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Mulheres ainda são minoria em cargos de liderança e na ciência

Exposição em homenagem a Maryam Mirzakhani (1977-2017), única mulher a ganhar a Medalha Fields, maior honraria da Matemática, durante o Encontro Mundial para Mulheres em Matemática (WM)², no Riocentro.
© Tânia Rêgo/Agência Brasil (Repro­dução)

Em todo o mundo, menos de 30% dos pesquisadores são mulheres


Pub­li­ca­do em 08/03/2021 — 06:20 Por Ana Gra­ziela Aguiar – Repórter da Agên­cia Brasil — Repórter da TV Brasil

Ape­sar da luta históri­ca das mul­heres por igual­dade, a pre­sença fem­i­ni­na em pos­tos de lid­er­ança e em áreas de destaque, como a ciên­cia e a políti­ca, ain­da é menor que a mas­culi­na.

De acor­do com o Insti­tu­to de Pesquisa Econômi­ca Apli­ca­da (Ipea), atual­mente, elas são cer­ca de 54% dos estu­dantes de doutora­do do Brasil. Mas tan­to aqui como no resto do mun­do, essa par­tic­i­pação varia de acor­do com a área do con­hec­i­men­to. Nas ciên­cias da saúde, por exem­p­lo, as mul­heres são maio­r­ia (mais de 60%), mas nas ciên­cias da com­putação, engen­haria, tec­nolo­gia e matemáti­ca elas rep­re­sen­tam menos de 25%, de acor­do com a Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU).

Glob­al­mente, ain­da de acor­do com a ONU, menos de 30% dos pesquisadores e cien­tis­tas são mul­heres.

Para a der­ma­tol­o­gista Valéria Petri, primeira médi­ca a detec­tar o HIV no Brasil, em 1982, as mul­heres são sinôn­i­mo de cor­agem e força. Elas não cos­tu­mam desi­s­tir, não recusam desafios e estão sem­pre dis­postas a mostrar seu val­or.

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Para a der­ma­tol­o­gista Valéria Petri, primeira médi­ca a detec­tar o HIV no Brasil, em 1982, as mul­heres são sinôn­i­mo de cor­agem e força- Divulgação/UNIFESP (Repro­dução)

“Tem o 8 de março que faz as pes­soas diz­erem assim: ah eu adoro as mul­heres. É? Não diga. Tem o 8 de março que apare­cem as mul­heres que tem a cor­agem que eu nun­ca tive. Vou te diz­er que cor­agem elas têm. Elas acor­dam às 4h da man­hã, pegam um trans­porte, dois trans­portes, ou três e chegam no tra­bal­ho. Seja o que for que ela for faz­er, ela está gostan­do do que ela faz, ela capricha. Ela se diverte, ela se sente bem e ela mostra o que ela é mes­mo. Uma pes­soa que con­tribui com a humanidade. É isso que é a mul­her”, afir­ma a médi­ca.

Valéria relem­bra que, no surg­i­men­to dos primeiros casos de HIV no Brasil, a sín­drome foi trata­da, a princí­pio, com pre­con­ceito, prin­ci­pal­mente entre alguns médi­cos home­ns. “Eu não recu­so, nem as mul­heres recusaram. As mul­heres não recusaram. Ago­ra, os home­ns da época ficaram até bravos comi­go quan­do eu man­da­va pacientes para serem exam­i­na­dos em out­ras áreas. Alguns diziam: você não me man­da estes pacientes porque eu não quero. Por que? Porque para os home­ns é mais difí­cil lidar com a trans­gressão”, afir­ma.

Mes­mo atuan­do em ambu­latórios, Valéria con­ta que sem­pre se inter­es­sou pela pesquisa cien­tí­fi­ca e pela pub­li­cação de seus estu­dos em livros e revis­tas da área de saúde.

