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Mangueira: enredo vai mostrar permanência da cultura Bantu no Rio

À Flor da Terra — No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões

Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 20/02/2025 — 08:02
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Confecção de fantasias da Estação Primeira de Mangueira no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Muitas das palavras que o brasileiro fala e escreve não têm origem por­tugue­sa, mas africana. Por exem­p­lo: quiabo, angu, quilom­bo, sam­ba, quitute e tan­tas out­ras são do idioma Ban­tu, que se ref­ere a um grupo de lín­guas e cul­turas orig­inários da região dos Grandes Lagos da África, onde atual­mente se local­izam país­es como Tanzâ­nia, Quê­nia e Ugan­da, incluin­do a África do Sul, Ango­la, Moçam­bique, Zim­bábue e out­ros país­es.

No Brasil, quan­do os ex-escravos que­ri­am se pro­te­ger iam para as chamadas Casas de Zun­gu. Elas rep­re­sen­tavam um pedaço da história e cul­tura afro-brasileira. Orig­i­nal­mente, os zun­gus eram locais onde os ex-escravos se reu­ni­am para coz­in­har e com­par­til­har comi­da, espe­cial­mente o angu, um pra­to à base de mil­ho moí­do.

Os zun­gus tam­bém eram cen­tros de resistên­cia e cul­tura africana. Lugares onde os eles podi­am se reunir, com­par­til­har histórias, can­tar, dançar e praticar suas tradições. Eram ver­dadeiros quilom­bos den­tro das cidades, onde os africanos e seus descen­dentes podi­am se sen­tir em casa.

É essa história que o enre­do da Mangueira, para o car­naval deste ano, vai dar vis­i­bil­i­dade: a cul­tura dos povos Ban­tu no Rio de Janeiro. E a escol­ha começou quan­do o econ­o­mista, pesquisador e pro­fes­sor, Sid­nei França, foi con­vi­da­do para ser car­navale­sco da Verde e Rosa. A pres­i­dente da esco­la, Gua­nayra Firmi­no, não tin­ha um enre­do pré-esta­b­ele­ci­do e deu liber­dade para ele escol­her o que quisesse.

E assim foi feito, com base em mui­ta pesquisa, Sid­nei desen­volveu o enre­do autoral em cima do tema À Flor da Ter­ra — No Rio da Negri­tude Entre Dores e Paixões, que surgiu da leitu­ra de uma dis­ser­tação de mestra­do do pro­fes­sor de história da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), Júlio César Medeiros, do livro A Flor da Ter­ra no Cemitério dos Pre­tos Novos no Rio de Janeiro. A pub­li­cação fala da chega­da dos pre­tos escrav­iza­dos na diás­po­ra que não tiver­am, um olhar humano e sen­sív­el do col­o­nizador.

Um dos maiores campeões do car­naval de São Paulo, em 2009, 2012, 2013 e 2014 pela Moci­dade Ale­gre, onde fil­ho de uma pas­sista fre­quen­ta­va a esco­la des­de meni­no; e um campe­ona­to pela Águia de Ouro em 2020, Sid­nei França está con­fi­ante que o enre­do de 2025 da Estação Primeira tem condição de lutar pelo títu­lo no Grupo Espe­cial, con­sid­er­a­do a elite do car­naval do Rio.

“Aqui chegaram pre­tos enfer­mos out­ros até já mor­tos nos porões dos navios, os tum­beiros e eles eram joga­dos na região da Peque­na África, próx­i­mo ao Cais do Val­on­go [região por­tuária do Rio].Ali era uma cova rasa, uma cova onde não havia iden­ti­fi­cação de cor­pos e não havia respeito”, disse à Agên­cia Brasil, desta­can­do um dos motivos para con­tar essa história que mar­ca muito as car­ac­terís­ti­cas da sociedade car­i­o­ca que mis­tu­ra indí­ge­nas, col­o­nizadores europeus e, prin­ci­pal­mente, pop­u­lação pre­ta que veio escrav­iza­da de África.

Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Entrevista com o carnavalesco Sidnei França, da Estação Primeira de Mangueira, no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Entre­vista com o car­navale­sco Sid­nei França, da Estação Primeira de Mangueira, no bar­racão da esco­la, na Cidade do Sam­ba, sobre o enre­do “À Flor da Ter­ra – No Rio da Negri­tude Entre Dores e Paixões”. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

“A morte para o povo pre­to no Rio de Janeiro não era a morte físi­ca, a ausên­cia da vida. Era o rompi­men­to com os laços ances­trais que o homem bran­co causa­va, que inclu­sive era uma fer­ra­men­ta de col­o­niza­ção. Quan­do você rompe com a questão iden­titária, você mata duas vezes”, com­ple­tou, dizen­do que todos ess­es códi­gos estão pre­sentes na escol­ha do tema para o car­naval 2025 da Mangueira, pronta­mente enten­di­dos pela dire­to­ria da esco­la e geran­do ime­di­a­to sen­ti­men­to de iden­ti­fi­cação.

