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Morre o fotógrafo Evandro Teixeira, autor de fotos históricas do país

Com mais de 70 anos no fotojornalismo, ele foi referência na profissão

Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 04/11/2024 — 18:43
Rio de Janeiro
RETROSPECTIVA_2023 - Exposição
Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

O fotó­grafo Evan­dro Teix­eira mor­reu nes­ta segun­da-feira (4), no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, mais de 70 deles ded­i­ca­dos ao foto­jor­nal­is­mo. Pelas suas lentes, foram reg­istra­dos acon­tec­i­men­tos históri­cos do sécu­lo XX no Brasil e no mun­do. As ima­gens em pre­to e bran­co pro­duzi­das por Evan­dro viraram doc­u­men­tos, que aju­dam a aces­sar frag­men­tos do pas­sa­do.

Evan­dro esta­va inter­na­do na Clíni­ca São Vicente, Gávea, Zona Sul da cidade. Segun­do a insti­tu­ição, a morte ocor­reu por falên­cia múlti­pla de órgãos, em decor­rên­cia de com­pli­cações de uma pneu­mo­nia. Ele será vela­do na Câmara dos Vereadores nes­ta terça-feira (05), das 9h às 12h.

O fotó­grafo nasceu no municí­pio de Ira­ju­ba, na Bahia, em 1935. Ele ini­ciou a car­reira jor­nalís­ti­ca em 1958 no jor­nal O Diário de Notí­cias, de Sal­vador. Depois, trans­feriu-se para o Diário da Noite, do grupo dos Diários Asso­ci­a­dos, de Assis Chateaubriand, no Rio de Janeiro.

Em 1963, foi con­trata­do pelo Jor­nal do Brasil, onde alcançaria a maior pro­jeção como foto­jor­nal­ista. Foram quase 47 anos na empre­sa, de onde saiu em 2010, quan­do o JB deixou de cir­cu­lar na ver­são impres­sa e pas­sou a ter ape­nas a edição dig­i­tal. Ele tam­bém se tornou autor dos livros: Foto­jor­nal­is­mo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 des­ti­nos: Passea­ta dos 100 mil (2008).

Exposição no IMS de São Paulo mostra as ditaduras chilena e brasileira sob o olhar aguçado do fotojornalista Evandro Teixeira -- Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante
Reprodução: Repressão policial na Candelária durante a missa de sétimo dia do estudante Edson Luís, assassinado durante — Evandro Teixeira/Acervo IMS

Difi­cil­mente alguém nun­ca se deparou com uma foto de Evan­dro ao pesquis­ar sobre even­tos mar­cantes da história. Ele reg­istrou momen­tos como a Copa do Mun­do de 1962, a repressão ao movi­men­to estu­dan­til de 1968, o golpe mil­i­tar no Brasil e no Chile e o mas­sacre de Jon­estown, em 1978.

É dele a imagem da toma­da do Forte de Copaca­bana, no dia 1º de abril de 1964, que mostra as sil­hue­tas de sol­da­dos em meio a uma chu­va tor­ren­cial. Sím­bo­lo dos anos difí­ceis que o país atrav­es­saria sob gov­er­nos autoritários. E a fotografia, ain­da mais con­heci­da, de um estu­dante cain­do no chão, enquan­to dois poli­ci­ais se preparam para atacá-lo, em meio às man­i­fes­tações con­tra a ditadu­ra no dia 21 de jun­ho de 1968.

As obras de Evan­dro inte­gram coleções de insti­tu­ições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Mod­er­na do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Insti­tu­to Mor­eira Salles, no Rio de Janeiro.

