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Meninas são mais afetadas por mudanças climáticas

Repro­dução: © Foto: Agên­cia Brasil/Marcello Casal Jr.

Estudo entrevistou garotas em oito países, incluindo o Brasil


Pub­li­ca­do em 09/12/2023 — 14:03 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Cresci­men­to dos casa­men­tos infan­tis, aban­dono da esco­la e aumen­to do tra­bal­ho domés­ti­co estão entre alguns dos efeitos da crise climáti­ca que atingem mais meni­nas, amplian­do a desigual­dade entre os gêneros. Um estu­do da Orga­ni­za­ção Não Gov­er­na­men­tal (ONG) Plan Inter­na­tion­al em oito país­es, entre os quais o Brasil, rev­el­ou os efeitos das trans­for­mações do cli­ma na vida de garo­tas menores de 18 anos de idade.  

A pesquisa focou no aces­so à edu­cação a par­tir de entre­vis­tas com 78 meni­nas do Brasil, Ben­im, Cam­bo­ja, El Sal­vador, Fil­ip­inas, Repúbli­ca Domini­cana, Togo e Viet­nã. Segun­do o lev­an­ta­men­to, dev­i­do às desigual­dades e dis­crim­i­nações de gênero que já exis­tem ness­es país­es, elas acabam sendo mais afe­tadas pelas mudanças climáti­cas.

Crise climática afeta mais meninas, afirma estudo. - Júlia Ferraz. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Júlia Fer­raz é espe­cial­ista em mudanças climáti­cas e emergên­cias Foto: Arqui­vo pes­soal

“As meni­nas têm uma redução sig­ni­fica­ti­va da fre­quên­cia esco­lar no con­tex­to das mudanças climáti­cas porque, muitas vezes, elas são sobre­car­regadas den­tro de casa. As meni­nas são muito mais con­vo­cadas pelas suas famílias para cumprir essa respon­s­abil­i­dade do que os meni­nos”, desta­cou Júlia Fer­raz, espe­cial­ista em mudanças climáti­cas e emergên­cias da Plan Inter­na­tion­al.

No Viet­nã, por exem­p­lo, a ado­les­cente Uyen afir­ma que os pais pref­er­em tirar as meni­nas da esco­la e man­ter os meni­nos, porque enten­dem que elas são respon­sáveis por aju­dar nas tare­fas domés­ti­cas. Dados do Fun­do Malala apon­tam que as mudanças climáti­cas podem reti­rar das esco­las, a cada ano, pelo menos 12,5 mil­hões de garo­tas em 30 país­es vul­neráveis ao cli­ma.

Casamentos infantis

Out­ra con­se­quên­cia da crise climáti­ca é o aumen­to dos casa­men­tos infan­tis lig­a­do à ele­vação da pobreza. A pesquisa iden­ti­fi­cou esse cresci­men­to nas regiões afe­tadas pela crise climáti­ca, prin­ci­pal­mente onde há inun­dações.

“O casa­men­to infan­til aca­ba sendo uma estraté­gia neg­a­ti­va de sobre­vivên­cia dessas famílias que, ao faz­er esse casa­men­to, ela trans­fere a respon­s­abil­i­dade sobre a garo­ta para os cuida­dos de out­ro núcleo famil­iar que vai prover e dar comi­da”, expli­cou.

A Plan Inter­na­tion­al recomen­dou a refor­mu­lação das políti­cas para mudanças climáti­cas, com o obje­ti­vo de pre­v­er a dimen­são da desigual­dade entre os gêneros, tra­bal­han­do tam­bém com o com­bate a esse tipo de dis­crim­i­nação.

“É fun­da­men­tal se tra­bal­har com as comu­nidades, prin­ci­pal­mente por meio da edu­cação, enfa­ti­zan­do que ess­es padrões pre­cisam ser descon­struí­dos para mel­ho­rar a situ­ação das meni­nas, para que elas não enfrentem os impactos da crise climáti­ca de for­ma tão despro­por­cional”, afir­mou Júlia Fer­raz.

