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Mocidade amplia fronteiras e leva samba carioca para Londres

Repro­dução: © Foto: Mar­co Ter­ra­no­va | Rio­tur

Intercâmbio inclui também dicas de como buscar recursos financeiros


Publicado em 09/06/2024 — 10:12 Por Cristina Indio do Brasil — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

Esco­las de sam­ba do Rio de Janeiro têm ampli­a­do as fron­teiras e estre­ita­do o rela­ciona­men­to com estrangeiros entu­si­as­ma­dos com o som da bate­ria e o movi­men­to de pas­sis­tas. A von­tade de estar neste ambi­ente é tan­ta que rep­re­sen­tações das esco­las se espal­ham pelo mun­do.

Uma dessas rep­re­sen­tações é a Lon­don School of Sam­ba, esco­la de sam­ba da cap­i­tal da Inglater­ra e do Reino Unido, cri­a­da em 1984. Cin­co anos depois, foi apadrin­ha­da pela Moci­dade Inde­pen­dente de Padre Miguel e tam­bém tem as cores verde e bran­co estam­padas no seu pavil­hão.

“Eles ficaram encan­ta­dos com a Moci­dade, até porque a Moci­dade teve um perío­do áureo gan­han­do tudo e jun­tou o útil ao agradáv­el na época. Des­de que a esco­la foi inau­gu­ra­da já foi em hom­e­nagem à Moci­dade”, disse o dire­tor de Mar­ket­ing da Moci­dade, Bryan Clem, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

A grande apre­sen­tação da esco­la é em agos­to no car­naval de Not­ting Hill, bair­ro de Lon­dres, des­file que durante três dias ain­da con­ta com rep­re­sen­tações de out­ros país­es. Em 2022 a afil­ha­da des­filou com o Son­har não cus­ta nada! Ou quase nada, sam­ba enre­do da Moci­dade, no car­naval Rio de 1992.

No últi­mo fim de sem­ana, inte­grantes da esco­la lon­d­ri­na vier­am ao Rio e par­tic­i­param de um inter­câm­bio cul­tur­al para tro­ca de exper­iên­cias e con­hec­i­men­tos nas áreas de mar­ket­ing e comu­ni­cação, nas quais a Moci­dade entende que já se con­soli­dou como refer­ên­cia no car­naval car­i­o­ca.

No encon­tro não fal­tou ani­mação ao som de sam­bas enre­dos da verde e bran­co de Padre Miguel, espe­cial­mente o Pede Caju Que Dou…Pé de Caju Que Dá!, que se trans­for­mou no maior suces­so dos des­files de 2024 e foi ampla­mente toca­do nas platafor­mas como o Spo­ti­fy.

Segun­do Bryan Clem, é comum inte­grantes da esco­la lon­d­ri­na virem ao Brasil para des­fi­lar no car­naval do Rio e faz­er ofic­i­nas com pas­sis­tas e rit­mis­tas. Além dis­so, brasileiros vão até lá con­hecer o tra­bal­ho real­iza­do na cap­i­tal ingle­sa. “Con­vi­dam a gente para ir lá tro­car uma ideia, faz­er um inter­câm­bio, pen­sar em mais ações con­jun­tas, pen­sar jun­tos para ampli­ar ain­da mais o nos­so car­naval e a nos­sa cul­tura”, disse.

O inter­câm­bio inclui tam­bém dicas de como bus­car mais recur­sos para man­ter a esco­la finan­ceira­mente. “A gente mostra o dia a dia da esco­la, o que dá cer­to com­er­cial­mente para ajudá-los a bus­car mais recur­sos para a esco­la, como bus­car par­ceiros para isso, como se posi­cionar no mer­ca­do e usar as redes soci­ais em favor da esco­la para ampli­ar a men­sagem com­er­cial­mente da mar­ca deles. No que eles pre­cis­arem da gente podem super con­tar”, comen­tou Bryan.

