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Mortalidade por câncer é maior entre crianças indígenas, diz estudo

Questões geográficas estão entre os fatores decisivos para o índice

Tâmara Freire — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 09/02/2025 — 15:42
Rio de Janeiro
Boa Vista (RR), 15/02/2023, Mulher indígena com bebê em frente ao Hospital de Campanha Yanomami montado na Casa de Saúde Indígena - Casai.
Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

A mor­tal­i­dade de cri­anças e ado­les­centes com câncer é maior entre os indí­ge­nas, de acor­do com a nova edição do Panora­ma de Oncolo­gia Pediátri­ca, do Insti­tu­to Desider­a­ta. O recorte dos dados obti­dos com o Min­istério da Saúde e com o Insti­tu­to Nacional de Câncer (Inca) mostram uma taxa de 76 óbitos a cada 1 mil­hão de indí­ge­nas por ano. Já entre as cri­anças e os ado­les­centes bran­cos essa taxa é de 42.6/milhão, cain­do para 38.9/milhão entre os negros e 38.9/milhão entre aque­les iden­ti­fi­ca­dos como amare­los, que têm origem ori­en­tal.

De acor­do com o últi­mo Cen­so, quase 45% dos indí­ge­nas no Brasil vive na Região Norte, segui­da pela Região Nordeste, onde vive 31,22% dessa pop­u­lação. Essas são as regiões que têm a menor incidên­cia de novos casos: 111,1 a cada 1 mil­hão de cri­anças e ado­les­centes no Norte e 138,1 no Nordeste. Mas tam­bém são as duas com as maiores taxas de mor­tal­i­dade: 47,5 e 44,5/milhão, respec­ti­va­mente.

A coor­de­nado­ra do Serviço de Onco­pe­di­a­tria do Hos­pi­tal Oncológi­co Infan­til Octávio Lobo, em Belém, no Pará, Alayde Vieira, não descar­ta que o número de casos pos­sa ser maior e que haja sub­no­ti­fi­cação. De acor­do com ela, múlti­p­los fatores podem estar con­tribuin­do para essa alta mor­tal­i­dade na Região Norte, a começar por questões geográ­fi­cas que difi­cul­tam o aces­so aos serviços de saúde:

“A gente tem mui­ta difi­cul­dade de loco­moção. No esta­do do Pará, por exem­p­lo, nós temos 144 municí­pios, e às vezes, no próprio municí­pio, como é o exem­p­lo de Altami­ra, para me deslo­car de uma comu­nidade ribeir­in­ha indí­ge­na para a própria cidade de Altami­ra, eu levo 1 mil km de deslo­ca­men­to. E isso não dá para ser feito a pé nem de car­ro, só de aeron­ave ou de bar­co”, detal­ha a coor­de­nado­ra.

Atendimento

Os próprios serviços exis­tem em menor quan­ti­dade na região. Atual­mente, o Brasil tem 77 hos­pi­tais habil­i­ta­dos em oncolo­gia pediátri­ca. Mais da metade deles — 36 — estão no Sud­este, ape­nas 3 deles estão no Norte. Como con­se­quên­cia, mais de 40% dos pacientes com até 19 anos pre­cisam ser aten­di­dos em hos­pi­tal sem serviço espe­cial­iza­do e mais de 20% têm que se deslo­car para cidades difer­entes das que moram para con­seguir trata­men­to.

E essas difi­cul­dades ain­da se jun­tam a um cenário socioe­conômi­co des­fa­voráv­el “A gente tem um aban­dono de trata­men­to supe­ri­or ao que é encon­tra­do na região Nordeste, Sul e Sud­este, porque nós temos uma cri­ança que mora numa região ribeir­in­ha, num quilom­bo, numa aldeia… E aque­la mãe que tem uma baixa ren­da, que o pai pre­cisa tra­bal­har,  com quem vai deixar as demais cri­anças? Então nós já tive­mos vários relatos de aban­dono de trata­men­to, não é porque a mãe não quer, não tem inter­esse, ou não ama seu fil­ho, é pela condição socioe­conômi­ca”, com­ple­men­ta Alayde Vieira.

A oncol­o­gista expli­ca ain­da que o cuida­do de cri­anças indí­ge­nas requer abor­dagem espe­cial, porque alguns pacientes, por razões genéti­cas, metab­o­lizam os medica­men­tos de for­ma difer­ente:

“A gente usa­va a mes­ma med­icação, o mes­mo vol­ume, a mes­ma dose, e as nos­sas cri­anças evoluíam com tox­i­ci­dades. E isso nos chamou muito a atenção. Então a gente fez um estu­do de mais de 10 anos, e a gente começou a obser­var que a nos­sa pop­u­lação indí­ge­na, ou a pop­u­lação mis­ci­ge­na­da, que é a maio­r­ia do nos­so esta­do, quan­do ela tin­ha geneti­ca­mente a ances­tral­i­dade indí­ge­na aci­ma de um deter­mi­na­do val­or, ela começa­va a apre­sen­tar efeitos colat­erais maiores. Elas têm 28 vezes mais chances de intoxi­car e evoluir para infecções graves e sev­eras do que out­ras cri­anças”, expli­ca a espe­cial­ista.

A solução foi cri­ar um pro­to­co­lo difer­en­ci­a­do, com maior hidratação, e admin­is­tração de antígenos para pro­te­ger os órgãos dos efeitos colat­erais, por exem­p­lo, o que de acor­do com a médi­ca aumen­ta o desafio de tratar essa pop­u­lação.

O Panora­ma de Oncolo­gia Pediátri­ca está disponív­el no site para con­sul­ta do públi­co e de espe­cial­is­tas.

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