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Museu paulistano completa 50 anos com mostras, palestras e concertos

Repro­dução: © Foto: Júlio Ace­vo

Fundação Maria Luisa e Oscar Americano tem entrada gratuita nas terças


Publicado em 17/03/2024 — 10:19 Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil* — São Paulo

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Uma hom­e­nagem de um mari­do em luto para a fale­ci­da esposa. Foi assim que nasceu a Fun­dação Maria Luisa e Oscar Amer­i­cano. Era março de 1974, dois anos após a morte de Maria Luisa, quan­do o engen­heiro paulis­tano Oscar Amer­i­cano de Cal­das Fil­ho (1908–1974) decid­iu trans­for­mar a casa da família, na Aveni­da Morumbi, zona sul paulis­tana, em um espaço de laz­er e cul­tura. 

Fundação Maria Luisa e Oscar Americano completa 50 anos com mostras dedicadas aos 500 anos de Camões e 200 anos da primeira Constituição brasileira. - Maria Luisa. Foto: Acervo Fundação Maria Luisa e Oscar Americano
Repro­dução: Quadro Maria Luisa. Foto — Acer­vo Fun­dação MLOA

Oscar Amer­i­cano era um con­heci­do engen­heiro de grandes obras no país e pro­pri­etário da Com­pan­hia Brasileira de Pro­je­tos e Obras (CBPO). “Oscar Amer­i­cano foi um dos grandes respon­sáveis pelo cresci­men­to e urban­iza­ção da cidade [de São Paulo], espe­cial­mente da região do Morumbi”, disse Luiz Ven­tu­ra, dire­tor admin­is­tra­ti­vo e finan­ceiro da fun­dação. Já Maria Luisa Fer­raz Amer­i­cano de Cal­das (1917–1972) era mece­nas, uma patroci­nado­ra de artis­tas.

“Essa tran­sição de uma casa para museu vem de uma ideia do Oscar Amer­i­cano para hom­e­nagear Maria Luisa. Os dois mor­rem jovens: ela com 54 e ele com 66 anos, em um inter­va­lo de dois anos entre a morte de um e out­ro. Durante o luto, ele teve essa ideia de faz­er refor­mas [na casa] e deixar um fun­do de din­heiro pra cuidar dess­es primeiros anos de expan­são do acer­vo e foi assim que se orga­ni­zou essa hom­e­nagem. O acer­vo começa com essa ideia da casa, do par­que e da coleção do casal sendo doa­d­os para que out­ras pes­soas pudessem pres­ti­giar e aces­sar um pouco da visão e do cotid­i­ano deles”, expli­cou Glo­ria Maria dos San­tos, edu­cado­ra da fun­dação.

Foi assim que a casa mod­ernista onde o casal viveu, pro­je­ta­da pelo famoso engen­heiro-arquite­to Oswal­do Arthur Bratke (1907–1997) e rodea­da por um vas­to par­que com pais­ag­is­mo de Octavio Augus­to Teix­eira Mendes (1907–1988), foi doa­da à cidade de São Paulo, jun­to com uma vas­ta coleção de obras de arte. Viz­in­ha do Palá­cio dos Ban­deirantes, sede do gov­er­no paulista, a fun­dação foi tomba­da em 2018 pelo Con­sel­ho de Preser­vação do Patrimônio Históri­co, Cul­tur­al e Ambi­en­tal da Cidade de São Paulo (Con­pre­sp). Antes dis­so, a fun­dação já havia sido declar­a­da de util­i­dade públi­ca pelo gov­er­no de São Paulo.

Neta do Oscar e Maria Luisa, Patrí­cia Amer­i­cano Vidi­gal Simón, con­sel­heira da fun­dação, não con­heceu os avós, mas mes­mo assim, diz que o espaço tem um sig­nifi­ca­do muito espe­cial para ela. “Aqui sem­pre foi uma refer­ên­cia da min­ha família, mostran­do como eles vivi­am. Sem­pre tive curiosi­dade de enten­der como é que era essa dinâmi­ca famil­iar, mes­mo porque a min­ha mãe era a mais nova da família, a fil­ha tem­porã. A história que eu escu­to é que ela teve um cômo­do adap­ta­do para ela”, con­tou ela à Agên­cia Brasil.

“Infe­liz­mente não os con­heci [os avós]. Que­ria muito ter vivi­do aqui nes­sa casa, enquan­to ela era casa, mas fui saber mais sobre ela com a min­ha par­tic­i­pação na fun­dação”, acres­cen­tou.

Hoje, o endereço onde o casal Oscar Amer­i­cano e Maria Luisa viveu por 20 anos com os cin­co fil­hos é um espaço cul­tur­al e arquitetôni­co for­ma­do por uma casa-museu, um par­que com espé­cies nati­vas da Mata Atlân­ti­ca e uma vas­ta pro­gra­mação cul­tur­al, que inclui os tradi­cionais domin­gos com con­cer­to musi­cal no auditório da casa e encon­tros literários. “O que a família alme­ja é que per­maneça esse lega­do dos meus avós no sen­ti­do da cul­tura, da músi­ca, da arte e do par­que. A fun­dação pre­cisa ser um par­que artís­ti­co e cul­tur­al”, reforçou Patrí­cia.

Fundação completa 50 anos com mostras dedicadas aos 500 anos de Camões e 200 anos da primeira Constituição brasileira. Foto: Fundação Maria Luisa e Oscar Americano
Repro­dução: Quadro Maria Luisa. Foto — Acer­vo Fun­dação MLOA

Acervo

Entre 1974, ano em que foi insti­tuí­da a Fun­dação Maria Luisa e Oscar Amer­i­cano, e 1980, quan­do a sede foi aber­ta ao públi­co, a casa sofreu adap­tações para per­mi­tir a dis­tribuição orga­ni­za­da do acer­vo para vis­i­tação.

