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Mata Atlântica: desmatamento cai em áreas contínuas entre 2022 e 2023

Repro­dução: © Thomas Bauer/ SOS Mata Atlân­ti­ca

E registra aumento em fragmentos isolados e áreas de transição


Publicado em 21/05/2024 — 08:02 Por Camila Boehm — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

O des­mata­men­to da Mata Atlân­ti­ca teve redução na parte con­tínua do bio­ma, mas reg­istrou aumen­to em frag­men­tos iso­la­dos e áreas de tran­sição, na com­para­ção entre 2022 e 2023. Os dados foram divul­ga­dos nes­ta terça-feira (21) pela Fun­dação SOS Mata Atlân­ti­ca, com base no Atlas da Mata Atlân­ti­ca e no Sis­tema de Aler­tas de Des­mata­men­to (SAD) Mata Atlân­ti­ca, que são fer­ra­men­tas com­ple­mentares de medição.

“O des­mata­men­to caiu nes­sa região con­tínua da Mata Atlân­ti­ca, que vai do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, onde há as flo­restas maduras. E aumen­tou nos encraves e nas tran­sições com os out­ros bio­mas, onde há essas tran­sições com o Cer­ra­do e com a Caatin­ga, e tam­bém onde exis­tem flo­restas jovens”, rela­tou o dire­tor exec­u­ti­vo da SOS Mata Atlân­ti­ca e engen­heiro agrônomo Luís Fer­nan­do Guedes Pin­to.

Ele ressalta que, emb­o­ra os números pareçam con­fli­tantes, ambos rev­e­lam a mes­ma tendên­cia de redução de des­mata­men­to na área con­tínua e aumen­to nos encraves. “Isso tam­bém tem a ver com a apli­cação da Lei da Mata Atlân­ti­ca, que pro­tege toda a veg­e­tação nati­va desse bio­ma, mas que tem sido con­tes­ta­da, ata­ca­da e não apli­ca­da de maneira rig­orosa nas regiões de tran­sição e de encraves.”

Além da grande área con­tínua entre o RN e o RS, a Mata Atlân­ti­ca é com­pos­ta por regiões de tran­sição e encraves nos esta­dos do Ceará, Piauí, de Goiás, da Bahia, de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Segun­do a lei, só pode ter des­mata­men­to em situ­ações de inter­esse social e util­i­dade públi­ca. E a gente obser­va que a maior parte do des­mata­men­to, mais de 90%, vêm da expan­são agropecuária, que não jus­ti­fi­ca inter­esse social ou util­i­dade públi­ca.”

A fun­dação avalia que a redução no des­mata­men­to na área con­tínua é sinal de que as políti­cas de con­ser­vação e o mon­i­tora­men­to inten­si­vo estão pro­duzin­do resul­ta­dos pos­i­tivos. Desta­ca que está evi­dente que os desafios na Caatin­ga e no Cer­ra­do são grandes onde exis­tem essas áreas de tran­sição.

Brasília (DF) 21/05/2024 - Fotos feitas durante sobrevoo no norte da Bahia e parte do Piauí no início do mês Áreas de encraves de Mata Atlântica no cerrado. Foto: Thomas Bauer/ SOS Mata Atlântica
Repro­dução: Brasília — Áreas de encraves de Mata Atlân­ti­ca no norte da Bahia e parte do Piauí — Foto Thomas Bauer/ SOS Mata Atlân­ti­ca

“Na Caatin­ga, são áreas que cor­rem riscos de deser­ti­fi­cação. No Cer­ra­do, o des­mata­men­to tem mui­ta importân­cia na pro­teção da água, porque muitas nascentes impor­tantes de várias bacias hidro­grá­fi­cas do Brasil estão nes­sa tran­sição. Isso limi­ta os serviços ecos­sistêmi­cos dessas regiões para a reg­u­lação do cli­ma, disponi­bil­i­dade de água e tam­bém para a pro­dução agropecuária”, disse. Ele acres­cen­ta que as cidades dessas regiões podem ficar ain­da mais suscetíveis a even­tos climáti­cos extremos, incluin­do chu­vas e secas extremas.

Números

De acor­do com o Atlas da Mata Atlân­ti­ca, coor­de­na­do pela SOS Mata Atlân­ti­ca e pelo Insti­tu­to Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais (INPE), o des­mata­men­to no bio­ma caiu de 20.075 hectares em 2022 para 14.697 em 2023, uma que­da de 27%. A enti­dade ressalta que ess­es dados, entre­tan­to, ofer­e­cem  visão par­cial do cenário. Isso porque o Atlas mon­i­to­ra áreas supe­ri­ores a três hectares de flo­restas maduras, o que cor­re­sponde a 12,4% da área orig­i­nal do bio­ma.

O Atlas mostrou diminuição do des­mata­men­to em grande parte dos 17 esta­dos da Mata Atlân­ti­ca, com exceção de Piauí, Ceará, de Mato Grosso do Sul e Per­nam­bu­co. Minas Gerais, Paraná e San­ta Cata­ri­na se destacaram de for­ma pos­i­ti­va, com que­da de 57%, 78% e 86%, respec­ti­va­mente,. A mes­ma tendên­cia foi apon­ta­da pelo SAD, segun­do avali­ação da SOS Mata Atlân­ti­ca, em relação à flo­res­ta con­tínua.

