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Museu do Futebol reabre com espaço a Pelé e ao futebol feminino

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agencia Brasil

Após reformas, instituição poderá ser visitada nesta sexta-feira


Publicado em 11/07/2024 — 07:25 Por Elaine Patrícia Cruz — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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O novo Museu do Fute­bol quer com­pro­var, em sua reaber­tu­ra, que o fute­bol é parte insep­a­ráv­el da cul­tura brasileira e que pode tam­bém ser espaço impor­tante para dis­cussões sobre o racis­mo e o pro­tag­o­nis­mo das mul­heres. “O con­hec­i­men­to do Brasil pas­sa pelo fute­bol”, escreveu o romancista José Lins do Rego.

Após um perío­do fecha­do para refor­mas, o Museu do Fute­bol reabre ao públi­co nes­ta sex­ta-feira (12) ren­o­va­do. O museu se tornou mais diver­so, inclu­si­vo e diver­tido, gan­han­do novas salas, mais recur­sos de aces­si­bil­i­dade e ded­i­can­do espaço espe­cial ao ex-jogador Edson Arantes do Nasci­men­to, Pelé, que mor­reu em 2022.

O Rei Pelé, inclu­sive, con­tin­ua dan­do as boas-vin­das ao públi­co, logo na entra­da do museu. A Rain­ha Mar­ta, jogado­ra brasileira con­sid­er­a­da seis vezes a mel­hor do mun­do, recep­ciona o públi­co na últi­ma sala. Pro­je­ta­da em tela de taman­ho nat­ur­al, Mar­ta se des­pede do públi­co ao fim do per­cur­so de vis­i­tação falan­do em por­tuguês, inglês, espan­hol e em libras, con­vi­dan­do o vis­i­tante a retornar ao museu.

“Não queríamos perder todo o con­ceito que já exis­tia. Ele é um museu que foi inau­gu­ra­do há 15 anos, mas con­tin­ua muito mod­er­no até hoje. Só que, naque­le tem­po, ninguém dava a dev­i­da importân­cia ao fute­bol fem­i­ni­no. A gente não fala­va sobre – emb­o­ra já exis­tisse – o racis­mo no fute­bol. Era um museu muito volta­do ao fute­bol mas­culi­no e que tin­ha pou­ca rep­re­sen­ta­tivi­dade. A ideia era mudar tudo isso e traz­er o fute­bol para um mun­do mais mod­er­no”, disse Marce­lo Duarte, um dos curadores do museu.

Além do fute­bol fem­i­ni­no, o Museu do Fute­bol pre­tende tam­bém abrir  novas dis­cussões que pas­saram a se tornar cru­ci­ais no fute­bol.

“O novo museu traz temas con­tem­porâ­neos, temas difí­ceis. Falar de racis­mo no fute­bol é super impor­tante. Falar sobre xeno­fo­bia, que os jogadores brasileiros vivem no exte­ri­or, tam­bém. O museu não terá uma sala especí­fi­ca para isso, mas vai con­stru­in­do esse diál­o­go porque nos­sa ideia é que, na próx­i­ma ren­o­vação, a gente pos­sa traz­er os resul­ta­dos dessas lutas”, disse Marília Bonas, dire­to­ra téc­ni­ca e uma das curado­ras da insti­tu­ição.

São Paulo (SP), 10/07/2024 - Reabertura do Museu do Futebol no Pacaembu. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Reaber­tu­ra do Museu do Fute­bol no Pacaem­bu. Foto Rove­na Rosa/Agencia Brasil

Para ela, um dos papéis desse novo museu será o de per­me­ar o diál­o­go entre a sociedade e ess­es temas. “[Quer­e­mos esta­b­ele­cer] um diál­o­go educa­ti­vo, de con­strução, de letra­men­to, de per­cepção e de empa­tia sobre todos ess­es assun­tos. O fute­bol é cam­in­ho para abor­dar todas essas questões difí­ceis da própria sociedade”.

Local­iza­do no Mer­ca­do Livre Are­na Pacaem­bu, anti­go Está­dio do Pacaem­bu que ain­da está em obras, o museu é um dos mais vis­i­ta­dos da cap­i­tal paulista. Entre os anos de 2022 e 2023, por exem­p­lo, pas­saram por ele mais de 675 mil pes­soas.