Segun­do Sid­nei, 80% dos negros desem­bar­ca­dos no Rio eram da cul­tura Ban­tu da África Cen­tral, que entre out­ros país­es com­preende os dois Con­gos, Ango­la. A pre­dom­inân­cia lev­ou à escol­ha de basear o enre­do na cul­tura Ban­tu Nos­so dis­cur­so é ban­tu até em respeito a essa pre­dom­inân­cia, essa maio­r­ia que tem nas estatís­ti­cas. A cul­tura Ban­tu entende essa trav­es­sia como uma força espir­i­tu­al que vai muito além de um trá­fi­co que o homem bran­co prati­cou.

“A ideia não é reforçar o viés de pas­sivi­dade, de con­formis­mo e muito menos de vitimiza­ção jamais. Vamos mostrar da per­spec­ti­va pre­ta o tem­po inteiro”, rev­el­ou,

A iden­ti­fi­cação do Mor­ro da Mangueira e de com­po­nentes da esco­la com o enre­do foi automáti­ca. Ado­ram se recon­hecer no tema que a esco­la apre­sen­ta na Sapu­caí. Na visão do car­navale­sco por ser uma esco­la tradi­cional, quilom­ba­da e a úni­ca do Grupo Espe­cial do Rio, que tem a sua sede no Mor­ro, na favela de fato, para a Mangueira esse dis­cur­so iden­titário, racial, étni­co e até mes­mo socio­cul­tur­al é muito forte. Uma esco­la como a Mangueira levar para o seu des­file esse dis­cur­so da iden­ti­dade pre­ta essen­cial­mente car­i­o­ca é muito val­oroso.

Enredo

Para con­tar tudo isso, o car­navale­sco divid­iu o enre­do em setores. O des­file começa pela trav­es­sia de pre­tos escrav­iza­dos da África para o Rio. Para tratar da reli­giosi­dade, segue com as práti­cas de sin­cretismo com a iden­ti­fi­cação de san­tos católi­cos com orixás do can­domblé e da umban­da, como São Jorge e Ogum, e que ain­da hoje são muito fortes e não é perce­bi­da como influên­cia Ban­tu.

Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Confecção de fantasias da Estação Primeira de Mangueira no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Con­fecção de fan­tasias da Estação Primeira de Mangueira para o Car­naval 2025.. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

No ter­ceiro setor, é que estão as Casas de Zun­gu. “Era muito comum os pre­tos que fugiam se escon­derem em um primeiro momen­to nas Casas de Zun­gu para gan­har espaço de acol­hi­da. As Casas de Zun­gu tin­ham panos bran­cos nas janelas para jus­ta­mente como um sinal de Oxalá, ter pro­teção e assis­ten­cial­is­mo de um pre­to para com o out­ro. Era Casa de Zun­gu, porque servia angu. As coz­in­heiras as pre­tas vel­has, as matri­ar­cas ofer­e­ci­am pratos de angu para acol­her aque­les pre­tos fugi­dos e até os escrav­iza­dos tra­bal­hadores que per­cor­ri­am as ruas do Rio venden­do pro­du­tos dos seus sen­hores. Levan­do e trazen­do roupa para lavar”, infor­mou, acres­cen­tan­do que ess­es locais tin­ham uma importân­cia políti­ca e sócio cul­tur­al muito forte.

Segun­do o car­navale­sco, atual­mente foram mapeadas mais de 50 Casas de Zun­gu no Rio e os imóveis onde eram ergui­dos hoje já sub­sti­tuí­dos por out­ras con­struções são iden­ti­fi­ca­dos com pla­cas. “Isso é com­pro­vação, não é uma espé­cie de len­da urbana, um fac­toide, uma fábu­la român­ti­ca da negri­tude car­i­o­ca. Isso é fato. Eram espé­cies de com­plex­os habita­cionais, uma espé­cie de cor­tiço. Ape­sar de se chamar Casa de Zun­gu, não eram como uma casa, era uma espé­cie de vilare­jo, grandes cen­tros de con­vivên­cia pre­ta do Rio anti­go”, com­ple­tou.

