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Mostra com filmes de mulheres árabes busca quebrar estereótipos

Repro­dução: © Cri­anças de/Mostra Cine Árabe/Divulgação

Exibições começam neste sábado no Rio de Janeiro


Publicado em 17/08/2024 — 12:06 Por Bruno de Freitas Moura — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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Usar filmes pro­duzi­dos por mul­heres para der­rubar a visão hegemôni­ca e estereoti­pa­da da pop­u­lação árabe, espe­cial­mente a fem­i­ni­na. Esse é o prin­ci­pal obje­ti­vo da 4ª edição da Mostra de Cin­e­ma Árabe Fem­i­ni­no, que começa neste sába­do (17) e vai até o dia 25 de agos­to, em qua­tro salas de exibições no Rio de Janeiro.

São 27 pro­duções cin­e­matográ­fi­cas, entre lon­ga e cur­ta metra­gens, doc­u­men­tários e nar­ra­ti­vas exper­i­men­tais. Todas as sessões são de graça.

As exibições ocor­rem no Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil (CCBB), no cen­tro do Rio de Janeiro, no Cine Arte da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF), em Niterói, na região met­ro­pol­i­tana do Rio, e em dois endereços de Duque de Cax­i­as, tam­bém no Grande Rio: a Fac­ul­dade de Edu­cação da Baix­a­da Flu­mi­nense, lig­a­da à Uni­ver­si­dade do Esta­do do Rio de Janeiro (UERJ) e no Gomeia Galpão Cria­ti­vo, espaço de resistên­cia cul­tur­al da Baix­a­da Flu­mi­nense.

Rio de Janeiro (RJ) 16/08/2024 - Mostra com filmes de mulheres árabes busca quebrar estereótipos.Foto: Fronteiras entre Sonhos e Medos/Mostra Cine Árabe/Divulgação
Repro­dução: Mostra com filmes de mul­heres árabes bus­ca que­brar estereóti­pos. Foto: Fron­teiras entre Son­hos e Medos/Mostra Cine Árabe/Divulgação

A curado­ria é das brasileiras Analu Bam­bir­ra e Car­ol Almei­da e da egíp­cia Alia Ayman. Segun­do a equipe, a mostra pro­por­ciona uma dis­cussão sobre questões políti­cas do mun­do árabe sob a per­spec­ti­va fem­i­ni­na. Todos os filmes são de mul­heres, este­jam elas viven­do em país­es árabes ou em diás­po­ra, ou seja, fora do país de origem.

No cenário em que a Faixa de Gaza viven­cia, há quase um ano, a ofen­si­va israe­lense em retal­i­ação ao ataque do grupo extrem­ista islâmi­co Hamas, em 7 de out­ubro de 2023, a temáti­ca palesti­na é um dos assun­tos prin­ci­pais em exibição.

Um dos filmes, Vibrações de Gaza, de Rehab Naz­zal, retra­ta a real­i­dade de Gaza sob a per­spec­ti­va de cri­anças sur­das. Out­ra obra, O seu pai nasceu há 100 anos assim como a Nak­ba, tra­ta de palesti­nos que são impe­di­dos de retornar a ter­ra natal e o fazem por meio de viagem vir­tu­al, pelo Google Maps. A dire­to­ra Razan AlSalah ques­tiona o apaga­men­to do pas­sa­do perce­bido pelo pas­seio via aplica­ti­vo.

Há pro­duções de out­ros país­es, como Iraque, Líbano, Egi­to, Sudão e Síria.

Segun­do a curado­ra Analu Bam­bir­ra, além de nova per­spec­ti­va da pop­u­lação palesti­na, a mostra ten­ta que­brar estereóti­pos que acom­pan­ham a visão oci­den­tal dos árabes, prin­ci­pal­mente das mul­heres.

“As asso­ci­ações do mun­do árabe a ter­ror­is­mo, vio­lên­cia, guer­ra, assim como a visão das mul­heres como sub­mis­sas e oprim­i­da”, lista Analu à Agên­cia Brasil.

Para a cocu­rado­ra, o fato de a mostra ser uma reunião de filmes pro­duzi­dos por mul­heres der­ru­ba um estereótipo. “Já que­bra, por si só, o estereótipo da mul­her sub­mis­sa. Elas estão à frente, crian­do arte, crian­do nar­ra­ti­vas, às vezes se arriscan­do em con­tex­tos difí­ceis — como guer­ras ou enfrenta­men­tos poli­ci­ais”, disse.

