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Marcha Trans ocupa ruas centrais de São Paulo e pede mais visibilidade

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Sexta edição do evento chama atenção para transgeneridade


Pub­li­ca­do em 09/06/2023 — 18:08 Por Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Nes­ta sex­ta-feira (9), o Largo do Arouche, no cen­tro da cap­i­tal paulista, foi pal­co de mais uma Mar­cha do Orgul­ho Trans da Cidade de São Paulo. Esta é a sex­ta edição do even­to, que começou em 2018 e mar­ca o mês do Orgul­ho LGBTQIA+. Neste ano, o tema da mar­cha foi a TRANS­for­mação está em Mar­cha.

“A importân­cia da mar­cha é colos­sal neste momen­to políti­co do Brasil, com anos con­sec­u­tivos das pes­soas trans sofren­do imen­sas agressões. O Brasil é o país que mais mata pes­soas trans no mun­do e essas pes­soas não têm aces­so ao tra­bal­ho, à esco­la e estão excluí­das da sociedade. Então, a mar­cha é um gri­to de ‘olhem para a letra T da sigla LGBTQIA+’”, disse Pri Bertuc­ci, que fun­dou a Mar­cha do Orgul­ho Trans e se iden­ti­fi­ca como uma pes­soa trans não binária e não bran­ca.

É pre­ciso não só trans­for­mar a sociedade para enten­der o que é trans­gener­i­dade como tam­bém levar a trans­for­mação está em mar­cha para o próprio movi­men­to LGBTQIA+, que tem pre­con­ceitos ain­da com pes­soas trans e negam seus dire­itos, afir­mou Pri.

A Mar­cha do Orgul­ho Trans ocorre em sin­to­nia com out­ros even­tos ao redor do mun­do como for­ma de protesto. Segun­do os orga­ni­zadores da man­i­fes­tação, as deman­das soci­ais, cul­tur­ais, políti­cas, de dire­ito e de cidada­nia apre­sen­tadas pelos homos­sex­u­ais, mas­culi­nos, bran­cos, cis­gêneros, não alcançam, por vezes, as urgên­cias de pes­soas trav­es­tis, não binárias, mul­heres e home­ns trans­gêneros. Foi por isso que eles decidi­ram faz­er um even­to sep­a­ra­do, sem­pre às sex­tas-feiras, antes da Para­da do Orgul­ho LGBT+.

“Fal­ta vis­i­bil­i­dade para as pes­soas trans que estão há mais de 20 anos na Para­da do Orgul­ho LGBT+ [pre­vista para este domin­go, na Aveni­da Paulista]. A ideia é que este seja um lugar de reivin­di­cação, como acon­tece em todo o mun­do, assim como ocorre com a Cam­in­ha­da de Lés­bi­cas e Bis­sex­u­ais, que será aman­hã (10). Esta é a ordem mundi­al: na sex­ta-feira ocorre a Mar­cha Trans; no sába­do, a Cam­in­ha­da Lés­bi­ca e Bis­sex­u­al; e, no domin­go, a Para­da do Orgul­ho LGBT+”, expli­cou Pri Bertuc­ci.

O even­to é parte da pro­gra­mação da Para­da [do Orgul­ho LGBT+], mas fala sobre a especi­fi­ci­dade da pop­u­lação mais vul­ner­a­bi­liza­da, que é a pop­u­lação trans­gên­era do país, disse a secretária nacional dos Dire­itos da Pop­u­lação LGBTQIA+ do Min­istério dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia, Sym­my Lar­rat. “Vamos sair jun­to com o pes­soal, em mar­cha con­tra a trans­fo­bia e, des­ta vez, com o gov­er­no fed­er­al pre­sente.”

A Secretária Nacional LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos, Symmy Larrat.
Repro­dução: A secretária nacional LGBTQIA+ do Min­istério dos Dire­itos Humanos, Sym­my Lar­rat. — Marce­lo Camargo/Arquivo/Agência Brasil

Em entre­vista hoje (9) à Agên­cia Brasil e à TV Brasil, a secretária disse que o gov­er­no fed­er­al tem estu­da­do a cri­ação de uma políti­ca nacional de enfrenta­men­to à vio­lên­cia con­tra pes­soas LGBT e um pro­gra­ma de empre­ga­bil­i­dade, edu­cação e ren­da volta­do para essa pop­u­lação.

“Esta é a pop­u­lação que mais é atingi­da pelo pre­con­ceito e pelo estig­ma. O pre­con­ceito exclui estas pes­soas da família, da edu­cação, da saúde e de aces­so à pro­teção social bási­ca. Pre­cisamos mudar tal real­i­dade porque o pre­con­ceito e o estig­ma estão matan­do essas pes­soas”, acres­cen­tou Sim­my.

