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Municipal do Rio homenageia Francisco Mignone em seus 35 anos de morte

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© Acer­vo CEDOC/TMRJ (Repro­du­ção)

Compositor teve importante trajetória artística o Theatro Municipal


Publi­ca­do em 27/02/2021 — 07:55 Por Ala­na Gan­dra — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

O The­a­tro Muni­ci­pal do Rio de Janei­ro (TMRJ) lan­çou esta sema­na em seu site a expo­si­ção vir­tu­al em for­ma­to de e‑book Fran­cis­co Mig­no­ne – A músi­ca como luz da exis­tên­cia, em home­na­gem a um dos mais geni­ais com­po­si­to­res bra­si­lei­ros, cuja mor­te com­ple­tou 35 anos, no últi­mo dia 19. Com mais de mil com­po­si­ções, entre ópe­ras, bai­la­dos, músi­cas ins­tru­men­tais e tri­lhas para fil­mes, o regen­te nas­ci­do em São Pau­lo, filho de imi­gran­tes ita­li­a­nos, teve impor­tan­te tra­je­tó­ria artís­ti­ca no The­a­tro Muni­ci­pal do Rio.

A che­fe do Cen­tro de Docu­men­ta­ção (Cedoc) do tea­tro, Fáti­ma Cris­ti­na Gon­çal­ves, mes­tre em his­tó­ria pela Uni­ver­si­da­de Fede­ral Flu­mi­nen­se (UFF), dis­se à Agên­cia Bra­sil que ao pes­qui­sar sobre Mig­no­ne, des­co­briu uma série de coi­sas inte­res­san­tes. “O Mig­no­ne teve um papel mui­to atu­an­te no Muni­ci­pal por­que, por vári­as vezes, foi mem­bro da Comis­são Artís­ti­ca que era res­pon­sá­vel pela pro­gra­ma­ção do tea­tro. E mui­tas das obras dele foram lan­ça­das em edi­ção mun­di­al no Muni­ci­pal”, dis­se Fáti­ma. “A rela­ção dele com o TMRJ era mui­to estrei­ta, espe­ci­al. Isso nos moti­vou a ir um pou­co mais fun­do na obra dele e fize­mos algu­mas des­co­ber­tas”.

Africanidade

A che­fe do Cedoc des­co­briu, por exem­plo, que na Itá­lia o com­po­si­tor escre­veu sua pri­mei­ra ópe­ra O con­tra­ta­dor de dia­man­tes, que con­ta a his­tó­ria de ex-escra­va Chi­ca da Sil­va e do con­tra­ta­dor João Fer­nan­des de Oli­vei­ra, no Arrai­al do Tiju­co, em Minas Gerais. A estreia da ópe­ra ocor­reu em 20 de setem­bro de 1924 no TMRJ. Essa ópe­ra tem uma par­te que é um bai­la­do de escra­vos negros em fren­te ao adro da igre­ja. “É uma par­te fas­ci­nan­te da ópe­ra, por­que é um bai­la­do afro”, comen­tou Fáti­ma. Maria Ole­newa fez a core­o­gra­fia do bai­la­do no TMRJ, mas fal­ta­va quem dan­ças­se.

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Pro­gra­ma de O Con­tra­ta­dor de Dia­man­tes. TM, 20 set. 1924 — Acer­vo CEDOC/TMRJ (Repro­du­ção)

Fran­cis­co Mig­no­ne recor­reu então à Tia Cia­ta, mãe de san­to bra­si­lei­ra, con­si­de­ra­da por mui­tos uma das figu­ras mais influ­en­tes para o sur­gi­men­to do sam­ba cari­o­ca, que pediu aju­da ao com­po­si­tor e músi­co Don­ga. Este arran­jou umas pas­sis­tas que dan­ça­ram no pal­co do Muni­ci­pal. “Isso foi rece­bi­do pelo públi­co de uma manei­ra fan­tás­ti­ca. Por­que, pela pri­mei­ra vez, tem um bai­la­do afro na ópe­ra de um com­po­si­tor que esta­va ain­da des­co­nhe­ci­do. Mas aqui­lo se tor­na uma gran­de exe­cu­ção no pal­co do Muni­ci­pal”. Em 1956, o mes­mo bai­la­do foi rea­pre­sen­ta­do naque­le pal­co com core­o­gra­fia de Mer­ce­des Bap­tis­ta, pri­mei­ra bai­la­ri­na clás­si­ca negra do TMRJ, dan­ça­do pelo Bal­let Fol­cló­ri­co Mer­ce­des Bap­tis­ta, cri­a­do por ela.

