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Manejo com fogo, contrafogo e queimada — entenda a diferença

Técnicas de controle exigem conhecimento técnico e qualificação

Guil­herme Jerony­mo
Pub­li­ca­da em 25/09/2024 — 08:02
São Paulo
Brasília (DF) 12/09/2024 - Brigadistas do Prevfogo/Ibama e ICMBio combatem incêndios florestais na Terra Indígena Tenharim/Marmelos, no AmazonasFoto: Mayangdi Inzaulgarat/Ibama
Repro­dução: © Mayang­di Inzaulgarat/Ibama

O uso con­tro­la­do de fogo como instru­men­to na agri­cul­tura e na pre­venção de queimadas é instru­men­to impor­tante para o com­bate aos incên­dios descon­tro­la­dos e queimadas, porém deman­da con­hec­i­men­to téc­ni­co e qual­i­fi­cação dos profis­sion­ais que irão aplicá-lo. Seu uso foi reg­u­la­do no final de jul­ho, por meio da Políti­ca Nacional de Mane­jo Inte­gra­do do Fogo, e é avali­a­do pelo Insti­tu­to Chico Mendes de Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade (ICM­Bio) como estraté­gia integra­da e rela­ciona­da aos aspec­tos soci­ais, saberes tradi­cionais e téc­ni­cas, com fins de con­ser­vação dos ecos­sis­temas nat­u­rais, diminuição de con­fli­tos soci­ais rela­ciona­dos a seu uso e de incên­dios, prin­ci­pal­mente em áreas remo­tas.

Para enten­der um pouco mais sobre o mane­jo com fogo, a Agên­cia Brasil con­sul­tou espe­cial­is­tas. Vladimir Arraes, coor­de­nador da Oper­ação São Paulo sem Fogo, que orga­ni­za os esforços do gov­er­no paulista na pre­venção de queimadas e incên­dios crim­i­nosos ou aci­den­tais nos meses de seca, expli­cou que uma das prin­ci­pais fer­ra­men­tas é a Queima Pre­scri­ta, que con­siste em uma téc­ni­ca plane­ja­da e con­tro­la­da de uso do fogo, empre­ga­da por espe­cial­is­tas (geral­mente brigadis­tas ou engen­heiros flo­restais) para reduzir a quan­ti­dade de mate­r­i­al com­bustív­el (como fol­has secas, gal­hos e veg­e­tação den­sa) em área especí­fi­ca. Seu uso, comum em unidades de con­ser­vação como as geri­das pela Fun­dação Flo­re­stal, na qual Arraes atua, aju­da a pre­venir incên­dios descon­tro­la­dos e a man­ter a saúde de ecos­sis­temas que depen­dem do fogo. “É exe­cu­ta­da em condições metic­u­losa­mente mon­i­toradas, como cli­ma ade­qua­do, umi­dade e ven­tos mod­er­a­dos, para garan­tir que o fogo fique con­fi­na­do à área plane­ja­da. Seus efeitos são bené­fi­cos para o mane­jo ambi­en­tal, pre­venin­do incên­dios maiores e pro­moven­do a bio­di­ver­si­dade”, com­ple­ta o gestor.

Out­ra téc­ni­ca impor­tante é o uso de fogo como instru­men­to para con­tro­lar incên­dios, o chama­do con­trafo­go. Se tra­ta do “fogo atea­do de encon­tro a um incên­dio flo­re­stal ou campestre para impedir-lhe a propa­gação, téc­ni­ca que exige con­hec­i­men­to especi­fi­co de mane­jo”, com­ple­ta Arraes. Ambas as téc­ni­cas são de uso de brigadis­tas, bombeiros téc­ni­cos e engen­heiros flo­restais.

A queima­da con­tro­la­da, por sua vez, é o uso do fogo para fins agrí­co­las, e pode ter difer­entes final­i­dades, como expli­cou o pro­fes­sor Edson Vidal, da Esco­la Supe­ri­or de Agri­cul­tura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), para quem “o uso do fogo foi e sem­pre será uma alter­na­ti­va viáv­el em alguns con­tex­tos e bio­mas como o cer­ra­do, des­de que siga ori­en­tações téc­ni­cas e cien­tí­fi­cas. O fogo é fer­ra­men­ta de mane­jo impor­tante por con­tribuir para pro­mover resul­ta­dos ecológi­cos. O mane­jo da queima­da deve levar em con­sid­er­ação a fre­quên­cia, inten­si­dade e época da queima e se o perío­do não é atípi­co como ago­ra, em que a seca extrema ali­a­da à umi­dade baixa deixa os recur­sos flo­restais bem suscetíveis ao fogo”. Ela pode ter diver­sas final­i­dades e deve ser autor­iza­da pelos órgãos de con­t­role estad­u­ais.

Entre as funções que pode desem­pen­har estão o con­t­role, com estí­mu­lo ou diminuição de nutri­entes disponíveis no solo, da pro­dução de fol­has e fru­tos ou mes­mo de algu­mas espé­cies de ani­mais ou plan­tas em uma região, ou ain­da para ralear ou aden­sar a veg­e­tação. “Dessa for­ma, o uso do fogo pode ser instru­men­to de mane­jo e con­tribuir para a manutenção de pasta­gens nat­u­rais pro­te­gen­do ecos­sis­temas do Cer­ra­do de for­ma ade­qua­da e com poucos recur­sos finan­ceiros investi­dos”, com­ple­men­ta o pro­fes­sor. Emb­o­ra haja alter­na­ti­vas em estu­do, sua pop­u­lar­iza­ção depende de recur­sos téc­ni­cos mais com­plex­os, como é o caso de alter­na­ti­vas com uso de maquinário para trit­u­ração de veg­e­tação, que pode ser usa­da como adubo verde no lugar do fogo, expli­cou Vidal.

Tan­to a queima­da quan­to o incên­dio descon­tro­la­dos e sem final­i­dade são crimes, com reclusão que pode vari­ar de seis meses a qua­tro anos, depen­den­do da intenção e dos meios usa­dos. Seus impactos são inten­sos e foram exper­i­men­ta­dos nos últi­mos meses, quan­do o país viu a que­bra de mar­cas históri­c­as de incên­dios em diver­sos bio­mas.

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