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Maluco Beleza, Raul Seixas atravessa gerações com temas da juventude

‘Ele falava diretamente para os jovens’, diz amigo e fã Sylvio Passos

Cristi­na Índio do Brasil — repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 28/06/2025 — 09:20
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 27/06/2025 - Cantor Raul Seixas. Foto: Acervo Discogs
Repro­dução: © Acer­vo Discogs

Pio­neiro do rock brasileiro e “malu­co beleza”, Raul Seixas deixou, com seu tra­bal­ho múlti­p­lo, men­sagens de con­tes­tação e liber­dade, trans­mi­ti­das nas músi­cas e em seu modo de viv­er, que influ­en­cia­ram admi­radores e atrav­es­saram ger­ações. O can­tor e com­pos­i­tor, nasci­do em Sal­vador, com­ple­taria 80 anos neste sába­do (28).

Sylvio Pas­sos, ami­go e fun­dador do fã clube ofi­cial recon­heci­do pelo próprio Raul, expli­ca a ren­o­vação de ger­ações de admi­radores de Raul Seixas pela iden­ti­fi­cação da juven­tude com sua men­sagem.

“Raul fala para várias ger­ações. Por que isso? Porque a lin­guagem do Raul tra­ta de temas não tão comuns de maneira mais acessív­el. Ele fala­va dire­ta­mente para os jovens, e os jovens estão se ren­o­van­do, de ger­ação em ger­ação. Por isso, os temas do Raul ain­da mex­em muito com essa ger­ação mais jovem. Os vel­hos mor­rem e os jovens estão sem­pre se ren­o­van­do, se ren­o­van­do e se ren­o­van­do. Os temas que o Raul abor­da nas suas músi­cas são de muito inter­esse dos jovens”.

“Para a músi­ca brasileira, o Raul é um artista úni­co que trata­va de temas não tão sim­ples, temas com­plex­os como metafísi­ca, filosofia, enfim, trata­va de amor de maneira difer­en­ci­a­da e de questões políti­cas. A obra do Raul é muito ampla, plu­ral­i­dade total”, com­ple­tou.

Foi quan­do era jovem, em 1981, que o caso de admi­ração de Sylvio Pas­sos por seu ído­lo se trans­for­mou em amizade. Naque­le ano, Pas­sos se aprox­i­mou de Raul Seixas porque que­ria fun­dar um fã clube em sua hom­e­nagem. Ele não ape­nas con­seguiu como garan­tiu uma feliz coin­cidên­cia: a inau­gu­ração ocor­reu na data do 36º aniver­sário de Raul.

Um anún­cio em jor­nal, no qual Sylvio bus­ca­va refer­ên­cias de Raul, teve resul­ta­do quan­do o pres­i­dente do Bea­t­les Cav­ern Club, Luis Antônio, entre­gou para Sylvio o tele­fone e endereço do artista, no bair­ro do Brook­lin, na cap­i­tal paulista, e aprox­i­mou os dois.

“Desco­bri que o Raul esta­va vin­do morar em São Paulo, tin­ha saí­do do Rio, e con­segui o tele­fone da casa dele. Liguei para ele, dizen­do que esta­va fun­dan­do um fã clube para hom­e­nageá-lo, e ele me con­vi­dou para um almoço. Esse almoço virou um jan­tar, que virou se tornou fre­quente por aprox­i­mada­mente dez anos. Nun­ca mais a gente deixou de se falar. Raul me lev­a­va para todos os lugares”, disse Sylvio Pas­sos à Agên­cia Brasil, acres­cen­tan­do que a amizade, no primeiro momen­to, era uma relação de fã e ído­lo mas, em pouquís­si­mo tem­po, pas­sou a ser uma relação de ami­gos comuns.

“Duas pes­soas que se con­heci­am, ape­sar da difer­ença de idade. Raul era 18 anos mais vel­ho que eu, mas tín­hamos gos­tos em comum, muitas coisas em comum. Não sei como traduzir muito bem isso, mas era legal”, rela­tou. “Eu tive o priv­ilé­gio de com­par­til­har da amizade e da con­fi­ança dele, que eu clas­si­fi­ca­va inclu­sive como meu segun­do pai. Tive meu pai biológi­co e o Raul era meu pai int­elec­tu­al”.

Na esco­la, Sylvio Pas­sos já tin­ha cri­a­do, com ami­gos, fãs clubes e fanzines das ban­das ingle­sas Led Zep­pelin, Jethro Tull e King Crim­son. Mas, na época, surgiu a von­tade de prestar hom­e­nagem a um “cidadão do rock brasileiro” ─ e a imagem que veio foi a de Raul Seixas, con­tou ele.

“O próprio Raul tornou o fã clube ofi­cial. O nome do fã clube era Raul Rock Club, e o Raul botou Raul Seixas Ofi­cial Fã Clube, o primeiro e úni­co fã clube ofi­cial do Raul”, disse orgul­hoso.

Sociedade Alternativa

Rio de Janeiro (RJ), 27/06/2025 - Cantor Raul Seixas. Foto: Acervo Discogs
Repro­dução:  Can­tor Raul Seixas. Acer­vo Discogs

Um out­ro mar­co da tra­jetória de Raul foi o lança­men­to da Sociedade Alter­na­ti­va, fru­to da parce­ria com Paulo Coel­ho que vai além da músi­ca de mes­mo nome e apro­fun­dou os estu­dos esotéri­cos da dupla. Segun­do Sylvio Pas­sos, para Raul, era momen­to de provo­car mudanças no mun­do. Nos shows, ele dis­tribuiu um gibi/manifesto chama­do A Fun­dação de Krig-ha, que tin­ha ilus­tração da mul­her de Paulo na época, Adal­gisa Rios.