Exposição no IMS de São Paulo mostra as ditaduras chilena e brasileira sob o olhar aguçado do fotojornalista Evandro Teixeira -- Tomada do Forte de Copacabana durante golpe militar, Rio de Janeiro, RJ, 01/04/1964. Evandro Teixeira/Acervo IMS
Reprodução: Tomada do Forte de Copacabana durante golpe militar, Rio de Janeiro, RJ, 01/04/1964.  Evandro Teixeira/Acervo IMS

Cobertura internacional

No ano pas­sa­do, o Cen­tro Cul­tur­al do Ban­co do Brasil, no Rio de Janeiro, exibiu uma mostra com 160 ima­gens do fotó­grafo. O destaque era a cober­tu­ra inter­na­cional do golpe mil­i­tar no Chile, que com­ple­ta­va 50 anos. Evan­dro con­seguiu entrar na cap­i­tal San­ti­a­go no dia 21 de setem­bro de 1973, dez dias depois do golpe lid­er­a­do pelo gen­er­al Augus­to Pinochet, que encer­rou o gov­er­no democráti­co do social­ista Sal­vador Allende.

Mes­mo com toda a vig­ilân­cia, Evan­dro reg­istrou ima­gens que ates­tavam a vio­lação de dire­itos humanos no país. No Está­dio Nacional, driblou a vig­ilân­cia dos sol­da­dos e fotografou o porão onde estu­dantes eram encar­cer­a­dos com vio­lên­cia. A imagem foi rev­e­la­da rap­i­da­mente em um lab­o­ratório impro­visa­do no ban­heiro do hotel e trans­mi­ti­da para o Brasil por um apar­el­ho de tele­fo­to.

Em out­ro momen­to, con­seguiu ser o primeiro a reg­is­trar a morte de Pablo Neru­da. O fotó­grafo entrou no hos­pi­tal onde esta­va o cor­po do poeta por uma por­ta lat­er­al, sem ser nota­do pelos segu­ranças. Encon­trou Neru­da sendo vela­do em uma maca no corre­dor pela viú­va Matilde Urru­tia. Depois, com a per­mis­são da família, acom­pan­hou todos os pas­sos do velório na residên­cia do casal e o enter­ro no Cemitério Ger­al de San­ti­a­go.

Exposição no IMS de São Paulo mostra as ditaduras chilena e brasileira sob o olhar aguçado do fotojornalista Evandro Teixeira -- Enterro do poeta Pablo Neruda no Cemitério Geral de Santiago, Santiago, Chile, 25/09/1973. Evandro Teixeira/Acervo
Reprodução: Enterro do poeta Pablo Neruda no Cemitério Geral de Santiago, Santiago, Chile, 25/09/1973. Evandro Teixeira/Acervo — Evandro Teixeira/Acervo IMS

Mas foi um acon­tec­i­men­to, em tese mais sim­ples do que os ante­ri­ores, que lev­ou Evan­dro a pas­sar uma noite na prisão. E que ates­ta não só as qual­i­dades téc­ni­cas do fotó­grafo, mas o olhar apu­ra­do para as desigual­dades soci­ais.

“Fal­ta­va carne de vaca para a pop­u­lação, que só comia gal­in­ha e por­co. Eu esta­va andan­do pela cidade e pas­sei em frente ao Min­istério da Defe­sa. Vi um car­ro de açougueiro para­do e um cidadão entrar com um boi inteiro nas costas para o pes­soal do quar­tel. Achei uma sacan­agem e fiz a foto”, rela­tou Evan­dro à época.

Nota de pesar

O pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va divul­gou hoje uma nota de pesar pela morte de Evan­dro Teix­eira, a quem Lula con­sid­era refer­ên­cia no foto­jor­nal­is­mo do Brasil e do mun­do.

“Evan­dro deixa um acer­vo de mais de 150 mil fotos, com ima­gens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu poss­es pres­i­den­ci­ais, reg­istrou a fome, a pobreza, esportes, per­son­al­i­dades e a cul­tura do nos­so país. Meus sen­ti­men­tos aos famil­iares, ami­gos, cole­gas e admi­radores de Evan­dro Teix­eira”, disse Lula, lem­bran­do os mais de 70 anos de car­reira do fotó­grafo e a emblemáti­ca foto da toma­da do Forte de Copaca­bana, de 1964.

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