Emb­o­ra haja brasileiros entre os com­po­nentes, a maio­r­ia é de britâni­cos e eles gostam tam­bém de apren­der o por­tuguês. Com isso as con­ver­sas geral­mente mesclam os dois idiomas. “O mestre de bate­ria é britâni­co, a rain­ha de bate­ria é britâni­ca, quem ensi­na a core­ografia dos pas­sis­tas lon­dri­nos é uma brasileira, mestre-sala e por­ta-ban­deira são lon­dri­nos, mas sem­pre tem um brasileiro que aju­da o proces­so e o con­sel­ho da esco­la para deixar mais forte o con­ceito da cul­tura brasileira no car­naval”, infor­mou.

Durante o ano a Lon­don School of Sam­ba desen­volve ofic­i­nas, inclu­sive para pes­soas que não fazem parte dos des­files, o que aca­ba sendo mais uma fonte de ren­da para man­ter a sua estru­tu­ra. “A esco­la é grande, só a bate­ria são uns 80. Eles des­fil­am com 200 pes­soas pelo menos. Para ser uma esco­la fora do Brasil, é grande”, com­ple­tou Bryan Clem, prom­e­tendo a ida de com­po­nentes da Moci­dade para o car­naval em agos­to de Not­ting Hill.

O paulista Daniel Souza Bit­tar entrou para a esco­la em jun­ho do ano pas­sa­do, o que foi uma das mel­hores coisas que acon­te­ce­r­am com ele des­de que chegou a Lon­dres em 2019, para faz­er grad­u­ação em bio­quími­ca. Mas sen­tia saudade da bate­ria, instru­men­to que toca­va des­de pequeno aqui no Brasil e que não pôde levar na bagagem.

Rio de Janeiro (RJ) 07/06/2024 - Daniel Souza Bittar- ( Camisa da seleção brasileira) - Escolas de samba fora do Brasil Foto: Daniel Souza Bittar/Arquivo Pessoal
 Repro­dução: Daniel Souza Bit­tar- ( Camisa da seleção brasileira) — Esco­las de sam­ba fora do Brasil Foto: Daniel Souza Bittar/Arquivo Pes­soal

Foi uma ami­ga que­ni­ana, com quem estu­da na fac­ul­dade, que o lev­ou para uma aula de sam­ba. “Eu nem sabia onde era e acon­te­ceu que era na Lon­don School of Sam­ba. Depois da aula de dança, vi um pes­soal car­regan­do instru­men­tos e fiquei para a ofic­i­na de bate­ria. Me apaixonei e fui me envol­ven­do cada vez mais com a esco­la e a orga­ni­za­ção”, disse em áudio encam­in­hado por What­sapp a pedi­do da repórter.

Atual­mente, Daniel é, tam­bém, o car­navale­sco da esco­la, e jun­to com inte­grantes mais expe­ri­entes desen­volveu o enre­do que vai comem­o­rar os 40 anos da agremi­ação. Ele con­ta as ori­gens da verde e bran­co britâni­ca, com o tema Back to the Roots e as ori­gens do sam­ba. “Nos­so enre­do desse ano foi com­pos­to por um dos fun­dadores, e foi o primeiro mestre de bate­ria em 1984, o Bosco de Oliveira, con­tan­do as ori­gens que vem do can­domblé de Ango­la, can­domblé nagô e da mis­ci­ge­nação de cul­tura tan­to da África cen­tral, como do sul e do império de Iorubá, ter­reiro de Tia Cia­ta, tudo aqui­lo que a gente con­hece da história do sam­ba no Rio”, disse.

O brasileiro tra­bal­ha como téc­ni­co de lab­o­ratório na King’s Col­lege Lon­don, onde estu­da, mas tem mui­ta sat­is­fação em fre­quen­tar a esco­la de sam­ba. “Eu ain­da estou na min­ha área de bio­quími­ca, mas acho que os tra­bal­hos na esco­la de sam­ba, como car­navale­sco e como rit­mista, ocu­pam min­ha cabeça mais que tudo. É com maior praz­er, mui­ta feli­ci­dade, muito orgul­ho, muito amor que a gente ten­ta dis­sem­i­nar e preser­var a cul­tura aqui tão longe da nos­sa ter­ra, do Brasil”, afir­mou.

