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Mata Atlântica tem água de boa qualidade em 6,9% dos rios

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Dados são do relatório Retrato da Qualidade da Água de 2022


Pub­li­ca­do em 26/03/2023 — 15:47 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Lev­an­ta­men­to da Fun­dação SOS Mata Atlân­ti­ca mostra que ape­nas 11 pon­tos (6,9%) dos rios do bio­ma em mon­i­tora­men­to pela enti­dade têm água de boa qual­i­dade. A edição deste ano do relatório O Retra­to da Qual­i­dade da Água nas Bacias Hidro­grá­fi­cas da Mata Atlân­ti­ca con­sid­era que a maio­r­ia (75%) dos pon­tos dos rios tem água de qual­i­dade reg­u­lar, enquan­to 16,2% apre­sen­tam qual­i­dade ruim e 1,9% é clas­si­fi­ca­da como pés­si­ma. A pesquisa foi finan­cia­da pela mar­ca Ypê, de pro­du­tos de limpeza e higiene.

Para elab­o­rar o doc­u­men­to, a fun­dação ado­tou como parâmetro o Índice de Qual­i­dade da Água (IQA) e con­tou com a colab­o­ração de 2,7 mil vol­un­tários que inte­gram o pro­gra­ma Obser­van­do os Rios, em ativi­dade des­de 2015. A equipe de vol­un­tários foi a cam­po para realizar cole­tas men­salmente, no perío­do de janeiro a dezem­bro de 2022, atingin­do o total de 990 anális­es em 160 pon­tos de 120 rios e cor­pos d’água. Em relação à abrangên­cia geográ­fi­ca, ressalta-se, no relatório, que, ao todo, o tra­bal­ho abrange 74 municí­pios de 16 esta­dos que inte­gram o bio­ma Mata Atlân­ti­ca.

Em 2021, hou­ve redução no número de cole­tas, por causa da pan­demia de covid-19. No total, 106 pon­tos foram anal­isa­dos.

Ao com­parar os resul­ta­dos, obser­vou-se que a qual­i­dade média da água per­maneceu a mes­ma, “com indica­ti­vo de peque­na mel­ho­ra”. Segun­do a pesquisa, os pon­tos com qual­i­dade boa pas­saram de 7 para 8; os de qual­i­dade reg­u­lar, de 75 para 80; e os de qual­i­dade ruim caíram de 21 para 15. Assim como no ano ante­ri­or, hou­ve três pon­tos com qual­i­dade pés­si­ma: todos, mais uma vez, no Rio Pin­heiros, em São Paulo.

Segun­do a dire­to­ra de Políti­cas Públi­cas da fun­dação, Malu Ribeiro, os números refletem a influên­cia da pre­sença humana. “São áreas bas­tante antropizadas [alter­adas pela ação humana]. Para que a gente ten­ha qual­i­dade de água boa, seria impor­tante que ess­es pon­tos, quan­do são nascentes, man­an­ciais, rios de classe 1 e 2, estivessem real­mente pro­te­gi­dos, sem rece­ber influên­cia de poluição de car­ga difusa. A amostragem apre­sen­ta exata­mente a frag­ili­dade dos nos­sos recur­sos hídri­cos. Próx­i­mo de grandes cen­tros urbanos ou de áreas com grandes ativi­dades agrí­co­las e indus­tri­ais, ess­es man­an­ciais não estão pro­te­gi­dos e se situ­am, em média, na classe 3, isto é, com qual­i­dade prati­ca­mente reg­u­lar. Isso é um aler­ta”, diz Malu.

Para o dire­tor do Insti­tu­to Nacional da Mata Atlân­ti­ca, Sér­gio Luce­na, os dados apre­sen­ta­dos pela fun­dação são “chocantes, mas não sur­preen­dentes”. Ele lem­bra que os números não têm muda­do de modo sig­ni­fica­ti­vo ao lon­go dos anos, como dev­e­ria ocor­rer. “Infe­liz­mente, porque pre­cisam mudar para mel­hor. Os parâmet­ros são muito ruins, e isso é, com certeza, uma con­se­quên­cia não só do aden­sa­men­to pop­u­la­cional, mas do mau uso da água e do solo, da ter­ra. Na zona rur­al, o mau uso está provo­can­do con­t­a­m­i­nação e, na área urbana, sobre­tu­do, a fal­ta de sanea­men­to bási­co”.

Metodologia

Em relação à metodolo­gia, Malu expli­ca que ela se baseia em nor­mas nacionais e inter­na­cionais de qual­i­dade da água. “Nós seguimos a Res­olução Cona­ma n° 357, que esta­b­elece os parâmet­ros quími­cos, físi­cos biológi­cos e de per­cepção que devem ser min­i­ma­mente aferi­dos para se obter o IQA. O nos­so kit pro­por­ciona a mes­ma análise lab­o­ra­to­r­i­al que é fei­ta pelos gestores do poder públi­co no Brasil e em diver­sos país­es”, afir­ma. “Ess­es parâmet­ros, con­sol­i­da­dos, são soma­dos, e a qual­i­dade da água, então, é clas­si­fi­ca­da em faixas, que vari­am de boa a pés­si­ma. O nos­so kit só não faz a medição de metais pesa­dos.”

Sér­gio Luce­na comen­ta que, emb­o­ra os dados do estu­do ten­ham sua importân­cia, devem ser lidos com reser­va, já que não abrangem a total­i­dade de impactos, como a de rejeitos quími­cos e de agrotóx­i­cos. “Essa metodolo­gia cap­tura os parâmet­ros mais impor­tantes da qual­i­dade de água para o uso domés­ti­co, indus­tri­al, agrí­co­la, mas não é uma análise que faça um diag­nós­ti­co do uso de agrotóx­i­co. Isso é impor­tante lem­brar. Ela tra­ta das questões de tur­bidez, con­t­a­m­i­nação biológ­i­ca, quan­ti­dade de nitratos etc, que refletem bem a poluição por esgo­to, por lix­ivi­ação [reti­ra­da de nutri­entes de for­ma nat­ur­al] do solo”, ressalta.

“Não que não seja boa, é uma metodolo­gia ade­qua­da, porque, inclu­sive, é um proces­so de par­tic­i­pação comu­nitária”, afir­ma o dire­tor, acres­cen­tan­do que, atual­mente, grande parte dos estu­dos que têm recortes a par­tir dos efeitos das indús­trias na água con­tam com recur­sos de agên­cias de fomen­to à pesquisa.

Financiamento

O estu­do foi finan­cia­do pela mar­ca Ypê, que já foi respon­sáv­el por despe­jar grande vol­ume de resí­du­os quími­cos no Cór­rego do Aju­dante, aflu­ente do Rio Tietê, em mea­d­os de março de 2019. Com a con­t­a­m­i­nação da água, ocor­reu a morte de cen­te­nas de peix­es.

Agên­cia Brasil pediu um posi­ciona­men­to da mar­ca Ypê sobre os recur­sos des­ti­na­dos à pesquisa, per­gun­tan­do se não have­ria con­fli­to de inter­esse, mas a empre­sa não deu retorno até a pub­li­cação des­ta matéria.

Edição: Graça Adju­to

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