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Mortalidade prematura por câncer no Brasil deve cair até 2030

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Projeção foi feita por pesquisadores do Inca


Pub­li­ca­do em 02/02/2023 — 07:05 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A mor­tal­i­dade pre­matu­ra por câncer no Brasil dev­erá diminuir no perío­do de 2026/2030. A pro­jeção foi fei­ta por pesquisadores do Insti­tu­to Nacional de Câncer (Inca), em com­para­ção à mor­tal­i­dade pre­matu­ra obser­va­da entre 2011 e 2015, para a faixa etária de 30 a 69 anos de idade, com dados do Sis­tema Nacional de Infor­mações sobre Mor­tal­i­dade (SIM). Ape­sar dis­so, a redução pre­vista ficará ain­da dis­tante da Meta 3.4 dos Obje­tivos do Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (ODS) da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU), que esta­b­ele­ceu até 2030 diminuição do risco de morte pre­matu­ra de um terço para doenças crôni­cas não trans­mis­síveis (DCNTs), que incluem os diver­sos tipos de câncer.

A pesquisado­ra Mar­i­an­na Can­cela, da Coor­de­nação de Pre­venção e Vig­ilân­cia do Inca (Con­prev), infor­mou à Agên­cia Brasil que, para cer­tos tipos de câncer, há pre­visão de aumen­to e, para out­ros, de que­da. Para 2026/2030, a pre­visão é de uma redução nacional de 12% na taxa de mor­tal­i­dade padroniza­da por idade por câncer pre­maturo entre os home­ns e uma que­da menor, de 4,6%, entre as mul­heres. Em ter­mos region­ais, há uma vari­ação de 2,8% entre as mul­heres, na Região Norte, a 14,7% entre os home­ns, na Região Sul. As pre­visões foram cal­cu­ladas usan­do o soft­ware Nord­pred, desen­volvi­do pelo Reg­istro de Câncer da Norue­ga, e ampla­mente uti­liza­do para faz­er pre­visões de lon­go pra­zo sobre a incidên­cia e mor­tal­i­dade por câncer.

Mar­i­an­na expli­cou que, quan­do se fala em número de casos, todos os tipos de câncer terão aumen­to no perío­do com­preen­di­do entre 2026 e 2030 por duas razões. A primeira envolve o aumen­to da pop­u­lação e mudança na estru­tu­ra pop­u­la­cional, com o envel­hec­i­men­to de boa parcela dos brasileiros, para quem a maio­r­ia das DCNTs são mais preva­lentes; a segun­da razão é o aumen­to dos fatores de risco.

De acor­do com o arti­go do Inca Os Obje­tivos de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el para o Câncer Podem Ser Cumpri­dos no Brasil?, pub­li­ca­do na revista cien­tí­fi­ca Fron­tiers in Oncol­o­gy no últi­mo dia 10 de janeiro, as DCNTs respon­der­am por 15 mil­hões de mortes pre­mat­uras na faixa de 30 a 69 anos, em todo o mun­do, em 2016, sendo que mais de 85% dessas mortes ocor­reram em país­es de baixa e média ren­da. O câncer foi respon­sáv­el por 9 mil­hões de mortes anual­mente, per­den­do ape­nas para as doenças car­dio­vas­cu­lares (17,9 mil­hões de mortes/ano), con­sid­er­a­da a prin­ci­pal causa de morte por DCNT no mun­do. A per­spec­ti­va é que as DCNTs con­tin­uem a aumen­tar em país­es de baixa e média ren­da, con­tribuin­do para per­das econômi­cas asso­ci­adas a mortes pre­mat­uras da ordem de US$ 7 tril­hões ness­es país­es, nos próx­i­mos 15 anos.

