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Memorial da Resistência resgata histórias sobre a imprensa feminista

Repro­dução: Memo­r­i­al da Resistên­cia de São Paulo / TV Brasil

Jornais comandados por mulheres desafiaram ditadura militar


Pub­li­ca­do em 03/02/2024 — 19:45 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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O Memo­r­i­al da Resistên­cia, na cap­i­tal paulista, real­i­zou neste sába­do (3) uma roda de con­ver­sa com mul­heres que desafi­aram a repressão no perío­do da ditadu­ra instau­ra­da com o golpe mil­i­tar de 1964, no Brasil. Elas se impuser­am através da impren­sa e ao con­tes­tar papéis de gênero impos­tos e o autori­taris­mo insta­l­a­do no país.

Entre essas mul­heres, esta­va Lia Katz que, no fim dos anos 60, mil­i­ta­va em defe­sa da democ­ra­cia e que chegou à “pan­elin­ha das comu­ni­cado­ras” quan­do começou a par­tic­i­par, jun­ta­mente com a ami­ga Rita D. Luca, de reuniões do movi­men­to fem­i­nista, em São Paulo.

Os encon­tros se for­t­ale­ce­r­am em 1975, quan­do foi comem­o­ra­do o Ano Inter­na­cional da Mul­her, com a real­iza­ção da primeira edição da Con­fer­ên­cia Mundi­al da Mul­her, que teve como lema “Igual­dade, Desen­volvi­men­to e Paz”. Na impren­sa fem­i­nista, o destaque eram os jor­nais Nós Mul­heresMul­he­rio  e o Brasil Mul­her.

O ano de 1975 mar­cou o retorno de Lia ao Brasil – ela viveu em exílio na França durante cin­co anos — e  tam­bém aque­le em que nasceu sua fil­ha. Na Europa, ela fez fac­ul­dade e levan­tou o com­ple­men­to do “din­heir­in­ho” que seus pais man­davam, sufi­ciente para a vida sem luxo de estu­dante, fazen­do bicos para int­elec­tu­ais brasileiros, como a tran­scrição de fitas.

O tem­po de exílio, pon­tua ela, serviu para “poder rev­er o que esta­va acon­te­cen­do no Brasil”. “Porque a luta arma­da esta­va sendo esface­la­da, todo mun­do sendo pre­so, mor­to. Eu pude faz­er a críti­ca do que esta­va acon­te­cen­do, para voltar com uma con­sciên­cia mais elab­o­ra­da”, emen­da.

O aler­ta de que havia agentes da repressão em seu encalço acen­deu cedo para ela, que tin­ha somente 17 anos quan­do deixou tudo para trás. Foi sim­ples o gesto que a colo­cou sob a mira: a direção da orga­ni­za­ção clan­des­ti­na em que atu­a­va com o namora­do caiu e, com isso, o casal emprestou o aparta­men­to para que os mem­bros pudessem realizar uma reunião. Ain­da não tin­ha sequer ter­mi­na­do o cole­gial e viu seus ami­gos serem pre­sos. “A gente não ficou tan­to tem­po pre­so porque era muito jovem ain­da”, rela­tou Lia em entre­vista exclu­si­va à Agên­cia Brasil.

Segun­do ela, havia, como ain­da há hoje, uma ala de com­pan­heiros home­ns que não se impor­ta­va com as pau­tas de defe­sa dos dire­itos das mul­heres. Essa parcela sus­ten­ta­va que os movi­men­tos dev­e­ri­am focar em luta social, na imple­men­tação do social­is­mo e na cul­tura democráti­ca.

“Eu não tin­ha vín­cu­lo com o fem­i­nis­mo até fre­quen­tar ess­es gru­pos e ficar grávi­da”, comen­ta Lia, que acabou viran­do escrito­ra de livros infan­tis.

Como nas redações dos jor­nais fem­i­nistas quem dava as car­tas eram elas e não eles, saíam pau­tas e matérias sobre o dire­ito a vagas em crech­es e os per­rengues diários das mul­heres tra­bal­hado­ras. “A gente ia à per­ife­ria faz­er matéria, não esta­va só o clu­bin­ho”, obser­va.

Hoje, faria difer­ente. “Tem algu­mas matérias que entre­vis­tam mul­heres negras, mas é muito tími­do, incip­i­ente. Nos­so grupo tin­ha talvez uma mul­her negra. O racis­mo estru­tur­al não era dis­cu­ti­do nes­sa época. Por exem­p­lo, hoje em dia, se faz fem­i­nis­mos plu­rais. Tin­ha tam­bém o grupo de mul­heres lés­bi­cas, que acabou com­pon­do com todos os gru­pos”, lem­bra.

Nen­hum tex­to era assi­na­do e era um sufo­co man­ter a pub­li­cação em pé, pois ninguém tin­ha din­heiro. Até a can­to­ra Elis Regi­na chegou a patroci­nar números dos jor­nais.

Per­gun­ta­da sobre como se dava a cen­sura sobre o con­teú­do, Lia diz que não se recor­da bem. Uma memória, porém, remanesce, de quan­do usaram o espaço da redação do jor­nal Ver­sus, um porão. “[A cen­sura] Não era como no Estadão, com recei­ta na primeira pági­na”, afir­ma.

Edição: Car­oli­na Pimentel

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