A coleção ini­cial teve como base os obje­tos de arte per­ten­centes à família, com­pos­to por pin­turas, escul­turas, porce­lanas, pratas e mobil­iário. Ao lon­go do tem­po, novas peças foram sendo incluí­das ao vas­to acer­vo, que abri­ga obje­tos que aju­dam a com­por um retra­to do país. “Todas as peças aqui con­ver­sam com a história do Brasil”, expli­cou Luís Hen­rique Rodrigues, edu­cador da fun­dação.

O acer­vo é con­sti­tuí­do, por exem­p­lo, por mobil­iários, pratarias, arte sacra e pin­turas do artista holandês Frans Post, que aju­dam a con­tar o perío­do do Brasil Colô­nia; até louças, comen­das, car­tas e adereços do Brasil Império. “A nos­sa coleção Impe­r­i­al, pos­sivel­mente, está entre as três coleções mais impor­tantes do Brasil jun­to ao Museu Impe­r­i­al [em Petropólis-RJ] e o Museu Mar­i­ano Procó­pio [em Juiz de Fora-MG]”, con­ta Eduar­do Mon­teiro, dire­tor cul­tur­al da Fun­dação.

Há no acer­vo tam­bém muitas obras rep­re­sen­ta­ti­vas do Mod­ernismo brasileiro, com pin­turas e escul­turas de Di Cav­al­can­ti, Cân­di­do Porti­nari, Lasar Segall e Vic­tor Brecheret.

“A nar­ra­ti­va que a gente tende a seguir é essa que con­ta 400 anos de Brasil. Então a gente pen­sa a rep­re­sen­tação do Brasil colo­nial, Brasil impe­r­i­al e tam­bém de artis­tas mod­er­nos. Nesse caráter de coleção do mod­ernismo ain­da entram a casa e o par­que”, esclare­ceu Glo­ria Maria dos San­tos. “Quan­do a gente está lidan­do com um acer­vo que pas­sa tan­to pelo [perío­do] colo­nial e pelo impe­r­i­al, [pre­cisamos] jus­ta­mente enten­der que eram tem­pos difer­entes. Ago­ra, quan­do já temos um out­ro olhar, podemos ir revis­i­tan­do essas obras”, disse a mon­i­to­ra.

Celebrações

Os 50 anos da fun­dação, com­ple­ta­dos neste mês de março, vai ser cel­e­bra­do com pro­gra­mação diver­sa. A agen­da pre­vê palestras sobre a história do Brasil, encon­tros literários, con­cer­tos musi­cais, exposições e até chá com mem­bros da Acad­e­mia Paulista de Letras (APL).

Em abril, por exem­p­lo, um even­to literário vai falar sobre os 500 anos de nasci­men­to do poeta e dra­matur­go Luís de Camões (nasci­men­to esti­ma­do em 1524 e morte em 1580), desta­can­do uma peça do acer­vo da fun­dação: uma cópia do livro Os Lusíadas que foi fei­ta espe­cial­mente para hom­e­nagear Dom Pedro II.

Haverá tam­bém hom­e­na­gens aos 80 anos de nasci­men­to do poeta brasileiro Paulo Lemins­ki (1944–1989) e aos 200 anos da primeira Con­sti­tu­ição brasileira, de 1824. Para a cel­e­bração da Con­sti­tu­ição, por exem­p­lo, a fun­dação vai destacar um exem­plar do seu acer­vo: um esto­jo con­tendo uma miniatu­ra da Constituição Impe­r­i­al, out­or­ga­da por D. Pedro I.

A Con­sti­tu­ição de 1824 foi a de duração mais lon­ga do país, num total de 65 anos. A Car­ta con­tin­ha 179 arti­gos e é con­sid­er­a­da pelos his­to­ri­adores como uma imposição do imper­ador. Entre as prin­ci­pais medi­das dessa Con­sti­tu­ição esta­va o for­t­alec­i­men­to do poder pes­soal de Dom Pedro, com a cri­ação do Poder Mod­er­ador, que esta­va aci­ma dos Poderes Exec­u­ti­vo, Leg­isla­ti­vo e Judi­ciário.

Fundação completa 50 anos com mostras dedicadas aos 500 anos de Camões e 200 anos da primeira Constituição brasileira. Medalha-estojo da Constituição Imperial outorgada por d. Pedro em 1824. Foto: Fundação Maria Luisa e Oscar Americano
Repro­dução: Medal­ha-esto­jo da Constituição Impe­r­i­al out­or­ga­da por d. Pedro em 1824. Foto — Acer­vo Fun­dação Maria Luisa e Oscar Amer­i­cano

“Temos esse exem­plar, em miniatu­ra, da Con­sti­tu­ição de 1824. Vamos faz­er uma mostra para expor essa peça no hall de entra­da porque ela é uma peça úni­ca. É incrív­el que está tudo escrito ali, em papel. É uma medal­ha-esto­jo, com a Con­sti­tu­ição ali den­tro”, disse Mon­teiro.

A insti­tu­ição tam­bém está se preparan­do para os 200 anos de nasci­men­to de Dom Pedro II, que serão com­ple­ta­dos em 2025. Para isso ela vai realizar uma série de palestras sobre a história do Brasil, que vão cul­mi­nar com uma exposição sobre Dom Pedro II, a par­tir de novem­bro.

A Fun­dação Maria Luisa e Oscar Amer­i­cano tem entra­da gra­tui­ta às terças-feiras. Mais infor­mações podem ser obti­das no site da insti­tu­ição.

Edição: Aline Leal

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