Ontem (8), ao par­tic­i­par da 22ª Feira Cul­tur­al da Diver­si­dade LGBT+ em São Paulo, o min­istro dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia, Sil­vio Almei­da, desta­cou a importân­cia das ações de inclusão ado­tadas pelo gov­er­no. “Ten­ho orgul­ho de faz­er parte de um lugar no mun­do que respei­ta as pes­soas, que respei­ta a iden­ti­dade de gênero, a ori­en­tação sex­u­al, a maneira como as pes­soas exis­tem”, afir­mou. “Que ven­hamos somar esforços para que vocês pos­sam exi­s­tir na sua dig­nidade, com emprego, ren­da, segu­rança, liber­dade. Uma liber­dade com respon­s­abil­i­dade, como vocês sem­pre fiz­er­am, respei­tan­do os out­ros e que mere­cem ser respeita­dos tam­bém.”

Público

Entre os par­tic­i­pantes do even­to, esta­va o influ­en­ci­ador Rafael Pas­coal Neves Brunel­li, que se iden­ti­fi­ca como pes­soa não binária e pan­sex­u­al, poden­do usar tan­to os pronomes fem­i­ni­nos quan­to mas­culi­nos. “Sou uma pes­soa não binária, ou seja, me iden­ti­fi­co como homem ou mul­her, per­me­an­do ess­es dois espec­tros e me encon­tran­do e me expres­san­do como quero. Sou tam­bém pan­sex­u­al, me atrain­do afe­ti­va ou sex­ual­mente por todos os gêneros, cor­pos ou vivên­cias”, afir­mou.

Rafa, como pref­ere ser chama­do, diz que uma das difi­cul­dades que encon­tra por se iden­ti­ficar como pes­soa não binária é a lim­i­tação de aces­so a deter­mi­na­dos espaços físi­cos. “Há uma lim­i­tação de lugares que podemos aces­sar. Um exem­p­lo bási­co é o ban­heiro de esta­b­elec­i­men­tos públi­cos, que tem a divisão de mas­culi­no e ban­heiro fem­i­ni­no. Eu pode­ria ir aos dois porque me iden­ti­fi­co como pes­soa não binária. Se eu for ao ban­heiro fem­i­ni­no, não serei aceito, mas eu sem­pre falo: ‘em sua casa, no ônibus ou no avião não existe divisão de ban­heiro, não caben­do divi­di-lo entre home­ns e mul­heres’”, reclam­ou.

Já o jar­dineiro e pais­ag­ista Vic­tor Yoshi­mi, trans mas­culi­no, vê out­ras difi­cul­dades no fato de se iden­ti­ficar como pes­soa trans. Yoshi­mi cita a questão da saúde públi­ca. “Eu cito muito a saúde públi­ca porque nós, trans mas­culi­nos, não somos vis­tos. Talvez pelos hor­mônios, adqui­r­i­mos uma fisiono­mia mas­culi­na muito cedo, e então ninguém nos vê. Não temos muito aces­so ao sis­tema públi­co de saúde, o que muito pouco vis­to ou lem­bra­do. Ninguém pen­sa em como é a min­ha saúde, como é a min­ha saúde ínti­ma, como vou lidar com isso.”

Para Yoshi­mi, a mar­cha é impor­tante porque, den­tro de toda a sigla LGBTQIA+, as pes­soas trans são as mais invis­i­bi­lizadas, as mais mar­gin­al­izadas”, acres­cen­tou.

Violência e saúde mental

O Brasil é um dos país­es mais vio­len­tos do mun­do para as pes­soas trans, segun­do a Asso­ci­ação Nacional dos Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais (Antra). No ano pas­sa­do, pelo menos 131 pes­soas trans foram assas­si­nadas em todo o país, diz a Antra. Entre os anos de 2017 e 2022, des­de que a asso­ci­ação começou a faz­er o lev­an­ta­men­to, 912 pes­soas trans e não binárias foram mor­tas no Brasil.

Esse tipo de vio­lên­cia afe­ta tam­bém a saúde men­tal das pes­soas trans, indi­ca pesquisa desen­volvi­da pela Uni­ver­si­dade de Duke, nos Esta­dos Unidos. Con­forme o estu­do, mais da metade das mul­heres trans­gênero no Brasil (58,3% do total) já teve pen­sa­men­tos sui­ci­das. De acor­do com a pro­fes­so­ra de psi­colo­gia do Insti­tu­to Fed­er­al do Rio de Janeiro, Jaque­line Gomes de Jesus, isso não é provo­ca­do pela iden­ti­dade de gênero ou ori­en­tação sex­u­al dessas pes­soas, mas pela vio­lên­cia da qual elas são víti­mas.

“O que me chamou muito a atenção foi a questão da bifo­bia no Brasil. Não esper­a­va que tan­tas pes­soas bis­sex­u­ais, mais de 60% delas, tivessem, por exem­p­lo, sido obri­gadas pela família a ter relações sex­u­ais com pes­soas que eles não que­ri­am”, disse Jaque­line, que é pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Estu­dos da Trans-Homo­cul­tura (ABETH. Em entre­vista hoje à Agên­cia Brasil, ela citou o fato de muitas pes­soas trans, prin­ci­pal­mente mul­heres, não terem opor­tu­nidade de tra­bal­ho no país. “Aqui no Brasil tem mui­ta vio­lên­cia letal, assas­si­natos [de pes­soas trans]. E isso gera ten­são e transtorno de estresse pós-traumáti­co.”