Maior aumento

De acor­do com o estu­do do Inca, o câncer de intesti­no, ou col­or­re­tal, é o que dev­erá apre­sen­tar maior aumen­to de risco de óbitos pre­matur­os para home­ns e mul­heres até 2030, no Brasil, de cer­ca de 10%. Por regiões, o Norte do país deve mostrar o maior aumen­to (52%) entre os home­ns, segui­do pelo Nordeste (37%), Cen­tro-Oeste (19,3%), Sul (13,2%) e Sud­este (4,5%). Segun­do Mar­i­an­na Can­cela, a incidên­cia mais alta “é con­se­quên­cia da chama­da oci­den­tal­iza­ção, dos hábitos de vida, maior obesi­dade, seden­taris­mo, a questão da ali­men­tação, com prefer­ên­cia por con­sumir pro­du­tos indus­tri­al­iza­dos”. Nas regiões onde a incidên­cia está mais baixa atual­mente, é pre­vis­to um aumen­to maior. Entre as mul­heres, o Nordeste lid­era, com pro­jeção de expan­são de 38%, segui­do por Sud­este (7,3%), Norte (2,8%), Cen­tro-Oeste (2,4%) e Sul (0,8%).

O câncer de intesti­no é o segun­do tipo mais inci­dente no país, fican­do atrás do de prós­ta­ta entre os home­ns, e do de mama, entre as mul­heres. O Inca esti­ma que, em cada ano do triênio 2023/2025, serão diag­nos­ti­ca­dos cer­ca de 46 mil casos novos de câncer col­or­re­tal, cor­re­spon­den­do a cer­ca de 10% do total de tumores diag­nos­ti­ca­dos no Brasil, à exceção do câncer de pele não melanoma.

Outros tipos de câncer

Mar­i­an­na Can­cela infor­mou que o câncer de pul­mão entre os home­ns foi o que apre­sen­tou maior pro­jeção de que­da, próx­i­mo de 30%, evi­den­cian­do a efe­tivi­dade de todas as políti­cas con­tra o tabag­is­mo imple­men­tadas des­de a déca­da de 1980. Para as mul­heres, a pro­jeção é de aumen­to de prob­a­bil­i­dade de morte pre­matu­ra de 1,1%.

No câncer de colo de útero, obser­vou-se que­da na mor­tal­i­dade pre­matu­ra em todas as regiões. “Só que, mes­mo com essa que­da, a taxa de mor­tal­i­dade pre­matu­ra na Região Norte con­tin­ua sendo extrema­mente ele­va­da, na com­para­ção aos out­ros lugares e à média nacional”. No Norte do Brasil, a mor­tal­i­dade pre­matu­ra era mais alta do país entre 2011/2015: 28 mortes por 100 mil pes­soas, con­tra média nacional de 16 óbitos por 100 mil.

A pro­jeção para 2026/2030 na Região Norte é de 24 mortes por 100 mil, enquan­to a média brasileira fica em 11 óbitos por 100 mil. “Mes­mo com essa que­da, con­tin­ua sendo muito ele­va­da”, avalia Mar­i­an­na. A pesquisado­ra desta­cou, que além de ser uma região com­pli­ca­da em ter­mos de logís­ti­ca, existe no Norte brasileiro um vazio assis­ten­cial. “Para cer­tos tipos de câncer, a gente vê exata­mente isso que, mes­mo com que­da, o número con­tin­ua extrema­mente alto.”

Em relação ao câncer de mama, as pro­jeções para até 2030 são de que­da no Sud­este, cer­ta esta­bil­i­dade no Brasil e na Região Sul e aumen­to nas regiões Norte, Nordeste e Cen­tro-Oeste. Mar­i­an­na esclare­ceu que, nesse tipo de câncer, há fatores hor­mon­ais que tor­nam com­pli­ca­do evi­tar a doença. A diminuição do número de fil­hos por mul­her e o fato de uma mul­her não ter tido fil­hos aumen­tam o risco de câncer de mama. “A ama­men­tação é um fator pro­te­tor”. Tal como acon­tece com o câncer col­or­re­tal, aumen­tam o risco de câncer de mama a questão da ali­men­tação, p seden­taris­mo e o con­sumo de álcool. Out­ro fator que aumen­ta o risco é o fato de as mul­heres ficarem grávi­das mais vel­has, adian­do a mater­nidade. “Tudo isso aca­ba resul­tan­do em aumen­to do risco.”