Durante as pesquisas chegou a infor­mação de que ess­es locais sofri­am perseguição da polí­cia. “Havia muitas ten­ta­ti­vas de apaga­men­to. Exis­tem relatos de desmonte dess­es espaços. Então con­struíam uma Casa de Zun­gu aqui, depois de cin­co meses apare­cia uma out­ra”, disse mostran­do a resistên­cia dos pre­tos da época.

“Aí eles [poli­ci­ais] tin­ham que con­viv­er com tudo isso, porque imag­i­na qual era o per­centu­al de pre­tos no Rio de Janeiro. Se eles tam­bém fos­sem muito repres­sores, vira­va uma guer­ra civ­il, vira­va um lev­ante. Quan­tos códi­gos e a pre­sença Ban­tu nesse Rio das Casas de Zun­gu”, con­cluiu.

O setor seguinte vai cam­in­har para o sécu­lo 20 e mostra as con­tribuições Ban­tu com o surg­i­men­to dos omolocôs que, segun­do o car­navale­sco se cod­i­fi­ca em um sis­tema reli­gioso e vira a umban­da “É nesse setor que vamos falar da importân­cia do quiabo, que aliás é uma palavra ban­tu. Vamos mostrar a importân­cia Ban­tu no idioma. O Idioma fal­a­do e pos­te­ri­or­mente escrito por nós brasileiros trans­for­mou total­mente. Toda a car­ac­terís­ti­ca do por­tuguês prat­i­ca­do no Brasil, difer­en­ci­a­do do por­tuguês de Por­tu­gal, foi firme­mente afe­ta­do pela tradição Ban­tu. Então palavras como qui­tan­da, quitute, car­in­ho, den­go, xodó, quiabo, quilom­bo, sam­ba, bun­da é tudo Ban­tu. Olha quan­to está no nos­so lin­gua­jar pre­sente e a gente não sabe de onde veio”, ressaltou.

A Mangueira vai mostrar tam­bém a práti­ca do guru­fim, “que durante muito tem­po foi prat­i­ca­do no sub­úr­bio car­i­o­ca que é não chorar a morte, mas fes­te­jar, as fes­tas para beber defun­to. Isso é ban­tu. A cul­tura Ban­tu não entende que a morte é um fim. É a pas­sagem para uma out­ra existên­cia”, disse, acres­cen­tan­do que o Rèveil­lon de Copaca­bana é de origem Ban­tu.

Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Confecção de fantasias da Estação Primeira de Mangueira no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Con­fecção de fan­tasias da Estação Primeira de Mangueira no bar­racão da esco­la, na Cidade do Sam­ba. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

“Muitas pes­soas vão para Copaca­bana todos os anos, se vestem de bran­co, pulam onda, estouram fogos no céu e não sabem que isso é Ban­tu. Ain­da lev­am uma ros­in­ha para Ieman­já e depois fala que é con­tra macum­ba”, obser­vou.

Quase no encer­ra­men­to, a esco­la vai traz­er dois rit­mos musi­cais que têm a ver com a cul­tura Ban­tu: o sam­ba e o funk. “O sam­ba é muito Ban­tu que vem do sem­ba de Ango­la e o funk dos mor­ros car­i­o­cas. Vai se perceben­do o quan­to a cul­tura Ban­tu foi sendo invis­i­bi­liza­da e o que a Mangueira quer é remex­er nes­sa gave­ta e traz­er essa riqueza cul­tur­al. Vai se perceben­do o quan­to a cul­tura Ban­tu foi sendo invis­i­bi­liza­da, e o que a Mangueira quer é remex­er nes­sa gave­ta e traz­er essa riqueza cul­tur­al”.

O últi­mo setor o enre­do se rela­ciona com o tem­po pre­sente e trans­for­ma o des­file da Mangueira em um grande man­i­festo sociopolíti­co. “A Mangueira se veste como uma autori­dade da cidade do Rio de Janeiro para debater algu­mas questões lig­adas à mar­gin­al­iza­ção, à invis­i­bi­liza­ção e traz para o cen­tro do debate a figu­ra do cria”, apon­tou.

“A figu­ra do cria nos mor­ros car­i­o­cas é o nos­so aman­hã e se o aman­hã vai ser próspero e se vai ser ilu­mi­na­do para nos red­imir de um pre­sente caóti­co depende do como a gente vai tratar essas crias. Não adi­anta jog­ar essa respon­s­abil­i­dade para essas comu­nidades como se elas fos­sem ver­dadeiros celeiros de trá­fi­co, de crim­i­nal­i­dade, de mater­nidade pre­coce, de vio­lên­cia explíci­ta com as chamadas balas per­di­das “, acres­cen­tou Sid­nei.