As obras do novo Museu do Fute­bol tiver­am iní­cio em novem­bro de 2023, mas a con­cepção do pro­je­to começou há mais de dois anos e envolveu o licen­ci­a­men­to de mais de 1,5 mil ima­gens, a pro­dução de mais de 60 vídeos e a cri­ação, revisão e tradução de 136 novos tex­tos. O pro­je­to, que rece­beu inves­ti­men­to total de R$ 15,8 mil­hões da Sec­re­taria da Cul­tura, Econo­mia e Indús­tria Cria­ti­vas do Gov­er­no de São Paulo, foi coor­de­na­do pelos curadores Leonel Kaz, Marce­lo Duarte e Marília Bonas. A direção artís­ti­ca ficou a car­go da cineas­ta Daniela Thomas e Felipe Tas­sara, com comu­ni­cação visu­al de Jair de Souza.

São Paulo (SP), 10/07/2024 - Marília Bonas é uma das curadoras do Museu do Futebol no Pacaembu. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Marília Bonas é uma das curado­ras do Museu do Fute­bol no Pacaem­bu. Foto Rove­na Rosa/Agencia Brasil

“O museu ago­ra se apro­fun­da. Ele traz temáti­cas mais con­tem­porâneas, como as iden­titárias e as temáti­cas da pre­sença do povo brasileiro anôn­i­mo den­tro da con­strução do desen­volvi­men­to cul­tur­al e econômi­co do país. Traz tam­bém a pre­sença do fute­bol fem­i­ni­no com inten­si­dade. E ele­va a Sala Pelé a um grande acon­tec­i­men­to den­tro do con­jun­to”, disse Leonel Kaz, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Homenagem e destaque

Pelé rece­beu hom­e­nagem espe­cial no museu: a Sala Pelé, total­mente ded­i­ca­da à sua história. Con­sid­er­a­do o atle­ta do sécu­lo 20 pelo Comitê Olímpi­co Inter­na­cional, a tra­jetória do ex-jogador é apre­sen­ta­da em fotografias e vídeos. No alto da parede, uma “coroa” apre­sen­ta a majes­tade do fute­bol: é é nela que surge o tex­to “Pelé, o rei do fute­bol” escrito em inglês, espan­hol e por­tuguês.

“O Pelé é um fenô­meno úni­co. Onde ele pas­sa­va, tudo par­a­va. Tin­ha um caris­ma extra­ordinário. Foi um garo­to que, com 17 anos, gan­hou a Copa do Mun­do, pas­san­do a rep­re­sen­tar algu­ma coisa que era uma esper­ança, um com­pan­heiris­mo den­tro do jogo. Ele nun­ca foi um jogador de indi­vid­u­al­i­dade. Ele sem­pre jogou com o todo da equipe. Rep­re­sen­ta o gesto comu­nitário brasileiro, que é muito raro. Rep­re­sen­ta algo que o brasileiro son­ha. Alguém que, pelo esporte, pela inteligên­cia e capaci­dade de lidar com o out­ro, foi capaz de demon­strar que o brasileiro era algu­ma coisa. O Pelé surge em um momen­to históri­co, após a der­ro­ta da Copa de 50, jun­to com um time ina­cred­itáv­el, mas aca­ba se trans­for­man­do em mito”, descreveu Kaz.

Nes­sa seção tam­bém se encon­tra a camisa vesti­da por Pelé na final da Copa de 70, na qual o Brasil se sagrou campeão.

São Paulo (SP), 10/07/2024 - Reabertura do Museu do Futebol no Pacaembu. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Reaber­tu­ra do Museu do Fute­bol no Pacaem­bu. Foto Rove­na Rosa/Agencia Brasil

Já as mul­heres começaram a ter mais destaque den­tro do museu, ocu­pan­do vários espaços. Na Sala das Ori­gens, por exem­p­lo, há ima­gens raras que mostram mul­heres brasileiras jogan­do fute­bol a par­tir de 1920 – por enquan­to, os reg­istros mais anti­gos de que se tem notí­cia. A facha­da do museu tam­bém foi dec­o­ra­da, como preparação para a Copa do Mun­do de Fute­bol Fem­i­ni­no que vai ser real­iza­da no Brasil em 2027.