Sobre o câncer de estô­ma­go, ape­sar de ser pro­je­ta­da que­da, a mor­tal­i­dade pre­matu­ra con­tin­ua alta na Região Norte. É um câncer de origem infec­ciosa, que acomete mais home­ns que mul­heres. “A gente tem aí uma mis­tu­ra de câncer de país­es em desen­volvi­men­to com câncer de país­es desen­volvi­dos que resul­ta nes­sa dupla car­ga de doença”. Entre 2011/2015, a mor­tal­i­dade pre­matu­ra de câncer de estô­ma­go no Brasil esta­va em 20 óbitos por 100 mil pes­soas. No Norte, eram 21 mortes por 100 mil, no Sud­este, 23; e no Sul, 24. “Só que a que­da [pro­je­ta­da] nas out­ras regiões foi muito mais acen­tu­a­da”. A Região Norte tem que­da pre­vista até 2030 para 19 óbitos por 100 mil habi­tantes; Sud­este e Sul, para 13 casos, cada, e Brasil, para 12. Ou seja, a que­da é mais acen­tu­a­da nas regiões mais ric­as do país, con­sta­tou o estu­do.

Políticas públicas

O câncer respon­deu, em 2019, por 232.040 óbitos no Brasil, em todas as idades. Na faixa de 30 a 69 anos, foram 121.264 mortes. “No ger­al, a gente tem vis­to uma leve que­da”, disse a pesquisado­ra. Entre 2011/2015, eram 145,8 casos por 100 mil entre home­ns e 118,3 casos por 100 mil entre mul­heres. Para 2026/2030, a pro­jeção é de 127,1 óbitos por 100 mil entre home­ns (que­da de 14,8%), e 113 casos entre mul­heres, por 100 mil (-4,7%). Isso foi obser­va­do em todas as regiões, exce­to no Norte, onde se pre­vê um ligeiro aumen­to (1,3% nos home­ns e 3,5% nas mul­heres). Mar­i­an­na reit­er­ou que, mes­mo com essa que­da, vai ter aumen­to de casos porque aca­ba acom­pan­han­do o envel­hec­i­men­to pop­u­la­cional.

O arti­go do Inca con­clui que há neces­si­dade de políti­cas públi­cas, espe­cial­mente para pre­venção do câncer, de maneira mul­ti­s­se­to­r­i­al. “Tem que ter um aces­so mais efi­caz a todas as fas­es de con­t­role do câncer: pre­venção, diag­nós­ti­co pre­coce, trata­men­to, para poder garan­tir que ten­ha uma diminuição”, desta­cou a pesquisado­ra.

Ela pon­der­ou, que tal como ocor­reu em relação ao câncer de pul­mão, os esforços têm que ser con­tín­u­os e de lon­go pra­zo, porque o câncer é uma doença que tem uma latên­cia lon­ga, ou seja, pre­cisa de anos de exposição para se desen­volver. Por isso, pre­cisa de políti­cas de pre­venção jun­to à pop­u­lação durante anos, para que pos­sa haver que­da nos números.

Para pre­venir o aparec­i­men­to de câncer, os espe­cial­is­tas recomen­dam não fumar, não beber, praticar ativi­dade físi­ca, evi­tar o seden­taris­mo, dar prefer­ên­cia a ali­men­tos não proces­sa­dos. As pes­soas devem sem­pre prestar atenção a sinais que o cor­po dá e não hes­i­tar em procu­rar atendi­men­to médi­co, recomen­dou a pesquisado­ra do Inca.

Edição: Juliana Andrade

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