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Mostra reúne mais de mil obras para o Museu das Origens em SP

Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Ideia é inspirada em projeto do crítico de arte Mário Pedrosa


Pub­li­ca­do em 17/09/2023 — 10:01 Por Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Na madru­ga­da de 8 de jul­ho de 1978, um incên­dio atingiu o Museu de Arte Mod­er­na (MAM) do Rio de Janeiro e con­sum­iu quase a total­i­dade de seu acer­vo. Mais de 580 obras, prin­ci­pal­mente de pin­turas, desa­pare­ce­r­am com as chamas. Além dis­so, toda a sua bib­liote­ca foi per­di­da.

Foi refletindo sobre esse incên­dio e o risco para out­ras insti­tu­ições cul­tur­ais brasileiras que o pesquisador, ativista, jor­nal­ista e críti­co de arte Mário Pedrosa surgiu com uma pro­pos­ta inusi­ta­da para a época: cri­ar o Museu das Ori­gens. Sua ideia era reunir cin­co museus que, mes­mo orga­ni­za­dos de for­ma inde­pen­dente, fun­cionar­i­am de maneira orgâni­ca e artic­u­la­da.

São Paulo SP 15/09/2023 Exposição no Itaú Cultural, “Ensaios para o Museu das Origens” faz um mergulho na proposta de Mario Pedrosa. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: “Ensaios para o Museu das Ori­gens. Foto: — Paulo Pinto/Agência Brasil

“Em face da destru­ição total pelo incên­dio do MAM, é imper­a­ti­vo que se tire uma con­clusão lóg­i­ca da catástrofe: o MAM acabou. A situ­ação mudou. Os tem­pos são out­ros, ou mes­mo a ide­olo­gia que inspirou os que o fiz­er­am mais de vinte anos atrás, mudou. Daí a neces­si­dade de chamar out­ras forças e o Esta­do para cri­ar out­ro esta­b­elec­i­men­to con­gênere, com out­ras final­i­dades”, escreveu Pedrosa em arti­go pub­li­ca­do na revista Arte Hoje, em 1978.

São Paulo SP 15/09/2023 Exposição no Itaú Cultural, “Ensaios para o Museu das Origens” faz um mergulho na proposta de Mario Pedrosa. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: Mostra faz um mer­gul­ho na pro­pos­ta de Mario Pedrosa. Foto — Paulo Pinto/Agência Brasil

A pro­pos­ta de Pedrosa reuniria o Museu de Arte Mod­er­na, o Museu de Arte Virgem (for­ma­do a par­tir do Museu de Ima­gens do Incon­sciente), o Museu do Índio, o Museu do Negro e o Museu de Artes Pop­u­lares. Mas sua pro­pos­ta jamais se con­cretizou.

Inspi­ra­dos na ideia, o Itaú Cul­tur­al e o Insti­tu­to Tomie Ohtake, duas insti­tu­ições cul­tur­ais local­izadas na cap­i­tal paulista, se uni­ram para cri­ar uma exposição con­jun­ta, que foi chama­da de Ensaios para o Museu das Ori­gens. A mostra está em car­taz em cin­co salas das duas insti­tu­ições [três delas no Itaú Cul­tur­al e duas no Tomie Ohtake] e reúne mais de mil itens, entre pin­turas, escul­turas, doc­u­men­tos, fotografias e vídeos, entre out­ros.

“Quan­do o MAM pegou fogo, Pedrosa olhou para isso como uma pos­si­bil­i­dade de inte­grar as artes que ele esta­va pesquisan­do. A exposição Ensaios para o Museu das Ori­gens traz cin­co eixos, que são inspi­radas nas pro­postas de eixos que o Mário Pedrosa fez”, expli­cou Juliano Fer­reira, coor­de­nador de artes visuais do Itaú Cul­tur­al, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Mário Pedrosa tin­ha recém-retor­na­do do exílio ao Brasil quan­do o MAM foi con­sum­i­do pelas chamas. “Quan­do ele voltou [do exílio] em 1978, o MAM do Rio de Janeiro pegou fogo. O incên­dio havia sido cau­sa­do por uma chama elétri­ca e grande parte do acer­vo do museu foi per­di­da. A par­tir daí, o jor­nal­ista e muitos out­ros críti­cos do momen­to se reuni­ram para pen­sar o que dev­e­ria ser feito com aque­le museu e sob quais bases um museu que foi destruí­do pode­ria ser recon­struí­do. E aí Pedrosa fez essa pro­pos­ta de recon­strução do MAM a par­tir de cin­co museus”, disse Ana Roman, curado­ra adjun­ta da exposição.

