...
terça-feira ,11 fevereiro 2025
Home / Meios de comunicação / “Minha obra é feita de minhas circunstâncias”, diz Alceu Valença

“Minha obra é feita de minhas circunstâncias”, diz Alceu Valença

Repro­dução: © Cafi

Artista explica influências profissionais


Pub­li­ca­do em 27/06/2023 — 09:05 Por Luiz Cláu­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

ouvir:

Filosofia e lit­er­atu­ra. Sofisti­ca­do e pop­u­lar. Region­al e uni­ver­sal. A obra de Alceu Valença, que com­ple­ta 77 anos na sem­ana que vem, mis­tu­ra ele­men­tos que fazem do músi­co per­nam­bu­cano um artista con­sagra­do. Em entre­vista à Agên­cia Brasil, na sem­ana de lança­men­to de sua primeira biografia, obra do escritor Julio Moura, o mul­ti­artista reflete sobre as prin­ci­pais influên­cias profis­sion­ais e de vida. A raiz em São Ben­to do Una, no inte­ri­or per­nam­bu­cano, é uma chave impor­tante de leitu­ra de sua poe­sia em instru­men­tos, incluin­do sua voz poderosa e arreta­da.

Agên­cia Brasil — Como com­preen­der todas as influên­cias de sua obra?

Alceu Valença — Eu não vou trair a min­ha músi­ca e a min­ha maneira de pen­sar. A min­ha influên­cia pas­sa pela cul­tura que advém da África, dos indí­ge­nas e da Penín­su­la Ibéri­ca. Eu não sou angló­fono, ape­sar de enten­der que musi­cal­mente eles são óti­mos. Mas eu não ten­ho nada a ver com isso. Eu só saio fazen­do a min­ha coisa o tem­po todo, fazen­do do jeito que eu quero, da maneira que eu quero e naqui­lo que eu acred­i­to.

Agên­cia Brasil — A sociedade incor­porou sua músi­ca em difer­entes momen­tos, como Anun­ci­ação, por exem­p­lo, can­ta­da para difer­entes obje­tivos. Você vê com bons olhos?

Alceu Valença — Anun­ci­ação é uma obra aber­ta. Quan­do uma cri­ança can­ta, ela está pen­san­do em algo. Quan­do alguém can­ta pelo amor per­di­do, é out­ro olhar. É uma músi­ca cheia de esper­ança.

Agên­cia Brasil - Sua obra mis­tu­ra ele­men­tos pop­u­lares e de sofisti­cação. Como você vê isso?

Alceu Valença — Pen­san­do assim, eu fui uma pes­soa que eu li muito. Eu ado­ra­va filosofia. Cada pes­soa tem a sua cir­cun­stân­cia. Como diz o espan­hol Orte­ga Y Gas­set: “Eu sou eu e min­has cir­cun­stân­cias”. Ninguém vai ter a mes­ma cir­cun­stân­cia do que eu. Eu acred­i­to na coisa que faço. Sem­pre acred­itei. Não ten­ho essa história de ficar orgul­hoso. Nem em suces­so que sobe à cabeça.

Agên­cia Brasil — Algu­ma músi­ca sig­nifi­ca mais para você?

Alceu Valença — Na ver­dade, não. A min­ha preferi­da é o con­jun­to da obra. Cada músi­ca tem o seu momen­to. Pelas ruas que andei é o reflexo do Alceu Valença que morou no Recife. Anun­ci­ação é uma músi­ca que surgiu em Olin­da, tam­bém no meu cam­in­har. Eu esta­va com  uma flau­ta e come­cei a apren­der soz­in­ho. Um dia eu fui para a rua e, de repente, come­cei a tocar. Nem sabia que esta­va tocan­do uma músi­ca. Alguém falou que era uma músi­ca lin­da. Eu peguei um papel e escrevi a músi­ca. Eu esta­va tam­bém inspi­ra­do no meu pas­seio por Olin­da, aonde eu saí pela rua. Fui no Mosteiro de São Ben­to e depois voltei pra casa. Quan­do vou faz­er uma músi­ca, eu não fico pen­san­do o que é que eu estou fazen­do.

Agên­cia Brasil — Mas o que inspi­ra esse int­elec­to?

Alceu Valença — Eu lia Fer­nan­do Pes­soa com 16 anos. Eça de Queiroz eu lia tam­bém. Vamos diz­er que Car­los Drum­mond de Andrade foi out­ro que me influ­en­ciou e me comoveu. Como diz (o filó­so­fo) José Orte­ga Y Gas­set, eu sou eu e min­has cir­cun­stân­cias. As min­has cir­cun­stân­cias todas estão den­tro da min­ha obra. Tudo que eu viven­ciei está den­tro do meu tra­bal­ho e sem­pre esteve.

Agên­cia Brasil — A invasão da tec­nolo­gia é algo bom ou ruim?É bom para que todo mun­do se expresse. Só que, como profis­são, pode virar uma out­ra coisa.

Agên­cia Brasil — Mas a inteligên­cia arti­fi­cial é um risco?

Alceu Valença — Eu já fala­va isso antes (sobre os riscos). (Será pos­sív­el) ter uma entre­vista, que peguem a min­ha voz. Na músi­ca, (pode ter) plá­gio. Só que é um plá­gio muito bem feito. A inteligên­cia arti­fi­cial pode ser um grande prob­le­ma.

Agên­cia Brasil – Como você anal­isa as redes soci­ais?Eu ten­ho muito medo dessa questão das fake news [infor­mações fal­sas]. É [algo] muito com­pli­ca­do. Você pode faz­er uma edição e las­car meu nome. Acon­tece tam­bém den­tro da inter­net uma coisa chama­da viral. Eu notei uma coisa inter­es­sante anal­isan­do depois. Eu esta­va lá no Rio de Janeiro (na época das Olimpíadas) na frente de uma padaria. Eu pas­sei com a min­ha mul­her para o out­ro lado. De repente, eu vi o som de Anun­ci­ação. Eu can­tei na hora. Deu um viral. Não hou­ve ensaio nen­hum. Nada. [Por out­ro lado], quan­do cheguei em Por­tu­gal fazen­do show um ano depois, teve um momen­to que a gente foi gravar com equipa­men­tos muito bons com câmeras mar­avil­hosas. Grava­mos uma músi­ca, Coração bobo. E aí botaram na rede social e não acon­te­ceu nada. Enten­deu? Coração Bobo esta­va muito mais bem grava­da. E a mal grava­da que deu mais reper­cussão.

Edição: Kle­ber Sam­paio

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Calor leva Justiça a adiar início das aulas no Rio Grande do Sul

Governo do estado recorre da decisão Pedro Peduzzi — Repórter da Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em …