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Museu Nacional apresenta meteorito Santa Filomena

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

É o primeiro corpo celeste incorporado à coleção após incêndio de 2018


Pub­li­ca­do em 14/04/2023 — 12:35 Por Fran­cis­co Eduar­do Fer­reira*  — Estag­iário da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Pesquisadores do Museu Nacional apre­sen­taram na quin­ta-feira (13) o San­ta Filom­e­na, a primeira peça a ser incor­po­ra­da à coleção de mete­ori­tos da insti­tu­ição após o incên­dio de 2018.

Pesan­do cer­ca de 2,8 kg, o frag­men­to foi adquiri­do pelo Museu Nacional após uma chu­va de mete­ori­tos em 2020, sobre a cidade de San­ta Filom­e­na, em Per­nam­bu­co. A cidade foi lit­eral­mente “inva­di­da” por dezenas de curiosos, pesquisadores e até caçadores do exte­ri­or atrás das pedras.

A pesquisado­ra do Museu Nacional/UFRJ, Maria Eliz­a­beth Zucolot­to, que é pio­neira na pesquisa dos mete­ori­tos, jun­ta­mente com Aman­da Tosi, Diana Andrade e Sara Nunes, estavam entre as primeiras pes­soas a chegar na cidade, as úni­cas rep­re­sen­tantes da ciên­cia. Elas con­seguiram obter as amostras estu­dadas.

De acor­do com a pro­fes­so­ra Eliz­a­beth Zucolot­to, “den­tre os diver­sos frag­men­tos caí­dos na cidade este foi o escol­hi­do para com­por a coleção do museu por apre­sen­tar car­ac­terís­ti­cas úni­cas. Entre elas, a pre­sença de uma cros­ta de fusão fres­ca e depressões na super­fí­cie que pare­cem mar­cas de dedo, menos comuns de serem vis­tos em exem­plares do tipo rochoso”. A pro­fes­so­ra desta­ca que o mete­ori­to apre­sen­ta lin­has de fluxo descen­do pelas lat­erais, for­madas em mete­ori­tos que man­têm uma ori­en­tação bas­tante estáv­el à medi­da que pas­sam pela atmos­fera.

Rio de Janeiro (RJ), 13/04/2023 - Apresentação do meteorito Santa Filomena, primeira peça incorporada à coleção de meteoritos do Museu Nacional (UFRJ) após o incêndio de 2018. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: O cor­po celeste pesa cer­ca de 2,8 kg — Tânia Rêgo/Agência Brasil

Fóssil do sistema solar

O mete­ori­to San­ta Filom­e­na, apre­sen­ta­do na quin­ta-feira (13), pode ser descrito como um “fós­sil” do sis­tema solar, ou seja, tra­ta-se de um frag­men­to de um aster­oide com pro­priedades muito prim­i­ti­vas, que se for­mou bem no iní­cio da cri­ação do Sis­tema Solar, ten­do uma idade aprox­i­ma­da de 4,56 bil­hões de anos, segun­do expli­cou a pesquisado­ra Aman­da Tosi.

“Podemos destacar que, des­de então, não ocor­reram mudanças físi­cas e quími­cas sig­ni­fica­ti­vas em seus min­erais, estando quase da mes­ma for­ma de sua for­mação há bil­hões de anos”. Ela afir­mou que um dos focos do tra­bal­ho pub­li­ca­do é sobre como alguns min­erais aju­dam a esti­mar o máx­i­mo de tem­per­atu­ra a que a rocha foi sub­meti­da, assim como a taxa de res­fri­a­men­to do cor­po aster­oidal que deu origem ao mete­ori­to. Dessa maneira, eles são vestí­gios de como era nos­so sis­tema solar pri­mor­dial e nos dão pis­tas de como os cor­pos plan­etários, aster­oides e cometas se for­maram.

Chuva de estrelas

Aman­da Tosi expli­cou que o mete­ori­to San­ta Filom­e­na pode ser clas­si­fi­ca­do como um con­dri­to, que são mete­ori­tos rochosos comu­mente encon­tra­dos. “O que não é comum é o fato de partes desse mete­ori­to terem atingi­do uma zona urbana, incluin­do o pedaço rel­a­ti­va­mente grande recu­per­a­do para o Museu Nacional/UFRJ”.

Out­ro pon­to de destaque, de acor­do com a astrofísi­ca e pro­fes­so­ra no Obser­vatório do Val­on­go, Diana Andrade, é a pos­si­bil­i­dade de doc­u­men­tar a pas­sagem do mete­oro por câmeras, o que via­bi­li­zou o esta­b­elec­i­men­to de sua tra­jetória. Além de prop­i­ciar uma mel­hor noção de onde os pedaços caíram, pode ser com­pro­va­do que o mete­ori­to San­ta Filom­e­na veio do cin­turão dos aster­oides, que fica entre Marte e Júpiter. Tal fato foi reg­istra­do pela primeira vez em uma que­da de mete­ori­to no Brasil.

As Meteoríticas

O nome do grupo surgiu quan­do Maria Eliz­a­beth Zucolot­to foi a cam­po, jun­to com as “mar­in­heiras de primeira viagem” Aman­da Tosi e Diana Andrade, quan­do caiu um mete­ori­to na Bahia, no segun­do semes­tre de 2017.

Na lon­ga viagem que fiz­er­am, as pesquisado­ras cri­aram um grupo de tra­bal­ho para encon­trar as “pedras que caem do céu”, atuan­do em todas as eta­pas da pesquisa, des­de o tra­bal­ho de cam­po, pas­san­do pelo estu­do em lab­o­ratório, e, sobre­tu­do, na divul­gação dessa ciên­cia.