Cria da Mangueira

Dow­glas Diniz, 27 anos, é uma dessas pes­soas que fazem parte do pro­je­to da pres­i­dente Gua­nayra Firmi­no de botar crias da comu­nidade em funções impor­tantes da esco­la. Nasci­do e cri­a­do no Mor­ro da Mangueira, ele é um dos intér­pretes da Estação Primeira. “Para mim saber o que os com­po­nentes vão sen­tir por estarem ouvin­do a min­ha voz é moti­vo de orgul­ho e de mui­ta hon­ra por ser a voz da min­ha comu­nidade, onde nasci e fui cri­a­do. Todos os mangueirens­es podem con­fi­ar em mim, que ser­e­mos um só. Sem­pre vou estar ali can­tan­do e rep­re­sen­tan­do essa esco­la mar­avil­hosa que me fez tornar tudo que sou hoje”, disse à Agên­cia Brasil.

Para Dow­glas, ser cria da Mangueira é estar no dia a dia da comu­nidade, da esco­la, é subir o mor­ro descalço, ir para a quadra e para o sam­ba. “Isso para mim é ser cria de ver­dade. Cria é meter a mão na mas­sa em tudo que a esco­la pre­cis­ar. É estar ao lado da esco­la tan­to nos momen­tos bons, quan­to ruins”, salien­tou.

Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Confecção de fantasias da Estação Primeira de Mangueira no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Con­fecção de fan­tasias da Estação Primeira de Mangueira no bar­racão da esco­la, na Cidade do Sam­ba, sobre o enre­do “À Flor da Ter­ra – No Rio da Negri­tude Entre Dores e Paixões”. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Como intér­prete, Dow­glas par­tic­i­pa de um dos momen­tos mais emo­cio­nantes dos des­files das esco­las. Para começar a empol­gar o públi­co é hora de faz­er o chama­do “esquen­ta”, de frente para o setor 1, que são arquiban­cadas pop­u­lares, geral­mente, ocu­padas por torce­dores das agremi­ações, na Pas­sarela do Sam­ba. Os intér­pretes cos­tu­mam can­tar sam­bas de quadra ou de enre­do de anos ante­ri­ores. Ali tam­bém os com­po­nentes da bate­ria entram e fazem uma apre­sen­tação para esse públi­co difer­en­ci­a­do porque é muito ani­ma­do.

“Quan­do a bate­ria sobe ali no ‘esquen­ta’ do setor 1 é um mix de emoções, porque toda a nos­sa história está entran­do na aveni­da, todo um tra­bal­ho de bar­racão, das pes­soas que tra­bal­ham um ano inteiro para botar um car­naval na rua, de nós que ensa­iamos sem­anal­mente para mostrar tudo naque­le dia de espetácu­lo. Pra mim é muito grat­i­f­i­cante, muito emo­cio­nante. Ali é como se fos­se uma guer­ra. A nação mangueirense vai com gar­ra e quan­do a bate­ria sobe, no setor 1, é aque­le aper­to no coração e sem­pre bus­can­do o ide­al, sem­pre bus­can­do o suces­so da Estação Primeira de Mangueira”, descreveu o sen­ti­men­to.

Trabalho no barracão

O tra­bal­ho no bar­racão na Cidade do Sam­ba para desen­volver tudo que o car­navale­sco quer é árduo, mas segun­do o cos­tureiro Alis­son Car­doso, 27 anos, que entre out­ras con­fec­cio­nou fan­tasias da ala das cri­anças, é de muito praz­er estar ali mais um ano fazen­do parte do car­naval do Rio de Janeiro.

“A gente se sente real­iza­do. São vários dias de tra­bal­ho, várias horas sem dormir e cada vez que vai chegan­do mais per­to é mais tra­bal­ho ain­da. No final a gente se sente muito grat­i­fi­ca­do porque foi mui­ta cor­re­ria, mas o tra­bal­ho ficou boni­to e o mel­hor é saber que foi a gente que fez. Quan­do é campeão então… espero que este ano seja”, disse à Agên­cia Brasil, com­ple­tan­do que já des­filou algu­mas vezes. “Mas eu gos­to mes­mo é de ficar nos basti­dores preparan­do as coisas”, disse Alis­son.

Samba

O sam­ba enre­do deste ano é mais uma apos­ta da esco­la na bus­ca pelo títu­lo e prom­ete empol­gar ain­da mais os com­po­nentes que gostaram da com­posição. O car­navale­sco está con­fi­ante tam­bém com o sam­ba enre­do, que para ele tem pas­sagens muito fortes, como o ver­so que fala ‘o alvo que a bala insiste em achar/lamento informar…um sobre­vivente’.

