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Morador de Canoas descreve fuga de alagamentos e diz que vive pesadelo

Repro­dução: © Arqui­vo pessoal/Divulgação

Chuvas no Rio Grande do Sul matam 75 pessoas


Publicado em 05/05/2024 — 18:08 Por Flávia Albuquerque — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

“É um pesade­lo. Um pesade­lo que a gente nun­ca pen­sou que fos­se viv­er”. É assim que Rolf Jesse Fürste­nau, casa­do, pai de duas fil­has e morador do bair­ro de Rio Bran­co, na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, ter­mi­na seu rela­to sobre como teve que deixar para trás a casa e o bair­ro onde reside com a família ao ver o sobra­do onde eles moram ser inva­di­do pelas águas.

O bair­ro fica ao lado do rio Gra­vataí, logo atrás pas­sa o rio Jacuí que desem­bo­ca no rio Guaí­ba. Na região, o alaga­men­to começou após o dique do rio Gra­vataí ced­er. Uma manutenção foi fei­ta pela prefeitu­ra, que anun­ciou que não seria necessário que as pes­soas saíssem de suas casas.

“Mas, no meio da madru­ga­da, estourou de novo ali no mes­mo lugar e começou a inun­dar para um lado e aí a água foi toman­do aos poucos o bair­ro. Os moradores nem acred­i­tavam quan­do começaram a ver aque­la água, achavam que o sis­tema de esgo­to ia escoar. Só que era cada vez mais água, o sis­tema de esgo­to não dan­do con­ta e a água foi avançan­do. Os moradores começaram a ten­tar con­stru­ir for­mas de desviar a água, mas o vol­ume era gigan­tesco. Fize­mos uma bar­ri­ca­da na por­ta do nos­so con­domínio, o que fun­cio­nou um pouco, porém, na noite de sex­ta-feira para sába­do a água veio rápi­do e aí começou a oper­ação de ten­tar sal­var o que dava”, con­tou Rolf.

Ele acres­cen­tou que o esforço naque­le momen­to era para colo­car o máx­i­mo de móveis, eletrodomés­ti­cos e obje­tos de val­or para o alto. Até mes­mo os car­ros foram lev­a­dos para a parte mais alta do con­domínio na esper­ança de que não ficas­sem sub­mer­sos. Não adiantou.

Desespero

“A água tomou o primeiro andar todo em todas as casas do con­domínio. Alguns moradores ficaram deses­per­a­dos para remover as pes­soas idosas, cri­anças, ani­mais. As pes­soas foram lev­adas para um pré­dio em con­strução ao lado do con­domínio e isso envolvia pular um muro, o que foi feito com a aju­da de duas caixas d’água da própria con­strução, que tam­bém servi­ram para trans­portar os idosos, cri­anças e ani­mais”, rela­tou.

Rolf lem­brou que alguns moradores que quis­er­am ficar no segun­do piso das casas desi­s­ti­ram porque perce­ber­am que, mes­mo ali, havia risco e que a água demor­aria dias para baixar. Os moradores ficaram no pré­dio em con­strução até que um deles entrou em con­ta­to com um par­ente que pos­sui um bar­co e foi com essa embar­cação que todos foram res­gata­dos para locais mais seguros.

“Em alguns lugares a água chegou até o segun­do piso. Mas, na nos­sa região, o segun­do piso ain­da foi poupa­do. Só que os andares infe­ri­ores, os pequenos negó­cios, lojas de fer­ra­gens, mer­ca­do, agropecuária, padaria, açougue, car­ros, tudo foi destruí­do. É muito, muito triste. Mas claro que nos­sa maior pre­ocu­pação é com as vidas, por isso acho que o res­gate com bar­cos, moto­ci­cle­tas aquáti­cas e helicópteros está sendo muito impor­tante”, opinou.

Para Rolf, os helicópteros são de suma importân­cia porque há muitas pes­soas que insi­s­ti­ram em ficar em suas casas com medo de que haja saques, porém, por são se saber quan­to tem­po demor­ará para que as águas baix­em, isso se tor­na perigoso. “Não tem como ficar ali. Vão ficar sem água sem comi­da. Não tem luz e ago­ra fal­ta água potáv­el”, opinou.

A seguir, ele citou que as pes­soas não sabem por onde começar a recon­stru­ir o que perder­am. “Eu não ten­ho condição nen­hu­ma de tra­bal­har nos próx­i­mos dias. Eu não sei onde vou morar e ten­ho duas fil­has peque­nas. Eu estou prati­ca­mente só com a roupa do cor­po, que é um pija­ma e uma camise­ta. Eu saí de casa usan­do um calção de ban­ho e uma out­ra camise­ta para mol­har mes­mo, e sem calça­do, só um chine­lo”, afir­mou.

Vítimas

As fortes chu­vas que atingem o Rio Grande do Sul des­de a sem­ana pas­sa­da afe­taram mais de 780,7 mil pes­soas. Até o momen­to, 75 pes­soas mor­reram, de acor­do com o últi­mo bole­tim da Defe­sa Civ­il divul­ga­do às 12h de hoje (5). Out­ros seis óbitos ain­da estão em inves­ti­gação e 155 pes­soas ficaram feri­das. Há ain­da 103 pes­soas desa­pare­ci­das.

O Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande já resgatou mais de 40 pessoas na região de Eldorado do Sul (RS), em apoio à Defesa Civil. Foto: Frame/Marinha do Brasil/Divulgação
Repro­dução: Fuzileiros Navais res­gatam cri­ança na região de Eldo­ra­do do Sul — Foto —  Frame/Marinha do Brasil/Divulgação

O número de óbitos super­ou a últi­ma catástrofe ambi­en­tal do esta­do em setem­bro de 2023, quan­do 54 pes­soas perder­am a vida com a pas­sagem de um ciclone extra­t­rop­i­cal. As autori­dades afir­mam que este é o pior desas­tre climáti­co da história gaúcha.

As chu­vas tam­bém obri­garam 95,7 mil pes­soas a aban­donar suas casas, entre 104,6 mil desa­lo­ja­dos e 16,6 mil desabri­ga­dos. Dos 497 municí­pios gaú­chos, 334 foram afe­ta­dos pelas fortes chu­vas, o que rep­re­sen­ta 67,2% das cidades do esta­do.

Ain­da de acor­do com o bal­anço mais recente das infraestru­turas estad­u­ais, mais de 420 mil pon­tos no Rio Grande do Sul seguem sem ener­gia elétri­ca e 839 mil residên­cias (27%) estão sem abastec­i­men­to de água.

As chu­vas tam­bém provo­cam danos e alter­ações no tráfego nas rodovias estad­u­ais gaúchas. Neste domin­go (5), são reg­istra­dos 113 tre­chos em 61 rodovias com blo­queios totais e par­ci­ais, entre estradas e pontes.

Para quem quis­er aju­dar, os itens mais necessários para doação no momen­to são colchões novos ou em bom esta­do, roupa de cama, roupa de ban­ho, cober­tores, água potáv­el, ração ani­mal e ces­tas bási­cas, pref­er­en­cial­mente fechadas para facil­i­tar o trans­porte.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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