Financiamento climático infantil

Em out­ra pesquisa real­iza­da pela mes­ma ONG, ver­i­fi­cou-se que de 591 pro­je­tos finan­cia­dos por fun­dos lig­a­dos ao cli­ma, e exe­cu­ta­dos ao lon­go de 17 anos, ape­nas 5% deles foram des­ti­na­dos pri­or­i­tari­a­mente a ativi­dades voltadas às cri­anças. Isso rep­re­sen­tou ape­nas 2,4% dos recur­sos mobi­liza­dos para a crise climáti­ca. Além dis­so, ape­nas um dos pro­je­tos foi dire­ciona­do à edu­cação de cri­anças.

“De todos os finan­cia­men­tos climáti­cos feitos pelos prin­ci­pais fun­dos climáti­cos, ape­nas um é endereça­do à questão da edu­cação. Isso é muito grave. Se a gente não tra­bal­har no eixo da edu­cação com a mudança de par­a­dig­ma de padrões, fica super difí­cil con­stru­ir qual­quer coisa”, con­cluiu Fer­raz.

Crise amplia desigualdades

Além de ampli­ar a desigual­dade de gênero, a crise climáti­ca aumen­ta todas as demais desigual­dades, segun­do o coor­de­nador do Grupo de Econo­mia do Meio Ambi­ente e Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), Car­los Eduar­do Young.

O pro­fes­sor desta­cou que os país­es mais ricos sofr­erão menos porque tem mais recur­sos para inve­stir na adap­tação para as mudanças climáti­cas. “Isso é fácil de você perce­ber quan­do você tem um furacão pas­san­do no Caribe, em que mor­rem mil­hares de pes­soas nos país­es cariben­hos ou cen­tro-amer­i­canos. Esse furacão chega na cos­ta amer­i­cana e o número de óbitos cai menos de uma dezena”, exem­pli­fi­cou.

Além dis­so, Young acres­cen­tou que o aque­c­i­men­to da Ter­ra vai ser mais inten­so nos locais mais quentes. “Você vai ter, por exem­p­lo, a pos­si­bil­i­dade de expan­são de áreas agrí­co­las onde hoje não pode ter agri­cul­tura, como no norte dos Esta­dos Unidos, no Canadá e na Sibéria. Em com­pen­sação, na África sub­saar­i­ana, você vai ter um colap­so da agri­cul­tura, vai ficar deser­ti­fi­ca­do. A tendên­cia, então, é aumen­tar a desigual­dade entre os país­es”, afir­mou.

As desigual­dades tam­bém devem aumen­tar den­tro do mes­mo país. O pro­fes­sor da UFRJ lem­brou que, no Brasil, os pobres cos­tu­mam viv­er nos locais de maior risco, como mor­ros e beira dos rios, mais afe­ta­dos por fortes chu­vas e inun­dações.

“A prob­a­bil­i­dade de um even­to extremo se trans­for­mar num desas­tre, numa área pobre, sem infraestru­tu­ra, com baixa capaci­dade de ren­da, sem cober­tu­ra flo­re­stal, é muito maior do que numa área rica, que tem capaci­dade de inves­ti­men­to, que tem uma estru­tu­ra ade­qua­da para lidar com essa questão”, desta­cou Young.

Os even­tos climáti­cos extremos tam­bém devem impactar de for­ma sev­era a agri­cul­tura famil­iar de sub­sistên­cia do que a agri­cul­tura irri­ga­da e cap­i­tal­iza­da. “Têm estu­dos mostran­do que a agri­cul­tura no Brasil que mais sofre com even­tos climáti­cos extremos é a agri­cul­tura de fei­jão e de mil­ho do semi­ári­do brasileiro”, final­i­zou o pro­fes­sor da UFRJ.

Crise Climática

Os gas­es do efeito est­u­fa lança­dos na atmos­fera vêm aumen­tan­do a tem­per­atu­ra do plan­e­ta des­de a Rev­olução Indus­tri­al (sécu­los 18 e 19), prin­ci­pal­mente por meio da queima de com­bustíveis fós­seis, o que impul­siona a atu­al crise climáti­ca, mar­ca­da por even­tos extremos, como o calor exces­si­vo, as secas pro­lon­gadas e as chu­vas inten­sas.

No Acor­do de Paris, em 2015, 195 país­es se com­pro­m­e­ter­am a com­bat­er o aque­c­i­men­to glob­al “em bem menos de 2º C aci­ma dos níveis pré-indus­tri­ais”, bus­can­do lim­itá-lo a 1,5ºC aci­ma dos níveis antes da Rev­olução Indus­tri­al.

Edição: Car­oli­na Pimentel

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