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Morte de Mãe Bernadete mostra face perversa do país, diz Itamar Vieira

Repro­dução: © Fotos Divul­gação

Autor de Torto Arado está na programação da Fliparacatu


Pub­li­ca­do em 25/08/2023 — 07:13 Por Luiz Cláu­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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O assas­si­na­to da líder quilom­bo­la Bernadete Pací­fi­co, de 72 anos, em Simões Fil­ho (BA), na sem­ana pas­sa­da, apre­sen­ta a face per­ver­sa e hos­til do Brasil para com os cidadãos. A avali­ação é do escritor Ita­mar Vieira Junior, autor de Tor­to Ara­do, obra que se tornou fenô­meno pre­mi­a­do da lit­er­atu­ra brasileira ao retratar opressão e vio­lên­cia no cam­po. 

Vieira Junior é servi­dor licen­ci­a­do do Insti­tu­to Nacional de Col­o­niza­ção e Refor­ma Agrária (Incra) e, neste ano, lançou Sal­var o Fogo, obra que man­tém a temáti­ca rur­al. O escritor está na pro­gra­mação do Fes­ti­val LIterário de Para­catu (Fli­para­catu) e fará palestra nes­ta sex­ta (25), às 21h15, ao lado do escritor moçam­bi­cano Mia Couto, e no sába­do, às 18h30, com a auto­ra Paulliny Tort, na cidade mineira.

“Eu acho que o Brasil é um país muito hos­til ain­da para com suas lid­er­anças, suas difer­enças. É um país que não sabe viv­er com toda a diver­si­dade que todos nós temos. O que acon­te­ceu com a Bernadete é muito lamen­táv­el”, afir­mou o escritor em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Ele ressalta que a vio­lên­cia con­tra comu­nidades orig­inárias é recor­rente na história do Brasil. “Fal­tam políti­cas públi­cas, inves­ti­gação e respos­ta por parte das insti­tu­ições diante dess­es aten­ta­dos e assas­si­natos prat­i­ca­dos con­tra as lid­er­anças pop­u­lares”. Ele recor­da que a própria Mãe Bernadete teve o fil­ho assas­si­na­do há seis anos em episó­dio nun­ca esclare­ci­do. “A fal­ta de respostas lev­ou mais uma pes­soa impor­tante e que con­duzia a sua comu­nidade”.

“Arte é política”

Para­le­lo às dores da real­i­dade, Ita­mar Vieira Junior entende que a lit­er­atu­ra sem­pre vai ser um canal de reflexão de quem escreve. “Pro­duzir arte é faz­er políti­ca tam­bém. A lit­er­atu­ra é um canal de comu­ni­cação onde a gente está refletindo sobre o nos­so mun­do, sobre o nos­so tem­po, sobre nós mes­mos, sobre o out­ro”.

Para ele, a lit­er­atu­ra, além da expressão artís­ti­ca, fun­ciona tam­bém como teste­munho de um tem­po e de um lugar. Os teste­munhos dele diante do que viu na questão agrária ren­der­am obras que provo­cam reflexões sobre questões de vio­lên­cias soci­ais invis­i­bi­lizadas. “(A questão agrária) é um tema que eu gostaria de con­tin­uar refletindo. Acho que todos nós, quan­do se fala do cam­po, esta­mos falan­do de todos nós da humanidade, do dire­ito à ter­ra, ao ter­ritório, à casa, à rua, à fração de ter­ra onde se plan­ta”.

Ele garante que é um assun­to que ain­da não esgo­tou o que quer diz­er, o Brasil mais pro­fun­do. No fes­ti­val literário em Para­catu, ao lado de Mia Couto, na sex­ta à noite, no Cen­tro Pas­toral São Bened­i­to, ele falará de “palavras para desen­tor­tar os ara­dos”.

“As palavras têm poder, sin­te­ti­zam e sim­bolizam even­tos, situ­ações, sen­ti­men­tos que a gente às vezes nem con­segue nomear”.

Ele reflete que as palavras podem ser ali­adas para se lib­er­tar, mas tam­bém para nos sub­al­t­ernizar. Por isso, o autor defende que a pop­u­lação busque recon­hecer vários aspec­tos da nos­sa história, a fim de que a pop­u­lação seja mais acol­he­do­ra e menos vio­len­ta diante da “grande diver­si­dade” racial e cul­tur­al brasileira.

Um cam­in­ho, para o autor, é bus­car a democ­ra­ti­za­ção cul­tur­al e levar mais opções para as mais difer­entes regiões do Brasil, como Para­catu, onde foi mapea­do pelo Cen­so do IBGE ao menos nove comu­nidades quilom­bo­las. “É uma cidade históri­ca. Os fes­ti­vais literários têm uma força incrív­el de mobi­lizar as pes­soas e levar cul­tura. Não é só a Para­catu. Todas as cidades ao redor estão mobi­lizadas. Eu ten­ho via­ja­do e sem­pre saio com um sen­ti­men­to de mui­ta esper­ança. É uma garan­tia de que cada vez mais a gente vai democ­ra­ti­zar esse lugar da cul­tura. O dire­ito à cul­tura é um dire­ito humano”.

Ita­mar expli­ca que tem se entu­si­as­ma­do com a potên­cia cria­ti­va de escritores pop­u­lares de todas as regiões. O autor ficou feliz tam­bém pelos encon­tros que terá no even­to em Para­catu. “Eu acom­pan­ho o tra­bal­ho do Mia Couto. É um autor que me inspi­ra. Estarei cer­ca­do de grandes mestres, como ele e Con­ceição Evaris­to. Me aju­dam a pen­sar a lit­er­atu­ra”.

Edição: Aline Leal

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