Rio de Janeiro (RJ), 13/04/2023 - As pesquisadoras Diana Andrade, Maria Elizabeth Zucolotto e Amanda Tosi apresentam o meteorito Santa Filomena, primeira peça incorporada à coleção de meteoritos do Museu Nacional (UFRJ) após o incêndio de 2018. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Grupo Mete­oríti­cas: Diana, Maria Eliz­a­beth e Aman­da — Tânia Rêgo/Agência Brasil

De acor­do com a pro­fes­so­ra Beth, “as pesquisas sobre mete­ori­tos são real­izadas já há algum tem­po, mas poucos são os que se dedicam a este ramo da ciên­cia no Brasil, espe­cial­mente mul­heres. Uma coisa é estar no lab­o­ratório e rece­ber um pedaço de algum mete­ori­to para faz­er a análise, mas out­ra bem difer­ente é ir ao cam­po para prospec­tar e encon­trar essas raras e impor­tantes evidên­cias do uni­ver­so”. Ela afir­mou que sem­pre procu­ra incen­ti­var novos pesquisadores a encon­trar ess­es reg­istros, o que é uma tare­fa bas­tante árd­ua.

Publicação do estudo

O arti­go foi pub­li­ca­do na Mete­orit­ics & Plan­e­tary Sci­ence (MaPS), revista men­sal inter­na­cional de ciên­cia plan­etária pub­li­ca­da pela Mete­orit­i­cal Soci­ety, uma orga­ni­za­ção acadêmi­ca que pro­move pesquisa e edu­cação em ciên­cia plan­etária, após pas­sar por um exten­so estu­do de min­er­alo­gia, quími­ca e pet­ro­grafia para com­preen­der os proces­sos de for­mação e even­tos ocor­ri­dos antes de chegar à Ter­ra.

Reabertura do Museu Nacional

Rio de Janeiro (RJ), 13/04/2023 - O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, fala durante apresentação do meteorito Santa Filomena, primeira peça incorporada à coleção de meteoritos do Museu Nacional (UFRJ) após o incêndio de 2018. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução:  Alexan­der Kell­ner: peça é impor­tante para pesquisa, história e acer­vo  Tânia Rêgo/Agência Brasil

Segun­do Alexan­der Kell­ner, dire­tor do Museu Nacional, apre­sen­tar uma peça como essa é muito impor­tante para a pesquisa, para a história e para o acer­vo. A insti­tu­ição con­ta com uma coleção de min­erais de extrema relevân­cia para a ciên­cia.

“Esse tra­bal­ho, pub­li­ca­do em uma das prin­ci­pais revis­tas da área mostra, mais uma vez, que os profis­sion­ais do Museu Nacional con­tin­u­am geran­do pesquisa de qual­i­dade e real­izan­do parce­rias, demon­stran­do que a insti­tu­ição está mais viva do que nun­ca! A pre­visão é de abrir grande parte do Museu nos primeiros meses de 2026, exibindo peças de destaque como o mete­ori­to San­ta Filom­e­na”, comem­o­ra o dire­tor Alexan­der Kell­ner.

Regulamentação de propriedade de meteoritos

Out­ro aspec­to impor­tante foi a dis­cussão sobre quem dev­e­ria ser o dono de um mete­ori­to. A cor­ri­da ao mete­ori­to San­ta Filom­e­na abriu uma dis­cussão que trami­ta no Con­gres­so Nacional sobre a reg­u­la­men­tação da pro­priedade de mete­ori­tos que caem em solo brasileiro.

Com a polêmi­ca, a Sociedade Brasileira de Geolo­gia entrou em ação e, com aju­da de cien­tis­tas e demais inter­es­sa­dos, con­seguiu pro­por um com­ple­men­to ao pro­je­to de lei, no qual se reg­u­la que 20% de um novo mete­ori­to encon­tra­do, respei­tan­do-se o lim­ite máx­i­mo de 1kg, dev­erá ser disponi­bi­liza­do para a ciên­cia e deposi­ta­do em uma insti­tu­ição cien­tí­fi­ca.

Neste momen­to, esse pro­je­to de lei segue trami­tan­do no Con­gres­so Nacional. De um lado, pesquisadores que relu­tam na ven­da e posse de mete­ori­tos e, do out­ro, os que apoiam a reg­u­la­men­tação, que pode garan­tir mais mete­ori­tos brasileiros para a pesquisa, uma vez que a lei pre­vê uma por­cent­agem da rocha para a ciên­cia, liberan­do o restante para o comér­cio.

Rio de Janeiro (RJ), 13/04/2023 - Apresentação do meteorito Santa Filomena, primeira peça incorporada à coleção de meteoritos do Museu Nacional (UFRJ) após o incêndio de 2018. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Primeira peça incor­po­ra­da à coleção de mete­ori­tos do museu após incên­dio — Tânia Rêgo/Agência Brasil

“A ven­da da pro­priedade dos mete­ori­tos reg­u­la­men­ta­da por lei impos­si­bili­ta que eles saiam do país ile­gal­mente e indi­ca que haverá uma fis­cal­iza­ção sufi­ciente para proibir o con­tra­ban­do. Um exem­p­lo que temos próx­i­mo de uma lei que proíbe a ven­da está na Argenti­na e, des­de então, ‘prati­ca­mente não existe’ mais mete­ori­to argenti­no, pois a maio­r­ia é tira­da clan­des­ti­na­mente do país e ven­di­da como se tivesse caí­do em out­ro lugar”, expli­cou Zucolot­to.

Para mais infor­mações sobre descober­tas na pesquisa de mete­ori­tos acesse o site.

*Estag­iário sob super­visão de Ake­mi Nita­hara

Edição: Maria Clau­dia

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