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“Meu filho de 2 anos achava que bunker era um lugar para ir brincar”

Repro­dução: © Ita­ma­raty RJ/Twitter

Brasileiros repatriados relatam dias de medo em Israel


Pub­li­ca­do em 14/10/2023 — 10:40 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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“O pequeno acha­va que era a sirene de uma ambulân­cia pas­san­do, e o bunker era um lugar difer­ente aonde ele esta­va indo brin­car”. O rela­to é da anal­ista de dados Nathália Waks­man, que faz parte do grupo de 207 brasileiros repa­tri­a­dos de Israel que desem­bar­caram na madru­ga­da deste sába­do (14) no aero­por­to inter­na­cional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Eles foram trazi­dos pelo avião KC-30, da Força Aérea Brasileira (FAB), na Oper­ação Voltan­do em Paz. 

As sirenes que o fil­ho Uriel, de 2 anos, acred­i­ta­va ser de ambulân­cia eram, na ver­dade, estri­dentes alarmes para aler­tar sobre o dis­paro de foguetes feitos pelo grupo extrem­ista Hamas.

Nathália atrav­es­sou neste sába­do o por­tal de desem­bar­que do aero­por­to, empurran­do um car­rin­ho cheio de malas e os dois fil­hos israe­lens­es, Uriel e Ben­jamim, de 5 anos. Depois de quase sete anos viven­do em Jerusalém, ela enten­deu que era hora de pedir aju­da ao gov­er­no brasileiro e voltar para o Rio de Janeiro, onde mora a família dela.

“Foram dias inten­sos e ten­sos. A situ­ação real­mente está muito ten­sa, e eu não que­ria cor­rer nen­hum tipo de risco com meus fil­hos, sou soz­in­ha com duas cri­anças peque­nas, então eu quis sair para poder vir para o Brasil”, expli­ca.

Corrida para bunker

Na últi­ma sem­ana, por várias vezes ela teve que levar os fil­hos para um bunker. Algo fora da real­i­dade de um brasileiro, bunker é uma espé­cie de abri­go, um quar­to de segu­rança pre­sente em muitos pré­dios e residên­cias israe­lens­es.

“Não ten­ho o quar­to de segu­rança den­tro de casa. Fica no sub­so­lo do meu pré­dio, e o pré­dio não tem ele­vador. Então tin­ha que descer cin­co andares de esca­da, toda vez que tin­ha sirene, com os dois [fil­hos], subir e descer toda hora. A gente teve mui­ta [sirene] no sába­do [pas­sa­do]. Teve de novo na segun­da. Ess­es dias teve uma vez tam­bém”, relem­bra.

“Nun­ca tin­ha pas­sa­do por nada do tipo. Já tin­ha pas­sa­do em out­ros momen­tos pela questão de foguetes, mas nun­ca de uma for­ma que eu me sen­tisse cor­ren­do risco do jeito que eu me sen­ti ago­ra. Foi a primeira vez que eu não me sen­ti segu­ra em Israel”, con­ta.

Os ataques aos quais Nathália se ref­er­em foram ini­ci­a­dos pelo Hamas no sába­do pas­sa­do (7), o que des­en­cadeou respostas de Israel. Mil­hares de israe­lens­es e palesti­nos mor­reram des­de então.

Atitudes divididas

Ao mes­mo tem­po em que Nathália deix­a­va Uriel acred­i­tar que as sirenes eram sim­ples ambulân­cias; e bunker, um lugar de brin­cadeira, ela teve que explicar a Ben­jamim o que esta­va acon­te­cen­do.

“Ele já entende algu­ma coisa, então eu expliquei o que ele pre­cisa saber para dar a dev­i­da importân­cia para a situ­ação e enten­der que na hora da sirene não é brin­cadeira [e tem que se pro­te­ger].

Com os pés no Brasil, a anal­ista de dados diz que foi toma­da por uma sen­sação de alívio, mas faz a ressal­va de que só voltou por causa dos fil­hos.

“Alívio prin­ci­pal­mente por eles. Se eu estivesse soz­in­ha, talvez teria fica­do até para apoiar mes­mo o país, apoiar os sol­da­dos que estão indo lutar pela gente”, afir­ma Nathália, que foi morar em Israel por escol­ha própria. “Eu sou judia, para mim faz muito sen­ti­do morar lá, tudo pela questão reli­giosa e cul­tur­al. Dá uma dor ter que sair”, lamen­ta.

Família completa

A fotó­grafa Luíza San­tos chegou ao Brasil grávi­da. Além dela, o mari­do, um engen­heiro israe­lense, tam­bém deixou Israel no voo da FAB. A Oper­ação Voltan­do em Paz repa­tri­ou 701 brasileiros des­de quar­ta-feira.

“Estou muito emo­ciona­da porque ver tudo isso que acon­te­ceu nos últi­mos dias, eu fiquei com muito medo. Ter que voltar, vir para min­ha casa, deixar todas as nos­sas coisas lá, eu não sei como vai ficar. É tudo uma sur­pre­sa”, diz em um momen­to de choro.

“A gente viu as atro­ci­dades que acon­te­ce­r­am esta sem­ana, então é tudo muito com­pli­ca­do, nós esta­mos muito ner­vosos”, desabafa, antes de agrade­cer o gov­er­no brasileiro pela acol­hi­da e trans­porte.

A oper­ação orga­ni­za­da pelo Min­istério das Relações Exte­ri­ores (MRE) e pela FAB trouxe tam­bém para ter­ritório brasileiro oito ani­mais de esti­mação. Dois deles são os cachor­ros que acom­pan­havam Luíza e o mari­do.

“Não tin­ha como eu vir com o meu mari­do e deixar meus cachor­ros lá. E se alguém invade a nos­sa casa?”, per­gun­ta a fotó­grafa que tem família em Ribeirão Pre­to, no inte­ri­or paulista, e esta­va havia nove anos em Israel.

Escolhas

A pesquisado­ra Priscila Grim­berg deixou o aero­por­to inter­na­cional do Rio com sen­sações dis­tin­tas. Ao mes­mo tem­po em que esta­va alivi­a­da por reen­con­trar a fil­ha Maia, de 15 anos, que pas­sou dois anos estu­dan­do em Israel, sen­tia uma lacu­na ao enten­der que a out­ra fil­ha, Miri­am, de 23 anos, escol­heu ficar em Israel. Há três anos, ela serve como com­bat­ente no exérci­to israe­lense.

“Ela ficou, como a gente tem vis­to um movi­men­to muito grande de vários judeus queren­do defend­er o esta­do. Então ela quis ficar lá para isso”, expli­ca a mãe, que se sente divi­di­da. “Um dile­ma humano entre olhar o par­tic­u­lar e o cole­ti­vo. Como mãe, eu quero as min­has fil­has aqui; como judia, eu quero uma com­bat­ente lá”, diz.

Edição: Aline Leal

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