Jaque­line acres­cen­tou que, com base ness­es dados, podem ser pro­postas políti­cas públi­cas e trata­men­tos basea­d­os na ade­quação de cada país ou de cada cul­tura ou grupo pesquisa­do. “Pre­cisamos de apoio da rede públi­ca de saúde e de for­mação e treina­men­to das pes­soas [da área]. Tam­bém pre­cisamos — e este é um pro­je­to que quero desen­volver — de primeiros socor­ros em saúde men­tal, para capac­i­tar pes­soas da comu­nidade para uma escu­ta qual­i­fi­ca­da, con­hecer a rede que já existe e que saibam difer­en­ciar ansiedade de depressão, por exem­p­lo.”

Para aju­dar a com­bat­er a vio­lên­cia con­tra a pop­u­lação trans e LGBT+, um grupo de pais e de mães fun­dou, há cer­ca de 15 anos, a orga­ni­za­ção Mães pela Diver­si­dade, esteve hoje da Mar­cha Trans, con­vo­can­do a pop­u­lação a par­tic­i­par, dizen­do: “Vem, vem com a gente, vem faz­er um Brasil difer­ente”.

“Cri­amos esse movi­men­to para lutar pelos dire­itos civis, que não exis­ti­am. E par­tic­i­pamos de todas as grandes lutas, da crim­i­nal­iza­ção [da vio­lên­cia con­tra LGBTs) ao casa­men­to [entre pes­soas do mes­mo sexo], da doação de sangue ao nome social. O Mães pela Diver­si­dade tem três pilares: o acol­hi­men­to, porque essas famílias chegam a nós destruí­das; a comu­ni­cação e infor­mação; e a inclusão”, expli­cou pres­i­dente do movi­men­to, Maria Julia Gior­gi.

Há oito anos, o Mães pela Diver­si­dade abre a Para­da do Orgul­ho LGBT+. Neste domin­go, o grupo fará isso nova­mente, mas sub­sti­tuin­do as cores do arco-íris do movi­men­to LGBT+ pelas cores verde, amarela, azul e bran­ca, bus­can­do faz­er um res­gate da ban­deira do Brasil.

A bate­ria da esco­la de sam­ba paulis­tana Vai-Vai tam­bém estará na para­da. “A LGBT­fo­bia não atinge ape­nas a pes­soa LGBT, ela destrói famílias. Inclu­sive, é por isso o orgul­ho. As pes­soas não enten­dem o que quer diz­er o orgul­ho. O orgul­ho é para se con­tra­por à ver­gonha que a sociedade quer que a gente sin­ta. Esta­mos aqui para diz­er que não temos ver­gonha. Temos orgul­ho e podemos andar de cabeça ergui­da porque nos­sa luta é de amor: é por amor aos nos­sos fil­hos, para que eles pos­sam amar. Não temos que ter ver­gonha de nada”, enfa­ti­zou Maria Julia.

“Cri­amos esse movi­men­to para lutar pelos dire­itos civis, que não exis­ti­am. E par­tic­i­pamos de todas as grandes lutas, da crim­i­nal­iza­ção [da vio­lên­cia con­tra LGBTs) ao casa­men­to [entre pes­soas do mes­mo sexo], da doação de sangue ao nome social

O Mães pela Diver­si­dade tem três pilares: o acol­hi­men­to, porque essas famílias chegam a nós destruí­das; a comu­ni­cação e infor­mação; e a inclusão”, expli­cou pres­i­dente do movi­men­to, Maria Julia Gior­gi.

Há oito anos, o Mães pela Diver­si­dade abre a Para­da do Orgul­ho LGBT+. Neste domin­go, o grupo fará isso nova­mente, mas sub­sti­tuin­do as cores do arco-íris do movi­men­to LGBT+ pelas cores verde, amarela, azul e bran­ca, bus­can­do faz­er um res­gate da ban­deira do Brasil.

A bate­ria da esco­la de sam­ba paulis­tana Vai-Vai tam­bém estará na para­da. “A LGBT­fo­bia não atinge ape­nas a pes­soa LGBT, ela destrói famílias. Inclu­sive, é por isso o orgul­ho. As pes­soas não enten­dem o que quer diz­er o orgul­ho. O orgul­ho é para se con­tra­por à ver­gonha que a sociedade quer que a gente sin­ta. Esta­mos aqui para diz­er que não temos ver­gonha. Temos orgul­ho e podemos andar de cabeça ergui­da porque nos­sa luta é de amor: é por amor aos nos­sos fil­hos, para que eles pos­sam amar. Não temos que ter ver­gonha de nada”, enfa­ti­zou Maria Julia.

Edição: Nádia Fran­co

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