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Morre em Brasília o poeta e compositor Vicente Sá

Artista era da primeira geração de criadores da capital

Gilber­to Cos­ta — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 25/01/2025 — 18:06
Brasília
Brasília (DF), 25/01/2025 - Poeta Vicente Sá. Foto: Vicente Sá/Arquivo Pessoal
Repro­dução: © Vicente Sá/Arquivo Pes­soal

“A morte é para os out­ros, não para os poet­as”, assev­era o poeta Nicholas Behr, cuia­bano de nasci­men­to e brasiliense de ver­so. Ele sabe, no entan­to, que “a morte é incon­tornáv­el, está mais adi­ante esperan­do.” A certeza da morte faz o poeta cri­ar, “na ilusão, na esper­ança, de que alguns ver­sos deles vão sobre­viv­er”. Na noite des­ta sex­ta-feira (24), mor­reu em Brasília (DF), o poeta Vicente Sá, aos 68 anos, mas a sua poe­sia, não.

Além de poeta, Vicente Tadeu Maran­hão Gomes de Sá era com­pos­i­tor, cro­nista, romancista, roteirista e jor­nal­ista. Nat­ur­al de Pedreiras (MA), viveu de amores pela cap­i­tal fed­er­al, em espe­cial pelo bair­ro da Asa Norte.

“Esta­mos per­den­do uma alma gen­uina­mente brasiliense. Ele assum­iu Brasília como a sua cidade, como sua musa, como sua fonte de inspi­ração, como per­son­agem, dig­amos”, avalia Nico­las Behr.

Segun­do Behr, Vicente Sá é da ger­ação que “human­i­zou a maque­te”, o Plano Pilo­to pro­je­ta­do pelo urban­ista Lúcio Cos­ta e ador­na­da pelos edifí­cios e mon­u­men­tos de Oscar Niemay­er. A ger­ação que começou a for­jar o primeiro movi­men­to cul­tur­al genuíno na cidade, ain­da nos anos 1970.

Para o mae­stro Renio Quin­tas, con­tem­porâ­neo e tam­bém par­ceiro musi­cal de Vicente Sá, a cri­ação dele foi ges­ta­da em “tem­pos de resistên­cia” à ditadu­ra cívi­co-mil­i­tar (1964–1985), com o propósi­to de que “a con­strução da epopeia [de Brasília] fos­se bem suce­di­da. Por isso que a gente não foi emb­o­ra daqui”.

Naque­le lugar de onde ninguém saiu, foi pos­sív­el ter encon­tros “sem posições sub­al­ter­nas” que não acon­te­ceri­am em out­ros lugares, como o do car­i­o­ca Renio Quin­tas, que pas­sou a infân­cia “nas areias bran­cas de Copaca­bana”, e Vicente Sá, do inte­ri­or do Maran­hão. Nas primeiras décadas de Brasília, de acor­do com o mae­stro, “era vir­tu­oso e necessário estu­dar na mes­ma esco­la públi­ca. Não tin­ha alter­na­ti­va”.

Sem escol­ha e out­ras pos­si­bil­i­dades, resta­va cri­ar. “Nós desco­b­ri­mos, sacamos que se a gente não fizesse, não ia ter nada, não tin­ha nada. Aí a gente começou a ocu­par os espaços. Os artis­tas começaram a ocu­par as gale­rias, os museus e os teatros. A gente tin­ha con­sciên­cia que está­va­mos fazen­do real­mente a cidade”, recor­da-se o vio­lonista Sér­gio Duboc e par­ceiro de canções de Vicente Sá.

Sem fórmula única

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, Duboc diz que sen­tirá fal­ta de com­por com Vicente Sá. “Me acos­tumei nos últi­mos 45 anos a faz­er isso.” Em tan­to tem­po de parce­ria, não tin­ha fór­mu­la úni­ca para os dois tra­bal­harem.

“Às vezes, eu chega­va com uma músi­ca pronta, ele letra­va. Às vezes eu chega­va com um pedaço da músi­ca, ele letra­va esse pedaço e daí me abria out­ras por­tas para con­tin­uar a músi­ca e ele ia jun­to comi­go. Tam­bém acon­te­cia de quase na hora de ir emb­o­ra, eu vin­ha com uma ideiaz­in­ha de músi­ca ou ele vin­ha com uma ideiaz­in­ha de letra e saía out­ra músi­ca.”

O advo­ga­do e poeta Fab­rizio More­lo, que com­pôs com a dupla Duboc e Sá, é gra­to a Vicente por ser tam­bém com­pos­i­tor. “Ele me esper­a­va às vezes para ter­mi­nar uma músi­ca, para gan­har a parce­ria, sabe? A músi­ca esta­va pronta, ele tin­ha o ver­so na cabeça. O ver­so dele ia ser mel­hor que o meu, inclu­sive. Mas ele e o Duboc falavam, ‘vamos esper­ar’. A bola esta­va na mar­ca do pênalti, era só empurrar para o gol.”

Nas redes soci­ais e aplica­tivos de artis­tas de Brasília cir­cu­lam neste sába­do (25) ver­sos de Vicente Sá, como aque­les em que diz “Quero mor­rer assim/ cer­ca­do de ami­gos e cachaça/ no colo da eter­na companheira/ bonito/ poeta.”

Vicente Sá mor­reu de pneu­mo­nia, agrava­da pelo trata­men­to con­tra o câncer. Ele será vela­do neste domin­go (26) no Espaço Cul­tur­al Rena­to Rus­so (508 Sul) a par­tir das 10h. “Haverá uma cel­e­bração com poet­as e músi­cos. Vamos cel­e­brar a vida e a obra dele”, prom­ete o mae­stro Renio Quin­tas.

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