“É um desafio traz­er este tipo de cul­tura para cá, porque ela é tão apre­ci­a­da, às vezes mais do que é apre­ci­a­da por nós no Brasil, mas o prob­le­ma é a fal­ta de refer­ên­cia. É muito fácil cair na armadil­ha de super­fi­cial­i­dade. Acho que foi por isso tam­bém que este ano a gente resolveu faz­er um enre­do muito embasa­do e muito rela­ciona­do às raízes do sam­ba, não só para a comu­nidade inteira de Lon­dres, mas para a nos­sa comu­nidade da esco­la tam­bém se apro­fun­dar em uma cul­tura tão rica”, com­ple­tou, Daniel.

Mangueira

A pre­sença da Estação Primeira de Mangueira na ter­ra do sol nascente já vem de longe. A Verde e Rosa é a inspi­ração da Esco­la de Sam­ba Saúde Yoko­haMangueira, cri­a­da pelo pro­fes­sor japonês Kisuke Saku­ma, em 1985. O nome da esco­la é com­pos­to por duas mar­cas fortes. A cidade japone­sa e a esco­la de sam­ba car­i­o­ca.

Álvaro Luiz Cae­tano, o Alv­in­ho, pres­i­dente da Mangueira entre 2001 e 2006 con­tou que por vir con­stan­te­mente ao Brasil, estar sem­pre em con­ta­to com a Verde e Rosa, e par­tic­i­par das ativi­dades da Estação Primeira, Saku­ma se tornou embaix­ador da agremi­ação car­i­o­ca no Japão. No inter­câm­bio foram cri­a­dos alguns cur­sos de pas­sis­tas e rit­mis­tas dos quais par­tic­i­pavam inte­grantes da agremi­ação de Yoko­hama e estre­itaram o rela­ciona­men­to entre as esco­las.

“Esse inter­câm­bio existe. Eles com­põem e can­tam o sam­ba em por­tuguês. O des­file lá [em agos­to] é um negó­cio difí­cil de acred­i­tar que aqui­lo acon­teça no Japão. É boni­to. Tem várias esco­las. Acred­i­to que está mais ou menos no nív­el das esco­las de sam­ba da Inten­dente Mag­a­l­hães”, com­parou Alv­in­ho em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Rio de Janeiro (RJ) 07/06/2024 - Roberto Matsushita ( Cabelos brancos com camiseta rosa) ao lado da presidente da Mangueira, Guanayra Firmino e Alvinho ex-presidente da Mangueira de camisa branca no lado direito da foto  Foto: Roberto Matsushita/Arquivo Pessoal
 Repro­dução: Rober­to Mat­sushi­ta (cabe­los bran­cos com camise­ta rosa) ao lado da pres­i­dente da Mangueira, Gua­nayra Firmi­no, e Alv­in­ho, ex-pres­i­dente da Mangueira de camisa bran­ca no lado dire­ito da foto  Foto: Rober­to Matsushita/Arquivo Pes­soal — Rober­to Matsushita/Arquivo Pes­soal

Com a morte de Saku­ma, pouco tem­po depois do vaza­men­to da usi­na nuclear de Fukushi­ma, em março de 2011, quem assum­iu o car­go foi Rober­to Mat­sushi­ta, que de tan­to gostar do Brasil, escol­heu esse nome em por­tuguês para ser chama­do por aqui e facil­i­tar a comu­ni­cação com brasileiros.

“Ess­es japone­ses são mangueirens­es de coração. Eles vêm com tem­po. Se o car­naval é 20 de fevereiro, eles chegam dia 5 e ficam aqui 15 dias. Vão para os ensaios, fei­joa­da, rodas de sam­ba. Eles vêm em grupo grande”, disse, saudoso do ami­go Saku­ma, cri­ador da esco­la japone­sa, que dava aulas de por­tuguês em seu país.