A Sociedade Alter­na­ti­va chegou a ter uma sede alu­ga­da e papel tim­bra­do. Com o tem­po, hou­ve a com­pra de um ter­reno em Minas Gerais, para a con­strução da Cidade das Estre­las, uma comu­nidade onde a lei úni­ca era “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei”.

A ini­cia­ti­va não foi bem rece­bi­da, e Raul foi pre­so e tor­tu­ra­do pelo Depar­ta­men­to de Ordem Políti­ca e Social (Dops), sendo obri­ga­do a deixar o país. Raul, Paulo, Edith e Adal­gisa se mudaram para os Esta­dos Unidos, onde fiz­er­am con­ta­to com algu­mas per­son­al­i­dades, recor­dou Sylvio Pas­sos, em tex­to pub­li­ca­do no site do Raul Seixas Ofi­cial Fã Clube.

Memória

Vivian Seixas, uma das três fil­has de Raul, disse que preser­var a memória do pai tem sido um ato de amor e de respon­s­abil­i­dade. “Eu faço isso com mui­ta entre­ga, porque sei o quan­to ele foi e ain­da é impor­tante. Cada pro­je­to, cada hom­e­nagem é pen­sa­do com cuida­do, com respeito à obra e à essên­cia dele. Não é só sobre man­ter vivo o nome ‘Raul Seixas’, mas tudo o que meu pai rep­re­sen­ta­va: liber­dade, ques­tion­a­men­to, aut­en­ti­ci­dade”, rev­el­ou Vivi à Agên­cia Brasil. Ela con­sid­era lin­do ver a ren­o­vação de ger­ações no envolvi­men­to com o tra­bal­ho do Raul.

“Mui­ta gente que nem era nasci­da quan­do meu pai mor­reu hoje can­ta as músi­cas, se emo­ciona com as letras, se iden­ti­fi­ca com as men­sagens. Isso mostra que a obra dele é atem­po­ral. Meu pai fala­va com o coração, com a mente aber­ta, e com cor­agem, isso atrav­es­sa o tem­po. Ele não era só um can­tor, era um pen­sador”, obser­vou.

A DJ e pro­du­to­ra musi­cal vê na cor­agem de ser o que se é, sem más­caras, o maior lega­do do pai. “Ele nun­ca se cur­vou ao sis­tema, nun­ca teve medo de mudar, de provo­car. Meu pai abriu cam­in­hos, artís­ti­cos, filosó­fi­cos e até espir­i­tu­ais pra mui­ta gente. E isso se man­tém vivo, prin­ci­pal­mente entre quem sente que não se encaixa nas caix­in­has da sociedade”, apon­tou.

Vivi era bem peque­na quan­do o pai fale­ceu, mas guar­da algu­mas lem­branças mar­cantes. “Eu lem­bro da bar­ba dele, da voz… e a voz eu pos­so ouvir sem­pre que quis­er, né? Isso é muito forte, porque me man­tém próx­i­ma, me man­tém conec­ta­da a ele. A voz dele está ali, viva, can­tan­do. E ele era muito diver­tido, cheio de brin­cadeiras comi­go. Ten­ho tam­bém as cart­in­has que ele me escrevia, coisas sim­ples, mas car­regadas de afe­to. É assim que eu guar­do meu pai em mim”, afir­mou.

Cowboy fora-da-lei

De acor­do com o Escritório Cen­tral de Arrecadação e Dis­tribuição (Ecad), respon­sáv­el no Brasil pela arrecadação e dis­tribuição dos dire­itos autorais das músi­cas aos seus autores, Raul deixou um lega­do de 324 obras musi­cais e 409 gravações cadastradas no ban­co de dados da gestão cole­ti­va da músi­ca no Brasil.

“As obras musi­cais são as suas com­posições, com letra e/ou melo­dia e em parce­ria ou não. Já as gravações são reg­istros de obras musi­cais disponi­bi­lizadas em for­ma dig­i­tal (como no stream­ing) ou em suporte físi­co (como um DVD). Com isso, uma mes­ma obra musi­cal pode ter difer­entes gravações, como, por exem­p­lo, a orig­i­nal, uma ver­são acús­ti­ca ou um show grava­do para um DVD”, expli­cou.

O rank­ing das mais exe­cu­tadas no últi­mo ano é lid­er­a­do pela músi­ca Cow­boy fora-da-lei, com­pos­ta em parce­ria com Cláu­dio Rober­to. O maior destaque entre as regravações é Medo da chu­va, que com­pôs com Paulo Coel­ho, que aparece com 72 fono­gra­mas cadastra­dos.

Mais uma vez, uma das comem­o­rações na data de nasci­men­to será no show Baú do Raul, no Cir­co Voador, cen­tro do Rio de Janeiro. Cri­a­do em 1992 por Kika Seixas, uma das ex-mul­heres do pio­neiro do rock brasileiro.

A lista de artis­tas que par­tic­i­parão do show do Cir­co Voador rep­re­sen­ta bem essa mescla de idades de admi­radores e seguidores. Estão pre­vis­tos se apre­sen­tar Fre­jat, Paulin­ho Mos­ka, Rick Fer­reira, Arnal­do Brandão, Baia, Ana Cañas, Clar­i­ana, André Pran­do, BNe­gão, Emílio Dan­tas e Vivi Seixas.

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