“Pesquisa é o que a gente faz o tem­po todo. Quan­do você exam­i­na um paciente, você pre­cisa saber tudo a respeito daque­le caso, você vai procu­rar. Enquan­to eu não resolvesse, eu não sossega­va. Depois você se entu­si­as­ma para pub­licar os casos porque é parte do dev­er acadêmi­co. Você par­tic­i­pa das reuniões cien­tí­fi­cas, você se rela­ciona com as pes­soas no nív­el nacional e inter­na­cional. Eu fui fazen­do isso como um proces­so nat­ur­al mes­mo, e eu pre­cisa­va vencer. Porque eu não ia desi­s­tir no cam­in­ho”, con­ta.

Depois da descober­ta na déca­da de 80, a médi­ca gan­hou prestí­gio inter­na­cional, pub­li­cou vários livros e chegou a ocu­par o car­go de vice-reito­ra da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de São Paulo (Unife­sp), insti­tu­ição da qual ela é pro­fes­so­ra tit­u­lar des­de 1996.

Mulheres no esporte

A pre­sença de mul­heres em roti­nas pesadas de treinos e com­petições é um fenô­meno recente. Ao lon­go da história, o mito da frag­ili­dade fem­i­ni­na ficou para trás e elas pas­saram a con­quis­tar destaques, medal­has e pódios, tan­to no nív­el do esporte amador quan­to profis­sion­al.

É o caso da ex-ginas­ta Laís Sousa, que ficou inter­na­cional­mente con­heci­da com suas acroba­cias e saltos ao faz­er parte da equipe de ginás­ti­ca artís­ti­ca brasileira.

Rio de Janeiro - A ex-ginasta Laís Souza durante a divulgação do uniforme e de seu nome como participante do revezamento da tocha olímpica no Comitê Rio 2016, na Cidade Nova, centro do Rio.
A ex-ginas­ta Laís Souza min­is­tra palestras e fala de suas exper­iên­cias no esporte e fora dele — Tomaz Silva/Arquivo Agên­cia Brasil (Repro­dução)

O esporte chegou para a paulista de Ribeirão Pre­to de for­ma ines­per­a­da, quan­do ela tin­ha 4 anos. “Eu fui faz­er uma visi­ta onde o meu irmão fazia judô e, bem do lado, tin­ha um giná­sio de ginás­ti­ca e eu acabei me apaixo­nan­do e as meni­nas lá pulan­do, fazen­do mor­tais, fazen­do core­ografia e eu me empolguei. Achei legal, me pas­sou uma sen­sação de liber­dade. Foi assim que a ginás­ti­ca surgiu na min­ha vida.”

Aos 15 anos ela rep­re­sen­ta­va o Brasil em sua primeira Olimpía­da, em Ate­nas, na Gré­cia. Depois dis­so veio out­ra par­tic­i­pação, em Pequim, na Chi­na, em 2008. Em 2014, Laís sofreu um aci­dente quan­do se prepar­a­va para as Olimpíadas de Inver­no de Sochi, na Rús­sia, onde com­pe­tiria no esqui. A ex-ginas­ta ficou tetraplég­i­ca.

A nova condição mudou total­mente a vida de Laís. “A sen­sação que eu ten­ho é que eu vivia den­tro de uma casquin­ha de ovo, fei­ta para faz­er aque­le tipo de repetição den­tro do giná­sio, de cor­rer atrás de um cor­po per­feito, de séries, core­ografias per­feitas e, de repente, eu me vejo sem os movi­men­tos, voltan­do para um bair­ro total­mente pobre na cidade onde eu nasci”, con­ta.

Hoje, ela min­is­tra palestras e fala de suas exper­iên­cias — tan­to no esporte como fora dele — a um públi­co diver­si­fi­ca­do. Para Laís, ser mul­her é lidar com desafios diários e vencer obstácu­los sem se calar.

“A gente está con­qui­s­tan­do [espaço] pouco a pouco. Tem bas­tante pra comem­o­rar, mas ain­da têm mul­heres que, com essa pan­demia, estão apan­han­do em casa. Cada min­u­to que pas­sa tem uma mul­her que está sofren­do algum tipo de maus tratos. Então, acho que a gente não pode relaxar em nen­hum momen­to”, afir­ma.

Edição: Lílian Beral­do

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