“Se tem uma práti­ca sistêmi­ca na cidade do Rio de colo­car os cor­pos pre­tos como vul­neráveis, cada um que sobre­vive a cada dia, é um fra­cas­so para o sis­tema e uma vitória para a negri­tude. É um sam­ba muito potente no sen­ti­do de entre­gar a posição do dis­cur­so que a esco­la traz.

França desta­cou ain­da out­ro momen­to do sam­ba quan­do diz que ‘hoje no asfal­to a moda é ser cria, quer imi­tar meu risca­do, des­col­orir o cabe­lo, bater cabeça no meu ter­reiro’.

“Isso está falan­do dire­ta­mente de apro­pri­ação cul­tur­al, ou seja, você me crit­i­ca tan­to, mas tam­bém pin­ta o cabe­lo, tam­bém sam­ba, tam­bém faz funk. Acha que está na moda diz­er que é macum­beiro e bota uma guia no pescoço. É entre­gar iden­ti­dade a quem real­mente lhe per­tence”, anal­isou.

“É por isso que o enre­do se chama À Flor da Ter­ra: no Rio da negri­tude entre dores e paixões, ou seja, um eter­no due­lo da negri­tude para equi­li­brar as suas dores e paixões e con­tin­uar firme na mis­são de rep­re­sen­tar a tradição Ban­tu que um dia chegou aqui forçada­mente mas que hoje encon­tra no Rio de Janeiro o seu lugar”, con­cluiu Sid­nei França.

Estreia

França se sente priv­i­le­gia­do em começar no car­naval car­i­o­ca logo na Mangueira. Car­navale­sco que até ago­ra desen­volvia enre­dos em esco­las de sam­ba de São Paulo disse que “entrou na casa pela por­ta da frente”, por estar na Estação Primeira, uma esco­la tradi­cional e de mui­ta história no car­naval car­i­o­ca. O con­vite rece­bido por What­sApp da pres­i­dente Gua­nayra Firmi­no é lem­bra­do com detal­h­es. “Dia 17 de fevereiro de 2024, que foi quan­do rece­bi a men­sagem, dia dos des­files das campeãs do car­naval de 2024, 11h30 da man­hã, olha como as coisas ficam firmes na memória”, desta­cou.

A feli­ci­dade de estar à frente da Estação Primeira vai além. “De estar a quase um ano, con­hecer inti­ma­mente o Mor­ro de Mangueira, as pes­soas que fazem a Estação Primeira, andar no Bura­co Quente e Chalé, enfim todos os locais [do Mor­ro], e falar que por aqui andou Car­to­la, Nel­son Sar­gen­to, Nel­son Cavaquin­ho, Dona Zica, Dona Neu­ma, mais recen­te­mente Beth Car­val­ho, Alcione, Del­e­ga­do, Xangô da Mangueira, que inclu­sive é pai do nos­so mestre-sala. É muito forte e muito sim­bóli­co. Mes­mo com toda a respon­s­abil­i­dade a mim atribuí­da, man­ter um olho bril­han­do de um meni­no que se iden­ti­fi­ca com o sam­ba e com o car­naval e estar na Mangueira é um grande pre­sente na vida”, con­tou.

Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Entrevista com o carnavalesco Sidnei França, da Estação Primeira de Mangueira, no barracão da escola, na Cidade do Samba, sobre o enredo
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ) 03/02/2025 – Entre­vista com o car­navale­sco Sid­nei França, da Estação Primeira de Mangueira, no bar­racão da esco­la, na Cidade do Sam­ba. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

A história que a esco­la vai con­tar na aveni­da é de mui­ta iden­ti­fi­cação com a sua rep­re­sen­ta­tivi­dade. “É tudo muito potente e tudo muito autên­ti­co. É um enre­do que só a Mangueira podia levar, pela maneira como ele foi con­struí­do, quan­do você fala da úni­ca esco­la que tem a sua quadra, a sua vivên­cia sam­bís­ti­ca den­tro da sua comu­nidade, isso é muito forte. Tem dis­cur­sos, que só a Mangueira pode levar e são eles, a voz do cria, a voz do Mor­ro, a Mangueira fala com per­tenci­men­to. É muito ver­dadeiro. Isso está sendo poten­cial­iza­do pela atu­al gestão. Que as cri­anças do hoje enten­dam qual é a men­sagem que a gente está pas­san­do e que eles vão ser no futuro”, final­i­zou França.

A Mangueira será a quar­ta esco­la a des­fi­lar no primeiro dia dos des­files do Grupo Espe­cial, no domin­go (2), na Pas­sarela do Sam­ba da Mar­quês de Sapu­caí.

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