Diversidade

Ao mes­mo tem­po, a obra de Mig­no­ne come­ça a ser vis­ta pelos gran­des mes­tres da músi­ca da épo­ca. Em 1923, Richard Strauss, quan­do veio ao Bra­sil pela segun­da vez e apre­sen­tou a Orques­tra Filarmô­ni­ca de Vie­na, fez ques­tão de só tocar Mig­no­ne. Da mes­ma for­ma, Artu­ro Tos­ca­ni­ni, quan­do se apre­sen­tou no Muni­ci­pal do Rio, em 1940, tocou Con­ga­da, de Mig­no­ne, com a Orques­tra de Nova Ior­que, da qual era regen­te. “Foi um gran­de júbi­lo para a car­rei­ra de Mig­no­ne”, dis­se Fáti­ma.

A che­fe do Cedoc do TMRJ infor­mou que a músi­ca de Fran­cis­co Mig­no­ne tem a carac­te­rís­ti­ca de afri­ca­ni­da­de. Os rit­mos afri­ca­nos estão pre­sen­tes em sua obra. “Mig­no­ne tem esse gran­de méri­to de difun­dir essa músi­ca que é nos­sa, a nos­sa diver­si­da­de cul­tu­ral”. As com­po­si­ções de Mig­no­ne refle­tem os rit­mos da diver­si­da­de bra­si­lei­ra, como em Mara­ca­tu de Chi­co-Rei (bai­la­do con­si­de­ra­do a sua obra-pri­ma), O Espan­ta­lho, Lei­lão, Qua­dros Amazô­ni­cos, Hino à Bele­za, Iara, Quin­cas Ber­ro D ´Água e das his­tó­ri­as musi­ca­das do coti­di­a­no do país, como é o caso das ópe­ras O Con­tra­ta­dor de Dia­man­tesO Cha­la­ça e O Sar­gen­to de Milí­ci­as.

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Ensaio do elen­co de O Sar­gen­to de Milí­ci­as, com os maes­tros Tava­res e Cel­la­rio, à dir., Gian­ni Rat­to, à esq., e Mig­no­ne, em pé, à direi­ta. TMRJ, 1978. — Acer­vo CEDOC/TMRJ (Repro­du­ção)

Foi tam­bém pro­fes­sor do Con­ser­va­tó­rio Dra­má­ti­co de São Pau­lo e do Ins­ti­tu­to Naci­o­nal de Músi­ca, atu­al Esco­la de Músi­ca da Uni­ver­si­da­de Fede­ral do Rio de Janei­ro (UFRJ). Mig­no­ne estu­dou músi­ca des­de a infân­cia, gra­ças às lições de seu pai, o flau­tis­ta Alfe­rio Mig­no­ne. Com­ple­tou os estu­dos no Con­ser­va­tó­rio Dra­má­ti­co e Musi­cal de São Pau­lo, onde se for­mou em flau­ta, pia­no e com­po­si­ção, seguin­do, pos­te­ri­or­men­te, para estu­dar Com­po­si­ção em Milão, Itá­lia, no Con­ser­va­tó­rio Giu­sep­pe Ver­di. Ain­da em vida, rece­beu vári­os prê­mi­os, como o Shell, em 1982, pelo con­jun­to da obra.

A expo­si­ção pode ser con­fe­ri­da pelo públi­co inte­res­sa­do nas pla­ta­for­mas ofi­ci­ais do TMRJ: Ins­ta­gramFace­bo­ok, e You­tu­be, e tem rea­li­za­ção ins­ti­tu­ci­o­nal da Asso­ci­a­ção dos Ami­gos do Tea­tro Muni­ci­pal, Fun­da­ção Tea­tro Muni­ci­pal, Secre­ta­ria de Esta­do de Cul­tu­ra e Eco­no­mia Cri­a­ti­va e Gover­no do Esta­do do Rio de Janei­ro, com apoio do Minis­té­rio do Turis­mo.

Próximos homenageados

O públi­co pode­rá con­fe­rir tam­bém no site do tea­tro e nas redes soci­ais os pri­mei­ros home­na­ge­a­dos na Série Com­po­si­to­res: Richard Strauss, Alber­to Nepo­mu­ce­no, Fran­cis­co Bra­ga. Fran­cis­co Mig­no­ne é o quar­to títu­lo da série. Fáti­ma Gon­çal­ves infor­mou que já estão sen­do pro­vi­den­ci­a­das mos­tras vir­tu­ais sobre o quin­to e sex­to com­po­si­to­res home­na­ge­a­dos. Para mar­ço, está pre­vis­ta expo­si­ção sobre o argen­ti­no Astor Piaz­zol­la, pelo seu cen­te­ná­rio de nas­ci­men­to e, para abril, sobre Ígor Stra­vins­ki, que se apre­sen­tou no TMRJ em duas oca­siões. “A gen­te está sem­pre tra­zen­do a memó­ria do The­a­tro Muni­ci­pal. Em épo­ca de pan­de­mia, a gen­te pre­ci­sa estrei­tar esses laços com o públi­co”, des­ta­cou a che­fe do Cedoc.

Edi­ção: Ali­ne Leal

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