um pedi­do de maior respon­s­abi­liza­ção dessas grandes empre­sas em relação ao con­teú­do que cir­cu­la pelas suas inter­faces.”

Além da neces­si­dade de reg­u­la­men­tação das redes soci­ais, pre­ocu­pa a RSF a vol­ta de Don­ald Trump à Presidên­cia dos Esta­dos Unidos e a situ­ação da Síria após a que­da de Bashar al-Assad.

“Na Síria há muitas incóg­ni­tas. É muito difí­cil pre­v­er o que vai acon­te­cer. O que a gente tem de mais pre­visív­el, de cer­ta for­ma, é um con­tex­to no Ori­ente Médio pro­fun­da­mente mar­ca­do por insta­bil­i­dade, com cresci­men­to de con­fli­tos arma­dos, e esse aumen­to de con­fli­tos nor­mal­mente se traduz em um cenário mais com­plexo para a cober­tu­ra jor­nalís­ti­ca, em muitos casos com mais jor­nal­is­tas mor­tos”, avalia Artur Romeu.

Sobre Don­ald Trump, o dire­tor não tem “a menor dúvi­da” que quan­do o repub­li­cano voltar à Casa Bran­ca “vai man­ter o dis­cur­so hos­til à impren­sa, apo­s­tan­do numa retóri­ca que iden­ti­fi­cam jor­nal­is­tas como inimi­gos da sociedade e do povo amer­i­cano”. “Nada do que a gente viu durante a cam­pan­ha eleitoral faz supor que ele vai pegar mais leve”, com­ple­men­ta.

Para Artur Romeu, a beligerân­cia de Trump con­tra a impren­sa “faz parte de uma estraté­gia políti­ca de man­ter essas bases aque­ci­das. Ele não é úni­co [nes­sa ati­tude]. De maneira nen­hu­ma é um per­fil iso­la­do. A gente vê esse mes­mo tipo de atu­ação em várias partes do mun­do”.

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