Beija Flor

Out­ra esco­la que ampliou os seus domínios, mas na Espan­ha, é a Bei­ja-Flor. A azul e bran­co de Nilópo­lis da Baix­a­da Flu­mi­nense, des­filou em 2019 e este ano voltou a se apre­sen­tar no Fes­ti­val de Mag­dale­na, que ocorre em março, na provín­cia de Castel­lón.

A dire­to­ra de pro­je­tos espe­ci­ais da Bei­ja-Flor, Júlia Rodrigues, disse que este ano a del­e­gação que foi à Espan­ha tin­ha 20 pes­soas, entre elas, o mestre de bate­ria Rod­ney que esta­va pre­sente em 2019 e em 2024. Além de apre­sen­tações durante três dias no Fes­ti­val de Mag­dale­na, os inte­grantes foram para Madri, onde tam­bém fiz­er­am exibições e vis­i­taram a embaix­a­da brasileira na cidade.

“O mel­hor de tudo isso é ver brasileiros, que já vivem há mais de 20 anos na Espan­ha, poderem ter con­tatos com a cul­tura do seu país. Além de uma val­oriza­ção do tra­bal­ho dos pas­sis­tas, é uma pos­si­bil­i­dade de vê-los como artis­tas, porque as pes­soas, às vezes, acabam ten­do o pre­con­ceito do sam­bista, não como um artista de fato, e lá fora tem essa val­oriza­ção. Foi muito grat­i­f­i­cante e emo­cio­nante”, expli­cou à Agên­cia Brasil.

Júlia Rodrigues con­tou que no cam­in­ho de con­sol­i­dação da mar­ca Bei­ja-Flor fora do Brasil, a esco­la apre­sen­tou à embaix­a­da brasileira um plane­ja­men­to para a real­iza­ção de tem­po­radas na Espan­ha e em out­ros país­es europeus com ofic­i­nas de per­cussão, sam­ba e con­fecção de adereços.

Rio de Janeiro (RJ), 11/02/2024 - Desfile da escola de samba Beija-Flor, do Grupo Especial do carnaval carioca, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Des­file da esco­la de sam­ba Bei­ja-Flor, do Grupo Espe­cial do car­naval car­i­o­ca, no Sam­bó­dro­mo da Mar­quês de Sapu­caí. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A expan­são da Bei­ja-Flor tam­bém pas­sa pela pre­sença de diver­sos com­po­nentes que são con­vi­da­dos para se apre­sen­tar em diver­sos país­es. Como exem­p­lo, a dire­to­ra lem­brou que as pas­sis­tas Aieny Mendes e Ana Clara Gou­vea estão no Mar­ro­cos e Sab­ri­na Cora­di­ni, na Tunísia. Os dire­tores de bate­ria Diego Oliveira e Michel Sil­va fiz­er­am work­shop na Espan­ha e via­jam sem­pre fazen­do inter­câm­bios.

“A gente não é somente uma fes­ta [como o car­naval é vis­to às vezes]. A gente tam­bém leva conosco uma respon­s­abil­i­dade social: qual­i­fi­ca jovens para inserir no mer­ca­do de tra­bal­ho, val­oriza a econo­mia cria­ti­va, então abre opor­tu­nidades para a empre­ga­bil­i­dade. Isso é tam­bém, é um out­ro lado do car­naval que a gente pre­cisa expandir e mostrar o impacto na sociedade como um todo”, ressaltou.

“A gente deixou bem claro jun­to à embaix­a­da para que, quan­do o brasileiro que atua no car­naval for para fora do país, ele não ser vis­to de uma for­ma promís­cua. Ain­da há um pouco de pre­con­ceito, prin­ci­pal­mente com relação à pas­sista. A gente pre­cisa trans­for­mar a for­ma como é vis­to o car­naval. Isso é cul­tura e arte através da dança”, pon­tu­ou Júlia, defend­en­do mais uma vez o for­t­alec­i­men­to da imagem das esco­las de sam­ba.

Edição: Aécio Ama­do

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