O filme Imped­i­men­to em Car­tum, de Mar­wa Zein, retra­ta um grupo de jovens mul­heres que resi­s­ti­ram a pressões da sociedade sudane­sa e insi­s­ti­ram no son­ho de jog­ar fute­bol.

Out­ra obra que tra­ta de pro­tag­o­nis­mo fem­i­ni­no é O Protesto silen­cioso: Jerusalém 1929, de Mahasen Nass­er-Eldin. A tra­ma relem­bra o dia 26 de out­ubro de 1929, quan­do 300 mul­heres palesti­nas se reuni­ram em Jerusalém – à época sob manda­to do Império Britâni­co — para ini­ciar um lev­ante.

Papel do cinema

Analu Bam­bir­ra acred­i­ta que o mes­mo cin­e­ma que aju­da a cri­ar inter­pre­tações erra­da e pré-con­ce­bi­da tem o poder de cor­ri­gir per­cepções.

“O cin­e­ma é capaz de pro­duzir nar­ra­ti­vas. Pro­duzir con­cepções e visões de mun­do. Há várias caixas que ten­tam colo­car o mun­do árabe, através do próprio cin­e­ma: a asso­ci­ação ao ter­ror­is­mo, à vio­lên­cia, à opressão de mul­heres. O cin­e­ma, o jor­nal­is­mo e toda a pro­dução de ima­gens é respon­sáv­el por reforçar isso”, afir­ma.

“Por­tan­to, o cin­e­ma tam­bém é capaz de der­rubar estes estereóti­pos, crian­do nar­ra­ti­vas, rep­re­sen­tações e per­spec­ti­vas”, com­ple­ta.

A equipe de curado­ria afir­ma que a mostra não tra­ta de ofer­e­cer uma rep­re­sen­tação úni­ca e ver­dadeira sobre o que é ser mul­her no mun­do árabe.

Rio de Janeiro (RJ) 16/08/2024 - Mostra com filmes de mulheres árabes busca quebrar estereótipos.Foto: Gaza Elétrica/Mostra Cine Árabe/Divulgação
Repro­dução:  Mostra com filmes de mul­heres árabes bus­ca que­brar estereóti­pos. Foto: Gaza Elétrica/Mostra Cine Árabe/Divulgação

Algu­mas exibições incluem sessões comen­tadas e mesas redondas. A sessão de aber­tu­ra, neste sába­do, no CCBB, é com o filme Adeus Tiberíades, lon­ga-metragem que con­ta a história de Hiam Abbas, atriz da pre­mi­a­da série Suc­ces­sion, que rep­re­sen­tou a Palesti­na na bus­ca de uma vaga ao Oscar em 2023. No dia seguinte, tam­bém no CCBB, haverá uma con­ver­sa com a dire­to­ra palesti­na Razan AlSalah.

Com base nas edições ante­ri­ores, a cocu­rado­ra Analu Bam­bir­ra desta­ca que o públi­co brasileiro bus­ca sim­i­lar­i­dades entre as situ­ações das mul­heres do país e de nações árabes.

“Temos acom­pan­hado, des­de a primeira edição, um inter­esse muito grande por ess­es filmes real­iza­dos por mul­heres árabes. O públi­co sem­pre traz con­si­go asso­ci­ações entre con­tex­tos do mun­do árabe com o Brasil, assim como real­i­dades e questões que nós com­par­til­hamos”, rela­ta.

Para ela, ele­men­tos de resistên­cia pre­sentes no cin­e­ma árabe tam­bém são encon­tra­dos em movi­men­tos do cin­e­ma brasileiro. “Como com­par­til­ham de uma per­spec­ti­va do que chamamos de Sul Glob­al — país­es que foram col­o­niza­dos -, vemos grande semel­hança”, disse.

“Pen­san­do no cin­e­ma indí­ge­na, vemos questões voltadas à própria noção de ter­ritório, pre­sença e afir­mação de uma existên­cia. Pen­san­do no cin­e­ma negro e cin­e­ma queer, vemos a forte fab­u­lação de real­i­dades, cri­ação de con­tex­tos e fortes críti­cas às estru­turas que man­têm o sis­tema colo­nial”, con­clui.

A 4ª edição da Mostra de Cin­e­ma Árabe Fem­i­ni­no é uma real­iza­ção do Min­istério da Cul­tura, Sec­re­taria de Esta­do de Cul­tura e Econo­mia Cria­ti­va do Rio de Janeiro, por meio da Lei Paulo Gus­ta­vo, de pro­moção e democ­ra­ti­za­ção da cul­tura, e do CCBB. A pro­gra­mação com­ple­ta pode ser con­sul­ta­da aqui, no site da mostra .

Edição: Aécio Ama­do

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