A Mata Atlân­ti­ca inclui ain­da regiões em recu­per­ação ou em está­gios ini­ci­ais de desen­volvi­men­to, além dos encraves, o que amplia a cober­tu­ra veg­e­tal para 24% da área do bio­ma. Além de ser capaz de mon­i­torar toda essa parcela de veg­e­tação exis­tente, o SAD con­segue detec­tar des­mata­men­tos a par­tir de 0,3 hectare.

Segun­do o SAD, parce­ria entre a SOS Mata Atlân­ti­ca e o Map­Bio­mas, o des­mata­men­to total aumen­tou de 74.556 para 81.356 hectares de 2022 para 2023. A área é o equiv­a­lente a mais de 200 cam­pos de fute­bol des­mata­dos por dia e os números são pre­ocu­pantes.

Segun­do o engen­heiro agrônomo, a difer­ença entre os números se dá sobre­tu­do pelo aumen­to das der­rubadas em encraves no Cer­ra­do e na Caatin­ga, prin­ci­pal­mente na Bahia, no Piauí e em Mato Grosso do Sul, iden­ti­fi­cadas pelo SAD. Essa per­da se deu majori­tari­a­mente onde há expan­são agrí­co­la. Ele ques­tiona o sen­ti­do de haver tan­ta área agrí­co­la se o país não con­segue man­ter a saúde dos ecos­sis­temas que sus­ten­tam a pro­dução.

Menos floresta, mais impactos

“Menos flo­res­ta rep­re­sen­ta mais desas­tres nat­u­rais, epi­demias e desigual­dade. Para a agri­cul­tura, sig­nifi­ca tam­bém que­bras de safra recor­rentes”, disse. Ele avalia que, enquan­to não hou­ver um olhar inte­gra­do para todos os bio­mas, tan­to no que se ref­ere a zer­ar o des­mata­men­to quan­to à pri­or­iza­ção da restau­ração flo­re­stal, as crises do cli­ma e da bio­di­ver­si­dade con­tin­uarão a se inten­si­ficar.

Brasília (DF) 21/05/2024 - Fotos feitas durante sobrevoo no norte da Bahia e parte do Piauí no início do mês Áreas de encraves de Mata Atlântica no cerrado. Foto: Thomas Bauer/ SOS Mata Atlântica
Repro­dução: Brasília — Áreas de encraves de Mata Atlân­ti­ca no norte da Bahia e parte do Piauí — Foto Thomas Bauer/ SOS Mata Atlân­ti­ca

Com a que­da do des­mata­men­to, cai tam­bém a emis­são de gas­es de efeito est­u­fa. Já a restau­ração reti­ra gás car­bôni­co da atmos­fera. “Para alcançar a meta do Acor­do de Paris, de aque­cer o plan­e­ta somente até 1,5 grau até o final do sécu­lo 21, a gente pre­cisa parar de lançar gás de efeito est­u­fa na atmos­fera, mas tam­bém pre­cisa reti­rar gás car­bôni­co. A for­ma mais bara­ta e mais efi­ciente de con­seguir isso é plan­tan­do flo­res­ta.”

A restau­ração do bio­ma tam­bém tem papel impor­tante para a adap­tação às novas condições climáti­cas. “O cli­ma do plan­e­ta já está mudan­do, e, para isso, quan­to mais flo­res­ta, mais estare­mos prepara­dos para nos adap­tar aos even­tos extremos, evi­tar as ondas de calor. Ter flo­res­ta aumen­ta o con­for­to tér­mi­co e o equi­líbrio das cidades.”

Per­to do Pam­pa, na Região Sul, Guedes Pin­to diz que a situ­ação tam­bém é pre­ocu­pante. “Metade do Rio Grande do Sul é Mata Atlân­ti­ca, a parte do meio para o norte. Os desas­tres e as enchentes acon­te­ce­r­am nos dois bio­mas. Toda essa água que chega em Por­to Ale­gre vem dos mor­ros e das regiões ser­ranas do Rio Grande do Sul, que são total­mente Mata Atlân­ti­ca”, lem­brou Luís Fer­nan­do Guedes Pin­to..

Dados do Atlas mostram que restam somente 10% da Mata Atlân­ti­ca orig­i­nal no Rio Grande do Sul. “Se tivesse flo­res­ta pro­te­gen­do os rios, as nascentes, as beiras de rio e os mor­ros, a tragé­dia pode­ria ter tido impactos muito menores. O des­mata­men­to ampli­fi­ca o efeito dessa chu­va, o poten­cial dessa tragé­dia e diminui a resil­iên­cia [das cidades]. Quan­to mais natureza e flo­res­ta, maior a capaci­dade de resi­s­tir aos impactos, de min­i­mizá-los e tam­bém de ter mais resil­iên­cia para se recu­per­ar após o even­to”, afir­mou..

Edição: Graça Adju­to

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