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Mariana: pesquisadores encontram metais tóxicos em peixes do Rio Doce

Foz do rio Doce, distrito de Regência
Repro­dução:  © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Um dos metais encontrados é o manganês


Pub­li­ca­do em 17/04/2021 — 14:13 Por Pedro Peduzzi – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

Estu­dos desen­volvi­dos pela Rede Solos Ben­tos Rio Doce con­stataram que os rejeitos despe­ja­dos pela Samar­co aumen­taram sig­ni­fica­ti­va­mente a pre­sença de metais e met­alóides nas águas, no solo e tam­bém nos peix­es, que servem de ali­men­to para boa parte das pes­soas que vivem nas regiões próx­i­mas às mar­gens do Rio Doce.

Joint-ven­ture da Vale e da BHP Bil­li­ton, a Samar­co é a empre­sa respon­sáv­el pelo rompi­men­to da bar­ragem do Fundão, em Mar­i­ana (MG), ocor­ri­do em novem­bro de 2015. A bar­ragem inte­gra­va o Com­plexo Min­erário de Ger­mano. Na tragé­dia, cer­ca de 40 mil­hões de met­ros cúbi­cos de rejeito escoaram ao lon­go do Rio Doce, cau­san­do impactos socioam­bi­en­tais em dezenas de municí­pios de Minas Gerais e do Espíri­to San­to.

As anális­es feitas pelos pesquisadores tiver­am iní­cio antes mes­mo de os rejeitos, ricos em fer­ro, alcançarem o estuário do Rio Doce. “Assim que soube­mos do rompi­men­to da bar­ragem ini­ci­amos a cole­ta de amostras, de for­ma a ter­mos mate­r­i­al para com­ple­men­tar pos­te­ri­or­mente o estu­do”, disse à Agên­cia Brasil o coor­de­nador da Rede SoBen Rio Doce e pro­fes­sor do Depar­ta­men­to de Oceanografia da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Espíri­to San­to (Ufes), Ânge­lo Bernardi­no.

Impactos

A chega­da dos rejeitos no estuário do rio durou entre 12 e 15 dias. Novos estu­dos, para acom­pan­har os primeiros efeitos desse lança­men­to de rejeitos no ecos­sis­tema, começaram a ser feitos pelo pro­je­to, finan­cia­dos pela Fun­dação de Amparo à Pesquisa e Ino­vação do Espíri­to San­to (Fapes). “Com­pro­va­mos então o impacto dess­es rejeitos nos ecos­sis­temas lacus­tres e na bacia do rio, assim como no estuário. Acred­i­ta-se que hou­ve impacto sen­sív­el tam­bém na região mar­in­ha próx­i­ma”, disse o coor­de­nador dos estu­dos.

“Ain­da em novem­bro de 2015, dias após a chega­da dos rejeitos, vimos per­da de bio­di­ver­si­dade. Cer­ca de 30% dos organ­is­mos que ali estavam, não estavam mais. Reg­is­tramos um aumen­to muito rápi­do na con­cen­tração de metais e met­alóides que não estavam lá, e vimos mudanças no ecos­sis­tema e no habi­tat do fun­do do Rio Doce. Os estu­dos dos impactos ini­ci­ais foram pub­li­ca­dos em 2017. Des­de então, con­tin­u­amos acom­pan­han­do o que acon­tece por ali”, acres­cen­ta o pro­fes­sor

Risco ecológico

Os estu­dos mostraram que o acú­mu­lo e a pre­sença em grandes con­cen­trações de metais colo­cavam o estuário sob grande risco ecológi­co. Esse risco decorre não ape­nas da con­cen­tração indi­vid­ual de metais, mas de suas com­bi­nações tox­i­cológ­i­cas com out­ros mate­ri­ais, uma vez que os rejeitos não ficam inertes após serem deposi­ta­dos no fun­do dos estuários.

Proces­sos bio­quími­cos são nat­u­ral­mente alter­ados no fun­do do estuário em função de pre­sença ou ausên­cia de oxigênio. Essas oscilações, no entan­to, acabam sendo alter­adas com a chega­da dos rejeitos e com as reações cau­sadas pelo fer­ro vin­do da bar­ragem com out­ros mate­ri­ais encon­tra­dos ao lon­go do rio. “Ess­es ele­men­tos deix­am então o fun­do do rio e os solos para serem lib­er­a­dos na col­u­na d’água, de for­ma a con­t­a­m­i­nar tam­bém a fau­na”, detal­ha Bernardi­no.

“Vimos então a hipótese sendo ver­i­fi­ca­da: ao se tornar biodisponív­el, parte dess­es ele­men­tos se acu­mu­la­ram na fau­na, em espe­cial nos peix­es que são con­sum­i­dos pelas pop­u­lações locais”, com­ple­tou.

Segun­do o pesquisador, foi con­stata­da a pre­sença de man­ganês, met­al que, ingeri­do de for­ma mais con­stante, pode resul­tar em efeitos adver­sos à saúde humana, cau­san­do dis­túr­bios neu­rode­gen­er­a­tivos, como Alzheimer e Mal de Parkin­son, além de tox­i­ci­dades car­dio­vas­cu­lares e danos ao fíga­do. “Ver­i­fi­camos tam­bém o incre­men­to de vários out­ros metais [além do man­ganês] em teci­dos de peix­es do Rio Doce, como o Bagre, muito con­sum­i­dos ape­sar de a pesca estar restri­ta na região”, disse.

“A situ­ação é com­pli­ca­da porque muitas pes­soas que vivem ali não têm a menor condição de con­sumir out­ra pro­teí­na, que não a dos peix­es”, com­ple­ta.

Edição: Denise Griesinger

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