“O museu começou, em 2015, a cole­cionar e recol­her infor­mações sobre a história do fute­bol de mul­heres”, disse Marília Bonas, dire­to­ra téc­ni­ca e uma das curado­ras do Museu do Fute­bol. “Em 2019, hou­ve a primeira grande exposição tem­porária [sobre fute­bol fem­i­ni­no] que foi a Con­tra-ataque. Em 2023, o museu já tin­ha encon­tra­do esse lugar de pro­tag­o­nis­mo nes­sa história, com a exposição Rain­has de Copas. E ago­ra, final­mente, con­seguimos traz­er ess­es nove anos de pesquisa do museu na exposição prin­ci­pal. Con­ta­mos essa história de resistên­cia do fute­bol fem­i­ni­no nes­sa sala espe­cial, que está den­tro da Sala das Copas”, afir­mou.

São Paulo (SP), 10/07/2024 - Reabertura do Museu do Futebol no Pacaembu. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Reaber­tu­ra do Museu do Fute­bol no Pacaem­bu. Foto Rove­na Rosa/Agencia Brasil

Novidades

Entre as novi­dades do Museu está a Sala Raízes, que reúne mais de 100 fotografias e um filme pro­duzi­do pelo cineas­ta Car­los Nad­er. “O fute­bol aqui é recon­heci­do como ele­men­to defin­i­ti­vo da cul­tura brasileira. O fute­bol é colo­ca­do no mes­mo pata­mar que as artes, a lit­er­atu­ra, o teatro e o cin­e­ma. E essa é a função do museu: mostrar o fute­bol que habi­ta cada um de nós, que é parte do nos­so dia a dia”, disse Kaz.

A Sala das Ori­gens, que con­ta a tra­jetória do esporte des­de o sécu­lo 19 até os anos 1930, pas­sou por refor­mu­lação, dan­do mais ênfase ao fute­bol fem­i­ni­no. Entre os grandes mar­cos dessa história está o decre­to assi­na­do por Getúlio Var­gas, em 1941, que vetou a práti­ca da modal­i­dade por mul­heres. A jus­ti­fica­ti­va era de que o esporte seria “incom­patív­el com as condições de sua natureza”. O veto durou qua­tro décadas. “A Sala das Ori­gens, que traz infor­mações sobre como começa o fute­bol no Brasil, é apro­fun­da­da por um vídeo que fala dos primór­dios do fute­bol fem­i­ni­no”, acres­cen­tou Kaz.

Na anti­ga Sala das Copas, o fute­bol fem­i­ni­no tam­bém vira pro­tag­o­nista, ocu­pan­do qua­tro módu­los – Defe­sa, Drible, Con­tra-Ataque e Gol. Aqui tam­bém o fute­bol fem­i­ni­no brasileiro é apre­sen­ta­do como sinôn­i­mo de resistên­cia, já que entre os anos de 1941 e de 1988 ele era proibido de ser prat­i­ca­do no país. Além dis­so, a sala pas­sou a apre­sen­tar todas as copas fem­i­ni­nas que foram real­izadas des­de 1991. “O fute­bol fem­i­ni­no já vin­ha sendo colo­ca­do aos poucos. Na Sala das Copas, por exem­p­lo, uma das mais queri­das do pes­soal, tín­hamos os totens com as copas mas­culi­nas. Ago­ra, essas estru­turas se divi­dem entre copas mas­culi­na e fem­i­ni­na. E, nesse espaço, a gente expli­ca para o vis­i­tante porque temos Copa do Mun­do mas­culi­na des­de 1930 e as fem­i­ni­nas des­de 1991”, disse Duarte.

Um novo espaço é a Sala Dança do Fute­bol, que per­mite que se escol­ham vídeos que doc­u­men­tam situ­ações mem­o­ráveis do fute­bol brasileiro como gols históri­cos, dribles ou comem­o­rações inesquecíveis.