“Dois deles já exis­ti­am, como o Museu do Índio e o Museu do Incon­sciente, e os demais seri­am for­ma­dos. Ess­es cin­co museus orbitari­am em torno de um cen­tro de ativi­dades comuns. Eles teri­am seus próprios curadores, suas próprias estru­turas insti­tu­cionais mas, de algu­ma for­ma, tudo estaria em diál­o­go con­stante. A é uma pro­pos­ta muito inter­es­sante de se pen­sar o museu e muito inter­dis­ci­pli­nar e con­tem­porânea”, acres­cen­tou a curado­ra.

Integração

A exposição ago­ra em car­taz é resul­ta­do de uma exten­sa pesquisa e tem curado­ria ger­al de Izabela Pucu e Paulo Miya­da, curado­ria adjun­ta de Ana Roman e par­tic­i­pação dos curadores con­vi­da­dos Daiara Tukano e Thi­a­go de Paula Souza. Emb­o­ra ocupe dois espaços expos­i­tivos, ela é uma só, poden­do ser vis­i­ta­da em qual­quer ordem. Seu obje­ti­vo é faz­er um per­cur­so pela história do Brasil, toman­do a arte e a cul­tura como alicerces e pas­san­do pela memória de múlti­plas ances­tral­i­dades.

São Paulo SP 15/09/2023 Exposição no Itaú Cultural, “Ensaios para o Museu das Origens” faz um mergulho na proposta de Mario Pedrosa. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: “Tudo se mis­tu­ra e se inte­gra”, diz curado­ra — Paulo Pinto/Agência Brasil

Para a mostra, não hou­ve divisões por temas ou por museus. Tudo se mis­tu­ra e tudo se inte­gra. “O Mário tin­ha essa pro­pos­ta de bor­rar essas fron­teiras das artes, de traz­er as grandes artes para o mes­mo nív­el, sem divisão do que era pop­u­lar ou eru­di­to. Mais do que uma pro­pos­ta, ele quis nos faz­er pen­sar quais são os lim­ites, o que é arte, o que é essa pro­dução”, disse Fer­reira.

Soman­do os espaços expos­i­tivos, a exibição se estende por 1,5 mil met­ros, com obras de artis­tas, cole­tivos e mais de 20 insti­tu­ições cul­tur­ais e museus ded­i­cadas à preser­vação e difusão da memória brasileira.

“Revisi­ta­mos essa história do Mário Pedrosa, temos como um pon­to de par­ti­da para olhar­mos para as insti­tu­ições e gestos que temos na atu­al­i­dade para con­tar um pouco dessas histórias. Elas são insti­tu­ições que, ape­sar do desca­so das políti­cas públi­cas e das difi­cul­dades muitas vezes encon­tradas, resistem, sobre­vivem, trazem e con­tam parte da história do Brasil e de nós brasileiros”,  disse a curado­ra adjun­ta Ana Roman.

“Temos ess­es cin­co museus como pon­to de par­ti­da, mas eles vão se des­do­bran­do em out­ras coisas. Por exem­p­lo, a gente olha para essa plu­ral­i­dade dos museus trazi­das pelo Pedrosa, mas a gente sen­tia fal­ta de falar de um mun­do da natureza. Então, para essa exposição, troux­e­mos tam­bém insti­tu­ições como a Ser­ra da Capi­vara, o Museu Goel­di [Museu Paraense Emílio Goel­di, em Belém] e o Museu do Mara­jó.”

