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Mulheres contam como é viver com doença que provoca queda de cabelo

Repro­dução: © Arqui­vo pes­soal

Setembro tornou-se o mês da conscientização da alopecia areata


Pub­li­ca­do em 30/09/2023 — 09:12 Por Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil  — Brasília

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“Hoje, não ter pelo, pra mim, é uma escol­ha”. A frase é da edu­cado­ra social e artista Lídia Rodrigues, 36 anos, que exibe sem medo a cabeça sem os fios de cabe­lo. Mas nem sem­pre foi assim. Entre 2010 e 2011, ela rece­beu o diag­nós­ti­co de alope­cia area­ta, uma doença autoimune que provo­ca a que­da de pelos — não ape­nas no couro cabe­lu­do como, em alguns casos, em todo o cor­po, incluin­do sobrancel­has e cílios.

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lídia Rodrigues. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução:  Lídia Rodrigues. Foto: Arqui­vo pes­soal

Na época, Lídia vivia um rela­ciona­men­to abu­si­vo e ain­da não havia rece­bido um segun­do diag­nós­ti­co, que tam­bém teria grande impacto em sua vida: o de transtorno do espec­tro autista. Ela somente perce­beu os efeitos de todo o estresse no cor­po quan­do os fios começaram a cair.

“Lem­bro que começou a cair um pouquin­ho de cabe­lo, uma fal­ha que pare­cia uma moe­da de R$ 1. Foi quan­do eu soube que era alope­cia area­ta. No começo, ten­tei cuidar bas­tante, fiz o proces­so de retoma­da dos pelos e fui desco­brindo algu­mas coisas. É uma doença autoimune agrava­da pelo estresse. Então, se eu não aniquilasse os ele­men­tos de estresse que, na época, eu nem con­seguia enten­der bem quais eram, os fios iam con­tin­uar cain­do”, con­ta.

O trata­men­to, à base de cor­ti­coide, deixou Lídia incha­da e ela resolver ras­par por com­ple­to a cabeça. “Hoje em dia, eu meio que sou uma mul­her care­ca. Os cabe­los vêm, mas eu con­tin­uo tiran­do. Incor­por­ei min­ha iden­ti­dade.”

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lolla Angelucci. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Lol­la Angeluc­ci: que­da se tornou acen­tu­a­da aos 18 anos. Foto:  Arqui­vo pes­soal

A ilustrado­ra Lol­la Angeluc­ci, 43 anos, sem­pre con­viveu com a que­da de cabe­lo — des­de a infân­cia. Durante muito tem­po, achou que con­seguia escon­der as fal­has no couro cabe­lu­do, mas, quan­do com­ple­tou 18 anos, a que­da dos fios se tornou mais acen­tu­a­da.

“Aos pran­tos, enten­di que já quase não tin­ha mais cabe­lo”, con­ta. “Min­ha mãe pas­sou a vida inteira procu­ran­do o mel­hor espe­cial­ista e o mel­hor trata­men­to. Nen­hum foi fácil, nem bara­to, nem efi­caz. Quan­do esta­va em casa, aos pran­tos, porque não dava mais pra escon­der a alope­cia, ela encon­trou a mel­hor loja de peru­ca — e tam­bém a mais cara. Min­ha primeira peru­ca era muito descon­fortáv­el e cus­tou três salários mín­i­mos”.

“Essa primeira peru­ca era tão descon­fortáv­el que o pas­so seguinte, de parar de usar peru­ca, foi rel­a­ti­va­mente fácil. Acho que o fato de eu ter enten­di­do des­de o começo que a min­ha peru­ca não engana­va ninguém tam­bém facil­i­tou muito”, lem­bra. “ Eu me gosta­va care­ca. Olha­va no espel­ho e me acha­va boni­ta. O resto do mun­do não acha­va, mas, como eu acha­va, esta­va bem. Não foi fácil. Meus pro­fes­sores de fac­ul­dade vin­ham per­gun­tar por que eu não esta­va mais usan­do peru­ca. Uma mul­her fora do padrão que se sente con­fortáv­el na própria pele causa estran­hamen­to. E as pes­soas eram meio agres­si­vas. Como se eu tivesse obri­gação de alter­ar a min­ha aparên­cia para o que fos­se agradáv­el para o out­ro, não pra mim.”

Diagnóstico tardio

No caso da influ­encer Yas­min Torqua­to, 28 anos, o diag­nós­ti­co tar­dio de alope­cia area­ta des­en­cadeou um quadro depres­si­vo que ter­mi­nou por agravar ain­da mais a que­da de cabe­lo. Aos 23 anos, ela perce­beu uma fal­ha no couro cabe­lu­do do taman­ho de um fun­do de copo na altura da nuca.

