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Marilena Chauí discute democracia e mundo digital no DR com Demori

Programa vai ao ar nesta terça-feira (5), às 23h, na TV Brasil

Gabriela Mendes — Repórter da EBC
Pub­li­ca­do em 05/11/2024 — 07:35
Brasília
São Paulo (SP), 16/10/2024 - Marilena Chauí, escritora e filósofa brasileira, professora emérita de História da Filosofia Moderna na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, durante entrevista com Leandro Demori, no programa DRcomDemori naTV Brasil. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Con­sid­er­a­da uma das mais influ­entes e respeitadas filó­so­fas do Brasil, Mar­ile­na Chauí é enfáti­ca quan­do diz que não existe uma democ­ra­cia no Brasil. “A sociedade democráti­ca não existe no Brasil. A condição de uma políti­ca democráti­ca e de um Esta­do democráti­co é uma sociedade democráti­ca. E a sociedade brasileira é uma sociedade autoritária, vio­len­ta, hierárquica, dis­crim­i­nado­ra, por­tan­to, a condição para uma ver­dadeira democ­ra­cia não existe no Brasil ain­da.”

A afir­mação foi fei­ta em um bate-papo com o jor­nal­ista Lean­dro Demori, para o pro­gra­ma DR com Demori, que vai ao ar nes­ta terça-feira (5), às 23h, na TV Brasil.

Para Mar­ile­na Chauí, o novo grande sujeito politi­co do Brasil deve ser os movi­men­tos soci­ais, que, segun­do ela, orga­ni­zam pop­u­lações inteiras em torno de obje­tivos comuns e em torno, sobre­tu­do, de dire­itos.

“Os movi­men­tos soci­ais são, por natureza, democráti­cos, na medi­da em que eles lutam por novos dire­itos, por recon­hec­i­men­tos e garan­tia de dire­itos. Então, eu acho que eles são os novos pro­tag­o­nistas políti­cos sem a menor dúvi­da”, afir­ma.

Mas ela acred­i­ta que a fal­ta de uma pau­ta unifi­ca­da, uni­ver­sal, é o grande prob­le­ma enfrenta­do hoje para que a sociedade alcance uma políti­ca rev­olu­cionária. “Você só faz políti­ca rev­olu­cionária, políti­ca de mudança, quan­do você tem cer­tos uni­ver­sais como refer­ên­cia. Aqui­lo que é comum a um grupo imen­so de pes­soas. […] Eu não estou ven­do sur­gir esse ref­er­en­cial e mais, o que eu estou ven­do, ess­es movi­men­tos soci­ais se trans­for­man­do cada vez mais em movi­men­tos iden­titários, se frag­men­tan­do”, avaliou.

São Paulo (SP), 16/10/2024 - Marilena Chauí, escritora e filósofa brasileira, professora emérita de História da Filosofia Moderna na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, durante entrevista com Leandro Demori, no programa DRcomDemori naTV Brasil. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Reprodução: Marilena Chauí, escritora e filósofa brasileira, durante entrevista com Leandro Demori, no programa DR com Demori, na TV Brasil — Paulo Pinto/Agência Brasil

“Você tem o movi­men­to de cada uma das for­mas de sex­u­al­i­dade, depois você tem o movi­men­to de cada tipo de mater­nidade, cada tipo de pater­nidade, ou seja, em vez de os movi­men­tos serem unifi­cadores e a pro­dução do uni­ver­sal, ao se tornarem movi­men­tos de defe­sa de iden­ti­dades […] eles vão se tor­nan­do frag­men­ta­dos e eles não pro­duzem essa refer­ên­cia comum que é necessária pra faz­er uma mudança políti­ca e uma mudança social”, acres­cen­tou.

Para Mar­ile­na Chauí, o que car­ac­ter­i­za a vida políti­ca numa democ­ra­cia é a cri­ação, a garan­tia e a con­ser­vação de dire­itos, assim como a capaci­dade de pro­movê-los. De tal modo que o poder é social. “E é esse poder social que se exprime nas tomadas de decisão políti­cas. Então, a políti­ca que se real­iza depende da qual­i­dade da sociedade em que a gente vive. A políti­ca vai exprim­ir se nós esta­mos numa sociedade con­ser­vado­ra, numa sociedade democráti­ca, numa sociedade autoritária, numa sociedade vio­len­ta. A políti­ca exprime isso. Ela não cor­rige isso, ela é a expressão dis­so”, afir­ma.

Mar­ile­na Chauí tam­bém anal­isa as mudanças que o mun­do dig­i­tal está trazen­do para a sociedade. Segun­do ela, o que esta­mos viven­do não é ape­nas uma mudança tec­nológ­i­ca, mas uma mutação civ­i­liza­cional. “Está surgin­do uma nova sub­je­tivi­dade pro­duzi­da por esse mun­do dig­i­tal. Primeiro, é uma sub­je­tivi­dade nar­ci­sista, ou seja, exi­s­tir é ser vis­to. Se você não é vis­to, você não existe. Ser vis­to é a primeira mar­ca do nar­ci­sis­mo. Só que, como você depende, para ser vis­to, do olhar do out­ro e você não tem o con­t­role sobre o olhar do out­ro (…) Como Freud dizia, o nar­ci­sis­mo é insep­a­ráv­el da depressão, então, você tem uma sub­je­tivi­dade nova que é nar­ci­sista, depres­si­va e que depende deses­per­ada­mente do olhar alheio”, aler­ta. Ela atribui a esse vício na val­i­dação do out­ro trazi­do pela tec­nolo­gia a causa do aumen­to de casos de suicí­dio entre jovens em todo o mun­do.

Out­ra questão trazi­da pela tec­nolo­gia, segun­do ela, foi a mudança no modo de vida da sociedade. “Uma mudança na econo­mia. O que é o surg­i­men­to do empresário de si mes­mo, isto é, do ‘pre­cari­a­do’, é a desaparição da figu­ra da classe tra­bal­hado­ra. A classe tra­bal­hado­ra que, conc­re­ta­mente, através do tra­bal­ho, se rela­ciona­va com o mun­do, era a for­ma da relação social e políti­ca que vin­ha na con­sti­tu­ição de classe. Ago­ra, o que você tem é essa dis­per­são e essa ilusão de que eu sou dono de mim mes­mo”, final­iza.

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