O anti­go espaço Números e Curiosi­dades foi sub­sti­tuí­do por Almanaque da Bola e pas­sa ago­ra a apre­sen­tar curiosi­dades, histórias, desafios e testes sobre temáti­cas rela­cionadas a questões con­tem­porâneas do esporte, como vis­i­bil­i­dade das modal­i­dades adap­tadas para pes­soas com defi­ciên­cia e o prob­le­ma do racis­mo. Uma das telas expostas nes­sa sala, por exem­p­lo, cita uma frase do jogador brasileiro Vini­cius Júnior, estrela da seleção brasileira e do Real Madrid, e impor­tante voz na luta con­tra o racis­mo no mun­do: “Repi­to para você, racista: eu não vou parar de bailar. Seja no sam­bó­dro­mo, no Bern­abéu ou onde eu quis­er”.

A história recente do fute­bol brasileiro tam­bém é abor­da­da na insta­lação O Brasil no Mun­do, que traz vídeos com depoi­men­tos de jogadores que pas­saram por clubes fora do país e mostram como os brasileiros são recon­heci­dos no exte­ri­or.

Encer­ran­do o espaço expos­i­ti­vo do museu, há a nova sala Jogo de Cor­po, com pos­si­bil­i­dades inter­a­ti­vas. Além do Chute a Gol, que já exis­tia na anti­ga ver­são, há tam­bém o Jogo da Vel­ha e um local onde sua imagem pode ser pro­je­ta­da na parede, com fun­do escol­hi­do por você como, por exem­p­lo, a arquiban­ca­da do Pacaem­bu. “Os pais vão ter que vir para cá com bas­tante tem­po porque as cri­anças não vão quer­er ir emb­o­ra depois”, brin­cou Marce­lo Duarte.

Visitantes

Quem teve a opor­tu­nidade de con­hecer o novo museu foi Célia Mar­tins Mazaro, 47 anos, de Urupês, no inte­ri­or de São Paulo. Ela veio, em viagem de tur­is­mo, para a cap­i­tal paulista jun­to com seu fil­ho José Mazaro Neto, de 11 anos. “Um dos pon­tos que a gente que­ria vis­i­tar era o museu. Ele esta­va fecha­do por causa da refor­ma, mas tive­mos a opor­tu­nidade de entrar ago­ra e está sendo emo­cio­nante”, con­tou a mãe. “É impres­sio­n­ante tudo isso em um lugar só”, com­ple­tou o fil­ho, san­tista de coração e fã de Pelé. “Gostei muito de ver a história do Pelé”, disse ele.

Quem tam­bém esteve no local foi o ex-jogador de fute­bol e atu­al comen­tarista esporti­vo Silas, que rep­re­sen­tou a seleção em copas do mun­do. “O novo museu é muito lin­do e com as novi­dades sobre o fute­bol fem­i­ni­no e a hom­e­nagem mais do que mere­ci­da a Pelé, nos­so eter­no Rei. Fiquei bem emo­ciona­do. Pas­sei e vi min­ha história tam­bém: eu par­ticipei da Copa de 1986, no Méx­i­co, e da Copa de 1990, na Itália. É sem­pre uma ale­gria ver com­pan­heiros nos­sos ali”, disse à Agên­cia Brasil.

São Paulo (SP), 10/07/2024 - Reabertura do Museu do Futebol no Pacaembu. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Reaber­tu­ra do Museu do Fute­bol no Pacaem­bu. Foto Rove­na Rosa/Agencia Brasil

“Acho que os clubes pode­ri­am traz­er seus jovens jogadores aqui para o museu, para que pos­sam olhar um pouco e ver que foi com muito sac­ri­fí­cio que isso aqui acon­te­ceu. Temos vis­to muitas seleções, con­sid­er­adas menores que a gente, andan­do um pas­so adi­ante, e a gente fican­do no meio do cam­in­ho. Fal­ta um pouco desse amor à camisa, dessa paixão, de saber que somos brasileiros e de que, aqui, nada acon­te­ceu com facil­i­dade”, lem­brou o ex-jogador.

O Museu do Fute­bol tem entra­da gra­tui­ta às terças-feiras. Para cel­e­brar sua ren­o­vação, será tam­bém gra­tu­ito nos dias 12, 13 e 14 de jul­ho. Mais infor­mações podem ser obti­das no site www.museudofutebol.org.br

Edição: Graça Adju­to

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