São Paulo SP 15/09/2023 Exposição no Itaú Cultural, “Ensaios para o Museu das Origens” faz um mergulho na proposta de Mario Pedrosa. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: Par­tic­i­pam da mostra artis­tas, cole­tivos e mais de 20 insti­tu­ições cul­tur­ais e museus Foto Paulo Pinto/Agência Brasil — Paulo Pinto/Agência Brasil

O públi­co que for vis­i­tar a exposição vai se deparar com estru­tu­ra comum para cada uma das salas. No cen­tro delas há uma roda ou uma antes­sala, onde são apre­sen­tadas as histórias insti­tu­cionais. Cada sala tam­bém apre­sen­ta obras de um artista con­vi­da­do, que dialogam com o que está sendo apre­sen­ta­do. “Lev­a­mos artis­tas para as insti­tu­ições e para os espaços insti­tu­cionais e os artis­tas troux­er­am tra­bal­hos que dialo­gassem com aque­les espaços”, disse a curado­ra.

Out­ro destaque é a insta­lação de uma mesa doc­u­men­tal, com pas­tas e doc­u­men­tos com­ple­mentares para con­sul­tas.

Memórias e resistência

A mostra Ensaios sobre o Museu das Ori­gens pode faz­er o públi­co refle­tir sobre a importân­cia da memória, dos lega­dos e insti­tu­cional­iza­ção cul­tur­al, disse o coor­de­nador de artes visuais do Itaú Cul­tur­al. “Mais do que do apaga­men­to, a mostra fala sobre a questão do acer­vo e a importân­cia da insti­tu­cional­iza­ção da arte e dess­es acer­vos que resistem, ape­sar do Brasil.”

“A exposição é quase um chama­men­to para a gente olhar para essas insti­tu­ições, para esse lega­do e esse acer­vo e olhar tam­bém para a importân­cia dessa memória. Ela tra­ta sobre resistên­cia e sobre essa questão da preser­vação do acer­vo, com a pre­cariedade e o desafio que são pos­tos a ess­es museus”, acres­cen­tou.

São Paulo SP 15/09/2023 Exposição no Itaú Cultural, “Ensaios para o Museu das Origens” faz um mergulho na proposta de Mario Pedrosa. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: “Esta­mos diante de insti­tu­ições que, ape­sar das difi­cul­dades, resistem e con­stituem lugares de memória”, diz Ana Roman. Foto: — Paulo Pinto/Agência Brasil

Segun­do a resistên­cia insti­tu­cional, reforçou Ana, é uma das bases da mostra. “A exposição traz casos que falam sobre uma resistên­cia insti­tu­cional. Não só do MAM, que se recon­stru­iu e se recon­sti­tu­iu, mas o museu é um exem­p­lo inter­es­sante. Con­tin­ua mudan­do e se trans­for­man­do. Aqui, nes­sa exposição, esta­mos diante de insti­tu­ições que, ape­sar das difi­cul­dades e dos proces­sos — e ape­sar do Brasil — resistem e con­stituem lugares de memória”, ressaltou. “A exposição é sobre esse atu­alizar, sobre insti­tu­ições que se dobram em si mes­ma e viram out­ra coisa. A atu­al­i­dade da exposição está muito nesse lugar.”

Para Ana, a mostra apre­sen­ta um olhar de esper­ança sobre o que vem sendo preser­va­do e pro­duzi­do no país. “É uma exposição que traz um pouco desse lugar de esper­ança e de olhar para o que tem sido feito. Muitas vezes a gente esquece que as coisas acon­te­cem e estão acon­te­cen­do ago­ra. E isso ocorre a par­tir de uma resistên­cia pop­u­lar, de movi­men­tos soci­ais não insti­tu­cional­iza­dos, mas que estão colo­can­do práti­cas insti­tu­intes con­stan­te­mente e toman­do frente dess­es proces­sos de ressig­nifi­cação e de pen­sar sobre sua própria memória”, desta­cou.

A exposição Ensaios para o Museu das Ori­gens é gra­tui­ta e acon­tece até o dia 28 de janeiro de 2024. A curado­ria das duas insti­tu­ições tam­bém pen­sa em pro­mover rodas de con­ver­sa, vis­i­tas vir­tu­ais, o lança­men­to de um catál­o­go e out­ras ativi­dades para além da exposição. Mais infor­mações podem ser obti­das nos sites do Itaú Cul­tur­al e do Insti­tu­to Tomie Ohtake.

Edição: Maria Clau­dia

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