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Yasmin Torquato. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Yas­min Torqua­to. Foto: Arqui­vo Pes­soal — Arqui­vo pes­soal

“Eu assustei bas­tante. Não sabia o que esta­va acon­te­cen­do comi­go. O quadro emo­cional foi afe­ta­do demais e eu entrei em depressão. Demor­ou seis meses pra ter um diag­nós­ti­co. Seis meses de mui­ta luta, indo a vários médi­cos. Infe­liz­mente, há muito despreparo. Doença autoimune, de cer­ta for­ma, ain­da é doença nova. Nem todos con­hecem”.

“Foi um choque pra mim, mas, ao saber do diag­nós­ti­co, fiquei um pouco mais tran­quila, pelo menos por saber que não era uma doença con­ta­giosa ou uma doença ter­mi­nal. Ess­es são os maiores medos que a gente sente ao saber que está doente”, con­ta. “Con­tra todas as von­tades, eu mes­ma criei cor­agem e resolvi ras­par. Raspei, con­segui ficar care­quin­ha, come­cei a falar sobre a doença, aju­dar out­ras pes­soas. No final do ano pas­sa­do, meu cabe­lo começou a nascer soz­in­ho, o que me deu mui­ta esper­ança. Começou a crescer bem os fios mas, depois de sete meses, tive uma crise de sinusite, tomei medica­men­tos fortes e o quadro evoluiu pra alope­cia uni­ver­sal, quan­do caíram os cílios, as sobrancel­has e o pelo do cor­po todo.”

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lolla Angelucci. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução:  Lol­la Angeluc­ci. Foto: Arqui­vo Pes­soal — Arqui­vo pes­soal

“Foi como se tivesse per­di­do meu cabe­lo pela primeira vez de novo. Me vi nova­mente bem abal­a­da, mas, como já esta­va mais for­t­ale­ci­da, pas­sei um mês mais amuad­in­ha e já estou bem mel­hor e lidan­do super bem. Mes­mo na fase mais críti­ca da doença, não parei de tra­bal­har. É o que me dá força.”

Entenda

No mês de con­sci­en­ti­za­ção sobre a alope­cia area­ta, a der­ma­tol­o­gista e tri­col­o­gista Patri­cia Dam­as­co aler­ta para os prin­ci­pais sinais da doença e para a importân­cia do diag­nós­ti­co pre­coce. “É como se o organ­is­mo ata­casse o próprio folícu­lo, mas de uma for­ma que não destrói aque­le folícu­lo e, com isso, tem chance de voltar a ter pelo naque­le local”, expli­ca.

“Pode ser bas­tante incô­mo­do porque, na maior parte das vezes, as pes­soas ficam com uma pla­ca peque­na sem cabe­lo e o trata­men­to é com injeção local de medica­men­to. Há alguns casos em que a pes­soa perde o pelo do cor­po todo, inclu­sive cílios, sobrancel­has. São quadros bas­tante desafi­adores pros pacientes”.

“Por um proces­so autoimune, o anti­cor­po ata­ca o folícu­lo, fazen­do com que mes­mo os fios em fase de cresci­men­to se despren­dam e caiam. É bem car­ac­terís­ti­co áreas arredondadas, sem pelo nen­hum. O paciente fica bem angus­ti­a­do porque, muitas vezes, ele tem medo que aque­le cabe­lo não volte a crescer naque­le local. O inter­es­sante é que, mes­mo haven­do um proces­so infla­matório, ele não atinge a célu­la tron­co do folícu­lo. Por isso, sem­pre há chance de retornar aque­le fio ao local. Tem relação com estresse muito grande. A gente vê tam­bém relação com a descom­pen­sação de prob­le­mas de tireoide, ane­mia. Isso tudo pode faz­er com que aque­la pes­soa que já tem pré-dis­posição genéti­ca man­i­feste a doença.”

“Muitas vezes, o paciente nem sabe que tem a doença. Na maior parte das vezes, ele não sente que o cabe­lo caiu naque­la plaquin­ha. Quem nota é o cabel­ereiro ou alguém que este­ja manuse­an­do o cabe­lo da pes­soa. É impor­tante o trata­men­to especí­fi­co porque a gente con­segue con­tro­lar aque­la ativi­dade evi­tan­do que a per­da de cabe­lo seja exces­si­va. É inter­es­sante, assim que notar que há uma área de fal­ha, procu­rar um der­ma­tol­o­gista porque pode aumen­tar muito e a gente con­segue, com o trata­men­to, frear um pouco.”

Edição: Maria Clau­dia

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